• Nenhum resultado encontrado

Esquema 5 – A esquematização na situação de interlocução (GRIZE, 1996, p 68)

2.2 ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS

2.2.3 O gênero de discurso capa de revista

Todo gênero que é produzido socialmente corresponde a propósitos específicos de um dado campo de atividade humana (literatura, ciência, religião, mídia, educação, etc.). Ao utilizar exemplos como charges, propagandas, capas e páginas de veículos informativos, editorias, artigos de opinião, reportagens, entre outros, estamos nos referindo a gêneros que são produzidos no campo da atividade humana jornalismo. Assim como nesse campo, tantos outros gêneros são produzidos, circulam e são recebidos nos demais campos existentes na sociedade com vistas a cumprir com os propósitos comunicativos a eles inerentes.

Nesse sentido, muitos são os propósitos comunicativos que se realizam por meio dos gêneros de discurso. No campo do jornalismo, por exemplo, comportando as divisões que lhe são particulares, os gêneros se ajustam a cada divisão, atendendo aos propósitos comunicativos da instituição, quais sejam: informar, opinar, vender, satirizar etc.

Dentre os gêneros que circulam na instituição jornalística, categorias são estabelecidas para que se possa compreender com mais nitidez o papel que cada um deles exerce. Nesse sentido, “os gêneros jornalísticos são determinados pelo modo de produção dos meios de comunicação de massa e por manifestações culturais de cada sociedade” (MEDINA, 2001, p. 53). Dessa forma, os gêneros jornalísticos são manifestações da linguagem produzidos e reproduzidos em sociedade por interlocutores, realizando papeis específicos, de acordo com a função que cada gênero desempenha.

Diante disso, partimos do pressuposto de que a capa de revista é um gênero de discurso que pertence ao campo de atividade humana jornalismo. Afirmamos isto, por ser esse gênero uma prática discursiva que circula na mídia impressa, especificamente na mídia jornalística, tendo como função “promover o primeiro contato do consumidor com o produto” (COSTA, 2012, p. 61). Além disso, a capa faz parte de um todo que é o suporte, isto é, da revista.

Marcuschi (2003, p. 10) afirma que o suporte “é imprescindível para que os gêneros circulem na sociedade e deve ter alguma influência na natureza do gênero suportado. Mas isto não significa que o suporte determine o gênero e sim que o gênero exige um suporte especial”. Desse modo, a condição básica para a existência da noção de suporte é a necessidade de circulação dos gêneros.

Assim, podemos afirmar que a capa de revista configura-se como uma prática de linguagem que estabelece a primeira relação entre o veículo de informação (tomado, por nós, como locutor) e o consumidor (entendido como alocutário). Essa relação acontece por interesses – propósitos – do lugar de circulação social, historicamente ocupado por esse gênero de discurso, ou seja, do campo jornalístico.

Quanto à função desempenhada pelos gêneros de discurso jornalístico, vale apresentar a divisão de Melo (2003)10. Para ele, no jornalismo brasileiro, os gêneros se dividem em duas categorias: jornalismo informativo e jornalismo opinativo. Essa classificação separa os gêneros de acordo com sua correspondência funcional, posto que:

Os gêneros que correspondem ao universo da informação se estruturam a partir de um referencial exterior à instituição jornalística: sua expressão depende diretamente da eclosão e evolução dos acontecimentos e da relação que os mediadores profissionais (jornalistas) estabelecem em relação aos seus protagonistas (personalidades ou organizações). Já no caso dos gêneros que se agrupam na área da opinião, a estrutura da mensagem é co- determinada por variáveis controladas pela instituição jornalística [...]. (MELO, 2003, p. 65)

Todavia, mesmo tratando-se de uma divisão aparentemente coesa, não concebemos os gêneros do jornalismo como sendo instâncias de propósitos comunicativos estanques. O próprio autor afirma que não se podem estabelecer limites entre as produções jornalísticas informativas e opinativas, sendo essa classificação “uma fronteira metodológica” (MELO, 2003, p. 73).

