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2 CONTEXTO HISTÓRICO DA PRODUÇÃO E PROCESSAMENTO DE PRODUTOS

3.2 Políticas públicas estaduais que se correlacionam com a agricultura familiar

3.2.3 Programas de Incentivo a Agroindustrialização familiar

agroindústrias da agricultura familiar é de suma importância para a valorização do saber fazer destas famílias, promovendo a agregação de valor e a diversificação produtiva com a segurança sanitária. Porém, é fundamental nos atentarmos que não basta a criação das mesmas, pois junto com este arcabouço normativo, o Estado tem que trabalhar a reciclagem dos quadros destes SIS, para a superação dessa visão higienista, podendo assim promover uma verdadeira inclusão produtiva, que promova um desenvolvimento territorial. No entanto, devemos frisar que as exigências relacionadas ao cadastro, adequação e permanência nestes SIS (principalmente os SIE) ainda são considerados uma barreira para as agroindústrias familiares rurais, desde as exigências burocráticas às exigências relacionadas as adequações estruturais solicitadas (se esbarrando a falta de dinheiro para se realizar as mesmas), podendo assim, muitas vezes contemplar apenas as agroindústrias mais capitalizadas, privilegiando os conhecidos

“entrantes” (pequenos e médios empresários rurais), a exemplo do que foi observado anteriormente neste tópico, do perfil das agroindústrias cadastradas junto a AGRODEFESA.

Já no PPA 2004-2007, com a ineficácia do “Programa Agrooportunidades”, o governo estadual lançou o “Programa Goiás Agrofamiliar” que era gerido pelas antigas SEAGRO e AGÊNCIA RURAL, o referido programa tinha como objetivo “Estimular e fortalecer a expansão das atividades agropecuárias, desenvolver a agroindustrialização, agregar renda, gerar emprego e diversificar a produção rural familiar” (SEPLAN, 2004). O referido programa tinha diversas linhas de atuação (Lavoura comunitária, desenvolvimento da produção orgânica, melhoramento genético e etc), tendo como principal linha específica para a agroindustrialização na agricultura familiar o programa “Pró-indústria rural – estímulo e apoio à agroindustrialização”, o referido programa teve pouca relevância para a estruturação de agroindústrias familiares rurais no estado, estando relacionado principalmente ao baixo empenho financeiro por parte do governo de Goiás. O Programa Agrofamiliar trabalhou com a temática da agroindustrialização na agricultura familiar até o PPA do ano de 2008-2011 (SEPLAN, 2011), já no PPA de 2012-2015, embora o Programa Agrofamiliar tenha permanecido, o mesmo não abrangeu a temática do apoio a agroindustrialização familiar, sendo que no PPA de 2016-2019, o Programa Agrofamiliar foi extinto, não sendo substituído por nenhum outro programa de estimulo a agroindustrialização na agricultura familiar, durante este período. Segundo Castro e Estevam (2010) o Programa Agrofamiliar foi importante para a articulação dos APLs relacionados a agropecuária/agroindústria de base familiar em Goiás.

Leis, Decretos e Normativas relacionados a legislação sanitária

Como já citado neste capítulo, o Estado de Goiás, tem buscado incentivar a agroindustrialização na agricultura familiar, através de políticas públicas normativas que promovam a legalização das agroindústrias familiares rurais existentes junto ao SIS estadual, através de leis, decretos e normativas, vem se buscando a flexibilização e desburocratização da fiscalização e cadastro destas agroindústrias junto ao SIE, a exemplo da Lei Estadual nº 13.878, que estabeleceu normas para as agroindústrias familiares (até aquele momento não existia uma normatização referente a essa categoria), a Portaria nº 38 que reconheceu a equivalência do SIS estadual ao SIF, oficializando a adesão ao SISBI-POA, além da criação do Selo ARTE, através

da Lei Estadual nº 20.361, que possibilitou a venda destes produtos em todo território nacional de maneira menos burocrática. Apesar dos referidos instrumentos normativos serem um avanço para a agricultura familiar, os mesmos não tiveram avanços na realidade concreta do SIE (conduta fiscalizatória de viés higienista) e consequentemente na realidade dos agricultores familiares e suas agroindústrias, a exemplo da inexistência de cadastros da agricultura familiar junto ao SISBI-POA junto ao SIE, de 01 cadastro com perfil da agricultura familiar junto ao Selo ARTE e apenas a existência de 13 estabelecimentos da agricultura familiar cadastrados junto a AGRODEFESA.

