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Módulo II – Formação Básica I Sistemas, Instituições e Gestão

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4.2 O processo de profissionalização policial-militar

Como discutido na seção anterior, o processo de profissionalização se dá dentro do próprio corpo ocupacional e, também, pelas relações estabelecidas entre as outras categorias, o mundo do trabalho, o Estado e o mercado do trabalho. Assim sendo, os mecanismos institucionais que tornam viável a profissionalização de um corpo ocupacional são engendrados dentro e pela cultura profissional no contexto da formação inicial, mas que não se estagna nesse período, pois para a obtenção e manutenção do status da profissionalização, enquanto processo ininterrupto de qualificação, essa busca deve ser perene. É, justamente, essa característica de dinamicidade que propicia a manutenção como categoria profissional.

As relações materiais e condições sociais, historicamente, construídas instauram na sociedade, o que Karl Marx denominou de consciência. Essa

consciência é voltada tanto para o sujeito enquanto indivíduo, pertencente a uma classe social, como também para formação de uma consciência de pertença a uma classe ou categoria profissional.

Essa concepção de história se baseia no processo real de produção, partindo da produção real da vida imediata; e concebe a forma de troca conectada a esse modo de produção e por ele gerada (isto é, a sociedade civil em várias fases) como fundamento de toda história, apresentando-a em sua atuação enquanto Estado e explicando a partir dela o conjunto dos diversos produtos teóricos e formas de consciência – religião, filosofia, moral etc. (MARX; ENGELS, 2005, p.65).

Atualmente, a tomada de consciência de uma determinada categoria profissional, no sentido de revisitar as suas bases formativas e educacionais de uma atividade composta de conhecimentos, saberes e valores legitimados ao longo de sua história social, destacam-se alguns estudos que analisam, não apenas a formação profissional inicial, mas, principalmente, o processo como tem ocorrido essa prática profissional e a abordagem crítico-reflexiva que seus membros fazem acerca dessa relação e, também, qual é a visão que a sociedade tem de tais profissionais.

Pesquisando a formação profissional e teorizando acerca de constructos que possam, efetivamente, profissionalizar determinados grupos de trabalhadores, alguns estudiosos tais como Freidson (1998); Perrenoud (1999; 2001); Menke; White; Carey (2002) Núñez; Ramalho e Gauthier (2004; 2014); Poncioni (2004, 2007; 2014), entre outros, definiram categorias teóricas que possibilitam construir formulações analítico-reflexivas para teorizar como se pode contribuir para uma melhor formação inicial, fornecendo pistas, também, para uma formação continuada.

Nesse sentido, buscando suprir as lacunas de uma formação inicial, muitas vezes fragmentada e dissociada do contexto social, com o intuito de estudar o processo de formação profissional de professores, Ramalho; Nuñez e Guathier (2004, 2014), apresentam e discutem o que eles denominam de a trilogia da profissionalização do professor profissional72.

72 Pode parecer preciosismo ou redundância, mas na perspectiva defendida por esses autores, em muitas realidades do contexto social brasileiro, por exemplo, a categoria de

Apesar de estarem tratando de outra categoria de trabalhadores, os conceitos e categorias analíticas apresentadas pelos autores dão conta dos aspectos constituintes que permeiam todo o processo de profissionalização de um corpo profissional, portanto, o que será discutido no contexto da categoria policial- militar.

De acordo com Ramalho; Nuñez e Gauthier (2004), a profissionalização é um processo, dinâmico, por excelência, que ocorre interna e externamente no corpo de uma categoria ocupacional que busca e, concomitantemente, mantém um status profissional que garante a esse mesmo grupo de trabalhadores a legitimidade de exercer, fiscalizar e controlar suas atividades. Ao mesmo tempo, esse processo é político, ideológico, mas, também, técnico, científico, filosófico e ético.

Nesse contexto, deve ser compreendida em duas dimensões, isto é, profissionalização como processo interno, que os autores denominam de profissionalidade; e como processo externo, o profissionalismo e a profissionalização como estado e processo.

De acordo com os autores, na profissionalidade como processo interno, uma categoria ocupacional se volta para os saberes disciplinares e, também, pedagógicos instituídos. É, portanto, por meio desses saberes que se tornar exequível a construção de competências para pautar sua atuação enquanto profissional pertencente a um grupo ocupacional esotérico que detém a expertise desse conhecimento e saberes próprios à sua atividade de trabalho.

