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2 CONTEXTO HISTÓRICO DA PRODUÇÃO E PROCESSAMENTO DE PRODUTOS

2.2 Processo de descentralização dos SIS e Construção do SUASA/SISBI e seus desafios

3º poderão ser celebrados “onde houver organismo próprio, em condições de exercer a fiscalização, e terão por objeto apenas as pequenas e médias empresas que não se dediquem ao comércio interestadual e internacional.

1976 Decreto nº 78.713 de 1976, de 11 de novembro.

Regulamenta a Lei nº 6.275, de 1º de dezembro de 1975, que acrescenta parágrafo único ao artigo 3º da Lei nº 5.760, de 3 de dezembro de 1971 e dá outras providências.

Fonte: Quadro organizado pelo autor.

c) as Secretarias ou Departamentos de Agricultura dos municípios, nos estabelecimentos de que trata a alínea “a” deste artigo, que façam apenas comércio municipal;

d) os órgãos de Saúde Pública dos estados, do Distrito Federal e dos Territórios, nos estabelecimentos de que trata a alínea “g” do mesmo artigo 3º (casa atacadistas e estabelecimentos varejistas)”(BRASIL, 1989).

Esse processo de descentralização do SIS pode ser considerado um passo importante para a agricultura familiar, pois a aproximação destes serviços com a realidade destas agroindústrias familiares rurais acaba favorecendo uma fiscalização mais orientadora, através de um controle higiênico sanitário mais próximo da realidade produtiva, não se atendo necessariamente as instalações físicas da agroindústria, valorizando a produção caseira/artesanal. Para Prezotto (1999, p.45), essa descentralização

[...] tem sido bem mais lenta no caso dos municípios, só acontecendo de forma mais significativa nos últimos anos. A lentidão neste processo, pode ter como um elemento explicador a falta de informações e/ou de recursos nos municípios para implantar um serviço de inspeção sanitária.

No ano de 1991 foi aprovado a Lei nº 8.171 (BRASIL, 1991), conhecida como Lei de Política Agrícola, onde foram definidos os fundamentos, objetivos e as competências institucionais, prevendo os recursos e estabelecendo as ações e instrumentos da política agrícola e às atividades agropecuárias e agroindustriais, sendo a mesma complementada pela Lei nº 9.712 de 1998 (BRASIL, 1998), que acrescentou dispositivos referentes à defesa agropecuária através dos artigos 27-A, 28-A e 29-A.

A Lei nº 9.712 de 1998, teve como proposta a unificação das ações de defesa agropecuária por meio da organização do SUASA. Em seu Art. 28-A é definido algumas funções do sistema:

Art. 28-A. Visando à promoção da saúde, as ações de vigilância e defesa sanitária dos animais e dos vegetais serão organizadas, sob a coordenação do Poder Público nas várias instâncias federativas e no âmbito de sua competência, em um Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária, articulado, no que for atinente à saúde pública, com o Sistema Único de Saúde de que trata a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990 (BRASIL, 1998).

Neste mesmo artigo nos incisos 1º e 2º Constam que:

§ 1º A área municipal será considerada unidade geográfica básica para a organização e o funcionamento dos serviços oficiais de sanidade agropecuária [...]

§ 2º A instância local do sistema unificado de atenção à sanidade agropecuária dará, na sua jurisdição, plena atenção à sanidade, com a participação da comunidade organizada [...]

Esta lei previu a unificação dos SIS, dando protagonismo para as instancias municipais, da participação da sociedade civil organizada, além de articular o SIS ao SUS, criando um banco de dados comum entre estas duas esferas. Esse protagonismo dos SIM representa um grande avanço para os municípios, pois os mesmos podem trabalhar com regras sanitárias mais includentes, podendo permitir a regularização das agroindústrias familiares rurais, gerando inclusão produtiva com segurança alimentar, através de uma fiscalização orientadora e promovendo emprego e renda. Porém os artigos 27-A, 28-A e 29-A só foram regulamentados oito anos depois, a partir do Decreto nº 5.741, de 30 de março de 2006.

