• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4: ESTRATÉGIA NACIONAL DO MECANISMO DE REDUÇÃO DE

4.1 Aspetos socioambientais e económicos da mudança do clima na Colômbia

Não são poucos os obstáculos para lograr a formulação e posterior implementação de uma política forte e efetiva na luta contra as mudanças climáticas. Exemplo disso é observado na Colômbia, que apesar de representar 0,46% das emissões globais de GEE em 2010, tem

suas emissões acumuladas durante o período de 1990 a 2012 situadas entre os aquelas dos 40 países com maior responsabilidade histórica na geração de GEE, principalmente advindas do setor florestal (desmatamento) (ARBELÁEZ et al, 2016). Nesse sentido, e entre os fatores que levaram à implementação da política internacional REDD+ se destaca conforme o Ministério de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (MADS, 2012):

(...) Colômbia ser um país mega-diverso, com pouco mais de 0,7% da superfície continental mundial é o lar de perto do 14% da biodiversidade do planeta. Além disso, suas florestas fornecem uma gama de serviços ambientais, como a formação de solos, prevenção de riscos ambientais, estabilidade climática, regulação do ciclo da água, purificação do ar e captura de dióxido de carbono, entre outros.

Isto cria uma enorme responsabilidade pública de proteção dos Recursos naturais, além dos compromissos internacionais assumidos pelo país dita necessidade obedece a que setores socioeconômicos e da geografia nacional encontram-se num estado alto de vulnerabilidade aos impactos negativos das mudanças climáticas.

Primeiramente, tudo que se refere às áreas costeiras da nação (Caribe, Pacífico, Ilhas de San Andrés), nas quais perto de 1.482.629 pessoas, representando 4% da população total do país, estão expostas a algum grau de ameaça de alagamento ou algum outro efeito climático adverso, além do que, de acordo com as projeções feitas pelo IPCC, nos próximos 100 anos o nível do mar nestas zonas aumentará entre 80 cm e 1mt, em seu pior cenário conforme as projeções do protocolo de Kyoto. (MADS, 2011). Existem também ameaças de alagamento das terras que representam mais de 4,9% de áreas cultivadas e de pastagens, áreas ocupadas pela manufatura e perto do 44,8% da rede rodoviária. Ao mesmo tempo, estima-se que para o ano 2030 haverá uma perda de cobertura de ecossistemas costeiros, como manguezais e recifes de corais, devido às altas temperaturas que podem causar danos irreversíveis aos serviços ecossistêmicos que brindam, como a proteção da costa e o habitat de numerosas espécies para a pesca, bem como sérios impactos em 2% da população total e 2,2% do PIB (Ibid Pg 50). Do mesmo modo, 49,5% da área de agricultura e pastagens em que se desenvolve das zonas costeiras apresenta uma alta vulnerabilidade, pelo que as culturas como a banana, a palmeira africana e as culturas transitórias e permanentes serão afetadas pelas mudanças climáticas resultantes principalmente em alagamentos e secas. No setor industrial, 75,3% da área ocupada por estabelecimentos de manufatura na cidade de Barranquilla e quase 100% daqueles alocados em Cartagena são altamente vulneráveis, o que

significaria a quase extinção da indústria nesses importantes centros urbanos, com suas respetivas consequências no emprego, moradia, saúde, etc. Por outro lado, e em relação aos recursos hídricos da nação, os riscos variam de dificuldade na conservação do ciclo hidrológico dos aquíferos, trazendo consigo a vulnerabilidade para o abastecimento de todos os setores sociais e econômicos.

Isso se deve ao fato de que as normas de escoamento nas diferentes regiões do país podem ser modificadas, com a consequência de que, nas regiões que apresentam taxas contínuas de precipitação e escoamento, o fluxo pode ser aumentado até os alagamentos ocorrerem, e por sua vez a frequência da precipitação diminui. Da mesma forma, nas regiões que não têm precipitação e fluxos de escoamento frequentes, pode haver um aumento mínimo no fluxo hídrico, mas haverá uma diminuição das precipitações, dificultando o funcionamento da agricultura e do abastecimento (Ibid., p.49).

