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4 TECNOLOGIAS DIGITAIS PARA O ENSINO E FORMAÇÃO DE

4.1 ASPECTOS IMPORTANTES SOBRE OS PRINCIPAIS PROGRAMAS

VOLTADOS PARA A IMPLANTAÇÃO DA TECNOLOGIA NAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES

Como já foi explicitado neste trabalho, o reconhecimento da Educação do Campo e a sua legitimação, ocorreu mediante as lutas dos movimentos sociais que foram fundamentais para que se criasse políticas públicas, de modo que, por lei, a escola do campo fosse reconhecida como espaço de produção de saberes, merecendo ser valorizada, passando a receber investimentos tanto no que se refere a infraestrutura física, materiais pedagógicos, tecnológicos e formação de professores para neste espaço atuarem.

Nesse capítulo, iremos falar sobre as tecnologias digitais para o ensino e a formação de professores em busca do letramento digital, por isso, consideramos importante

mencionar os principais programas voltados para a implantação de tecnologias nas instituições escolares para uma maior compreensão do leitor.

Assim sendo, consideramos necessário definir aqui que conceito de tecnologia que trazemos nesse trabalho, por isso, contamos com os saberes de Cardoso (2010, p.30), que nos diz que a tecnologia é

[...] um termo usado para atividades de competência humana, embasada no conhecimento, manuseio de um processo e/ou ferramentas que possibilitam mudanças aos meios do fazer natural, ocasionando uma evolução na capacidade das atividades do homem. Partindo deste pressuposto, livros, calças, meias, canetas, lápis etc., fazem parte do acervo tecnológico, assim como televisão, giz, celulares, computadores, DVD, câmeras digitais. A diferença é que estes últimos são recursos mais avançados, o que de certa forma, nos comprova que na atualidade vivemos um período de intensa produção tecnológica.

Essa definição é muito importante para nosso entendimento, porque o ser humano, ao observar a sua realidade, percebeu a necessidade de evoluir, criando ferramentas que pudessem auxiliar seu trabalho, dar mais comodidade e até mesmo proporcionar uma melhor relação entre as pessoas.

Por meio dessa inquietação, que a tecnologia surge e a cada dia, novas produções tecnológicas se apresentam, porque o ser humano está sempre em busca de novas oportunidades, produzindo por meio de pesquisas, recursos cada vez mais avançados dentro da área tecnológica.

Na década de 80, no auge das inovações tecnológicas que se aproximavam da vida das pessoas, o governo federal começou a perceber que era preciso fazer uso das tecnologias para ajudar na formação do professor e consequentemente na utilização em sala de aula para facilitar o processo de ensino e aprendizagem.

Pensando nisso, criou uma espécie de equipe intersetorial representada por integrantes da Secretaria Especial de Informática (SEI), do Ministério da Educação e Cultura (MEC), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e da Financiadora de Inovação e Pesquisa – Finep, realizando o I Seminário Nacional de Informática Educacional em agosto de 1981 (TAVARES, 2001). Esse seminário tinha como objetivo mostrar que o computador não iria jamais substituir o trabalho do professor, mas vinha auxiliá-lo no ato pedagógico.

A partir dessa nova visão, em 1983 criou o Projeto Educação com Computadores (EDUCOM), que contou com a implantação de centros-pilotos nas Universidades

Federais de Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e na Estadual de Campinas, onde tinham como objetivo desenvolver uma pesquisa no âmbito do uso educacional da informática para se compreender como a criança aprendia a partir do uso das tecnologias (TAVARES, 2001).

Em 1984, o Centro de Informática do MEC (CENINFOR) assume a responsabilidade sobre o programa e passa a ter como objetivo principal a responsabilidade de implementá-lo, coordená-lo e supervisioná-lo, de modo a garantir sua eficiência. O programa teve algumas dificuldades, principalmente no que se refere à liberação de bolsas de estudo para as pesquisas nas universidades e também em 1985, com o fim da ditadura militar o CENINFOR é desestruturado e se inicia disputas internas dentro do MEC para ver quem iria assumir o programa (TAVARES, 2001).