Cabe ainda salientar que essas Leis, Decretos e Normativas que regulamentam os serviços fiscalizatórios convencionais, mesmo descentralizados, muitas vezes geram dificuldades de entendimento, além da sobreposição das instituições fiscalizadoras, gerando divergências e indefinições de papeis entre estas instituições (seja no âmbito federal, estadual e municipal), criando um clima de insegurança por parte dos agricultores familiares. Para Prezotto (1999, p.50)

Estes conflitos, divergências ou indefinições de papéis, podem colocar em risco, por um lado, a saúde dos consumidores pela falta de controle da qualidade dos alimentos.

Por outro, colocam em situação de insegurança os próprios estabelecimentos de industrialização, especialmente os pequenos [...] uma duplicidade de fiscalização, por órgãos diferentes, cada um com um tipo de orientação diferente, às vezes contraditória. Esses conflitos podem gerar dúvidas (e falta de informações) aos agricultores, sobre onde devam recorrer e sobre quais os passos necessários para legalizarem seus estabelecimentos de industrialização. As divergências entre as instituições podem refletir ainda em diferentes níveis de exigências em instalações e em equipamentos para a implantação de uma pequena agroindústria [...]

Outro problema gerado por esta estrutura organizacional é a aparente descentralização dos serviços de fiscalização, criando uma limitação geográfica para os produtos fiscalizados e certificados nos municípios e estados. Este debate foi levantado por Prezotto (1999, p.56), que argumenta que “na verdade essa questão legal implica uma restrição de mercado que não se justifica quanto ao aspecto da qualidade dos alimentos e da saúde pública”, esta afirmação corrobora com as ideias de que se o produto já é fiscalizado, o mesmo possui as devidas qualidades sanitárias, não dependendo assim do local onde o mesmo será consumido.

Sendo assim, Prezotto (1999, p.55) faz a seguinte argumentação:

[...] essa restrição pode significar uma espécie de reserva de mercado, favorecendo as agroindústrias com o SIF (geralmente as grandes). Os grandes mercados estão localizados, em geral, fora dos pequenos municípios. Desta forma, a comercialização dos alimentos neste tipo de mercado, fica ‘reservado’ para as unidades industriais com SIF, impedindo a maioria das ARPPs41, principalmente aquelas com o SIM, de venderem seus produtos fora dos pequenos municípios onde estão instaladas.

Para sanar às várias limitações relacionadas a legislação sanitária que vinha impondo entraves a implantação, estruturação e desenvolvimento das agroindústrias familiares rurais e a comercialização dos produtos processados pelos agricultores familiares nos mercados formais e institucionais, o governo federal criou no ano de 2005 o Grupo de Trabalho Interministerial de Estudos da Legislação Sanitária (GTI, 2017).

Este GTI teve a participação da Casa Civil da Presidência da República; do MAPA; do MDA; do Ministério da Saúde; e do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão que teve como função diagnosticar os entraves e apresentar propostas para o aperfeiçoamento das legislações sanitárias em favor das agroindústrias familiares rurais (GTI, 2017).

Para o GTI o SIS "caracteriza um ambiente institucional desfavorável e restritivo, com exclusão da agroindústria de pequeno porte do mercado formal, inclusive no espaço institucional, como, por exemplo, o Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE" (GTI, 2017).Segundo o “Dossiê Sanitário” realizado no ano de 2017, pelo GTI, se concluiu que desde o ano de 2003 "intensificou-se o debate sobre a necessidade de mudança da legislação sanitária, com o objetivo de diminuir as exigências estruturais e simplificar o processo de registro para as pequenas agroindústrias"(GTI, 2017).

O GTI diagnosticou a inexistência de um sistema unificado para aglutinar e harmonizar as três esferas de governo, a legislação muitas vezes impunha entraves ao registro e a inspeção de produtos, a falta de atualização da lei federal tem restringido a instalação de agroindústrias familiares rurais e o seu acesso ao mercado, favorecendo as grandes indústrias (GTI, 2017). A partir dos trabalhos deste grupo em 2005, o Governo Federal no ano seguinte regulamentou o SUASA e o SISBI-POA, através do Decreto nº 5.741, de 30 de março de 2006 (BRASIL, 2006).