Em um estudo realizado em 2008 pela Universidade Nacional, se previu que a Colômbia teria uma crise hidrológica para o ano 2015, na qual 66% da população nacional entraria em períodos de racionamento devido ao alto risco de escassez de água, como consequência do alto grau de contaminação das fontes hídricas superficiais e do uso precoce das águas subterrâneas reservadas para as gerações futuras (PROCURADORIA GERAL DA NAÇÃO, 2008). Embora tal previsão não tenha sido confirmada, o 2015 foi avaliado pelos especialistas da Berkeley Earth como o ano mais quente já registrado na Terra desde 1880, colocando a temperatura global a 1° C acima da média do período entre 1850-1900. Desde maio de 2015 e a maior parte de 2016, o país sofreu uma forte onda de calor e o período de seca que traz consigo o "Fenômeno do Niño", que consiste em um processo oceânico-atmosférico que ocorre a cada 3 a 7 anos, durante o qual há um enfraquecimento drástico dos ventos alisios que sopram sobre o oceano e servem para manter fría a corrente Humboldt que é gerada a partir do frio da Antártica, gerando uma mudança de direção nas correntes oceânicas que se movem pela América do Sul e Ásia, modifica temporariamente o funcionamento do Pacífico tropical e da atmosfera global (IDEAM, 2015).

A passagem pela Colômbia do "Niño" refletiu-se no aumento drástico de temperatura no nível nacional, incêndios florestais, baixas drásticas nos níveis dos rios, além de secas e escassas chuvas, de modo que processos agrícolas, geração de energia hidrelétrica, o abastecimento de água potável para o consumo e o transporte fluvial foram fortemente

afetados. Pelo menos 107 municípios tiveram que praticar cortes de água e mais de 300 correm alto risco de escassez, causando calamidades públicas para a população de algumas regiões.

Em relação à cobertura vegetal da nação, estima-se que as zonas e os habitats ecológicos atuais estão com suas condições bioclimáticas menos úmidas, com deslocamento sequencial da seguinte maneira: a zona glacial ou o nível (de acordo com o sistema Holdridge), serão afetados por 92% e moverão 65% para os ecossistemas de alta montanha (páramo); os páramos e subpáramos serão afetados entre 90 e 100% de deslocamento para as zonas de vida antes da montanha ocupadas pela região andina e suas florestas, pelo que se estima que os agrossistemas da zona andina do país serão afetados aproximadamente em 47%

da sua extensão (MADS, 2015)

A diminuição progressiva das áreas de vegetação e da diversidade biológica que apresentam os ecossistemas da alta montanha (páramo e subpáramo, ecossistema único no mundo) tenderia a aumentar, já que, além dos efeitos mencionados, o inexorável aumento da fronteira agrícola e pecuária está sendo intensificada nessas áreas, de modo que a função ecológica da regulação da água também estará comprometida, o que significaria a falta de água potável para 70% da população colombiana (Ibid., p.56).

No que diz respeito ao setor agrícola, e de acordo com um estudo realizado pelo IDEAM (2015), estima-se que 7% do território nacional sejam adequados para agricultura intensiva, e está localizado em diferentes faixas bioclimáticas, sendo as de frio e chuva úmida e fria e parámo muito úmido, especialmente vulnerável a um cenário de duplicação de emissões de CO2, uma vez que se estima que sua área será reduzida em 47,7%. Desses 7%

do território, 12% estão localizados em áreas de ecossistemas secos, especialmente vulneráveis a processos de degradação pela desertificação. Além disso, e como resultado deste processo de degradação, os 23 distritos de irrigação que estão localizados em ecossistemas secos, 91,3% deles serão afetados em um cenário de duplicação de emissões de CO2, o que seria catastrófico para a economia do país, uma vez que a desertificação dos solos produtivos para a agricultura representa uma ameaça tanto para os ecossistemas como para a segurança alimentar nacional (ibid., p.57).