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Esquema 5 – A esquematização na situação de interlocução (GRIZE, 1996, p 68)

4.2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

Na trilha dos estudos que visam a descrever e a interpretar as unidades linguísticas, textuais e discursivas que estão em jogo na composição de ações de linguagem e, por conseguinte, permitem a manifestação de sentidos, realizamos uma pesquisa que toma a abordagem qualitativa como fundamento metodológico principal. Essa orientação se deu pelo fato de a abordagem qualitativa ser “um processo de reflexão e análise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico e/ou segundo sua estruturação” (OLIVEIRA, M., 2013, p. 37).

Os pressupostos de uma pesquisa qualitativa, segundo Chizzotti (2010), opõem-se ao pressuposto experimental. Este “defende um padrão único de pesquisa para todas as ciências, calcado no modelo de estudo das ciências da natureza” (Ibid., p. 78). Por seu turno, a pesquisa qualitativa entende que:

O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O objeto não é um dado inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações. (CHIZZOTTI, 2010, p. 79).

Nesse sentido, o conhecimento é construído pela relação entre o pesquisador e objeto pesquisado, haja vista não haver uma rigidez no controle dos dados de forma a se ter uma explicação fixa para o que é estudado. Na abordagem qualitativa o pesquisador exerce influência sobre os dados, pois, o que é abstraído como resultado depende dos saberes do pesquisador sobre estes em sua plurissignificação. Não obstante, o processo de uma abordagem qualitativa “implica em estudos segundo a literatura pertinente ao tema, observações, [...] análise de dados, que deve ser apresentada de forma descritiva” (OLIVEIRA, M., 2013, p. 37). Tudo isso é fundamental para que o pesquisador construa sua base conceitual para que ele possa agir com mais plausibilidade ao descrever e interpretar o fenômeno em estudo.

Em nossa pesquisa, amparamo-nos em tal opção metodológica pelo enfoque teórico – Análise Textual dos Discursos – que adotamos como literatura norteadora desse trabalho. À vista disso, a ATD visa a analisar a produção co(n)textual dos sentidos em textos concretos, conforme apresentamos no segundo capítulo. Por conseguinte, baseando-nos na proposta da ATD, desenvolvemos uma análise das representações discursivas de Lula nas capas das revistas Época e Veja. Para tanto, a análise implica em uma descrição do fenômeno citado e demanda conhecimentos que não estão dados a priori. Alude, portanto, a uma busca por elementos e seus significados na composição do texto, os quais produzem, de acordo com as ações visadas, representações dos temas que são, ali, evidenciados e os quais só são possíveis pelo olhar do interlocutor23, ou como denomina Adam (2011), o interpretante.

Em complemento a essa abordagem, adotamos também a abordagem quantitativa de pesquisa, uma vez que ela nos serve para demonstrar a ocorrência dos elementos representativos das categorias semânticas de análise das Rds de Lula nas capas das revistas

Época e Veja. Para Oliveira, M. (2013, p. 39-40, grifos da autora):

Adotar a prática de combinar técnicas de análise quantitativa com técnicas de análise qualitativa proporciona maior nível de credibilidade e validade aos resultados da pesquisa evitando-se, assim, o reducionismo por uma só

23 Em nosso caso, será o olhar do pesquisador que possibilitará a reconstrução das Rds do tema Lula nas capas das revistas Época e Veja.

opção de análise. [...] Levando-se em consideração tais benefícios, pode-se chegar à seguinte afirmativa: fazer pesquisa não é acumular dados e quantificá-los, mas analisar causas e efeitos, contextualizando-os no tempo e no espaço, dentro de uma concepção sistêmica.

Nessa perspectiva, ao intencionarmos a realização de uma pesquisa que se fundamente nessas duas abordagens de pesquisa, apontamos, com mais precisão, os mecanismos linguístico-textuais que são materializados no gênero de discurso capa de revista e, a partir disso, interpretar os sentidos e funções deles para a construção das representações discursivas de Lula.

Adicionalmente, nossa pesquisa configura-se como de tipo documental24, uma vez que o nosso objeto de estudo (capa de revista) é um material que não teve um tratamento analítico, bem como é uma fonte primária (dado original), visto que temos uma relação direta com os dados a serem analisados, sendo, portanto, de nossa responsabilidade, enquanto pesquisador, o desenvolvimento da investigação e análise (SEVERINO, 2007; OLIVEIRA, M., 2013).

