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CAPITULO 3: EVOLUÇÃO DOS INTRUMENTOS NORMATIVOS DE POLITICA DE

3.3 Conferência das nações unidas para o desenvolvimento humano, Rio-92 e convenção

A segunda conferência das nações unidas sobre desenvolvimento humano, conhecida como ECO-92, ou “Cúpula da terra” como sendo a continuidade da conferência de Estocolmo de 1972, ocorreu no Rio de Janeiro em 1992 com a participação de 179 representantes de países, cientistas, jornalistas e representantes de importantes ONG’s. Sua transcendência é explicada pela atração da atenção mundial, uma vez que a os problemas relacionados ao meio ambiente e os recursos naturais do planeta foram associados às condições socioeconômicas, distribuição de riqueza e problemas de justiça social, sendo necessária uma nova forma de integrar estes aspectos7.

Debates sobre diferentes questões foram realizados, abordando sistemas e métodos de produção e seus impactos no meio ambiente, setores como a produção de combustíveis fósseis, fontes alternativas de energia renovável para promover um melhor equilíbrio com o meio ambiente, sistemas mais limpos de transporte público, congestionamento dos grandes

7 Ver: http://www.un.org/spanish/conferences/wssd/unced.html (Consultado em março 2016)

centros urbanos, escassez de água, e métodos para alcançar sistemas de desenvolvimento sustentável.

Deste encontro resultaram três contribuições relevantes para a política ambiental internacional, as quais passaram a nortear os países na elaboração de suas respectivas políticas, sendo:

1) A Declaração do Rio: um conjunto de 27 princípios aplicáveis a todos os países para orientar ações nacionais e internacionais baseadas na responsabilidade ambiental e econômica.

2) A Convenção Quadro sobre Mudança do Clima (UNFCCC): um acordo legalmente vinculativo, assinado por 154 governos e cujo principal objetivo é a

"estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera a um nível que evite uma interferência antropogênica perigosa para o sistema climático global".

3) A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB): um acordo legalmente vinculativo que representou um passo importante para a conservação da diversidade biológica, o uso sustentável de seus componentes e a distribuição justa e equitativa dos benefícios decorrentes de sua utilização. Até o momento em que 168 países assinaram e ratificaram este convênio.

Segundo Soares (2010) a Rio 92 teve três consequências importantes. A primeira relativa à introdução do conceito de “sustentabilidade”, que passou a orientar os debates e atos internacionais posteriores à sua celebração. A segunda se refere à noção de futuridade, relacionada às preocupações com as gerações futuras, dando sentido ao direito intergeracional, com o qual o Direito Internacional do Meio Ambiente passaria a dar ênfase especial ao princípio da prevenção, amparando os tradicionais princípios de reparação. Por fim, “o definitivo espalhamento da temática do meio ambiente, em todos os campos do Direito Internacional, selando a característica de ser o Direito Internacional do Meio Ambiente uma verdadeira manifestação da globalidade de nossos dias.” (Ibid p. 37-38)

Ratificando o anterior para esse mesmo ano, em meio à urgência de neutralizar as mudanças climáticas e o agravamento do aquecimento global, ocorreu em Nova Iorque a UNFCCC, na qual foram estabelecidas orientações a partir da Conferência das Nações

Unidas sobre o Ambiente Humano em Estocolmo no ano 1972 aperfeiçoadas posteriormente na Rio 92. No seio da UNFCCC se redirecionou o paradigma do desenvolvimento econômico mundial, o qual não considerava as consequências ambientais da produção, internalizando assim o conceito de desenvolvimento sustentável que contempla as condições ambientais ideais para o desenvolvimento, sem comprometer as gerações futuras (UNFCCC, 1992. Art.

3).

A UNFCCC, além de ser o primeiro documento internacional das Nações Unidas em que o princípio da Precaução foi consagrado, criou a COP, como órgão supremo da Convenção, que se reúne anualmente desde 1995, sendo sua função principal zelar pelo cumprimento dos compromissos acordados entre os Estados partes (atualmente 195 países), de acordo com os princípios que regem a convenção. É através das COPs que a Convenção Quadro das Nações Unidas se pronuncia a respeito de assuntos relativos à mudança do clima, como tem ocorrido ao longo dos últimos vinte anos. Assim, a convenção Quadro emite vários tipos de instrumento, tais como protocolos, decisões, acordos, planos de ação, diretrizes e sugestões que resultam das COPs, anualmente celebradas.

Um dos aspectos mais relevantes da convenção está em que a partir dos princípios de

"responsabilidades históricas8” e " Responsabilidades Comuns, Porem Diferenciadas"9, os países assinantes da convenção foram classificados em três diferentes grupos:

1) Anexo I: Países com compromissos para reduzir suas emissões aos níveis correspondentes a 1990.