Por conseguinte, a atividade humana e, neste caso em particular, a atividade de apropriação de conhecimentos profissionais, é operacionalizada por um conjunto de ações, nesse locus de internalização, devidamente orientada por um motivo, cujo objetivo principal é atender as necessidades profissionais que visam um fim social.

O profissionalismo, como caraterística externa da profissionalidade, por seu turno, é o resultado da busca incessante de um corpo profissional pela profissionalização da atividade laboral que exerce. Nesse contexto, é forçoso ratificar que essa condição não é perene, pois esse nível alcançado no mundo e/ou mercado do trabalho pode ser posto em xeque, em face ao grau de especialização

trabalhadores docentes, ainda não atende a todos os requisitos de atividade laboral profissionalizada, o que será esmiuçado neste capítulo.

que seus membros desempenhem ou deixem de desempenhar, ao atuarem em suas respectivas áreas de conhecimento (NÚÑEZ, RAMALHO; GAUTHIER, p. 52, 2004).

O profissionalismo, como defendem os autores, ocorre pela dinâmica da profissionalização como processo externo, ou seja, por meio do reconhecimento e legitimação social, política e econômica da atividade exercida, que é consequência da prática da profissionalidade. Necessariamente, para que uma determinada categoria de trabalhadores possa receber esse reconhecimento social e, também, oficial por meio dos mecanismos legais de regulamentação deve haver uma relação dialética que possibilite a construção de uma identidade social, legitimamente, reconhecida.

A profissionalização como estado e processo é sempre-já uma meta a ser alcançada, portanto, jamais estática, não podendo ser considerada um determinado ponto que um corpo ocupacional alcançou e estagna-se. Porquanto, a profissionalização é dinâmica e, permanentemente, atualizada no percurso histórico e socialmente construído.

Uma atividade ocupacional ao alcançar o status de profissão não se estagna, mas, sobretudo, constantemente atualiza seus conhecimentos e saberes laborais, sua exclusividade para execução especializada dessa atividade do mundo do trabalho e, principalmente, renova e legitima direitos, deveres e obrigações no campo dessa atividade laboral.

Assim, sendo exclusiva, a sua área de atuação deve, também, ser ininterrupta. Ou seja, a obrigação de desempenhar suas funções não cessa em horários preestabelecidos de trabalho. Os seus códigos ético e moral vão além das suas obrigações trabalhistas. Talvez, essa seja uma das principais características que diferenciam uma profissão de uma ocupação, pois o seu senso de profissionalização (além, claro, de todo o corpo de conhecimentos e saberes profissionais que foi adquirido em uma formação específica, pois sua prática ao não ser interrompida por questões particulares), converte-se em discernimento de bem- estar social, de compromisso público, que legitima cada vez mais e, permanentemente, uma profissão, perante os demais grupos sociais.

No âmbito da Teoria Policial Menke; White e Carey (2002), discutindo acerca da profissionalização dos policiais, destaca que esse aspecto é de caráter, eminentemente, ideológico e, nesse sentido, prejudicial, pois nesse processo de

busca do status de categoria profissionalizada, maquia o real desenvolvimento profissional dos trabalhadores de segurança. Assim enfatiza:

[...] a ideologia do profissionalismo funciona para proteger as organizações policiais do ataque público ou político. Além disso a ideologia promove o status, o prestígio e influencia as percepções públicas a respeito da ocupação policial [...] é disfuncional, já que retarda a criação do desenvolvimento profissional “real”. (MENKE; WHITE; CAREY, 2002, p.109).

Ainda, segundo o autor, a ideologia pela busca da outorga do mandato policial maquia, por exemplo, que a solução para o crime seria a polícia, refutando assim, implicitamente, a teoria do crime como um fato social (DURKHEIM, 2002) e, portanto, fora da esfera de competência policial em resolvê-lo.

De acordo com a Sociologia durkheimiana, fato social é toda forma de agir e pensar, institucionalizada ou não, que por imposição moral ou por meio de norma jurídica, exerce sobre as pessoas uma coerção, para fazer ou deixar de fazer algo. Portanto, o fato social ele é geral, exterior e sobretudo coercitivo, pois existe em toda e qualquer sociedade; é exterior aos comportamentos individuais; e é coletivo, pois é capaz de exercer sobre os indivíduos a coerção moral ou jurídica.

Em contraposição à tese apresentada por Menke; White; Carey (2002), destacam-se os mesmos profissionais liberais, os quais estes autores usam para identificar como tipos ideais de profissional: médicos, advogados, entre outros.