O SUASA, portanto, é o novo sistema de inspeção, organizado de forma descentralizada e integrada entre a União – instância central, através do MAPA (SIF) –, os Estados e Distrito

41 Agroindústrias Rurais de Pequeno Porte.

Federal – como Instância Intermediária (SIE) –, e os Municípios – como Instância Local (SIM) –, condicionada a adesão voluntária de cada serviço a este Sistema (BRASIL, 2006). Através do Artigo. 9º do Decreto nº 5.741, se determinou que “As atividades do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária serão executadas pelas Instâncias Central e Superior, Intermediárias e Locais”

§ 1º A Instância Central e Superior responderá pelas atividades privativas do Governo Federal, de natureza política, estratégica, normativa, reguladora, coordenadora, supervisora, auditora, fiscalizadora e inspetora, incluindo atividades de natureza operacional, se assim determinar o interesse nacional ou regional.

§ 2º As Instâncias Intermediárias serão responsáveis pela execução das atividades de natureza estratégica, normativa, reguladora, coordenadora e operativa de interesse da União, e também as privativas dos Estados ou do Distrito Federal, em seus respectivos âmbitos de atuação e nos termos das regulamentações federal, estadual ou distrital pertinentes.

§ 3º As Instâncias Locais responderão pela execução de ações de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, no âmbito de sua atuação, nos termos das legislações federal, estadual, distrital ou municipal pertinentes.

Como parte integrante do SUASA, foi criado o SISBI-POA visando integrar e harmonizar as ações de inspeção de produtos de origem animal, entre os entes federativos no âmbito das competências definidas pela Lei nº 7.889/89, além do SISBI-POA foram criados mais dois sistemas integrantes do SUASA, estando estas previstas no Art. 130 do Decreto nº 5.741 , com o “objetivo de inspecionar e fiscalizar os produtos de origem animal e vegetal e os insumos agropecuários, ficam constituídos os Sistemas Brasileiros de Inspeção de Produtos e Insumos Agropecuários, na seguinte forma”:

I - Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal;

II - Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal; e

III - Sistemas Brasileiros de Inspeção de Insumos Agropecuários (BRASIL, 2006, p.52).

O terceiro sistema (Sistema Brasileiro de Inspeção de Insumos Agropecuários), é dividido em mais dois sistemas, assim como citado no Art. 147, “Ficam instituídos o Sistema Brasileiro de Inspeção e Fiscalização de Insumos Agrícolas e o Sistema Brasileiro de Inspeção e Fiscalização de Insumos Pecuários”, sendo que os mesmos ficam sobre a responsabilidade do MAPA. Porém, o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal e de Insumos Agropecuários ainda não foram implementados de forma integral, devido às dificuldades para a implantação do SUASA.

Após a publicação do Decreto nº 5.741, ficou definido que os entes federativos que fizerem a adesão ao SISBI/SUASA poderão comercializar seus produtos em todo o território nacional. Segundo o Art. 151, do referido decreto, porém com redação dada pelo Decreto 8.445, de 06 de maio de 2015 (BRASIL, 2015a)

Os serviços públicos de inspeção vinculados aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e aos consórcios de Municípios solicitarão a verificação e o reconhecimento de sua equivalência para a realização do comércio interestadual, na forma definida pelos procedimentos de adesão aos Sistemas Brasileiros de Inspeção de Produtos e Insumos Agropecuários. (Redação dada pelo Decreto 8.445, de 2015).

Para o delineamento do conceito de equivalência, o Art. 149 em seu parágrafo único, define que

Para fins deste Regulamento, considera-se equivalência de serviços de inspeção o estado no qual as medidas de inspeção higiênico-sanitária e tecnológica aplicadas por diferentes serviços de inspeção permitem alcançar os mesmos objetivos de inspeção, fiscalização, inocuidade e qualidade dos produtos. (Incluído pelo Decreto nº 7.216, de 17 de junho de 2010)

Para o reconhecimento desta equivalência por parte dos entes federativos, uma série de documentos e normas devem ser observadas, desde o seguimento das normas e regulamentos federais e que atendam os requisitos estabelecidos para o SUASA e implantados pelo MAPA, tornando todo o processo de difícil compreensão. Infelizmente apesar dos avanços alcançados, o SIS ainda permanece complexo, com uma variedade de normativas e competências, os entes federativos tem encontrado muitas limitações para estruturar seus SIM.

