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2 CONTEXTO HISTÓRICO DA PRODUÇÃO E PROCESSAMENTO DE PRODUTOS

3.2 Políticas públicas estaduais que se correlacionam com a agricultura familiar

3.2.1 Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER-Goiás)

A Assistência Técnica e Extensão Rural em Goiás, teve início no ano de 1959, com a criação da Associação de Crédito e Assistência Rural do Estado de Goiás (ACAR-Goiás), sendo uma sociedade civil, sem fins lucrativos, sua sede ficava na capital Goiânia (EMATER, 2019).

Porém, se deve atentar para a natureza de criação da referida instituição (ACAR), segundo Oliveira (2013), em pesquisa relacionada a Extensão Rural e os interesses patronais no Brasil, constatou, que a instituição supracitada, teve influencias dos Estados Unidos em sua criação.

A primeira ACAR criada no país foi a de Minas Gerais, através de parceria entre o governador Milton Campos e Nelson Rockefeller (representante da Associação Americana Internacional para o Desenvolvimento Econômico e Social – AIA), sendo que desde o ano de 1945, através de acordos de cooperação técnica entre os dois países (Brasil e USA), se fez o intercambio para a realização de cursos para capacitação dos técnicos brasileiros nos EUA, sendo evidenciado a expansão da hegemonia do capital-imperialismo através destes extensionistas no campo brasileiro.

A expansão da ACAR em Minas Gerais foi continuada pelo então eleito governador Juscelino Kubitschek em 1951, e posteriormente após a sua eleição para presidente do país, expandido para todo o território nacional, através da criação da Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR) em 1956 (OLIVEIRA, 2013). Entre este e outros fatores se deu origem a ACAR-Goiás em 1959. Devemos nos atentar para os referidos interesses das classes

dominantes nacionais e internacionais à época, sendo que Oliveira (2013, p.45), afirma que a

“ABCAR representava a concretização material dos projetos políticos-ideológicos das frações da classe dominante agroindustrial”, sendo que estas políticas de extensionismo difundidas pelo USA, tinham como intuito o fornecimento de crédito rural para a compra de insumos agrícolas e maquinários “modernos” e o ensinamento do manuseio dessas novas técnicas ditas modernas, através da extensão rural, alicerçada no difusionismo e educação bancária, ao contrário do que Freire (1985, p.14) propõe, pois o mesmo “ como educador, se recusa a “domesticação” dos homens”, propondo a comunicação e não a extensão. Demonstrando a intencionalidade das classes dominantes em massificarem o pensamento das classes rurais da época.

Neste sentido os serviços de Pesquisa e Extensão Rural no Estado de Goiás sofreram essas influências em sua estruturação, influencias estas que se fazem presentes até os dias de hoje. A estruturação destas instituições, foi fundamental para a expansão do capital no campo, pois as mesmas, tiverem protagonismo para a implantação e expansão da revolução verde / modernização conservadora no Centro-Oeste brasileiro, pois esse território foi fundamental para a expansão da produção agrícola, através da expansão da fronteira agrícola. No ano de 1975 foi criado através da Lei nº 7.969, de 15 de outubro, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Goiás (EMATER-GO), a mesma em seu Art. 9º absorveu “o acervo físico, técnico e administrativo, bem como, saldos remanescentes da Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR-GO)” (GOIÁS, 1975a), sendo que a mesma foi regulamentada pelo Decreto Estadual nº 735, de 16 de dezembro do mesmo ano (GOIÁS, 1975b).

Em 1999, através da Lei Estadual nº 13.550 de 11 de novembro, foi criado a Agência Goiana de Desenvolvimento Rural e Fundiário – AGENCIA RURAL (GOIÁS, 1999), onde foi absorvido as atividades da EMATER-GO, além da agregação da defesa agropecuária (extinto IGAP) na mesma instituição, fusão essa que durou até o ano de 2003, com a criação da AGRODEFESA. No decorrer dos últimos anos ocorreu várias extinções, fusões e liquidações45,

45 Lei nº 16.365 de 07 de outubro de 2008, que extinguiu a AGENCIARURAL; Lei 16.978 de 28 de abril de 2010, que reativa a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Goiás –EMATER-GO; Lei nº 17.257 de 25 de janeiro de 2011, coloca novamente em liquidação a Empresa de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária do Estado de Goiás-EMATER–GO, e cria-se a Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária – EMATER (entidade autárquica estadual, dotada de personalidade jurídica de direito público interno); em 2014, através da Lei 18.746 de 29 de dezembro, foi definida nova estrutura

apesar de todas mudanças citadas anteriormente, a EMATER-Goiás se mantém presente em quase todos os municípios do Estado, através de 12 Unidades Regionais, 220 Unidades Locais (que estão ligadas diretamente as Unidades Regionais), além de Unidades de Pesquisa Agropecuária, sendo 4 Estações Experimentais (Anápolis, Araçu, Goiânia e Porangatu) e 3 Campos Experimentais (Luiz Alves, Rio Verde e Flores de Goiás.) (EMATER, 2021a).