Arranjos Produtivos Locais - APLs

A política pública estadual mais consistente de promoção da agroindustrialização e organização das cadeias produtivas da agricultura familiar no Estado de Goiás, são os Arranjos Produtivos Locais (APL), o mesmo surgiu no ano de 2000, através de parceria com o Governo Federal, junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT (CASTRO; ESTEVAM, 2010).

Sendo aprofundado a partir do ano de 2004, através do Decreto Estadual nº 5.990, de 12 de agosto, o mesmo instituiu a Rede Goiana de Apoio a Arranjos Produtivos Locais (RG-APL’s), tendo em seus artigos as seguintes definições:

Art. 1º É instituída, na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação, a Rede Goiana de Apoio a Arranjos Produtivos Locais.

Parágrafo único. Para os efeitos deste Decreto, consideram-se Arranjos Produtivos Locais os aglomerados de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo espaço territorial, que apresentem, real ou potencialmente, vínculos consistentes de articulação, interação, cooperação e aprendizagem para a inovação tecnológica.

Art. 2º A Rede Goiana de Apoio a Arranjos Produtivos Locais, criada por este Decreto, tem por finalidade empreender ações que objetivam a:

I - Estabelecer, promover, organizar e consolidar a política estadual de inovação tecnológica local, através da constituição e o fortalecimento de Arranjos Produtivos Locais;

II - Apoiar e incentivar o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação, estimulando ações nas cadeias produtivas de destaque no Estado; (...) (GOIÁS, 2004b).

Para Castro e Estevam (2010), a partir de 2004 quando se cria o RG-APL essa política sofre um crescimento quantitativo, sendo direcionada para regiões mais pobres do estado, sendo utilizada como instrumento de redução de desigualdades regionais, através da promoção da inclusão produtiva, econômica e social. A partir de 2004, esse crescimento refletiu na criação e apoio de 59 APL’s, que envolvem 26 tipos de seguimentos produtivos, estando presentes em 166 municípios do território goiano, sendo que 30 destes APLs se configuram como atividades do seguimento da agropecuária/agroindústria, 18 do seguimento industrial e 11 de serviços e comércio. Os mesmos são organizados, financiados e articulados por diferentes programas federais, estaduais e municipais, que são geridos por inúmeras instituições governamentais e não governamentais (a exemplo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR Goiás, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae Goiás, associações e cooperativas de agricultores familiares). Ribeiro (2018, p.106) afirma que os APLs em Goiás

tem como prioridade a qualificação e formação de mão de obra, além da aquisição de equipamento de uso compartilhado por meio dos institutos tecnológicos e colégios tecnológicos (REDE ITEGO). A Rede ITEGO, tem por objetivo oferecer curso em nível técnico, bem como suporte a atividade produtiva por meio da integração entre as unidades do ITEGO e Cotecs, com outras instituições como a Universidade Estadual de Goiás (UEG), Fundação de Amparo à pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (EMATER) e demais Instituições de Ensino, Pesquisa e Inovação (ICTIs).

Dos 30 APLs do seguimento agropecuário/agroindústria, 12 destes são organizados principalmente pela EMATER-GO, estando os mesmos relacionados diretamente a cadeia produtiva da agricultura familiar, sendo: o APL Mel do Norte – Norte Goiano; APL Apícola da Serra Dourada – Região Rio Vermelho; APL Apícola do Entorno do DF e Nordeste Goiano;

APL Lácteo das Águas Emendadas – Nordeste Goiano; APL Lácteo do Norte Goiano – Norte Goiano; APL Florestal do Vale do São Patrício – Região Vale do São Patrício; APL Açafrão de Mara Rosa – Norte Goiano; APL Banana de Buriti Alegre; APL Fruticultura de Luziânia;

APL Mel da Estrada de Ferro – Sudeste Goiano; APL Lácteo de São Luiz dos Montes Belos – Centro-Oeste Goiano; e o APL da Cachaça de Goiás (EMATER, 2021b).