No que concerne ao jornalismo de revista, Scalzo (2011, p. 58) afirma que:

O que não dá pra confundir é o texto de revista com texto opinativo. É verdade que muitas revistas carregam na opinião, mas o bom texto de revista deve estar calcado prioritariamente em informações. Rechear um texto apenas com juízos de valor (próprios ou tomados emprestados de alguém) é

10 Ressaltamos que, para discutirmos sobre o gênero capa de revista, bem como o entorno sociodiscursivo que o engendra, tomamos alguns conceitos advindos da teoria do jornalismo. Ressaltamos, também, que as nomenclaturas adotadas para caracterizar os elementos constitutivos do gênero de discurso capa de revista, além de serem tomadas de textos que discutem esse gênero numa perspectiva linguística, são também advindas dos estudos jornalísticos sobre revista e design.

fácil – as opiniões são livres e baratas –, mas são sempre as informações que garantem a qualidade e consistência do texto jornalístico.

A revista, assim como os demais suportes que fazem circular os gêneros de discurso, abre espaço para gêneros com diferentes funções, a depender das intenções comunicativas. Isso significa que os textos de revista podem utilizar-se da informação e da opinião, desde que o seu uso contribua para o alcance do objetivo pretendido: a priori, atingir o público leitor.

Os estudiosos do jornalismo de revista afirmam que a capa de revista é uma espécie de marketing e informação que visa a chamar a atenção do leitor, fazendo-o adquirir a revista (ABREU, 2009; GOMES, 2010; SCALZO, 2011). Com isso, torna-se evidente o diálogo entre o campo do jornalismo e o campo da publicidade, isso porque, “o gênero capa de revista tem inicialmente como seu propósito comunicativo vender a revista, captando a atenção do leitor. Busca atrair o público, promovendo o que ela tem de melhor a oferecer: a informação” (GOMES, 2010, p. 303).

Consenso entre os estudiosos da capa de revista, na perspectiva jornalística, está a afirmação de que ela indica o tipo de público para o qual a revista se destina. Independentemente do quão heterogêneo seja o perfil do leitor, a revista vai buscar, pelo projeto gráfico, constituído pelo assunto da edição (tema), seduzir o maior número possível de consumidores que a informação, ali veiculada, possa agradar (ABREU, 2009; GOMES, 2010; SCALZO, 2011).

Na capa de revista, os temas evidenciados são os mais diversos, o que não permite precisar o assunto que será destaque na capa, principalmente pela pluralidade de temas socialmente relevantes e atuais que surgem a cada dia na sociedade. Contudo, questões como política, saúde, economia, sustentabilidade, meio ambiente, entre outros temas, podem aparecer como assunto tratado na capa de revista, contanto que sua relevância e perspectiva revelem informações atualizadas e estejam relacionadas ao conteúdo interno da revista. Sobre isso, Abreu (2009, p. 114) afirma que:

[...] atualmente, essa maneira de relacionar as informações da capa ao conteúdo da revista está muito vinculada com as questões de marketing, pois o design deve estar em sintonia com o seu público leitor, e disso resulta o sucesso da comercialização da publicação.

Outrossim, os assuntos tratados jornalisticamente por uma revista se diferem das formas como os veículos de informação tratam o mesmo assunto, pois é característica dos jornais, do rádio, da internet e da televisão a busca por apresentar a informação

imediatamente, isto é, a notícia em tempo real. A revista, por seu turno, não pode ser pensada como esses suportes, uma vez que a sua periodicidade não permite esse tipo de imediatismo informacional, a não ser que a revista publique uma edição especial com uma informação inédita. As revistas são publicadas com periodicidade: semanal, quinzenal ou mensal. Portanto:

Não dá para imaginar uma revista semanal de informações que se limite a apresentar ao leitor, no domingo, um mero resumo do que ele já viu e reviu durante a semana. É sempre necessário explorar novos ângulos, buscar notícias exclusivas, ajustar o foco para aquilo que se deseja saber, conforme o leitor de cada publicação. (SCALZO, 2011, p. 41)

À vista disso, assim como o assunto deve ter um foco que o torne capaz de configurar como o tema a ser tratado em uma revista, faz-se necessário um projeto gráfico que chame a atenção do leitor e que o faça levar a revista para casa. Por este motivo, “as editoras se esforçam cada vez mais em criar efeitos de comunicação visual nas capas de suas revistas para atrair um número cada vez maior de leitores” (ABREU, 2009, p. 112). Segundo Gomes (2010, p. 303), “pode-se dizer que o gênero capa de revista se configura enquanto uma vitrine, ou seja, é produzido para não só chamar atenção do leitor, mas para vender a revista”.

