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6 METODOLOGIA DE PESQUISA

6.4 FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Atualmente estamos vivendo um momento importante na educação, pois é notório a necessidade do professor em participar de forma atuante de uma formação continuada que dê a ele a possibilidade de refletir sobre sua prática, revendo, de forma crítica, pontos que precisam ser melhorados para que, o ato pedagógico adquira a ação transformadora na sociedade em que vivemos.

Mediante a isso, é necessária uma formação que valorize os saberes dos docentes, de modo que, sua contribuição possa ser o ponto de partida para um debate no interior das escolas, já que ele é o sujeito que atua e lida diretamente com as questões sociais que norteiam as instituições educacionais.

Como forma de auxiliar e contribuir para que essa ação se efetive com perspicácia e gere resultados satisfatórios, utilizamos como base os saberes de Paulo Freire, que,

em seus escritos, sempre deixou claro que, a educação não é a forma única de transformação social, mas ela é uma importante ferramenta para que essa ação aconteça de forma real (FREIRE, 1996).

A primeira condição que necessita de superação pelo docente é se reconhecer como oprimido, para encontrar maneiras de se libertar, de modo que essa libertação vá de encontro a seus alunos, em uma tomada de consciência para a mudança (FREIRE, 2016).

Diante disso, o indivíduo é dotado de saberes que precisam ser valorizados e respeitados, pois, quando se fomenta o diálogo, conseguimos desenvolver a capacidade de dialogar e com isso, partilhar conhecimentos, na qual todos juntos, conseguimos encontrar a solução para determinadas situações na qual estamos vivenciando.

Ao se aplicar uma formação continuada tendo por modelo os ensinamentos de Freire que dialoga com a pesquisa colaborativa, enfocando a dialogicidade, é importante reforçar que o mesmo sempre enfatizou o diálogo como ponto de partida e de chegada, já que por meio dele, os pares conseguem encontrar um caminho para a libertação (FREIRE, 2016).

A proposta de formação para o desenvolvimento dessa pesquisa é intitulada de “Tecnologias Digitais para o Ensino na Educação Básica do Campo” que foi realizada entre os meses de março a junho de 2019 na EMEF Aracê que fica localizada na BR 262, km 87, distrito de Aracê, no município de Domingos Martins, no estado do Espírito Santo, na qual está situada na zona rural do município, sendo então uma escola campesina.

A formação aconteceu por meio de curso de extensão entre o Ifes e a Secretaria Municipal de Educação e Esporte de Domingos Martins, acontecendo nas dependências da escola.

Como se trata de uma pesquisa que envolve seres humanos, o curso de extensão foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), sendo aprovado, como se pode observar no Apêndice A.

A proposta do curso foi apresentada para a secretária de Educação e Esporte do município (Apêndice C) e, após a autorização, por meio do termo de Anuência (Apêndice E), iniciamos a próxima etapa de nos dirigirmos até a escola para

apresentação da pesquisa e solicitar a autorização para a realização do curso de extensão para a formação continuada.

Fomos recebidos pela diretora Lidiane e apresentamos a pesquisa (Apêndice D). Logo em seguida, após uma breve apresentação, ela assinou o termo de Anuência (Apêndice F) e, aproveitando um planejamento coletivo que estava acontecendo na instituição, apresentamos para a pedagoga e os professores do Ensino Fundamental I a proposta de formação, de modo que toda a equipe pedagógica compreendesse qual seria o nosso objetivo na escola ao propor essa formação continuada.

Foi apresentado a todos que a pesquisa seria desenvolvida de modo colaborativo, tendo como base de estudo as tecnologias digitais para o ensino e a educação do campo, possibilitando o entrelaçamento entre essas duas bases de estudo para que se apropriem desses elementos, contribuindo no processo de ensino e aprendizagem.

É importante ressaltar que nessa primeira conversa, procuramos ouvir os professores e também a equipe gestora para que pudessem apresentar as necessidades da escola para juntos, desenvolvermos a formação.

Mediante a esse levantamento de dados, construímos a formação continuada partindo da necessidade dos professores, pois, assim como nos orienta Ibiapina (2008), para que esses possam, mediante ao diálogo crítico e reflexivo, exporem seus saberes e contribuírem com suas experiências no grupo, os mesmos necessitam ter a segurança de expressarem o que pensam, de modo que, juntos, nos formarmos nesse processo.

Ao pensarmos a formação continuada, nos unimos a Braga (2011) e Nickel (2018), pois as duas autoras nos mostram a importância da formação em serviço, pois é na escola que as relações pessoais e profissionais se entrelaçam e por meio dos diálogos que estabelecemos, nos formando enquanto sujeitos.