Ressalta-se a importância de se observar a nítida tendência do governo estadual em dar apoio aos APLs ligados a agricultura familiar, principalmente através do estimulo a produção e a transformação de produtos agrícola. Para Castro e Estevam (2010), em geral os APLs de pequena produção artesanal ou agroindustrial, estão diretamente ligados com agricultura familiar, nas regiões Oeste, Norte e Nordeste do Estado, as principais áreas produtivas contempladas foram de apicultura, aquicultura, produtos lácteos, açafrão, fruticultura, cachaça, produtos da mandioca, extrativismo de frutos do cerrado, produtos orgânicos e outros

Segundo Castro e Estevam (2010), existe uma grande fragilidade na estrutura institucional de apoio aos APLs, mesmo ocorrendo alguns avanços na estruturação junto a agricultura familiar, os referidos avanços foram insuficientes, pois o apoio aos APLs a nível do governo estadual, não chegou a ser prioridade como uma política estadual de desenvolvimento, não contando com estrutura e orçamento próprios, sendo que as atividades realizadas, estiveram diretamente interligadas a captação e aplicação de recursos advindos do governo federal. Os referidos autores, argumentam que a expansão quantitativa dos APLs com o intuito de se ter acesso a verbas federais, motivou experiencias artificializadas e a criação de APLs “induzidos”, tornando os mesmos frágeis por não terem adesão social. Concluímos assim, que os APLs foram de extrema importância para o desenvolvimento da cadeia produtiva da agricultura familiar no Estado de Goiás (foi a única política concreta relacionada a agroindustrialização na agricultura familiar existente no Estado), porém, assim como afirmado por Castro e Estevam (2010), a referida política teve alcance reduzido, sendo o grande fator desta ineficiência o próprio governo de Goiás à época, que acabou dando pouca importância aos APLs, desde o baixo investimento de recursos estaduais até a falta de estrutura física e humana.

Selo de Inovação Rural

No ano de 2016, a EMATER-GO com o intuito de diferenciar os produtos da agricultura familiar in natura e ou processados, por agricultores acompanhados pela referida instituição, e que se utilizam de Boas Práticas de Produção e Fabricação na produção de seus produtos, a referida instituição começou a realizar levantamentos e estudos para a criação do “Selo de Qualidade da Emater”, com intuito de promover a valorização e agregação de valor destes

produtos. O referido Programa, foi instituído a partir da Portaria nº 063, de 12 de março de 2018 (EMATER, 2018), sendo nomeado de “Selo de Inovação Rural”. A pesar da boa intenção dos técnicos, pesquisadores, extensionistas e agentes sociais, o referido Selo não obteve capilaridade, ficando seu uso restrito a alguns grupos, principalmente onde se tinha algum técnico mais proativo e otimista em relação ao mesmo, além de que com a eleição de Ronaldo Caiado para governador, no mesmo ano, gerou mudanças internas na instituição, retardando a disseminação do Selo através das demais Unidades da instituição.

Figura 3 – Selo de Qualidade da EMATER Fonte: EMATER -GO

Política Estadual de Incentivo à Agricultura Familiar

No ano de 2018, foi sancionado a Lei Estadual nº 19.998, de 22 de janeiro, que criou a Política Estadual de Incentivo à Agricultura Familiar, a referida lei, estabeleceu através de seu Art. 1º os “conceitos, princípios e instrumentos para formulação das políticas públicas direcionadas à agricultura familiar no Estado de Goiás” (GOIÁS, 2018), tendo em seu Art. 6º os seguintes objetivos específicos da referida lei:

