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CAPÍTULO 5. ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS SALVAGUARDAS

5.2. Analise da salvaguarda B: estruturas transparentes e eficazes de governança florestal

5.2.2 Legislação nacional aplicável à Colômbia

5.2.2.2 O Sistema Nacional Ambiental (SINA)

Esta lei é a mais importante no país em matéria ambiental, pois internaliza os princípios da conferência da ONU na Rio/1992, e estabelece a institucionalidade ambiental no país criando as mais importantes figuras de governança florestal e ambiental. Com respeito ao quadro institucional das estruturas nacionais de governança florestal, criou-se o Ministério do Meio Ambiente e sua estrutura interna para implementar todas as políticas voltadas para o desenvolvimento sustentável da nação. Com isso, foi possível ter os instrumentos para garantir a participação das comunidades na política ambiental nacional, através do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SINA), que reúne todas as regras, recursos, programas e instituições para a implementação dos princípios gerais ambientais contidos na Constituição e na lei (COLOMBIA, 1993)

Por sua vez, foi criado o Conselho Nacional do Meio Ambiente visando uma coordenação intersetorial pelo Estado para o desenvolvimento de políticas e planos ambientais, proporcionando uma garantia para manter a governança florestal transparente.

Para tanto, tal conselho envolve, entre outros atores, os ministérios de infraestrutura e desenvolvimento socioeconômico do país, os de controle e fiscalização da atuação pública, além de representantes de setores produtivos que mais causam impacto sobre o meio ambiente, um representante das comunidades negras, um representante das comunidades indígenas, e membros da academia e ONGs ambientais (Ibidem, art. 13-15). Da mesma forma, foram criadas as Corporações Autônomas Regionais (CAR), que são entidades corporativas públicas, também ligadas ao Ministério do Meio Ambiente, descentralizadas nas diferentes regiões hidrográficas do país, responsáveis pela gestão adequada dos recursos naturais encontrados em sua jurisdição, implementando programas e políticas de desenvolvimento sustentável no âmbito regional (Ibidem, Art. 23).

No que diz respeito à governança florestal eficaz através da participação dos cidadãos nos processos de tomada de decisão, esta lei estabelece o direito de qualquer pessoa intervir nos processos administrativos ambientais, incluindo aqueles de autorizações ou licenciamento ambiental que possam afetar o meio ambiente nacional ou regional. Da mesma

forma, é facultada a imposição ou revogação de sanções pelo não cumprimento das normas ambientais, sem que a pessoa tenha qualquer interesse jurídico (Ibidem, Art. 69).

Finalmente, no que diz respeito à governança florestal transparente, esta lei prevê que as decisões administrativas relacionadas com processos de licenciamento ou autorizações que afetam o ambiente sejam publicadas e notificadas em caso do exercício do direito de petição, informando pontualmente os riscos ambientais da concessão das licenças e permissões. Por sua vez, também dispôs como elemento de transparência a prestação de contas que devem fazer as autoridades, a qualquer pessoa que solicite informações sobre a utilização dos recursos financeiros disponíveis para a preservação do meio ambiente (Ibidem, Art. 74).

Respeito à aplicação da mencionada lei cabe sinalar que respeito ao cumprimento das funções das Autoridades Ambientais Regionais (CAR) estas não vêm sendo cumpridas satisfatoriamente. Para o ano 2015 a Procuradoria Geral do Estado informou que mais da metade das CAR no país deixaram caducar a assinação de recursos atribuídos anualmente por parte da nação, perdendo com isto uma grande oportunidade de investimento em programas, políticas e estratégias voltadas para a preservação, manutenção e uso sustentável dos recursos naturais, os quais foram executados posteriormente de forma deficiente, já que no nível nacional investiram apenas perto de 15% do orçamento assignado.

Por outro lado e em relação aos processos de licenciamento, se evidencia que desde a criação desta figura através da lei em estudo em 1993 e até o 2012 foram reportados 19.047 pedidos de licenciamento dos quais 1746 foram concedidos, dentre dos quais se destaca o setor de hidrocarburos com o maior número de licenciamentos concedidos (766), enquanto o setor de mineração ficou em último lugar com apenas 13, isto em virtude às altas taxas de ilegalidade no setor mineração no País, onde 66% da exploração é realizada de forma ilegal e só na exploração de ouro atinge 87% de ilegalidade, isto é sem cumprir os requisitos exigidos pela lei (ROJAS, 2013).

Como resultado desta aparente dilação respeito aos processos de licenciamento, uma vez que a duração média do procedimento para a concessão de um destes permissões é aproximadamente 24 meses, o congresso propus modificar a lei visando acelerar o procedimento, até o ponto de conseguir a emissão de licenças de projetos ambientais em

média de 3,5 meses, para grandes projetos de mineração, hidrocarbonetos, petróleo e infraestrutura. Esta modificação apresentada e aplicada no Decreto 2041 de 2014.

Enquanto a Agência Nacional de Licenciamento Ambiental (ANLA) e outras entidades governamentais comemoravam este decreto tendo em vista que foi uma ferramenta útil para descongestionar o número de permissões apresentadas e, promovia o desenvolvimento econômico do país, vários setores ambientais e da sociedade civil condenaram o mesmo como uma queda considerável na exigência dos requisitos e qualidades dos estudos de impacto ambiental para os projetos, obras ou atividades com alto impacto ambiental, económico e social.

Além das críticas mencionadas um aspeto crítico desta reforma foi que estabeleceu que durante as fases de pre-exploração em atividades mineração, o licenciamento outorgado não se faz necessário, assim ecossistemas estratégicos para o país, como, zonas húmidas, manguezais, paramos, zonas de reserva florestal, e florestas nativas em geral viram-se ver afetadas por essas primeiras atividades pre-exploratorias as que são feitas através de explorações sísmicas passando a um segundo plano princípios como os de precaução, e conservação elementos principais em qualquer processo de licenciamento ambiental.

Outro aspeto importante tratado nesta lei é sobre a participação dos cidadãos como requisito para a eficácia da governança florestal, criando o mecanismo da audiência pública ambiental, bem como o direito de qualquer pessoa intervir nos procedimentos de licenciamento ambiental. Esses procedimentos visam brindar para as comunidades o acesso efetivo às informações e participar ativamente na tomada de decisão. No entanto, observou-se que as audiências públicas são promovidas e realizadas em menor medida do esperado.

Entre 1993 e 2013, mais de 2.000 processos de licenciamento foram concedidos aos diferentes setores produtivos do país, onde apenas 60 audiências públicas foram realizadas, das quais 100% foram feitas por solicitação das comunidades e nunca por parte das autoridades administrativas.

Com o anterior se evidencia a falta de interesse e de iniciativa por parte das autoridades na promoção e execução da ferramenta de informação e capacitação, em favor das comunidades frente aos possíveis impactos ambientais que gerem projetos, obras ou atividades na sua região. Do mesmo modo, cabe destacar que quando se fala de participação neste contexto, ela tem sido limitada exclusivamente às reuniões de socialização dos projetos,

obras ou atividades, resultando na falta de informações relevantes, especialmente nas áreas rurais mais remotas e gerando um obstáculo no acesso à justiça para promover os direitos das comunidades.