Ora, se essa ideologia funciona para mascarar o real desenvolvimento profissional do policial, também, o faz com um profissional liberal, por exemplo, um advogado que sabendo das circunstâncias incontestes que seu cliente cometerá um crime, mesmo tendo como improvável sua absolvição, faz seu cliente acreditar que poderá absolvê-lo.

De igual forma, dá-se com o crime, em relação à instituição policial, pois mesmo conhecendo suas causas, outros fatores contribuem para que a polícia não consiga evitá-lo, pois como explicitado, anteriormente, o crime é um fato social e, em face dessa característica, e a polícia não o exterminará, apenas poderá reduzi-lo, inclusive, se os demais seguimentos sociais envolvidos na prevenção e repressão

estiverem funcionando regularmente. Esta última premissa uma das essências da teoria do policiamento comunitário (BAYLEY; SKOLNICK, 2002).

É forçoso esclarecer, também, que o profissionalismo almejado não apenas pela categoria de policiais, mas por qualquer outro grupo ocupacional, não visa mascarar o real estado de qualificação desse grupo de trabalhadores, mas deve trazer à tona seu real mister, que no caso da instituição policial, não é a extinção da criminalidade, mas sua redução a níveis aceitáveis.

Esse é o padrão mínimo de exigência (profissionalismo), dentro de determinada especialidade, que toda categoria ou grupo ocupacional almeja, sendo assim aceito dentro de sua categoria profissional e, também, pela sociedade que recebe o serviço prestado.

A profissionalidade, por seu turno, deve ser concebida como estado e processo, constituída de um conjunto de características de determinada profissão. É, portanto, um processo que se efetiva no estado de profissionalização.

No caso específico que discutem os autores, a profissionalização dos professores ocorre de forma gradativa ao longo da história, visto que, não apenas essa profissão, mas as demais que constituem o mundo e o mercado do trabalho vão incorporando valores e especificidades no tempo e no espaço, construído e transformado pelo próprio homem. Esse é um dos aspectos essenciais do processo onto e filogenético (MARX; ENGELS, 2002).

Um estudo paradigmático acerca da reflexão não apenas na formação, mas, sobretudo, durante a própria prática profissional foi desenvolvido por Schön (1997) autor, também, contemplado na MCN (BRASIL, 2014), com uma abordagem voltada para uma série de profissionais que precisam, cotidianamente, estar refazendo sua crítica acerca do que está desenvolvendo na atividade que exerce, especialmente, arquitetos, engenheiros, médicos, profissionais liberais, em geral educadores.

Shön (Op. Cit.) destaca que, de fato, o paradigma atual é de desconfiança na competência profissional em atender, efetivamente, às demandas práticas dos problemas contemporâneos, e isso dá-se, conforme sua tese, pela inconsistente formação. De acordo com o autor, esse currículo que data do início do século XX é, eminentemente, teórico, que incorpora, certamente, um conhecimento sistematizado, mas que pouco privilegia a prática e a resolução de problemas como eixo central de sua formação.

Os currículos profissionais contemporâneos colocam em primeiro ponto a ciência básica relevante; em segundo plano a ciência aplicada e, finalmente, em um último estágio de importância, o ensino prático, aquele voltado para a resolução de problemas (SHÖN, 1997, p. 19).

Como defende Poncioni (2012), uma formação profissional para os policiais brasileiros demanda muito mais que esforços político-administrativos nas esferas estatal e/ou institucional. Implica, entre outras ações, na operacionalização dos currículos oficiais de pressupostos conhecimentos e saberes próprios que a distingue das demais profissões. Cada vez mais, é premente a consolidação de uma identidade profissional para os profissionais de polícia brasileiros, especialmente no âmbito da segurança pública em consonância com um Estado democrático, voltada para a cultura de prevenção, em detrimento a uma formação, eminentemente, militarista, que não mais atende aos anseios e demandas sociais.

A profissionalização de determinada atividade ou ocupação laboral deve passar por alguns processos, como aqui fora discutido. No entanto, a questão a ser colocada é se é possível aferir se, efetivamente, uma atividade ocupacional, neste estudo particular, a atividade policial-militar, já cumprira todos os requisitos estabelecidos, por exemplo, pela Sociologia das profissões para ser concebida como uma atividade profissional (FRIEDSON, 1998, p.55) e/ou se adequado às normativas que satisfaçam a condição de uma profissão e não apenas de uma ocupação regulamentada (BRASIL, 2010a).

