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CAPA DE REVISTA: CONSIDERAÇÕES SOBRE O NÍVEL DO TEXTO

Esquema 5 – A esquematização na situação de interlocução (GRIZE, 1996, p 68)

5.2 CAPA DE REVISTA: CONSIDERAÇÕES SOBRE O NÍVEL DO TEXTO

Chamamos a capa de revista de um gênero de discurso complexo por seu enunciado ser composto pelo misto entre o verbal e o visual. Dessa forma, são esses modos de materialização do gênero de discurso que nos permitem compreender o plano de texto que constitui essa prática discursiva, ou seja, entender a capa de revista como um texto concreto e único.

Nesse sentido, com vistas a descrevermos o nível sequencial-composicional31 que constitui o gênero de discurso capa de revista, tomamos os níveis 4 e 5 do nível da análise textual, propostos por Adam (2011).

A capa de revista, enquanto enunciado concreto, é linguisticamente composto por construções verbais curtas, denominadas de chamadas, podendo ser estas constituídas por uma palavra, uma oração, seguida ou não, por um ou mais subtítulos. De acordo com Gomes (2010, p. 303-304), a capa “é estruturada de forma a captar a atenção do leitor; para tanto, se vale de um resumo, ou uma chamada sintética, geralmente formada por grupos nominais, ou orações reduzidas”. Como afirma Werneck (2000), o texto escrito na capa da revista, embora seja breve, tem um grande valor, uma vez que ele também serve de estímulo ao interesse do leitor pelo conteúdo e, consequentemente, pela revista.

Desse modo, podemos afirmar que a textura (Nível 4) do gênero de discurso capa de

revista não obedece a uma linearidade, uma vez que as informações apresentadas, em sua

maioria, não são colocadas justapostas, com operações de ligação entre elas. Não é comum,

31 Por não ser esse o foco de nosso trabalho, as considerações tecidas acerca do plano de texto do gênero de discurso capa de revista dar-se-ão de modo sucinto, dialogando com a discussão apresentada no 2.2.3 O gênero

por exemplo, a construção de períodos longos orquestrados por conectivos. Como mencionado antes, são textos curtos, breves e de impacto, muitas vezes constituídos por uma palavra ou uma proposição-enunciado de caráter nominal.

Quanto à estrutura composicional, a capa de revista não obedece a uma estrutura textual comum aos textos constituídos apenas por meio da escrita. A construção do texto dá-se de forma reticular, no sentido de que a imagem e o texto se articulam em um movimento de ida e volta entre eles para que se possa concretizar o propósito desejado com a produção do texto.

A fim de conhecermos mais detidamente o que compõe esse gênero, em termos de sua estrutura composicional (Nível 5), apresentamos a seguir os elementos básicos que fazem parte do gênero de discurso capa de revista. Para tanto, utilizamos mais uma capa da revista

Época que compõe o nosso corpus, a fim de observarmos quais e como são apresentados

esses elementos.

Figura 2 – O plano de texto do gênero de discurso capa de revista

Fonte: Revista Época, edição 205. Logotipo Imagem principal Chamada principal Chamadas secundárias com subtítulos Edição e data Imagens secundárias Subtítulo Logomarca da editora Legenda

A capa da revista Época possui diversos elementos que a compõe. Nesta edição, o logotipo é apresentado em letras pretas, sob um fundo vermelho, com um globo substituindo a letra “o” da primeira sílaba. Essa estrutura do logotipo de Época é recorrente de uma edição para outra, o que afirma, ainda mais, o estilo do gênero capa da revista, possibilitando ao leitor identificá-la facilmente. Por ser ele o nome da revista (marca), é interessante observarmos a semântica inerente à sua denominação. As revistas Época e Veja, por exemplo, semanticamente, possuem nomes que estão associados à ideia de acontecimento, observação, momento histórico, ou seja, informações que acontecem em um dado momento e que repercutem socialmente, precisando de mais detalhes.

Além do logotipo, na figura 2, observamos que a imagem principal toma a maior parte da capa, inclusive sobrepondo-se ao logotipo, ficando este parcialmente coberto pela imagem. Ademais, por estar localizada no centro da capa e por apresentar uma luminosidade e brilho que ressaltam a imagem, percebemos isso como uma estratégia de marketing para que os leitores sejam seduzidos a adquirir a revista, o que ressalta a força da imagem principal para o propósito comunicativo do gênero.