Hoje, as funções atribuídas a EMATER-Goiás estão relacionadas à alguns programas específicos, sendo entre estes:

Elaboração de projetos de Crédito Rural – A EMATER ajuda na elaboração de projetos para Custeio, Investimento e Comercialização junto a agricultura familiar via PRONAF e a elaboração de projetos para atendimento do “Programa Produtor Empreendedor – Credito Rural”, criado pelo governo estadual.

Programa de Aquisição Alimentos do Estado de Goiás – PAA/Goiás – A EMATER- GO ajuda no cadastramento, seleção e gestão do referido programa;

Programa Produzir Brasil – é uma parceria da EMATER-GO junto ao MAPA e o INCRA, buscando oferecer assistência técnica e extensão rural a famílias produtoras de 51 assentamentos, estando os mesmos localizados em 30 município, tendo como princípio três eixos: o Produtivo, Promoção Social e o Agroambiental. Sendo que, o referido programa tem previsão para 24 meses, tendo início em 01 de janeiro de 2021.

Na região Norte de Goiás (local da pesquisa empírica) foram atendidos 3 Projetos de Assentamento, sendo que os mesmos são localizados no município de Mutunópolis, atendendo um total de 35 famílias (EMATER, 2021a).

Oferta de cursos junto aos agricultores familiares - Através do Departamento de Desenvolvimento Social, busca-se oferecer cursos que estimulem a agregação de valor as matérias primas, a exemplo de cursos de BPF, Processamento de carne, leite, frutas, soja e hortaliças;

complementar para a instituição; em 2015, através da Lei Nº 18.934, de 16 de julho, nova estruturação organizacional foi instituída (Agência de Inovação Rural); através do Decreto nº 8.438, de 21 de agosto de 2015, alteração novamente a estrutura da instituição, instituindo as unidades regionais e demais competências; através da Lei Estadual nº 19.376, de 30 de junho de 2016, a Agência passa a ter maior autonomia funcional, administrativa e orçamentária, de acordo com as normas da administração pública; e por último, foi publicado o Decreto nº 9.766, de 14 de dezembro de 2020, que revogou os Decretos: 7.253 de 2011, 8.236 de 2014, 8.673 de 2016 e 9.028 de 2017, afetando novamente a organização interna da EMATER.

Arranjos Produtivos Locais - APL A EMATER-GO tem ajudado a gerir um dos Programas mais importantes de promoção da agroindustrialização e organização das cadeias produtivas no Estado de Goiás, são os Arranjos Produtivos Locais (APL).

Apoio a Indicação Geográfica – IG - A EMATER-GO também tem trabalhado em parceria com MAPA, no apoio a Indicação Geográfica – IG do Açafrão na cidade de Mara Rosa, do IG do Queijo Cabacinha do Araguaia no Sudoeste goiano e o IG do Mel da Região Norte de Goiás.

Selo de Inovação Rural – A partir do ano de 2018, a EMATER-GO no intuito de diferenciar os produtos da agricultura familiar in natura ou processados, de produtores acompanhados pela referida instituição, começou a conceder o Selo de Inovação Rural.

Para Medina, Camargo e Silvestre (2016), a partir década de 1990, vem ocorrendo a desestruturação da EMATER-Goiás, desde o baixo investimento para custeio das despesas da instituição, tendo se pouca estrutura para ir a campo, até a defasagem dos quadros técnicos, com a não existência de concursos nas últimas décadas, para a renovação dos quadros de funcionários da instituição. No ano de 2018, foi instituído a Lei Estadual nº 20.100, de 28 de maio (GOIÁS, 2018), que criou o Programa de Demissão Voluntária dos funcionários da EMATER-Goiás - PDV, com o intuito de se demitir 363 empregados, se buscando “otimizar as despesas” com pessoal, programa este, que aprofundou mais ainda a crise relacionada a assistência técnica aos agricultores familiares do Estado de Goiás, pois esses técnicos não foram substituídos, perdendo se a memória de campo dos veteranos agora aposentados, deixando boa parte dos agricultores familiares desassistidos.