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4 TECNOLOGIAS DIGITAIS PARA O ENSINO E FORMAÇÃO DE

4.3 FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES CAMPESINOS: O USO

Saber fazer uso das diferentes mídias digitais que existem é algo que os professores precisam se apropriar nos dias atuais, pois cada vez mais se observa a importância de uma educação que possibilite ao estudante a aquisição de certas capacidades que o auxiliarão na vida pessoal e profissional, já que vivemos na era tecnológica. Diante disso, é de fundamental importância que exista uma formação continuada que dê ao docente a possibilidade de se apropriar das tecnologias digitais, de modo que no coletivo, encontre maneiras de utilizá-las na educação, voltada para o ensino e aprendizagem dos alunos.

É evidente que em uma formação não é possível adquirir todas as habilidades para o uso da tecnologia, já que a mesma é muito ampla e com inovações muito rápidas, mas quando se estuda, é possível, por meio do diálogo e da troca de experiências,

acontecer aprendizagens que possibilitarão a reflexão e o uso dessas ferramentas em sala de aula.

Em meio a esse contexto, um conceito que norteia os saberes voltados para a tecnologia é o termo letramento digital, que resolvemos adotar nesse trabalho, justamente porque ele traz uma aprendizagem mais ampla sobre o uso da tecnologia digital numa perspectiva de letramento digital.

Para compreender esse entrelaçamento, resolvemos trazer aqui dois conceitos importantes: alfabetização e letramento, pois eles são a base para nosso entendimento sobre o tema.

De acordo com Soares (2003), quando um sujeito entra no mundo da escrita e passa a fazer uso dela, ele está aprendendo uma técnica, pois vai relacionando os sons, as letras, os fonemas, os grafemas, codificando e decodificando o alfabeto e por meio desse processo vai aprendendo a ler e a escrever.

Assim, alfabetização é para Soares (2008, p. 45) “[...] uma ação de ensinar/aprender a ler e a escrever [...]” que também vai além, já que é preciso aprender a fazer uso do lápis, da escrita linear, da direita para a esquerda, enfim, é preciso adquirir aspectos técnicos que são essenciais para que o indivíduo esteja alfabetizado. Frade (2017, p. 61) complementa dizendo que

[...] parece que ensinar e aprender a escrever e a ler e a menção às primeiras letras circunscrevem o conceito, ligando-o às práticas iniciais de escrita nas quais estejam envolvidas as letras e o que elas representam, ou seja, o sistema alfabético e ortográfico de escrita.

Já o termo letramento para Soares (1998, p. 47) é o “[...] estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva as práticas sociais que usam a escrita”, é assumir a escrita com propriedade. Ela complementa dizendo que alfabetizado é aquele que sabe ler e escrever; já o letrado é aquele que não sabe só ler e escrever, mas usa socialmente a leitura e a escrita para responder as demandas sociais (SOARES, 1998).

Essa afirmação se complementa com a citação de Araujo e Vilaça (2017, p. 126) na qual apresentam que o “[...] letramento é um ato sociocultural constituído pelo processo de leitura e escrita. E esta leitura e escrita ganham significados específicos, dependendo do grupo social que faz uso destas atividades”.

Com essa diferenciação entre alfabetização e letramento, chegamos ao conceito de letramento digital, onde Soares (2002, p.151) nos diz que

[...] é um certo estado ou condição que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas de leitura e escrita na tela, diferente do estado ou condição – do letramento – dos que exercem práticas de leitura e de escrita no papel.

Assim, letramento digital é a apropriação das práticas de leitura e escrita que circulam no meio digital através da tela, diferente daqueles que são letrados e utilizam somente a leitura e escrita no papel (FRADE, 2017).

O conceito que nos referimos nesse trabalho vai além da prática da leitura e da escrita, já que, ao possibilitar uma formação continuada que faça uso das tecnologias digitais numa perspectiva de letramento digital, queremos deixar evidente que o intuito não é somente proporcionar ao professor a aprendizagem para o uso da ferramenta, mas provocá-lo a ir além, a refletir no coletivo quais as possibilidades pedagógicas que determinadas tecnologias podem ter na prática docente.

Nosso objetivo não é simplesmente instrumentalizar, mas ir além, pois o intuito é que cada professor busque novas informações, aprenda a utilizar as tecnologias digitais de modo consciente, se apropriando dessa nova linguagem multimídia e das funções que ela pode nos proporcionar (FRADE, 2017).