I – Promover o desenvolvimento de agroindústrias familiares de pequeno e médio porte, observada a legislação sanitária e resguardadas as características da produção artesanal e industrial;

II – Proporcionar assistência técnica e extensão rural e pesquisa agropecuária voltadas à agricultura familiar;

III – Apoiar e estimular processos associativos e cooperativos;

IV – Estimular a priorização da regularização fundiária e o suporte à política de reforma agrária;

V – Apoiar a produção agroecológica, contribuindo com os processos de transição;

VI – Estimular a instituição: a) do bloco de nota fiscal do agricultor familiar; b) da política estadual de assistência técnica e extensão rural; c) da política de turismo rural na agricultura familiar; d) do fundo de aval da agricultura familiar; e) da política específica de educação do e no campo;

VII – Contribuir com o resgate das sementes crioulas, promover pesquisa e apoiar a produção das mesmas;

VIII – Fomentar a organização social, o associativismo e cooperativismo da agricultura familiar;

IX – Priorizar a comercialização, execução da compra direta da agricultura familiar no âmbito dos programas nacionais de alimentação escolar e de aquisição de alimentos, conforme disposto na Política Estadual de Compra da Produção da Agricultura Familiar, instituída pela Lei nº 19.767, de 18 de julho de 2017;

X – Apoiar a pesquisa, o desenvolvimento e a aquisição de maquinário agrícola apropriado para unidades familiares em parceria com instituições públicas e privadas;

XI – Apoiar a logística de distribuição e comercialização dos alimentos produzidos pela agricultura familiar;

XII – Promover a compra direta da agricultura familiar de sementes crioulas, para fins de redistribuição dentro do próprio Estado e em outros programas estaduais;

XIII – Garantir a desoneração de ICMS nas operações internas com produtos oriundos da agricultura familiar no Estado de Goiás, em conformidade com a Lei nº 18.560, de 26 de junho de 2014. (Grifo nosso)

Através desta lei, o Estado de Goiás pela primeira vez criou um plano de desenvolvimento específico para a agricultura familiar em lei, e que contempla vários gargalos representados pela inexistência de políticas públicas estaduais consistentes para a referida categoria, apesar da referida lei prever assistência técnica e apoio ao desenvolvimento das agroindústrias familiares rurais, a realidade concreta da aplicação e aprofundamento da referida lei ainda é muito insipiente, em alguns casos inexistente, a exemplo da assistência técnica e extensão rural do estado, que se encontra com o quadro técnico defasado, sem concurso público a quase 30 anos.

Projeto de Apoio ao SIM em Goiás

No ano de 2021, o governo de Goiás juntamente com a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SEAPA) e AGRODEFESA e a EMATER e a Secretaria de Estado da Retomada, com o objetivo de oferecer orientações técnicas e jurídicas aos municípios goianos interessados em instituir o SIM, executados por meio de

consórcio público ou não, foi criado o “Projeto de Apoio ao SIM em Goiás”. O referido projeto conta com o apoio do MAPA, SENAR Goiás, Sebrae Goiás e Federação Goiana dos Municípios (FGM), sendo que neste mesmo ano foi lançado um Guia de Orientação aos municípios47, e realizado 6 reuniões técnicas com o intuito de se tirar dúvidas e dialogar com os prefeitos e secretários de agricultura (GOIÁS, 2021). Podemos observar que os esforços dos gestores goianos em implementar políticas públicas para o desenvolvimento da agroindústria familiar rural foram incipientes (apesar dos exemplos citados anteriormente), segundo um dos coordenadores do referido programa, até o momento (08/10/2021), o Estado de Goiás não possui nenhum consórcio público Municipal, destinado para o SIS, o único que está em processo de criação é o Consórcio Intermunicipal de Saneamento Básico e Ambiental do Nordeste Goiano (CISBAN-GO), o referido consórcio, está em fase avançada de implantação do SIM regionalizado, porém, quando comparadas a inciativas goianas com as realizadas nos demais estados federados, podemos observar baixas taxas de adesão dos municípios ao SIM e automaticamente baixos índices de formalização destas agroindústrias em Goiás.