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1 CONCEPÇÕES DE ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, MERCADOS E SUAS

1.6 Mercados, Cadeias Curtas de Abastecimento alimentar/Redes Alimentares Alternativas

1.6.1 Mercados

Mercados são considerados locais ou estruturas a qual, bens e serviços são trocados, os mesmos conectam produtores e consumidores, sendo essa relação direta ou indiretamente, podendo ser altamente complexas ou mais simples (PLOEG, 2016b). O mercado não é apenas uma convenção econômica, ditando as regras de funcionamento das trocas de mercadoria e as transações comerciais, “os mercados” se caracterizam como um processo de interação social entre atores e agentes que estejam interessados em realizar trocas e intercambiamento de bens, produtos e mercadorias, sendo assim, para que exista mercado, tem que se existir interações sociais, por tanto, os mercados podem, e o são construídos por indivíduos e grupos sociais, a exemplo dos agricultores familiares (SCHNEIDER, S.; MARQUES, F.; CONTERATO, M., 2016).

Pra Schneider (2015), os mercados estão estritamente relacionados com os preços, sendo que estes decorrem das relações entre ofertantes e demandantes de bens e produtos, que podem diminuir ou aumentar por uma série de razões, diretas e indiretas. Desta maneira, o referido autor define mercados de três formas:

a) o mercado como um locus, um espaço físico determinado em que se realizam trocas materiais de produtos e mercadorias; b) o mercado como princípio ordenador da sociedade e da economia, tal como funciona o capitalismo; e c) o mercado como uma construção social, que resulta de processos de interação entre agentes que trocam e intercambiam por diferentes motivos, sejam eles econômicos, sociais ou culturais (SCHNEIDER, S, 2016, p.97).

Ploeg (2016b, p.21), reafirma que as formas de constituição, interação e organização dos mercados constituem

[...] os locais em que ocorrem as transações e os respectivos fluxos de mercadorias;

ou os sistemas que organizam tais fluxos, de um ponto a outro, no espaço-tempo, muitas vezes por meio de transações complexas e inter-relacionadas. Do mesmo modo, os mercados (sejam eles espaços físicos ou sistemas de trocas) envolvem relações sociais, que tanto podem ser visíveis como totalmente anônimas. Essas relações modelam os fluxos de bens e serviços através do tempo e do espaço. Tais modelos são adaptados a infraestruturas sociomateriais específicas.

Wilkinson (2008), identifica 4 tipos de mercados tradicionais acessados pela agricultura familiar à época, sendo o mercado local (acesso direto), podendo este ser formal ou não, sendo que em alguns lugares, se tem uma maior fiscalização destes produtos e processos;

intermediário (atravessador), o mesmo tem sido substituído pelos supermercados; integração junto a agroindústria, estando vinculado ao mercado de commodities; e compras públicas.

Porém, nos dias de hoje é observado a emergência de um novo conjunto de mercados, sendo os de: especialidades de nichos, orgânicos, artesanais, solidários, institucionais via PAA e PNAE, commodities e mercados aninhados.

Schneider (2016) também se propôs a realizar a tipificação destes mercados em que a agricultura familiar se insere, desta maneira, iremos nos alicerçar nos escritos do referido autor, onde o mesmo, inspirado por Wilkinson (2008), faz a descrição de 4 formas de relação de compra e venda presentes nas dinâmicas dos mercados da agricultura familiar. Sendo estes descritos como:

1) Mercados de proximidade: é predominante as relações de troca interpessoais, mobilizam relações de parentesco, reciprocidade, valoriza a qualidade e os aspectos valorativos, está alicerçado em trocas diretas, a exemplo da economia solidária, venda direta ou de porta em porta, geralmente estão presentes em pequenos municípios e comunidades rurais, são mercados socialmente construídos;

2) Mercados locais e territoriais: aqui as trocas passam a ser monetizada através da oferta e demanda, tendo os indicadores qualitativos como orientação, é considerado uma economia mercantil simples (se produz para vender ou trocar e ganhar), as relações de distribuição e comercialização não mais é necessariamente do produtor, neste sentido se tem a presença de intermediários (atravessadores), caso tenha mais demanda de produtos diferenciados, estes extrapolam o local, e expandem o território de atuação, podendo surgir nichos específicos, reconhecidos via “marcas” de origem via indicações geográficas (IG) ou identidade imaterial (indicações de procedência) exemplos destes mercados são as feiras locais, espaços públicos de vendas;