O uso adequado da tecnologia voltada para o processo de ensino e aprendizagem é um caminho para o letramento digital dentro da área educacional, pois, infelizmente, ainda temos muitos professores brasileiros que são analfabetos digitais, pois eles tem o conhecimento das práticas sociais do uso da tecnologia, compreendendo sua importância e os diversos usos e funções que possuem, mas como não possuem acesso ao computador, ficam limitados e não exploram essas capacidades (FRADE, 2017).

Por meio dessa situação, a formação continuada empreendida vem para fazer o docente pensar os diversos usos e funções que a tecnologia pode oferecer, mas de modo que ao utilizarem, possam encontrar meios de empregar as aprendizagens na prática pedagógica em sala de aula, podendo compartilhar com o grupo as dificuldades e o que aprenderam nesse processo.

Pensando em uma formação na perspectiva freiriana, decidimos realizar um entrelaçamento entre formação de professores do campo e tecnologias digitais para o ensino numa perspectiva do letramento digital, tendo como foco o trabalho com os seguintes softwares: Cmap Tools e editores de vídeos com licença livre, justamente porque hoje vivemos em uma sociedade digital, que faz uso da tecnologia em seu cotidiano. Por isso, se faz importante o domínio dessas ferramentas pelo professor para sua utilização como um recurso educativo.

Diante disso, é necessário que o professor campesino, no exercício de sua função, conheça a importância das tecnologias digitais para o ensino, de modo que possa usar as diferentes ferramentas que a mesma oferece para que seu aluno possa aprender coisas novas e conhecer novas possibilidades que possam vir a ser potenciais para aprimorar as atividades agropecuárias de sua família, de modo consciente e até mesmo sustentável.

Aqui se faz importante mencionar que Freire foi um homem que não viveu preso ao passado, mas procurava se atentar para tudo ao seu redor, chegando a dizer “Faço questão enorme de ser um homem de meu tempo e não um homem exilado dele” (FREIRE, 1984, p.1), se referindo que a tecnologia é algo criado pelo homem, porém é preciso sempre refletir sobre sua aplicabilidade, pois ela não deve servir para alienar e sim para libertar os oprimidos de modo que esses ajam dialeticamente. As tecnologias digitais para o ensino, como nos diz Kenski (2008) são ferramentas que possibilitam aos indivíduos uma interlocução, de modo a aproximar as pessoas para que interajam umas com as outras e em especial, no campo da educação, como forma de ensinar e aprender. Elas podem “[...] libertar ou dominar, manipular ou esclarecer, e é vital que os educadores ensinem seus alunos a usar e analisar criticamente essas ferramentas” (SOUZA, 2016, p. 117).

A tecnologia, por si só, não revoluciona o ensino, mas quando ela é utilizada pelo professor como mediadora do conhecimento, essa proporciona uma aprendizagem significativa para o aluno, podendo revolucionar todo o ato de aprendizagem. Com isso, é preciso reconhecer que processos de interação e comunicação no ensino “[...] sempre dependeram muito mais das pessoas envolvidas no processo, do que das tecnologias utilizadas, sejam o livro, o giz ou o computador e as redes” (KENSKI, 2008, p.9).

Freire relata em suas obras a importância da mediação pedagógica, na qual, de acordo com Adams (2017) para ele, essa mediação é algo pertencente ao processo educativo, onde, por meio do diálogo, o professor irá conduzir seus alunos a um olhar crítico em relação à sociedade, motivando-os a pensarem e participarem ativamente dando sua opinião.

A promoção de uma educação dialógica é fundamental a qualquer professor, pois dentro da pedagogia freiriana, independente do conteúdo a ser trabalhado com os alunos, é preciso sempre problematizar por meio de um diálogo em qualquer situação (SOUZA, 2016).

Quando nos referimos à tecnologia digital, essa não vem para substituir a figura do professor, mas surge como um meio para mediar o processo de ensino e aprendizagem, necessitando uma mediação pedagógica pelos docentes, que, precisam, por meio de formação continuada, troca de experiências e até mesmo posicionamento político e emancipador, possibilitar aos alunos essa aprendizagem por meio de novas possibilidades de aprender (KENSKI, 2008).

Nas escolas do campo isso se faz ainda mais urgente, pois, é preciso superar o pensamento preconceituoso em relação ao campo e as pessoas que ali trabalham. Segundo Souza (2016), as tecnologias devem motivar a interação entre as pessoas, de forma crítica e reflexiva, porém, se essa for utilizada de modo alienador, que só reproduz algo, a mesma não traz nenhuma inovação, muito menos contribui para a transformação da realidade.