Mesmo com todos esses desgastes, o EDUCOM foi um importante programa de implementação tecnológica, pois ele permitiu que houvesse as primeiras pesquisas na área da tecnologia no Brasil, formando professores de acordo com as experiências daqueles que estruturavam o programa dentro das universidades, porém privilegiou sua aplicabilidade nas regiões Sul e Sudeste.

Diante desse contexto, em 1989, o projeto EDUCOM é substituído pelo Programa Nacional de Informática Educativa (PRONINFE) que tinha como objetivo “[...] desenvolver a informática educativa no Brasil, através de projetos e atividades apoiados em fundamentação pedagógica sólida e atualizada, assegurando unidade política, técnica e científica” (TAVARES, 2001, p. 51), além da preparação de professores para o uso da informática com os alunos.

Em meio a isso, o MEC criou, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, uma emissora de televisão pública via satélite, que entrou no ar em 04 de março de 1996, a chamada TV Escola.

Seu objetivo inicial era dar apoio, capacitação e atualização permanente a todos os professores espalhados nos diversos cantos do país, visando facilitar e disponibilizar conteúdos da grade curricular para professores e alunos da rede de ensino.

Desde o início procurava disponibilizar conteúdos diversificados para se tornar uma ferramenta pedagógica para ser usada dentro e fora da sala de aula. “Era enviado um kit tecnológico para as escolas que tinham mais de 100 alunos. Composto por equipamentos como televisão, antena parabólica, receptor via satélite, videocassete

e 10 fitas VHS para gravação de programas” (FIORENTINI; CARNEIRO, 2006, p. 70), tudo isso para estimular a formação à distância dos professores.

A princípio, a TV Escola era usada com sinal analógico e atualmente o sinal é digital, o que possibilitou atingir um número cada vez maior de professores e alunos ou quem se interesse em aprender.

Atualmente, a TV Escola é um órgão do MEC, subordinado à Secretaria de Educação à Distância (SEED), que tem como principais objetivos: valorizar os profissionais da educação; capacitar, aperfeiçoar e valorizar os professores da rede pública de Ensino Fundamental e Médio através de uma formação inicial e continuada à distância, possibilitando uma melhoria no processo ensino- aprendizagem (MENEZES, 1996).

Essa emissora, nos dias atuais, não fica restrita a ser simplesmente um canal aberto na televisão brasileira, pois, com a era da informatização e com a presença das tecnologias digitais para o ensino, a TV Escola conta com uma plataforma interativa, onde é possível a professores, alunos e toda a comunidade o acesso a diferentes conteúdos, podendo usá-los para complementar sua formação e possibilitar novas estratégias para facilitar o processo ensino e aprendizagem.

Dando continuidade aos programas de capacitação dos professores, a partir do PRONINFE criou-se o Proinfo, que é um programa educacional criado pela Portaria nº 522/MEC, de 9 de abril de 1997, com o intuito de promover o uso pedagógico das tecnologias digitais na rede pública de ensino fundamental e médio.

A partir de 2007, pelo Decreto 6.300, o Proinfo passou a se chamar Programa Nacional de Tecnologia Educacional. Esse tem como objetivo melhorar a educação pública, dando subsídios para diversificar as metodologias empregadas, de modo a garantir uma equidade ao acesso das tecnologias para todos, equipando as escolas com computadores, recursos educacionais e conteúdos educativos.

A compra, distribuição e instalação dos laboratórios de informática nas escolas públicas de Educação Básica ficam a cargo do MEC, já a estruturação dos laboratórios de informática fica a cargo dos estados, municípios e do Distrito Federal, bem como a capacitação dos professores para uso das ferramentas (MENEZES; SANTOS, 2001).

O programa tem como base, em cada unidade da federação, Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE), que são

[...] estruturas descentralizadas de apoio ao processo de informatização das escolas, auxiliando tanto no processo de incorporação e planejamento da nova tecnologia, quanto no suporte técnico e capacitação dos professores e das equipes administrativas das escolas (MENEZES; SANTOS, 2001).

