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CAPITULO 3: EVOLUÇÃO DOS INTRUMENTOS NORMATIVOS DE POLITICA DE

3.2 Primeira conferência sobre o meio ambiente humano

Em virtude das pressões e dos movimentos preocupados com o meio ambiente no ano de 1972, a Organização das Nações Unidas convocou a primeira conferência internacional sobre o meio ambiente humano com o objetivo de abordar a questão recente da crise ambiental e tomar medidas frente às novas demandas. A “Declaração de Estocolmo”, como ficou conhecida, é considerada um marco histórico do direito internacional do meio ambiente, já que pela primeira vez no quadro de um fórum político internacional as maiores problemáticas ambientais e sociais contemporâneas e que marcavam o futuro da humanidade foram tratadas (VERA, et al, 1998).

Naquele momento predominava uma visão de que as questões ambientais e as perdas dos biomas no planeta tinham sido causadas pela miséria e pelo subdesenvolvimento econômico, sendo eles as principais fontes de poluição. Consequentemente, aumentar a oferta de alimentos, melhorar as condições de habitação, assistência médica, emprego e serviços

sanitários, eram mais prioritários do que reduzir a poluição da atmosfera e conservar as florestas. Ou seja, o “desenvolvimento” não poderia ser sacrificado por considerações ecológicas, uma vez que essa preocupação poderia prejudicar as políticas de industrialização na América Latina, África e na Ásia (FROTTA, 2011). Embora tal entendimento tenha revelado algum grau de compromisso diplomático entre os estados, questões vinculadas à conservação dos ecossistemas e dos diferentes biomas no mundo foram apenas parcialmente consideradas.

Superadas essas dificuldades, a declaração estabeleceu princípios demonstrando a transversalidade dos assuntos ambientais entre as nações. Princípios como a igualdade, solidariedade, prevenção, precaução, desenvolvimento sustentável, a soberania dos estados sobre o patrimônio natural, deram sentido às primeiras diretrizes na elaboração de políticas e instrumentos para a conservação e uso sustentável dos recursos naturais, aspectos que serão aprofundados ao longo deste trabalho.

Um dos resultados mais importantes dessa conferencia, como mencionado na Declaração de Estocolmo em 1972, foi a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) para lidar com as questões ambientais, estabelecendo um sistema de controle ambiental (informando cada país sobre as questões ambientais) um registro internacional de substâncias tóxicas (controlando as medidas de segurança para substâncias nocivas) entre outras medidas de prevenção e controle (ONU, 1972). Posteriormente, no ano de 1979, aconteceu em Genebra, Suíça, a Primeira Conferência Mundial sobre o Clima, a qual contou com os auspícios de Organização Meteorológica. Nessa conferência, pela primeira vez na história, foram colocados em discussão os possíveis efeitos da mudança do clima sobre as atividades de subsistência humana como a agricultura, a pesca, geração de energia e em termos gerais a gestão de recursos naturais. Propôs-se também pela primeira vez a busca de informações e estudos sobre alterações climáticas que já começavam a alertar a humanidade naquele momento. Uma das mais importantes conclusões desse encontro foi o consenso científico entre os países presentes de que a mudança do clima no mundo era causada pelo aumento das emissões de dióxido de carbono (CO2), fato também inédito para a época, como observado na Conferência mundial sobre o clima.

Já em 1983 foi criada a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (World Commission on Environment and Development), instituída pela Resolução 38/161

da Assembleia Geral, e aprovada pela 38ª sessão da Organização das Nações Unidas.5 Esta comissão se reuniu pela primeira vez em 1984, na qual foram estabelecidos três orientações pela assembleia geral:

1) Examinar aspectos críticos do desenvolvimento e meio ambiente e formular propostas realistas a esse respeito.

2) Propor novas formas de cooperação internacional capazes de influenciar a formulação de políticas sobre questões de desenvolvimento e meio ambiente visando mudanças nos padrões de produção e consumo

3) Promover entendimento e compromissos tanto individuais como organizacionais entre empresas, instituições e governos.(ONU, 1984)

Como fruto dessa comissão a Organização das Nações unidas publicou em 1987 o relatório nomeado “Nosso Futuro Comum”, amplamente conhecido como o “Relatório de Brundtland”, razão pela qual a comissão também ficou conhecida como a Comissão de Brundtland. Neste relatório, em virtude dos diferentes modelos de crescimento e desenvolvimento acarretarem aumento gradual nas iniquidades sociais, níveis de pobreza, e degradação do meio ambiente, o conceito de Desenvolvimento Sustentável ganhou proeminência no debate acadêmico e na definição de políticas públicas, propondo um equilíbrio entre o meio ambiente, o desenvolvimento econômico e bem-estar social. À luz de tal conceito é necessário satisfazer as necessidades das gerações presentes sem comprometer tal condição para as gerações futuras. Esta definição passou a ser incluída em todos os instrumentos de política nacional e internacionalmente6.

Outra razão que demonstra a importância deste relatório é que pela primeira vez houve um reconhecimento expresso e oficial por parte dos países signatários da existência da relação causal direta entre o consumo excessivo de fontes de energia baseadas em combustíveis fósseis e biomassa (petróleo, carvão, gás, madeira), e o aumento das emissões globais de gases de efeito estufa e suas implicações para a mudança do clima. Assim, em termos gerais o relatório de Brundtland adotou uma perspectiva que passou a orientar solidamente a formulação de políticas ambientais, sociais e econômicas, segundo as quais as questões ambientais não podem se isolar de outros fenômenos como a pobreza e a segregação

5 http://www.fao.org/docrep/s5780s/s5780s09.htm

6 http://www.un.org/es/ga/president/65/issues/sustdev.shtml

social, ratificando a importância do desenvolvimento sustentável como uma via de equilíbrio para a solução dos problemas ambientais e sociais (ONU, 1987).

No ano seguinte à formulação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e à criação da Organização Meteorológica Mundial, foi criado o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), com sede em Genebra, Suiça. O painel, composto por 300 cientistas provenientes de distintos paises, teve como objetivo uma investigação sobre os conhecimentos científicos, técnicos e socioeconômicos relativos à mudança do clima, suas possíveis causas e efeitos, bem como estratégias de mitigação e adaptação da sociedade. O IPCC tem elaborado cinco relatórios desde 1990 até 2014, os quais tem demostrado, com sólida evidência científica, as causas da mudança do clima global por fatores antrópicos. Em seu último informe é dada forte ênfase aos impactos socioeconômicos das mudanças do clima, à necessidade de uma gestão de risco adequada e ao desenvolvimento da metodologia para confrontar os impactos gerados através da adaptação e mitigação.

3.3 Conferência das nações unidas para o desenvolvimento humano, Rio-92 e convenção