Desse modo, o estilo da capa de revista, como gênero de discurso, não está associado somente ao texto escrito. Tudo que está em jogo na produção de uma capa (texto verbal, imagens, cores, etc.) é constituidor do estilo desse gênero, pois o torna reconhecível e único perante o seu público leitor, principalmente pelo nome que ostenta como assinatura (PUZZO, 2009).

É notório que, ao chegar em uma banca de revistas, o leitor de revistas semanais de informação como Veja, Época, Isto é, entre outras, não sinta dificuldades em reconhecê-las. As capas dessas revistas variam, minimamente, em seu projeto gráfico. Segundo Scalzo (2011), essa diagramação mais ou menos fixa das revistas semanais ocorre pelo curto prazo para o seu fechamento, uma vez que ela é impressa e distribuída com maior velocidade do que as revistas mensais, por exemplo. Todavia, isso não implica pobreza na formulação do gênero de discurso capa de revista, considerando, principalmente, a sua inteireza verbovisual.

De acordo com Gomes (2010, p. 303), “a capa de revista se caracteriza enquanto um gênero multimodal capaz de combinar variadas semioses significativas em sua composição, tais como: cores, imagens gráficas, textos verbais”, o que contribui, visualmente, para que o leitor compre-a e leia-a.

Por isso, além de sempre possuir um apelo visual que a transforma em uma espécie de peça promocional, obrigatoriamente, nos casos de livros, periódicos ou revistas, deve conter algumas informações essenciais, entre outras, o título, o subtítulo, o nome do autor, editora, edição e data, o que para nós, nesse caso, faz da capa um gênero (COSTA, 2012, p. 61).

Dessa forma, a capa de revista configura-se como um gênero de discurso por apresentar um conteúdo temático, ou seja, o assunto em pauta, o qual é constituído pelas diversas semioses que compõem o texto, bem como pelas informações que nela se apresentam, tornando esse enunciado relativamente estável e reconhecido socialmente.

Em se tratando das características inerentes à forma composicional da capa, temos: logotipo, chamada principal, chamadas secundárias, subtítulos, imagem principal, imagens secundárias, editora, edição e data. Abreu (2009), afirma que todos esses elementos formam o que é chamado de manifestação visual gráfica, a qual ele considera como uma única imagem. Desse modo, “é na capa que aparecem os primeiros sinais ou as primeiras pistas daquela publicação, e é através desses sinais que o leitor poderá sentir-se capturado para percorrer suas páginas e explorar seus conteúdos” (Ibid. 118).

Antes de adentrarmos nos elementos que formam a capa de revista, vale mencionar que esse gênero é reconhecido como capa ilustrada, tendo em conta o fato de ela ser composta por fotografias e desenhos, frequentemente de temática alusiva ao assunto tratado no interior da revista, bem como pelo uso de cores, contrastes e brilho que a tornam uma vitrine para o leitor (FARIA; PERICÃO, 2008; ABREU, 2009; SCALZO, 2011). As capas de revista semanais como Época e Veja, portanto, enquadram-se nessa definição, pois, além do texto verbal, imagens e cores unem-se para compor uma unidade de sentido acerca dos assuntos que serão discutidos no interior da revista. Nesse segmento, vejamos o papel de cada um desses elementos que podem compor o gênero de discurso capa de revista.

O logotipo funciona como a identificação da revista. Para Abreu (2009, p. 132), “o logotipo é a representação visual da marca da revista e, portanto, identifica a publicação através do nome”. Salientamos que, a depender da revista, da edição, das imagens e das cores que se presentificam na capa de revista, o logotipo pode variar em termos de cores e tamanhos, porém, é constante a sua localização na parte superior da página.