2) Anexo II: Países que devem fornecer assistência financeira e tecnológica àqueles com menos recursos para enfrentar os impactos das mudanças climáticas.

3) Não Anexo: Países em desenvolvimento, que não pertencem a nenhum dos anexos anteriores. (Ibidem, Artigos 4.7 e 4.8)

Além disso, é importante destacar que o eixo central daquele documento se refere ao princípio das "Comuns, mas diferenciadas responsabilidades" o qual

"(...) contribui para alcançar a justiça social, econômica e ambiental através da solidariedade e da cooperação entre os Estados para a conservação, proteção e

8 Contemplado no parágrafo 2 da UNFCCC, aqueles países que historicamente têm poluído mais o meio ambiente.

9 Se considera que embora todos os países tenham a responsabilidade de controlar as emissões de gases de efeito estufa, são os países industrializados os que devem assumir objetivos específicos de redução das suas emissões de GEE em 40% comparado aos níveis de 1990-2020

restauração da saúde, da integridade dos ecossistemas da Terra e para compensar a desvantagem dos países em desenvolvimento provocada pela pressão exercida pelos Estados desenvolvidos sobre o meio ambiente." (BORRÀS, 2014).

Este princípio possui dois componentes, no que diz respeito à responsabilidade comum, se têm que:

(...) descreve não só a contribuição dos Estados, em uma extensão diferente da degradação ambiental, mas também as obrigações compartilhadas entre dois ou mais Estados com o objetivo de proteger um determinado setor ambiental de interesse comum. A responsabilidade comum aplica-se no contexto de um recurso compartilhado, que não está sob controle ou sob jurisdição soberana de nenhum Estado, mas que representa um objeto de especial interesse entre a generalidade dos Estados, como a biodiversidade, em termos de interesse comum da humanidade.

(BORRÀS, 2010 p.179)

No que diz respeito à responsabilidade diferenciada dos estados, isso se deve à adoção de diferentes padrões ambientais devido às condições de desenvolvimento econômico (inferiores), bem como às contribuições históricas na geração dos problemas ambientais atuais e comuns (impactos nos recursos hídrico e atmosféricos), que deriva no reconhecimento dos direitos aos estados em desenvolvimento e aos mais vulneráveis, permitindo que designem suas próprias políticas ambientais e impondo níveis de conformidade ou cumprimento que atendam às suas necessidades e sem que tais medidas se tornem um obstáculo ao seu desenvolvimento (Ibid. , p.180).

A partir desse princípio o Protocolo de Kyoto de 1997 foi firmado durante a realização do COP 3 no Japão, o qual, embora entrasse em vigor só em 2005, com a ratificação de 55 países signatários, se erigiu como o primeiro tratado juridicamente vinculativo estabelecendo metas obrigatórias de redução de emissões para 37 países industrializados. O seu principal objetivo foi desenvolver planos para reduzir as emissões contaminantes na atmosfera, que produzem os amplamente conhecidos gases de efeito de estufa. Durante o encontro os governos se comprometeram a reduzir gradualmente em 5% as emissões de gases contaminantes até o prazo máximo de 2012. O acordo entrou em vigor em fevereiro de 2005 com um firme propósito dos países signatários de reduzir a mudança do clima. A partir disso, a comissão de Kyoto reconheceu que "as mudanças climáticas repercutem os ecossistemas e nas economias de todos os países", reconhecendo que as medidas seriam implementadas por fortes razões econômicas, já que uma forte instabilidade ambiental também provoca uma

crise econômica (ONU, 1997. Art. 3-5). Assim, cada país, dependendo das suas emissões contaminantes, está obrigado a reduzi-las numa determinada porcentagem para alcançar a estabilidade ambiental requerida pela Convenção Marco. Destaque-se aqui a União Europeia, historicamente responsável por elevados níveis de emissão de gases de efeito estufa, resultado da queima de combustíveis fósseis por mais de 150 anos10.

A partir do Protocolo de Kyoto foram criados instrumentos econômicos (IE’s) específicos para conter os avanços da degradação industrial e demais atividades antrópicas, sendo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) o mais conhecido. Tal instrumento prevê o compromisso das Partes em implantar medidas para assegurar o desenvolvimento limpo do planeta, através de condutas que, conforme o artigo 3º impliquem na redução da emissão dos GEE, em pelo menos 5% abaixo dos níveis de 1990, no período de compromisso de 2008 a 2012. (Ibidem, Art. 12)