A pesar destas limitações, em 24 de junho de 2015 foi publicado pelo MAPA a IN (Instrução Normativa) nº 16, que “Estabelece, em todo o território nacional, as normas específicas de inspeção e a fiscalização sanitária de produtos de origem animal, referente às agroindústrias de pequeno porte” (BRASIL, 2015b) apresentando um grande passo para os agricultores familiares que possuem agroindústrias familiares rurais. Esta Instrução Normativa, define em seu Art. 1º § 2º que

§ 2º Entende-se por estabelecimento agroindustrial de pequeno porte de produtos de origem animal o estabelecimento de agricultores familiares ou de produtor rural, de forma individual ou coletiva, com área útil construída de até 250m2 (duzentos e cinquenta metros quadrados), dispondo de instalações para:

I - Abate ou industrialização de animais produtores de carnes;

II - Processamento de pescado ou seus derivados;

III - Processamento de leite ou seus derivados;

IV - Processamento de ovos ou seus derivados; e

V - Processamento de produtos das abelhas ou seus derivados;

Essa IN foi um grande passo na construção de uma legislação mais próxima da realidade das agroindústrias familiares rurais, em seu Art.3º a mesma define que a fiscalização sanitária irá respeitar os princípios da inclusão social e produtiva destas agroindústrias, trabalhar de forma integrada com os demais órgãos de fiscalização, para evitar a duplicidade de exigências (na perspectiva do usuário), e trabalhar a razoabilidade quanto às exigências e a harmonização de procedimentos para promover a formalização e a segurança sanitária da agroindústria.

Corroborando com nossas afirmações, Cruz (2020, p.15) argumenta que “é indiscutível os avanços que esta representa para o processamento em agroindústrias familiares [...] cabe destacar que o art. 3º prevê considerar inclusive as condições estruturais”, sendo assim a IN nº 16 representa uma conquista para a agricultura familiar.

No ano de 2015 devido a pouca capilaridade alcançada através da implantação do SISBI/SUASA – até aquele momento apenas 06 Estados, o Distrito Federal, e 26 Municípios, sendo 13 de forma individual e outros 13 por meio de 03 consórcios públicos – tornando de fato necessária a sua reestruturação, sendo assim, foi instituído dentro do MAPA através da Portaria SDA nº 58, de 07 de julho de 2015 e posteriormente alterada pela Portaria SDA nº 74 de 11 de setembro do mesmo ano o Grupo de Trabalho – GT MAPA com o objetivo de elaborar diretrizes e propostas para se reestruturar o SISBI-POA (MAPA, 2015). Segundo proposta apresentada por este GT no ano de 2015, permitiu a discussão sobre a situação daquele momento, os gargalos existentes, as limitações enfrentadas por cada instância (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), e possíveis causas destas limitações e suas soluções.

Porém, no dia 14 de fevereiro de 2017 foi publicado a IN n° 5 que “Dispõe sobre os requisitos para avaliação de equivalência ao SISBI/SUASA relativos à estrutura física, dependências e equipamentos de estabelecimento agroindustrial de pequeno porte de produtos de origem animal”. Cruz (2020), considera que a IN nº 5 foi um dos maiores retrocessos na legislação sanitária relacionado as agroindústrias familiares rurais dos últimos 10 anos, pois a mesma não contemplou o debate público realizado entorno do assunto. Desta maneira, fica claro que o SIS mesmo após anos de avanços, através da participação da sociedade civil organizada,

ainda está passível da influência de parte do corpo técnico do MAPA que ainda possui uma visão higienista, além da grande pressão política exercida pelos grandes conglomerados alimentícios.

Já no ano de 2018, dados do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI-POA), organizados pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar - Consea42, mostram que 09 estados (BA, ES, GO, MT, MS, MG, PR, RS, SC) e o Distrito Federal aderiram ao SUASA, com um total de 163 empreendimentos regularizados. Além disso, de um total de 5.568 municípios do Brasil, apenas 16 Serviços de Inspeção Municipais, com 43 empreendimentos aderiram ao SUASA, além de 3 Consórcios, com 23 empreendimentos regularizados (CONSEA, 2018).

A baixa adesão por parte dos entes federativos a política pública apresentados no ano de 2015 e sua evolução até 2018, demonstram que o SISBI/SUASA não atingiu o objetivo idealizado inicialmente, mesmo com os esforços realizados pelo GT MAPA e do GTI não se obteve avanços consideráveis. Alguns fatores podem estar relacionados ao excesso de burocracia/exigências, carência de recursos humanos nos municípios, falta de recursos financeiros para a adequação dos SIM à legislação do SUASA, falta de apoio técnico por parte do MAPA.