Em outra perspectiva, busca-se estabelecer de acordo com a Sociologia das profissões e, também, por meio das legislações regulamentadoras se há um consenso no sentido de tipificar ou identificar os critérios que vão determinar esse status profissional.

Tomando como parâmetro as questões levantadas consigna-se nesta seção que após o estabelecimento do modelo moderno de polícia, por volta do século XIX, e a efetiva atuação até os dias atuais, propõe-se que esse percurso histórico pode ser entendido como um processo de profissionalização, especialmente, sob a ótica de pesquisadores como Silva (1990); Muniz (1999, 2001, 2007); Trajanowicz (1994); Bayley, Caldera (2000); Skolnick (2002); Menke; White; Carey (2002); Monjardet (2003); Poncioni (2004, 2005, 2007, 2014); Bayley (2006), Silva (2007); Luiz (2008); Pinc (2007, 2011) e (Silva, 2009, 2016, 2017), entre outros estudiosos da atividade policial, que descrevem, gradativamente, o percurso que as

instituições policiais percorreram e, ainda precisam percorrer na busca desse status profissional.

Por outro lado, outras pesquisas podem dar conta que esse nível profissional, ainda, não fora alcançado, em face de uma série de fatores apresentados na problematização do estudo, especialmente, a partir dos estudos de Caldeira (2003) que contesta as ações policiais militares no Estado de São Paulo.

Silva (1990), logo após a promulgação da atual Constituição Federal, teoriza o papel polícia brasileira, em especial, a militar, em face da nova ordem constitucional, tendo como background da abordagem a relação dialética entre o profissionalismo e o amadorismo da polícia brasileira.

Não obstante a polícia ser uma instituição secular, ela, efetivamente, só aparece na seara moderna como instituição pública nos idos do século XIX, pois até então, mesmos os Estados-Nação dispondo de um grupamento que controlasse as questões relativas à segurança das pessoas e, principalmente, da propriedade, havia muitas milícias73 privadas que atuavam para manutenção, especialmente da propriedade.

A institucionalização dos corpos policiais no Brasil ocorre nos idos de 1800, sobretudo a Guarda Nacional. A forma de atuação desses contingentes era, preponderantemente, pela força, para resolver conflitos de ordem pública, em especial, os que envolviam as pessoas menos abastadas economicamente (SILVA, 1990, p 137-9). Essa, portanto, é a característica marcante dos grupamentos policiais criados doravante no país.

Os estudos realizados por Bayley (2006) que, também, foram utilizados por Silva (Op. Cit.) para fundamentar sua teorização, dão conta que com a burocratização do Estado moderno e a necessidade desse aparelho de Estado (ALTHUSSER, 1978) atuar de forma mais sistematizada, principalmente após a Revolução Industrial, as polícias passam por um processo de racionalização, que se constitui de diversos fatores, mas para esta Tese serão considerados apenas três: a classificação da polícia entre pública ou privada; a especialização dessas instituições; e sua profissionalização.

73 O termo milícia aqui diverge do que ora é empregado, pois atualmente o termo tem sinônimo de um grupo formado por marginais que prestam um pseudo-serviço de segurança, pelo qual cobram e mantêm a população refém.

Para compreender o processo de racionalização da polícia a partir de Bayley (2006, p. 24), é necessário fazer uma diferenciação entre uma agência pública e uma agência privada e, que, segundo o autor, isso só fica mais claro quando se entende que a simples autorização da comunidade para uma força de segurança agir, obrigatoriamente, não a torna pública. Isso se dá quando essa instituição é formada, paga e controlada pelo Estado.

Por outro lado, uma instituição de segurança pode ser autorizada pelo Estado, mas, efetivamente, não ser pública, pois é mantida por grupos legalmente constituídos e autorizados. Um exemplo disso são os seguranças dos shoppings centers, hoteis, bancos, ou parques privados.

A especialização, por seu turno, é um dos aspectos preponderantes para a profissionalização, visto que sem ela a atuação de uma força policial, mesmo que legalmente instituída, torna-se mais restrita, focada, na maioria das vezes, apenas em algumas ações de cunho geral, como, fiscalização de estabelecimentos, aplicação de medidas administrativas, entre outras.

Ainda, acerca da especialização, um corpo policial passa por processos de seleção, formação e contínuo treinamento para atuação cotidiana nas ações efetivas de segurança e estaria legal e legitimamente autorizada para fazer uso da força, sendo, oficialmente, controlados e fiscalizados74. Apenas para consignar os principais, estes mecanismos se dão por meio de códigos de ética, corregedorias, ouvidorias, justiça e Ministério Público.