A chamada principal, por ser o destaque da edição, recebe uma formatação especial, como podemos comprovar na figura 2. Nela, temos o nome de Lula apresentado em letras maiores do que o restante da chamada e seu subtítulo. Além disso, a cor da fonte desse nome é vermelha, dando um destaque ainda mais concentrado no personagem focado pela edição como assunto principal. Quanto às chamadas secundárias, estas são apresentadas em amarelo e em caixa alta, diferindo-se dos subtítulos que as acompanham, os quais são apresentados em uma fonte menor, servindo para endossar as chamadas, por vezes, elucidando o assunto.

Esses destaques de grafia utilizados pela revista são recursos que compõem a textura do texto, ou seja, também estão associados ao N4, proposto por Adam (2011). Dito isso, algo que não se pode ver de forma tão estanque são esses níveis que compõem o nível sequencial- composicional do gênero de discurso.

No que concerne às imagens secundárias, o nosso corpus comprova a maleabilidade e dinamicidade desse gênero de discurso, conforme Marcuschi (2008; 2011), uma vez que algumas capas não fazem uso desse recurso em sua estrutura composicional. O mesmo acontecendo com as chamadas secundárias e as legendas32 (pequeno texto, geralmente descritivo ou explicativo, que se coloca abaixo ou do lado das ilustrações ou fotografias a que se refere). Vejamos nos exemplos a seguir:

32 Pela presença da legenda em alguns exemplares do nosso corpus, descrevemos esse mecanismo como um dos elementos opcionais utilizados pelas revistas na estrutura composicional do gênero de discurso capa de revista.

Figuras 3 e 4 – Capas de revistas sem imagens e chamadas secundárias

Fonte: Revista Época, edição 232. Fonte: Revista Veja, edição 1760.

A ausência desses elementos na capa de revista sinaliza a supervalorização tanto da

imagem principal como da chamada principal, o que nos indica a relevância do assunto

apresentado na capa. Isso não significa dizer que os assuntos tratados pelos elementos secundários não tenham valor para a composição do gênero, mas, que a depender da edição, a revista, pelas mãos do editor, pode optar pela presença ou não de outros elementos, com propósitos específicos de alcançar o público. Não obstante, há casos em que até a chamada

principal também pode ser posta de lado para que a imagem fale ao leitor, convidando-o a

tomar contato com a revista. Vejamos:

Figura 5 – Capa de revista sem chamada principal

Entretanto, esse é um caso excepcional, posto que, em todo o corpus de nossa pesquisa, apenas essa capa não apresenta a chamada principal. Mais uma vez, entendemos com isso que a capa de revista possui um grande apelo visual e que a imagem é central para o alcance dos objetivos visados pela ação de linguagem que se corporifica no gênero de discurso capa de revista.

Conforme já mencionamos, a logomarca da editora (editora), o número da edição e a

data são elementos circunstanciais, o que não implica diretamente nos sentidos veiculados

pelos assuntos destacados pela revista, mas que, independentemente de sua força para a temática, eles refletem o espaço e o tempo que constituem o gênero, dando-lhes um caráter histórico e socialmente situado.

Em suma, a textura (Nível 4) do gênero capa de revista é organizado por proposições curtas, muitas vezes constituídas por proposições-enunciados de caráter nominal e com forte apelo a formatação e cores que chamem a atenção do leitor. A estrutura composicional (Nível 5), por sua vez, acontece por meio do arranjo entre palavras e imagens e possui uma certa regularidade com a presença do logotipo, da imagem principal e da chamada principal. Por ser um gênero dinâmico, maleável e plástico, com um padrão gráfico predefinido, a depender dos interesses da revista o uso de imagens e chamadas secundárias podem figurar no plano de texto do gênero capa de revista. Diferentemente desses últimos, a logomarca, o número da edição e a data são elementos fixos da composição do gênero em foco.

A partir desse conjunto de elementos que compõem o gênero de discurso capa de

revista, considerando-a como um texto complexo, passamos a análise das representações

discursivas de Lula nas capas das revistas Época e Veja. Para tanto, aplicamos as categorias de análise propostas para a análise das Rds, observando o material linguístico-textual.