Em pesquisa realizada pela CNM (2017) em relação aos SIM e sua adesão ao SUASA, os gestores municipais apontaram além das questões citadas anteriormente, como principal dificuldade, foi considerada a adequação das estruturas das agroindústrias familiares rurais as exigências do SUASA, principalmente por limitações financeiras por parte dos produtores, além do desinteresse por parte dos mesmos pois o mercado municipal consome toda a produção das pequenas agroindústrias, porém 72% dos municípios demonstraram interesse em aderir ao SISBI/POA (CNM, 2017).

Outro fator importante que deve ser salientado é o orçamento público federal destinado para a estruturação do SUASA, analisando os repasses realizados através da Ação 214Y ‒ Fortalecimento do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária ‒ através do Painel

42 Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - O Consea foi extinto em 1º de janeiro de 2019, através da Medida Provisória (MP) 870, sendo o primeiro ato político do Governo de Jair Bolsonaro.,

do Orçamento Federal43, foi observado que de 2016 até 2021 vem ocorrendo o decréscimo do orçamento público para esta política pública. No ano de 2016 o departamento teve uma dotação de R$42.471.531 milhões, já em 2017 uma queda abrupta para R$16.746.779 milhões, 2018 uma recomposição atingindo R$26.890.301 milhões, 2019 se manteve em R$28.042.456 milhões, 2020 uma leve queda para R$21.569.939 milhões e em 2021 até o momento foram destinados R$17.881.786 milhões.

Figura 1- Orçamento Público Federal para a Ação 214Y – Fortalecimento do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária – SUASA 2016 a 2021.

Fonte: Organizado pelo autor.

Estes resultados demonstram a queda nos investimentos relacionados a estruturação do SUASA nos últimos anos, um dos fatores mais claros é no ano de 2016 para 2017, que coincide com a retirada da presidenta eleita pelo Partido dos Trabalhadores, Dilma Rousseff, através de um golpe jurídico-parlamentarista travestido de Impeachment. No ano de 2017 a redução nos gastos coincide com a aprovação já em 15 de dezembro de 2016 da Emenda Constitucional Nº 95, conhecida como Emenda Constitucional do Teto dos Gastos Públicos, que alterou a Constituição Federal de 1988, impondo um novo regime fiscal, estabelecendo que os

43Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (SIOP) / Painel do Orçamento Federal. Disponível em:<https://www1.siop.planejamento.gov.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?document=IAS%2FExecucao_Orcamen taria.qvw&host=QVS%40pqlk04&anonymous=true&sheet=SH06>. Acessado em: 29/06/2021

investimentos do Estado Brasileiro ficaram limitados aos mesmos valores gastos no ano anterior (BRASIL, 2016). Sendo um dos fatores da redução dos investimentos nesta política pública de 2017 até 2021.

Desta maneira, como superar estes desafios? Como a União, Estados e Municípios irão conseguir transpassar essas barreiras? As mesmas seriam intransponíveis? Estes são alguns dos desafios que estão colocados aos gestores públicos e a sociedade civil. Porém, se deve salientar que todas estas Leis, Decretos e Normativas que vem sendo implementadas desde o ano de 2003 – com a criação do PRONAF-Agroindústria–, tem ocorrido através de um amplo diálogo com os movimentos sociais, universidades, ONG´s, o extinto MDA, MAPA e Governo Federal, no sentido de descentralizar os SIS, adotando práticas mais flexíveis – fiscalização orientadora – ao lidar com as agroindústrias familiares rurais, desta maneira estas entidade devem continuar se organizando e pressionando o poder público para que o mesmo proporcione de forma participativa um processo mais humanizado e a superação da visão punitiva de fiscalização.

Apesar das concepções relacionadas às infraestruturas das agroindústrias familiares rurais estarem modificando-se nos últimos anos, inúmeros agricultores familiares ainda não têm se quer o acesso ao registro de regularização sanitária devido aos excessos de burocracia, ou por tratar-se de estruturas ainda consideradas inadequadas pelos SIS. A condição descapitalizada dos produtores familiares ou até mesmo a inexistência de órgãos de fiscalização na região (SIM e VISAM) também dificultam o processo de registro. Sendo assim os desafios enfrentados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios para a implantação do SUASA e SISBI-POA são muitos, porém uma das soluções para o descontingenciamento do Estado tem sido através dos consórcios públicos de municípios que pode ser uma possível solução para esses impasses.

