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CAPÍTULO 5. ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS SALVAGUARDAS

5.3 Salvaguarda C: direitos das comunidades indígenas e comunidades locais

5.3.2 Contexto nacional dos direitos das comunidades indígenas

Existe uma ocupação dos chamados resguardos indígenas (território coletivo indígena) de 30.571.254 hectares de terra equivalente a 29,8% do território nacional e 70%

das áreas desses territórios são declaradas como Reserva Florestal (área legalmente protegida), onde 87 etnias indígenas diferentes são oficialmente reconhecidas. No entanto, a Organização Nacional Indígena da Colômbia (ONIC) reconhece 102 etnias indígenas diferentes.

Atualmente, 52 desses povos vivem nas florestas da Amazônia colombiana, a qual equivale a 42% do território nacional e 70% das florestas do país, adicionalmente são cinco os povos indígenas que vivem nas florestas úmidas tropicais do Pacífico as quais representam 15% das florestas do país (MADS, 2012).

No caribe colombiano habitam 10 etnias indígenas, região onde existem diferentes ecossistemas como desertos, florestas secas, manguezais, praia e altas montanhas. Na região de Orinoquía, 13 etnias indígenas vivem nas savanas da planície de inundação e nas florestas da galeria e, finalmente, na alta montanha da região andina colombiana habitam treze etnias indígenas. (Ibidem pág. 29)

Por outro lado as comunidades afro-colombianas representam 90% da população da região pacífica do país, com aproximadamente um milhão de pessoas; muitos destes territórios têm sido titulados pelo estado a territórios coletivos afrodescendentes, mas exatamente 5.128.830 hectares de florestas naturais (5% das florestas nacionais) e 973.030 hectares de vegetação secundária foram outorgadas através de 149 títulos coletivos de

propriedade em favor de 60.418 famílias, durante os últimos quarenta anos mais de cinco milhões de hectares da floresta do pacífico colombiano foram desmatadas como resultado de atividades de mineração, do desenvolvimento agroindustrial e da exploração madeireira legal e ilegal; todos abrangidos por cenários de abusos, conflito armado, violência e deslocações forçadas contra os grupos étnicos ancestralmente ali alocados. (MADS, 2012).

Os números acima revelam a extrema importância dos povos e comunidades indígenas e afro-colombianos como atores chave na definição de estratégias e implementação de ações e projetos REDD+ nas florestas do país. Por isso, de uma leitura integrada da constituição Política Colombiana deriva-se uma situação favorável respeito aos direitos territoriais das comunidades indígenas e afrodescendentes na Colômbia.

A figura 12 mostra os territórios pertences e de influência de Comunidades Indígenas e Afros.

FIGURA 12. ALOCAÇÃO DAS COMUNIDADES INDIGENAS E AFRODESCENDENTES NO TERRITORIO COLOMBIANO.

Fonte: MADS, 2012.

São numerosas e profundas as disposições constitucionais que garantem a proteção dos direitos destas comunidades em seus territórios. Por um lado o Artigo 7º estabelece que o Estado reconhece e protege a diversidade étnica e cultural da Nação Colombiano. Isto é bastante relevante à luz do Artigo 63, segundo a qual as terras comunais de etnias, terras de proteção, patrimônio arqueológico da Nação e outros ativos determinados por lei são inalienáveis, imprescritíveis e não liberáveis. Além disso, o artigo 58 da mesma Constituição Nacional reconhece a existência de propriedade privada individual ao expressar “(...) A propriedade privada e outros direitos adquiridos são garantidos de acordo com as leis civis ...”, assim como a propriedade coletiva privada ou comunitária conforme o artigo 329 da

carta. Um dos artigos mais relevantes para estas comunidades é o artigo 330 o qual estabelece: “(...)

Artigo 330 De acordo com a Constituição e as leis, os territórios indígenas serão regidos por conselhos formados e regulados de acordo com os usos e costumes de suas comunidades e exercerão as seguintes funções:

1. Garantir a aplicação das normas legais sobre o uso do solo e população dos seus territórios.

2. Conceber políticas, planos e programas de desenvolvimento econômico e social em seu território, em harmonia com o Plano Nacional de Desenvolvimento.

3. Promover investimentos públicos em seus territórios e garantir sua adequada execução.

4. Perceber e distribuir seus recursos.

5. Assegurar a preservação dos recursos naturais.

6. Coordenar os programas e projetos promovidos pelas diferentes comunidades em seu território.

7. Colaborar com a manutenção da ordem pública no seu território de acordo com as instruções e disposições do Governo Nacional.

8. Representar os territórios perante o Governo Nacional e as demais entidades às quais estão integradas; e

9. Aqueles que indicam a Constituição e a lei.

PARÁGRAFO. A exploração dos recursos naturais nos territórios indígenas será realizada sem prejuízo da integridade cultural, social e econômica das comunidades indígenas. Nas decisões tomadas em relação a essa exploração, o Governo encorajará a participação dos representantes das respectivas comunidades. “(...) Um aspecto relevante respeito aos direitos territoriais das comunidades indígenas e afro é o desenvolvimento jurisprudencial frente ao tema por parte do supremo tribunal constitucional colombiano. Os pronunciamentos do Tribunal Constitucional sobre o direito

de propriedade coletiva de povos indígenas e afrodescendentes sobre os territórios que ocuparam na sua forma original e sobre os recursos naturais neles, foram colocados em vários pronunciamentos, os quais são chamados por “Sentenças ou julgamentos”, entre os quais destaca-se o SU 510 de 1998, em que se afirmou que os direitos que os povos indígenas têm sobre os territórios e as reservas que eles originalmente ocuparam devem ser entendidos como direitos fundamentais porque são constituídos em seu ambiente de subsistência e são parte de sua cosmovisão e religiosidade.

Outro pronunciamento deste Tribunal Constitucional em relação à propriedade dos territórios ocupados pelos povos indígenas é a Sentença T 188 de 1993, pelo qual se reconhece a importância da proteção que deve existir o direito de propriedade coletiva sobre os territórios que originalmente ocuparam esses povos sendo um direito fundamental dos grupos étnicos pelo fato de ser uma extensão do direito à diversidade étnica e cultural consagrado na Constituição Política.

Através da Sentença - T 380 de 1993 O supremo tribunal constitucional estabelece o reconhecimento do direito à propriedade coletiva dos resguardos indígenas (artigo 329 do CP) a favor das comunidades, incluindo a propriedade coletiva dos recursos naturais não renováveis existentes em seu território (COLOMBIA, 1993).

Cabe destacar que o artigo 329 constitucional outorga a essas comunidades o direito de propriedade coletiva sobre os recursos naturais renováveis desses territórios; neste sentido, deve prevalecer a integridade cultural, social e econômica dos grupos étnicos que ali habitam, o que inclui o direito de decidir sobre a exploração de recursos naturais, como as florestas dos seus ecossistemas, o que implica um limite constitucional para a atividade e desenvolvimento econômico baseada em atividades extrativas, requerendo a respetiva autorização prévia conforme o artigo 80 da Constituição Política onde nestes casos se exigirá autorização prévia da comunidade indígena de acordo com o Artigo 330 da mesma. É importante esclarecer que a autorização da comunidade indígena deve ser totalmente concertada com toda a comunidade em geral, o que indica que não é possível ter autorizações por um único membro ou representante indígena e, em caso de tal situação, deverá ser realizada novamente todo o processo de consulta perante toda a comunidade, com organismos nacionais de verificação, no caso em que uns poucos "representantes ou líderes"

tenham disposto arbitrariamente da riqueza natural existente no seu território. (Julgamento T – 380 de 1993)