Muito se tem falado nos dias atuais que para uma educação ser realmente de qualidade, a mesma tem que fazer uso constante da tecnologia. Diante disso, Kenski (2012) nos apresenta que o professor necessita adequar os conteúdos às ferramentas tecnológicas disponíveis, mediando a aprendizagem.

Com essa ação, ele precisa garantir que haja um interesse em aprender para que os conhecimentos ali apresentados possam ser construídos no coletivo, por meio de parceria, do diálogo e isso se torna possível mediante a uma formação que desenvolva essas competências.

As variadas informações que encontramos com facilidade na internet necessitam ser transformadas em conhecimentos, porém é necessário um trabalho crítico, que

exige discussão e determinação, justamente para que os saberes sejam reconstruídos e reelaborados de acordo com o interesse dos indivíduos.

Diante disso, a escola precisa se transformar em um espaço rico de aprendizagens presenciais e digitais significativas, que motivem os estudantes à aprender ativamente, de modo a serem pesquisadores e proativos, adquirindo, assim, autonomia para tomarem iniciativas e interagirem (MORAN, 2013).

A esse respeito, Moran (2013, p. 31) nos diz que

As salas de aula podem tornar-se espaços de pesquisa, de desenvolvimento de projetos, de intercomunicação on-line [grifo do autor], de publicação, com a vantagem de combinar o melhor do presencial e do virtual no mesmo espaço e ao mesmo tempo. Com isso é possível pesquisar todas as formas, utilizando todas as mídias, todas as fontes, todas as maneiras de interação. Pesquisar às vezes todos juntos, ou em pequenos grupos, ou mesmo individualmente. Pesquisar na escola ou em diversos espaços e tempos. Combinar pesquisa presencial e virtual [...]

O autor, no excerto acima, deixa claro que a tecnologia é uma aliada dos professores, pois os espaços escolares são ampliados, não ficando restritos a quatro paredes, mas se expandem e possibilitam diversas formas de interação e aprendizagem.

Essa ação se torna uma motivação para os alunos aprenderem cada vez mais e um desafio para os docentes, que vão reelaborando de forma criativa e personalizada os conteúdos educacionais, não ficando restritamente com modelos prontos elaborados por especialistas (MORAN, 2013).

Para isso, os professores necessitam estar em constante formação para que as tecnologias se tornem aliadas no processo de ensino e aprendizagem, exigindo dos participantes empenho e determinação para verem nessas ferramentas uma possibilidade de mudança no ensino, além de perceberem que é possível selecionar bons materiais textuais e audiovisuais, sejam impressos e/ou digitais para diversas atividades com os estudantes.

O uso das tecnologias no processo ensino e aprendizagem exige que o professor se baseie em situações concretas que incorporem informações e reflexões a partir de situações que estimulem a pesquisa. Assim, o aluno inserido nesse processo tem possibilidades de sair da passividade para assumir o papel de produtor do conhecimento (MORAN, 2013).

São inúmeras as possibilidades de uso das tecnologias na educação pelos docentes,

[...] principalmente a internet, como apoio para a pesquisa, para a realização de atividades discentes, para a comunicação com os alunos e dos alunos entre si, para a integração entre grupos dentro e fora da turma, para a publicação de páginas web, blogs [grifo do autor], vídeos, para a participação em redes sociais, entre muitas outras possibilidades (MORAN, 2013, p. 36).

Evidenciando, assim, que incorporar os recursos digitais à prática docente é algo necessário, pois permite a formação de profissionais competentes, criativos, confiáveis e mais humanos, já que o objetivo é proporcionar ambientes de coletividade e colaboração, para que as barreiras do individualismo possam ser rompidas.

Por outro lado, ver a tecnologia como uma aliada na mediação da aprendizagem, exige do professor, uma reflexão política para observar se essa é mais um dos instrumentos que alienam os indivíduos, por isso, é de fundamental importância que o professor campesino conheça o que é emancipação e a utilize em sua prática cotidiana dentro e fora de sala de aula.

A emancipação humana é algo tão necessário que é importante para a formação da essência do professor campesino, pois é necessário compreender esse processo para contribuir para sua emancipação e posteriormente para a de seus alunos campesinos, por isso iremos apresentar melhor esse conceito no próximo capítulo.

5 A CONSTRUÇÃO DA EMANCIPAÇÃO NOS ESPAÇOS CAMPESINOS PELA