Como o Proinfo objetiva a capacitação de professores para o uso das tecnologias, esse trabalha com o sistema de multiplicadores, onde há treinamento dos professores nos NTE que funcionam como uma espécie de apoio para essa finalidade de formação.

De acordo com Prata (2005, p. 63) o Proinfo tem como objetivos

[...] melhorar a qualidade do ensino-aprendizagem, possibilitar a criação de uma nova ecologia cognitiva nos ambientes escolares mediante a incorporação adequada das novas tecnologias da informação pelas escolas, propiciar uma educação voltada para o desenvolvimento científico e tecnológico e educar para uma cidadania global numa sociedade tecnologicamente desenvolvida.

Diante desses objetivos, é evidente que a educação, neste momento, procura, através da inserção do computador em sala de aula, possibilitar uma nova possibilidade de garantir um ensino de maior qualidade, de modo que os professores possam se apropriar dessas ferramentas para diversificar suas aulas e inserir os alunos nesse campo tecnológico.

Esse programa acontece em total consonância entre a SEED/MEC, o Conselho Nacional de Secretarias Estaduais de Educação (CONSED) e por comissões de informática na educação que são compostas por representantes de diversos municípios, das universidades e comunidade em geral (TAVARES, 2001).

De acordo com o site oficial do MEC, o programa atende tanto a área urbana, quanto a área rural, fazendo as parcerias necessárias para que os estados, em consonância com os municípios se organizem para receber os laboratórios de informática.

Algo interessante que merece destaque é que a partir de 2007, criou-se o Programa Nacional de Formação Continuada em Tecnologia Educacional (Proinfo Integrado), que visa à formação didático-pedagógica dos professores de modo que tenham acesso aos recursos multimídias e digitais oferecidos pelo Portal do Professor, pela TV Escola e DVD Escola, Domínio Público e pelo Banco Internacional de Objetos

Educacionais, como meio de facilitar o acesso a tecnologia e a formação discente (BASNIAK; SOARES, 2016).

Quando nos referimos às escolas do campo, essas, durante muitos anos, não receberam a devida atenção e investimentos em nosso país. Até meados de 1940, não havia formação para os professores que atuavam nas áreas rurais, na qual se tinha a concepção que os alunos campesinos, por serem pobres e lidarem com atividades ligadas a agricultura e pecuária necessitavam de uma instrução mínima. Diante desse cenário, o governo elaborou as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, para garantir a essas escolas uma inclusão digital e notabilidade, já que até em 1943 não se fazia menção nas constituições brasileiras sobre a educação rural, dando enfoque para a área urbana, mesmo o Brasil sendo um país predominantemente de economia agrária (BRASIL, 2002).

A partir disso, as políticas públicas foram avançando, até que em 20 de março de 2012, criou-se o Programa Nacional de Educação no Campo (Pronacampo) que é coordenado pela MEC, pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que tem como um dos seus objetivos a inclusão digital das escolas do campo.

De acordo com o documento que norteia o programa, ele foi estruturado a partir do Decreto nº 7.352/2010, tendo ações voltadas

[...] ao acesso e a permanência na escola, à aprendizagem e à valorização do universo cultural das populações do campo, sendo estruturado em quatro eixos: (1) Práticas Pedagógicas; (2) Formação Inicial e Continuada de Professores; (3) Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissional; (4) Infraestrutura Física e Tecnológica (BRASIL, 2013a, p. 2).

Para que essas ações se efetivem nas escolas do campo, a União, junto com estados, municípios e o Distrito Federal trabalham em conjunto para que haja a garantia da promoção da inclusão digital, porém, o programa não contempla a possibilidade de realizar cursos de formação e capacitação de professores das escolas do campo, ficando a cargo da gestão local, em parceria com os NTEs para esses serem realizados (PESCADOR, 2016).

É evidente que muito ainda precisa ser feito, pois, algumas escolas do campo carecem de materiais para uso pedagógico e até mesmo falta uma estrutura física

adequada para comportar com maior conforto os alunos (SANTOS, 2016), sem contar que, alguns professores não possuem formação adequada para o trabalho nas escolas do campo, necessitando de formação no espaço em que atuam.