A imagem principal é apresentada como um forte elemento na forma composicional do gênero de discurso capa de revista, haja vista a sua relação direta com o assunto principal que constitui o tema da capa. Segundo Scalzo (2011, p. 63), “uma boa imagem será sempre importante – e é ela o primeiro elemento que prenderá a atenção do leitor. O logotipo da revista também é fundamental, principalmente quando ela é conhecida e já detém uma

imagem de credibilidade junto ao público”. Percebe-se, com isso, que além de o logotipo representar a marca da revista, ele também pode ser sinônimo de confiança e respeito e que, associado a uma boa imagem (fotografia, desenho, etc.), tem mais chance de angariar leitores e consumidores da revista. Vale ressaltar que, de acordo Scalzo (2011), fotografia e revista parecem ter nascido uma para a outra. “As [revistas] semanais de informação são as que mais usam o fotojornalismo, que, muitas vezes, foi o responsável por alguns de seus momentos editorias” (Ibid., p. 70).

Nesse sentido, a imagem apresenta-se cada vez mais como elemento constituidor de sentidos e de representações dos ideários dos editores de revistas, haja vista a sua força de persuasão e informação. Não é à toa que o referido autor afirma que de nada “adianta ter uma foto excelente na mão e espremê-la no pé da página ou cortá-la na junção entre duas páginas diferentes” (SCALZO, 2011, p. 70). Essa afirmação casa diretamente com os postulados da multimodalidade, uma vez que esta pressupõe a imagem como um elemento essencial para a comunicação na sociedade em que vivemos.

De acordo com Lage (2006, p. 28-29),

A fotografia jornalística é atividade especializada, cujo desempenho envolve conhecimentos muito além do manuseio do processo. Trata-se de selecionar e enquadrar elementos semânticos de realidade de modo que, congelados na película fotográfica, transmitam informação jornalística.

Desse modo, além de capturar momentos relevantes para a edição, as imagens/fotografias constroem sentidos que, na conjuntura do gênero de discurso capa de

revista, funcionam como muito mais do que um simples adorno do texto verbal, elas

possibilitam sentidos que devem ser reconstruídos pelo leitor (alocutário) no ato da interpretação do enunciado verbovisual que se nos apresenta. Nesse sentido, a imagem principal configura-se como um elemento muito importante na forma composicional da capa

de revista, a “imagem principal tem como função definir o assunto mais importante da revista e, de certa forma, é ela quem cria, através do visual, a atmosfera daquela edição” (ABREU, 2009, p. 123).

As imagens secundárias, por sua vez, como o próprio nome já diz, não são tão relevantes quanto à imagem principal, pois, os assuntos de que elas tratam não têm a mesma dimensão social, histórica, econômica etc., mas, ao aparecerem na capa, são assumidos como questões merecedoras de destaque (ABREU, 2009). Todavia, essa não é uma característica fixa da capa de revista, como são o logotipo e a imagem principal. As imagens secundárias,

dependendo da intenção do editor, podem não figurar com elementos da capa de revista, o que nos revela a importância do assunto representado pelas imagens da capa.

No que diz respeito às chamadas, tanto a principal quanto as secundárias, têm por função apresentar assuntos que serão discutidos no interior da revista, configurando-se como uma síntese da edição. “A chamada principal tem a função de, através da palavra, apresentar o tema principal, já mostrado na imagem principal” (ABREU, 2009, p. 122). “As chamadas secundárias teriam a função de identificar o que está sendo noticiado através das imagens secundárias” (Ibid., p. 122). Mesmo estando associadas às imagens, não se pode tratar as chamadas como legendas, uma vez que estas tem a função de, por meio de um breve texto, geralmente abaixo da imagem, trazer uma breve explicação do que foi retratado. As chamadas, por sua vez, tratam de assuntos e não de explicações de imagens (ABREU, 2009; SCALZO, 2011). A estas chamadas podem estar associados subtítulos que visam a esclarecer esse enunciado principal, ou até mesmo expandir o assunto apresentado.

Ressaltamos, porém, que juntamente com as imagens, as chamadas apresentam características que nos fazem identificá-las e, por conseguinte, interessarmo-nos em adquirir a revista. Geralmente, faz-se uso de letras em tamanhos maiores e cores que se destaquem na capa. “Letras enormes fazem as frases gritar e corres berrantes, de fato, berram. Elas devem ser usadas apenas quando a situação, ou a linha editorial da publicação assim o exigir” (SCALZO, 2011, p. 69). No gênero capa de revista, esses recursos são válidos, pois fazem com que o leitor prenda a sua atenção ao que está sendo enunciado, levando ao interesse pelo(s) assunto(s) veiculado(s) pela revista.