A profissionalização deve ser entendida como um termo polissêmico, pois além de significar a forma, meio e processo, pelo qual a corporação policial e seus membros adquirem o status de instituição legal e legitimamente reconhecida pela sociedade é a profissionalização, propriamente, dita, pois como defende Bayley (2006, p. 25) é “uma preparação explicita para realizar funções exclusivas da atividade policial”, ou seja, é o permanente processo de aprimoramento e requalificação profissionais, voltados a atender às demandas atuais da sociedade.

74 O Brasil e a maioria dos países democráticos são signatários da Declaração Universal dos Direitos Humanos e do Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (ONU, 1979). Tais mecanismos se fazem presentes na Constituição Federal de 1988 e, mais recentemente, na Portaria Interministerial Nº 4.226/2010, do Ministério da Justiça e da Secretária de Direitos Humanos da Presidência da República, que regula a ações dos policiais, mas também como os entes estatais devem prover condições necessárias, fiscalização e capacitação contínua para a segurança pública. Voltar-se-á a essa temática no capítulo 6.

De acordo com Bayley (2001), pode, até, ter significado embaraçoso para instituição policial, pois, à medida que é um status desejado/almejado, evidentemente, ainda, não fora alcançado e, nesse sentido, coloca as corporações, como também seus membros em xeque, visto que, se percebido nesse estágio pela sociedade e seus atores, tais trabalhadores e, ainda, não profissionais não estariam prontos, ou seja, em níveis de formação e qualificação que se espera de uma entidade estatal tão necessária ao funcionamento da administração pública e, também, para gerenciamento dos conflitos sociais.

A despeito dessa temática nunca é redundante destacar a teorização clássica de Althusser (1970, p.44-7), que descreve não apenas os Aparelhos Ideológicos de Estado (Família, Escola, Igreja), mas, também, os repressivos como, o exército, os tribunais, as prisões e a polícia que, muito embora, sejam criticados pelo autor, no conjunto dos aparelhos de Estado, não por sua existência, mas em virtude de sua apropriação pela classe burguesa dominante, a vida em sociedade sem esse ARE, sobretudo no mundo contemporâneo, seria inviável.

Caldeira (2000, p.169), ao descrever a atuação policial paulista e particularizar a da tropa de elite, Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA), corrobora com as inferências de Silva (1990), quando ele destaca o uso excessivo da força para resolver conflitos, sobretudo com aqueles criminosos indeterminados e incertos, pois, conforme os autores, no emaranhado da poeira que sopra das periferias, geralmente, não saneadas e, tampouco, pavimentadas, jamais poderiam ser identificados (os policiais) e, assim sendo, quase como uma regra, esses anônimos podem ser alvos da força física exacerbada, não legitimada legalmente, mas, recorrentemente, usada de forma desproporcional (BUENO, 2014) e sempre nas mesmas condições materiais e historicamente construídas.

A partir das proposições de Bayley (2001), apenas na esfera pública é possível ter uma força de segurança profissional, apesar de, atualmente, haver um grande número de instituições privadas que desenvolvem essas atividades, como acima exemplificadas, mas que, no entanto, não chegam a atingir algumas características e competências que as corporações públicas alcançaram.

Nesse sentido, é forçoso enfatizar que uma parcela, ainda, significativa das instituições públicas não tenham alcançado o estágio ideal de todas as categorias interpretativas desse status profissional, conforme é demonstrado a seguir.

Como forma de melhor compreensão lança-se mão da Figura 4 - Requisitos para uma polícia profissional, que além das características defendidas por Bayley (2001) são, também, utilizadas as habilidades estabelecidas na Matriz Curricular Nacional (BRASIL, 2014) que, no plano ideal, devem articular as competências cognitivas, operativas e atitudinais que o profissional de segurança pública no Brasil deve desenvolver para poder profissionalizar-se.

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Fonte: Autoria própria, a partir das inferências dos autores: BRASIL (2000, p12); (2014, p. 36); MENKE; WHITE; CAREY (2002, p.89); BAYLEY (2006, p.66).

75 Nas Polícias Militares o staff são as Seções do Estado Maior, que são responsáveis pelo planejamento estratégico das Corporações. Em algumas PMs as Diretorias, que são órgãos de direção e execução, também, participam desse planejamento. Na PMRN, não há, ainda, um