3) Mercados convencionais: o mesmo se caracteriza por mercados de produtos de bens e mercadorias, sendo comandados por fortes agentes privados que comercializam em diversos níveis, considerado pelo referido autor como mercados placeless (sem lugar), os mecanismos de intermediação são regidos por complicados contratos de representação, regulamentações e direitos de propriedade, os agricultores que se inserem neste meio se tornam altamente dependentes, principalmente quando se fala da produção de commodities;

4) Mercados públicos e institucionais: o mesmo tem sido amplamente difundido no Brasil, principalmente através do PAA e PNAE, sendo o Estado o principal agente de troca nestes

espaços, os mesmos pagam valores superiores ao dos mercados convencionais, geralmente estes mercados são criados para atender as necessidades alimentares de escolas, creches, hospitais e instituições sociais do Estado.

Através desta tipificação destes mercados, realizada por Schneider (2016), o mesmo contribuiu com o melhor entendimento quanto as tipologias do mercado da agricultura familiar na atualidade, podendo assim, desembocar nos referidos canais de comercialização.

Além destes novos mercados citados anteriormente, Ploeg (2016b) tem trabalhado com uma outra categoria de mercado na agricultura familiar, o mesmo tem dedicado atenção aos mercados aninhados, os mesmos são considerados mercados aninhados por estarem no interior de outros mercados, sendo estes mais amplos, porém com outras dinâmicas de governança, inter-relações, formas de distribuição, formação de preço e impacto em geral. O referido autor, argumenta que o surgimento deste tipo de mercado está correlacionado com a presença de lacunas estruturais (fluxos que não se materializaram) nos mercados convencionais, sendo esta lacuna uma janela de oportunidade para a criação de um novo espaço econômico no cerne dos atuais processos mercadológicos, não ficando restrito apenas ao encurtamento das cadeias entre consumo e produção.

Os mercados aninhados, segundo Ploeg (2016b), tem distintas dimensões, sendo uma delas o preço, podendo ser bem mais barato, quando comparado aos produtos convencionais; outra dimensão é a de qualidade do produto, a mesma está relacionada a longa história de qualidade;

outro diferencial está relacionado a produção primária de forma distinta, tendo como exemplo os produtos orgânicos; outras duas diferenciações emergem através da organização social do tempo e do espaço, são os produtos frescos, tendo um grande diferencial quando comparado a outros produtos que absorvem grandes espaços de tempo entre produção e consumo, já a produção de origem local (curtas distancias entre produção e consumo), além dos produtos exóticos (que muitas vezes pode ter longas distancias); e por último, temos a dimensão de disponibilidade, estando relacionado a presença do mesmo no mercado em quantidades limitadas, possuindo acesso limitado.

Neste trabalho de pesquisa, o foco é as agroindústrias familiares rurais que estejam certificadas junto aos SIM, e as referidas famílias envolvidas neste processo, desta maneira, as mesmas tem como mercados prioritários o mercado de proximidade, trabalhando também com

mercados locais e territoriais, porém, algumas agroindústrias participantes da pesquisa, também atendem a os mercados públicos e institucionais. Sendo assim, fica claro as relações locais e de proximidade presentes nos mercados que estas agroindústrias familiares rurais se inserem, corroborando com Wilkinson (2008), que a partir do ponto de vista de Granovetter, afirma que os mercados da agroindústria familiar rural podem ser vistos fundamentalmente como extensão das relações familiares e de confiança, podendo assim, mesmo esta produção sendo de origem informal, conseguir atingir camadas da elite local, pois este produto adquire reputação de qualidade, sendo esta, uma prerrogativa de relações de parentesco, vizinhança, conhecimentos pessoais e transações repetidas entre os atores, firmando relações sólidas de confiança e lealdade, blindando estes mercados a pressões externas (mercadológicas ou reguladoras).

Wilkinson (2008, p.16), afirma que os mercados de maior importância para a agricultura familiar “é conquistado por distintos processos de fidelização, com base na identificação dos produtos e dos processos produtivos com características específicas”. Sendo que na agricultura familiar, a construção e participação nestes referidos mercados, é uma das estratégias para o escoamento de sua produção, tendo como intuito, atender as necessidades materiais e de reprodução social da unidade familiar, buscando o seu desenvolvimento, através de alternativas autônomas, para a superação das formas convencionais de mercado. Sendo assim, dentro da agricultura familiar, algumas alternativas, a exemplo, a agregação de valor via agroindústrias familiares rurais é uma maneira de se superar esses mercados convencionais, e participar da construção de outros mercados.

1.6.2 Cadeias Curtas de Abastecimento Alimentar (CCAA) e Redes Alimentares