Além da definição da abordagem de pesquisa e tipo de pesquisa que seguimos em nossa tese, outra decisão metodológica se nos apresenta como essencial para o tratamento dos dados de nosso estudo, isto é, o método utilizado. Ao considerarmos o corpus que será analisado, bem como os princípios teóricos que norteiam esta tese, assumimos que nosso trabalho opera com dois métodos que se imbricam para a realização desse fazer acadêmico, a saber, a dedução e a indução.

Os referidos métodos visam a dar conta de um estudo que já traz em sua fundamentação a ideia de que todo enunciado permite a construção de uma representação discursiva, quer seja de si (locutor), do alocutário ou do tema tratado na proposição enunciada. Nesse sentido, a dedução age como subjacente ao enfoque teórico que orienta a nossa pesquisa.

De modo mais específico, realizar uma pesquisa que toma a dedução como método, garante ao pesquisador a certeza de que o corpus será capaz de gerar repostas condizentes com as questões de pesquisa. Não obstante, Oliveira, M. (2013, p. 49) afirma que a dedução parte “dos princípios já reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis para se chegar a determinadas conclusões”. Em nosso trabalho, temos ciência de que os textos concretos analisados (capas de revista) possibilitam a compreensão das representações discursivas de Lula, o que valida a dedução como parte do método que utilizamos em nossa pesquisa.

24 Pesquisa documental é aquela que tem como fonte documentos (jornais, fotos, revistas, filmes, etc.), os quais não tiveram nenhum tratamento analítico.

Na outra ponta, a indução, enquanto método, “é uma ferramenta que conduz o pesquisador(a) a observar a realidade para fazer seus experimentos e tirar suas conclusões” (OLIVEIRA, M. 2013, p. 50-51). Por esta perspectiva, vemos a indução como complementar a dedução em nosso trabalho, haja vista ser ela o procedimento que permite ao pesquisador fazer suas conclusões, desde que estas sejam formuladas a partir da observação do corpus. Melhor dizendo, embora saibamos que as capas de revista sejam textos que permitem a construção de representações discursivas, sem a observação, descrição e interpretação do

corpus é impossível afirmar quais representações de Lula são construídas nas capas das

revistas Época e Veja. Para tanto, fez-se necessário adotarmos a indução como método para garantir conclusões reais dos fatos observados no corpus.

Em sendo assim, propomos como método de pesquisa a dedução-indução, uma vez que este se revela como o método mais adequado para alcançar os nossos objetivos de pesquisa, posto que, de modo sucinto, permiti-nos dizer que as capas de revista possibilitam a construção e reconstrução de representações discursivas (dedução) e que, para chegarmos a um posicionamento acerca de quais representações ali existem, precisamos observar o objeto de estudo – as capas de revistas – e, a partir dos resultados encontrados, apresentar as conclusões (indução), ou seja, compreender as representações discursivas que as revistas construíram de Lula por meio do gênero de discurso capa de revista.

Em síntese, por ser uma pesquisa que se pauta em categorias de análises que permitem a descrição e interpretação textual-discursiva, acreditamos ser essa a orientação metodológica condizente com o nosso objetivo de descrever e interpretar o gênero de discurso capa de

revista e, por conseguinte, analisar as representações discursivas do tema Lula nas capas das

revistas Época e Veja, considerando os elementos verbovisuais que constituem o referido gênero de discurso.

Quanto à técnica de pesquisa, ao invés de adotarmos uma técnica predefinida pelos manuais de metodologia científica, seguimos os postulados teórico-metodológicos da ATD, isto é, realizamos uma análise descritiva e interpretativa dos dados. Em um primeiro momento, tabulamos os dados a fim de termos uma descrição do corpus. Em um segundo momento, com base nos dados tabulados, demos início às interpretações do fenômeno da representação discursiva construída pelas revistas acerca do tema tratado em suas capas, ou seja, as Rds de Lula.

Diante disso, após essa apresentação/discussão dos aspectos teórico-metodológicos que orientam nossa pesquisa, apresentamos o corpus de nossa tese, ou seja, o nosso objeto de estudo, a partir do qual fizemos a análise dos dados.