Quadro 4 - Carga horária da formação de professores

Atividades Quantidade Carga horária

Encontros presenciais 4 encontros 20h

Atividades não presenciais 60h distribuídas em:

*Pesquisa e leitura de textos; ___ 20h

* Atividades diversas; 20h

* Escrita do Relato de Experiência 20h

Carga horária total 80h

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Após esse primeiro momento, os professores foram convidados a participarem da pesquisa e aqueles que se sentissem motivados a realizar a formação, receberam uma ficha de inscrição para poderem participar do curso (Apêndice E).

O curso de formação intitulado de “Tecnologias digitais para o ensino na Educação Básica do Campo”, foi organizado de acordo com o quadro abaixo:

Quadro 5 - Matriz curricular

(Continua)

Módulo

Dat

a

Temas de estudos Presencial (teórico/prática) Não presencial (teórico/prática) Responsável Ca rg a Ho ria Mód u lo 1 0 6 /0 4 /2 0 1 9 1º encontro presencial: Ambiente Virtual de Aprendizagem na Formação de Professores do Campo X Charles Moreto/ Sabrina Stein 04 h 0 6 a 2 6 /0 4 /2 0 1 9

Por uma escola pública do

campo X Sabrina Stein 10 h

2 7 /0 4 /2 0 1 9 2º encontro presencial: Educação Rural e Educação do Campo X Charles Moreto 04 h 2 7 a 1 7 /0 5 /2 0 1 9 A organização do campo e

Mód u lo 2 1 8 /0 5 /2 0 1 9 3º encontro presencial:

Tecnologias digitais para o ensino – conceituação e práticas docentes X Rosania Kalk Plaster 04 h 1 8 /0 5 /2 0 1 9 4º encontro presencial: O

uso de editores de vídeo como um recurso pedagógico - Conhecendo essa ferramenta X Rosania Kalk Plaster 04 h 1 8 a 1 4 /0 6 /2 0 1

9 Tecnologias digitais para o ensino e Educação do

Campo / Conhecendo o software “Cmap Tools” e a

produção de mapas conceituais

X Sabrina Stein 10 h

Quadro 5 – Matriz Curricular

(Conclusão) Mód u lo 2 1 8 a 1 4 /0 6 /2 0 1 9 Editores de vídeo – Produzindo vídeos X Sabrina Stein 10 h 1 8 a 2 4 /0 7 /2 0 1 9 Professor do campo: memórias e trajetórias X Sabrina Stein 20 h 1 3 /0 7 /2 0 1 9 5º encontro presencial: Avaliação do curso e do produto educacional X Charles Moreto/ Sabrina Stein 4 h

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Para que essa formação acontecesse, decidimos utilizar alguns elementos da metodologia da Pedagogia da Alternância, pois ela parte de princípios colaborativos e dialógicos presentes nos estudos defendidos por Ibiapina (2008) e Freire (2016). A Pedagogia da Alternância se caracteriza por ser uma pedagogia que permite uma formação global, onde a experiência e a sistematização da aprendizagem caminham juntas. A aprendizagem por meio da Alternância é desenvolvida nas EFAs, pelo incentivo do MEPES. Tem uma dimensão pedagógica que compreende uma formação com períodos alternados de vivência e estudo na escola e na família, na qual os estudantes são acompanhados pelos monitores e pelos pais (GERKE DE JESUS, 2011).

Gerke de Jesus (2011, p. 68) nos diz que “A Pedagogia da Alternância permite que os conteúdos de ensino da Escola Família Agrícola sejam verdadeiramente vinculados ao meio de vida dos alunos [...]”, por isso que o lócus de formação é a família e o ambiente onde o estudante vive, sendo uma formação que contempla a ação-reflexão-ação, num processo que é constante e interminável, pois sempre estamos aprendendo.

É por meio das experiências que os alunos possuem de suas vivências por meio da Alternância entre a escola e a família, que toda a aprendizagem se constitui, pois a instituição escolar e a família estão em constante ligação, o que proporciona uma formação integral que se estende também aos pais (GERKE DE JESUS, 2011). Os instrumentos pedagógicos usados pela Pedagogia da Alternância são fundamentais para proporcionar a aprendizagem por meio da alternância, pois, de acordo com Souza (2016) é um processo que permite a união entre teoria e prática. Diante disso, para a realização dessa formação, nos aproximamos dessa metodologia tendo por base o Plano de Estudo e a Colocação em Comum.

O Plano de Estudo é um meio didático-pedagógico formado por questões que servem para possibilitar um repensar sobre situações práticas e experiências que, no caso aqui descrito se refere a práticas pedagógicas vividas pelo sujeito.

Como nossa pesquisa trabalhou com professoras do Ensino Fundamental I, a proposta foi fazê-las pensar sobre as tecnologias digitais para o ensino disponíveis na escola, bem como a sua utilização na prática pedagógica, sempre contextualizando com o espaço campesino onde a escola está situada.