Para facilitar o cumprimento das metas impostas aos países desenvolvidos, o acordo previu três mecanismos de flexibilização, quais sejam, Comércio de Emissões, contemplado no artigo 17 do protocolo – CE (Emissions Trading – ET), Atividades de Implementação Conjunta, Art. 6 – IC (Joint Implementation – JI) e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, Art. 17 – MDL (Clean Development Mechanism – CDM). Estes instrumentos estabelecem que os países desenvolvidos, dotados de maiores vantagens econômicas, executem ações para proteger o meio ambiente na forma mais eficiente possível, em vista de seu baixo custo de oportunidade, podendo executar ações mitigadoras que reduzam seus custos de poluição11. Os objetivos dos MDL são regular, financiar e certificar a limitação e/ou redução de emissões de CO2, assim como regular o comércio de Unidades de Redução Certificada de Emissões (Bônus de CO2) resultantes de atividades econômicas, projetos e investimentos. Mais ainda, os países em desenvolvimento podem receber ajuda financeira de países desenvolvidos de acordo com o Anexo I da UNFCCC, e destinando esses investimentos para a redução e captura de emissões de CO2.

Os mecanismos da Implementação Conjunta e do Comércio de Emissões previstos pelo Protocolo somente podem ser usados em países desenvolvidos. Já o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, por outro lado, poderá ser implementado conjuntamente com os

10 http://unfccc.int/kyoto_protocol/items/2830.php

11 MALVIK, Henrik; WESTKOG, Hege. The Kyoto mechanisms and the quest for compliance: unresolved issues and potencial pitfalls. Disponível em: www.cicero.uio.no/media/1219pdf.

países em desenvolvimento12. Cabe apontar que os MDL eram aplicados em projetos de energias renováveis, manejo de resíduos sólidos, transporte, apresentando uma dificuldade para aplicar este mecanismo nas florestas. Isto se deve ao fato de que para medir a quantidade de carbono nas florestas é necessário realizar operações de amostragem, e análise estatística, procedimentos que implicam um grau de incerteza maior do que a estimativa dos benefícios.

(CCA, 2015)

O histórico apresentado acima indica o rigor com que o Protocolo de Kyoto outorgou ao MDL promover a compra e venda de bônus de carbono devido a que na época havia grandes limitações tecnológicas para realizar uma medição e verificação objetiva, tornando o mecanismo pouco acessível e funcional para pequenos proprietários de terras onde estão situadas as áreas florestais susceptíveis de capturar carbono.

Assim o Protocolo de Kyoto mostra a ponta de um iceberg que evidencia seu fracasso pois nas negociações, a União Europeia se pronunciou a favor de limites máximos claros para as emissões, mas os EUA e o Japão prevaleceram, onde aliais, os principais apoiantes da negociação de direitos de emissão foram BP e Shell.

A União Europeia instalou, ao mesmo tempo, um sistema de comercio de emissões similar. Mas dado que muitos certificados foram emitidos para empresas, a negociação de direitos de emissão não tem funcionado como um incentivo para investimentos em tecnologias com emissões mais baixas ou sem emissões de CO2. Assim, os preços de uma tonelada de CO2 que deviam ser entre 20 e 30 euros, em meados de novembro de 2015, o preço era de 8 euros.

Por outro lado, os chamados "mecanismos flexíveis" do Protocolo de Quioto permitem aos poluidores dos países industrializados libertar-se dos esforços da política climática global, investindo em outros países do Norte Global ou do Sul Global. Isso se conhece como a "aplicação conjunta" ou "mecanismos de desenvolvimento limpo". Na cara dos países em desenvolvimento, isso é descaradamente imperial, porque ditos projetos chamados de "climáticos" são muitas vezes contrários aos interesses da população local. O pesquisador da política climática, Achim Brunnengräber, fala mais precisamente sobre o

"comércio de indulgências modernas", porque as empresas mais ricas e poderosas do Norte

12 UNFCCC. Kyoto Mechanisms. Disponível em: http://unfccc.int/kyoto_mechanisms/items/2998.php.

podem continuar a poluir graças ao seu apoio a projetos que muitas vezes são duvidosos em outros lugares.

Do ponto de vista político, não se trata de negociar eternamente limites máximos permissíveis de emissão de dióxido de carbono, mas terminando com métodos de produção destrutivos. É por isso que deve notar-se: o comércio de direitos de emissão e os outros dos

"mecanismos flexíveis" sustentam a lógica neoliberal do sistema econômico baseado em fontes de energia fóssil (e nuclear). Enquanto na política climática existem mecanismos flexíveis e presumivelmente conformes ao mercado, e ainda existam notórias barreiras para um mercado de energias renováveis e a valoração justa do Carbono, uma coisa será assegurada acima de tudo: o poder das empresas de mineração, energia e grupos industriais, bem como os governos que os apoiam.

3.4 Mecanismo De Redução De Emissões Advindas Do Desmatamento E Degradação