Quadro 5 – Segundo ciclo de Legislações que estruturaram o SIS descentralizados (1985 a 2020)).

Ano Legislação Descrição

1988 Constituinte, 05 de outubro. Aprovação da Constituição da República Federativa do Brasil.

1989 Lei 7.889, de 23 de novembro. Dispõe sobre a Inspeção Sanitária e Industrial dos Produtos de Origem e sua descentralização.

1990 Lei no 8.080, de 19 de setembro. Dispõe sobre as Condições para a Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde, a organização e o Funcionamento dos Serviços Correspondentes, e dá

outras providências – Criação do SUS e da vigilância sanitária.

1991 Lei nº 8.171, 17 de janeiro. Conhecida como Lei da Política Agrícola, onde foram definidos os fundamentos, objetivos e as competências institucionais, prevendo os recursos e estabelecendo as ações e instrumentos da política agrícola e às atividades agropecuárias e agroindustriais.

1998 Lei nº 9.712, 20 de novembro. Altera a Lei nº 8.171, de 17 de janeiro de 1991, acrescentando-lhe dispositivos referentes à defesa agropecuária através dos artigos 27-A, 28-A e 29-A.

2006 Decreto nº 5.741, de 30 de março. Regulamenta Os Art. 27-A, 28-A E 29-A da Lei Nº 8.171, 17 De janeiro De 1991, organiza o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária.

2006 Circular do Mapa nº 52 Padronizou os procedimentos para análise de processos de adesão ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal – SISBI-POA/SUASA.

2009 Instrução Normativa DAS nº 2 Define o modelo de logotipo a ser inserido na rotulagem dos produtos dos estabelecimentos registrados nos Serviços de Inspeção que aderirem ao SISBI-POA 2010 Decreto n° 7.216 de 17 de junho. Define equivalência como base para adesão ao SUASA 2011 Instrução Normativa nº 36, de 20 de

julho.

Define os procedimentos para adesão dos entes federados ao SISBI-POA (revogada a partir de 01/04/2020 pela Instrução Normativa n° 17/2020) 2013 Decreto n° 10.032 de 1 de outubro. Acrescenta o artigo 156-A do Decreto nº 5.741/2006,

dispor sobre as competências dos consórcios públicos de Município no âmbito do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal.

2015 Decreto 8.445, de 06 de maio. Altera art. 151 e 153 do Decreto 5.741/2006 - Esses artigos tratam da adesão dos serviços de inspeção, para dar maior agilidade na descentralização do Sistema, reconhecendo de forma mais efetiva o papel dos estados, Distrito Federal, municípios e consórcios de municípios.

2015 Decreto 8.471, de 22 de junho. Altera o Anexo ao Decreto nº 5.741, de 30 de março de 2006, que regulamenta os arts. 27-A, 28-A e 29-A da Lei nº 8.171, de 17 de janeiro de 1991, e organiza o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária.

2015 Instrução Normativa n°16, de 23 de junho.

Estabelece, em todo o território nacional, as normas específicas de inspeção e a fiscalização sanitária de produtos de origem animal, referente às agroindústrias de pequeno porte (SUASA).

2017 Instrução Normativa n° 5, de 14 de fevereiro.

Dispõe sobre requisitos para avaliação de equivalência ao Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária relativos à estrutura física, dependências e equipamentos de estabelecimento agroindustrial de pequeno porte de produtos de origem animal (SUASA);

2017 Decreto nº 9013, de 29 de março. Novo Riispoa ‒ Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de produtos de Origem Animal (Uma das maiores inovações do Riispoa foi a inclusão do termo

“Estabelecimentos de Pequeno Porte” dando abertura para o reconhecimento e regularização destas agroindústrias).

2020 Instrução Normativa n° 17, de 06 de março.

Estabelece os Procedimentos Para Reconhecimento da Equivalência e Adesão Ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi-Poa), do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA).

Fonte: Quadro organizado pelo autor.

2.3 Consórcios de municípios como solução para implantação SISBI/SUASA e a