Esse plano de estudos se constituiu em perguntas elaboradas de modo colaborativo pelos pesquisadores e professores cursistas, na qual as mesmas foram respondidas. Como nos diz Souza (2016) o Plano de estudo é um instrumento de expressão oral, escrita e gráfica, na qual se pode ligar a reflexão com a ação de modo que a experiência seja evidenciada e auxilie esse percurso formativo já que pesquisa e problematiza a realidade.

Após todos responderem essas questões, utilizamos o outro instrumento da Pedagogia da Alternância que é a Colocação em Comum. É uma espécie de texto síntese, na qual esse será realizado por meio de uma produção coletiva a partir das respostas do Plano de estudo.

A esse respeito Gerke de Jesus (2011, p. 83) nos diz que “[...] O objetivo é reunir numa síntese geral tudo que o coletivo trouxe da realidade e tecer sobre estas provocações que necessitarão de aprofundamento [...]”, reafirmando que essa etapa é importante pois, cada cursista, juntamente com os pesquisadores, pode conhecer a realidade que os cerca dentro de um espaçotempo que está em constante movimento.

A partir dessa etapa, foi proposta a leitura de textos a partir do que foi problematizado na Colocação em comum, bem como atividades que possibilitaram a análise da realidade que os professores cursistas estão inseridos, fazendo-os pensarem nas tecnologias digitais para o ensino relacionando com a educação do campo. Essas ações foram realizadas nos encontros presenciais e por atividades não presenciais.

Após as etapas descritas acima, cada cursista foi motivada a refletir sobre o percurso formativo até o momento, pois foi possível conhecer a realidade e analisar como ela está e quem sabe, como deveria ser. Mediante a isso, chegamos na etapa da transformação, pois, quando se problematiza, é preciso encontrar no coletivo alternativas para a superação das situações encontradas.

Assim, cada professora cursista pode usar toda a aprendizagem até o momento, fazendo uso em sua prática pedagógica e descrevendo, por meio de um relato de experiência pedagógica, ao final da formação, sua prática docente, aliando educação do campo e tecnologias digitais para o ensino.

Por meio do uso dessa metodologia se propõe unir teoria e prática, como forma de parceria, pois, pesquisadores e professores estão juntos, se reconstruindo por meio do diálogo, tão defendido por Freire (2016), como forma de possibilitar uma emancipação e libertação reflexiva de sua prática.

Algo que Freire defendia é que

Escutar é obviamente algo que vai mais além da possibilidade auditiva de cada um. Escutar, no sentido aqui discutido, significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro. Isto não quer dizer, evidentemente, que escutar exija de quem realmente escuta sua redução ao outro que fala (1991, p. 135).

Sendo assim, a prática da escuta, do diálogo se torna algo importante nessa formação, porque é preciso criar o hábito de ouvir, tanto sobre o que os outros

professores estão relatando de experiências vividas, quanto à escuta do que os alunos têm a nos dizer, sendo assim, uma atitude que permite a aceitação do outro, possibilitando a afirmação das diferenças, reconhecendo que o outro é dotado de uma cultura e merece ser ouvido e respeitado.

Por meio dessa parceria, o professor pode apresentar suas experiências para o grupo, realizando uma reflexão crítica sobre o uso das tecnologias no ato pedagógico e sua relação com a educação do campo, de modo que, essa reflexão gere saberes que irão influenciar positivamente numa mudança de postura e trabalho em sala de aula.

Freire (2016) frisou que é preciso que todo ato dialógico tenha um movimento de reflexão-ação-reflexão das intenções, contextos e práticas para ser eficiente. Quando se propõe uma formação continuada para os professores campesinos, busca-se também que eles compreendam que aquele espaço onde trabalham é marcado por lutas que precisam ser ouvidas e analisadas, já que muitas vezes, os campesinos tem sua cultura negada por uma educação que aliena, que exclui. Daí a importância mais uma vez do diálogo com os pares, que rompe barreiras e favorece a transformação consciente.

Essa formação aplicada procurou auxiliar as professoras da EMEF Aracê na busca por novas possibilidades e estratégias de trabalho quanto ao uso das tecnologias digitais para o ensino entrelaçadas à educação do campo, porém, ela não se constituiria sem o diálogo entre os pares, porque a todo momento, pesquisador e professor se colocam como agentes de transformação e ouvintes, produzindo conhecimentos partilhados, em que, um ajuda o outro, num caminhar permanente, na busca de uma reflexibilidade da prática, estendendo isso para a sala de aula, gerando a formação de sujeitos críticos e reflexivos a partir do uso das tecnologias dentro do contexto campesino.

Desse modo, essa formação foi construída de forma colaborativa e dialógica, onde todos puderam opinar, relatando sobre o que desejam aprender, fazendo trocas de experiências e principalmente, levando todo esse saber para a sala de aula, no trabalho diário com os alunos campesinos da escola pesquisada.