Assim como as imagens secundárias que podem ou não aparecer na forma composicional da capa de revista, as chamadas secundárias e subtítulos também podem ser omitidos, visando a destacar a chamada principal. Essa possibilidade de retirar elementos da composição do gênero reflete a relativa estabilidade dos gêneros de discurso e a maleabilidade e dinamicidade destes (BAKHTIN, 2003; MARCUSCHI, 2008; 2011).

Concluindo, então, a apresentação dos elementos que compõem o gênero de discurso

capa de revista temos a logomarca da editora (editora), o número da edição e a data. Esses

elementos são circunstanciais, haja vista refletirem o espaço e o tempo que constituem o gênero, o que não os tornam menos relevantes, pois os gêneros são históricos e socialmente situados.

Portanto, com base em todas essas questões, afirmamos que a capa de revista é um gênero de discurso multimodal, posto que, ao utilizar a linguagem, situada no campo do jornalismo, esse gênero “mobiliza outros sistemas simbólicos além da comunicação

linguística” (LAGE, 2006, p. 10). Em sua forma composicional apresentam-se textos verbais (sucintos, coesos e coerentes), formados por palavras ou frases de forte impacto (chamadas e subtítulos) e imagens que dialogam diretamente com o texto das chamadas (principais e secundárias).

Seguindo o campo de comunicação humana em que o gênero de discurso capa de

revista é produzido, circula e é recebido, a mídia jornalística impressa, compreendemos que

sua linguagem reflete o estilo desse campo de atividade humana, isto é, uma linguagem por definição referencial, pois “fala de algo no mundo, exterior ao emissor, ao receptor e ao processo de comunicação em si” (Ibid., p. 51). Todavia, sabemos que a linguagem jornalística não é totalmente neutra, conforme prescrevem os manuais de redação, mas, que a linguagem, por meio dos enunciados concretos, reflete interesses do locutor, pensados em função do interlocutor (AQUINO, 2010).

Nesse sentido, afirmamos que a capa de revista é um gênero produzido pela relação de múltiplas semioses que se unem com vistas a compor uma imagem única, capaz de falar ao leitor, uma vez que é este que define uma revista (SCALZO, 2011), bem como é para este que os enunciados são direcionados. Por consequência disso, os assuntos tratados e representados na capa de revista têm por intenção persuadir o leitor e fazer com que ele adquira a revista. Nesse sentido, considerando que o papel do interlocutor é bem mais do que apenas interpretar o que lê, de forma passiva, cabe a ele a responsabilidade de concretizar o objetivo ou propósito comunicativo da capa de revista, isto é, responder ao enunciado concreto que se lhe apresenta, comprando ou não a revista.

Por esse viés, reafirmamos o caráter dinâmico, maleável e multimodal do gênero de discurso capa de revista, concordando com os estudos de gêneros de discurso e da multimodalidade discursiva, posto que a capa somente configura-se como enunciado pleno pelo seu projeto discursivo verbovisual, condicionado pelo campo de atividade humana no qual ele é produzido, veiculado e recebido, enfim, na interação social de comunicação discursiva que permite o diálogo entre os enunciados e seus interlocutores.

Diante disso, em nossa tese, compreendemos o gênero capa de revista como um texto complexo, isto é, constituído pela relação entre o verbal e o visual. Assim, entendemos que, como esses modos se combinam para construir o enunciado concreto que é esse gênero, só se é possível compreender os efeitos de sentido dele provenientes se atribuirmos sentidos ao todo textual que nele se presentifica pela junção dos recursos/elementos ali empregados.

Nesse panorama, sendo a capa de revista o nosso objeto de estudo, o qual será estudado por meio do escopo semântico que se ocupa das representações discursivas,

apresentamos no próximo capítulo a noção de representação discursiva e as categorias que irão fundamentar a análise das representações discursivas de Lula no gênero de discurso capa

CAPÍTULO 3

3 REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA

No sentido de darmos continuidade a discussão teórica que norteia o nosso propósito de investigação, neste capítulo, discutimos o conceito de representação discursiva adotado pelos estudos em ATD. Além disso, com base nos trabalhos já desenvolvidos sobre a temática em questão, apresentamos as categorias de análise que nos orientam para a compreensão das