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Para analisar o associativismo e a cooperação desde as Missões, ou até mesmo antes, e perceber a possível “herança” até a colonização atual foi necessário uma abordagem sobre essas práticas nos diferentes contextos. As duas categorias eleitas para dar sustentação na análise comparativa foram formalidade e participação. Trata-se de categorias em oposição numa relação inversamente proporcional, de modo que quando uma se fortalece, outra encolhe, formando um conjunto de relações complexas.

Tanto na origem do movimento cooperativista como nas Missões está presente a questão da participação. O que se entende com isso? Nas organizações cooperativas o desejo inicial pela participação é aos poucos institucionalizado, organizado, ou seja, ganha contornos formais. Por outro lado nas Missões a participação não formal ficou garantida até o final.

O mérito da criação de diversas formas de cooperação e de associação existentes na região não pode ser atribuído, exclusivamente, aos colonos. Antes dessa época os nativos apresentavam traços coletivos que podem ser classificadas como cooperação. Para Andrioli (2007, p. 78) “os índios, que aqui viviam antes do período de colonização do Brasil, foram um

exemplo de povo organizado construindo civilizações com centralidade no coletivo, na busca do bem-estar ao conjunto de seus habitantes”.

Não há dúvida de que a cooperação acompanha as sociedades humanas desde períodos muito antigos. Na América do Sul é conhecida a cooperação na sociedade dos Incas que tinham como centro a cidade de Cuzco, localizado hoje no Peru (Lima), e que deixaram suas raízes nos povos andinos. Ou mesmo dos Guaranis na prática do mutirão antes das Missões, que também se caracterizaram fortemente por essas práticas. No entanto, elas se diferenciam do cooperativismo moderno, especialmente em seu caráter não formal de participação.

A história da cooperação na região Noroeste do Rio Grande do Sul possui suas raízes, portanto, muito antes da chegada dos colonos. Isso, porém, não quer dizer que a origem das atuais cooperativas está na cooperação desenvolvida pelos nativos.

A história da cooperação na região, iniciando pelos indígenas, passando pela migração dos descendentes de europeus, a interferência do Estado, os interesses dos grupos capitalistas com a modernização conservadora da agricultura e a formação de novas experiências cooperativas no último período, é decisiva para entendermos o desenvolvimento regional (ANDRIOLI, 2007, p.79-80).

Rafael Carbonell de Masy realiza estudos tentando demonstrar que o primeiro trabalho reconhecidamente cooperativo está na experiência missioneira dos jesuítas. Para esse autor, as raízes do cooperativismo contemporâneo remontam no tempo, contrariando a história oficial que registra o ano 1844 como criação da primeira cooperativa na Inglaterra. Carbonell de Masy tenta localizar esta origem nas primeiras reduções jesuíticas no início do século XVII, quando padres e Guaranis construíram uma sociedade fundamentada no trabalho coletivo e na propriedade comum da terra.

La distribuición física de los productos y mercaderías era frequentemente realizada de forma conjunta con los Colegios (Asunción, Santa Fe, Córdoba, Buenos Aires) hacia mercados distantes (Alto Perú, Chile). Paralelamente el Ofício central de Misiones en Buenos Aires funcionaba como una cooperativa de ahorro al servicio de los pueblos asociados (CARBONELL DE MASY, 1992, p.305).

Carbonell de Masy faz comparações entre as cooperativas atuais e as Missões.

Cambría comparar la capacidad de negociación y servicios peculiar de una Procuraduría de Misiones con la de una cooperativa central que actua en nombre de sus cooperativas afiliadas: de modo similar las Doctrinas contribuíam a los gastos comunes de la Procuraduría; y a cada Doctrinas se le asignaba los servicios recibidos o prestados, los resultados de sus compras y vendas, aun cuando éstan hubiesen sido realizadas en común (CARBONELL DE MASY, 1992, p.128).

Em relação às atribuições e resultados Carbonell de Masy enxerga, em suas comparações, que os verdadeiros donos e beneficiários das Missões eram os povos guaranis. Nessa comparação fica explícita, todavia, que as práticas missioneiras possuem características possíveis de diferenciar das cooperativas atuais em seu aspecto formal.

El criterio de asignacion de los resultados no difere del que, hoy dia, encontraremos en una cooperativa cuidadosa al fijar los excedentes o pérdidas resultantes de las operaciones realizadas por cuenta de los asociados.

Maticemos, con todo, la comparación: respecto a los Oficios de Misiones los usuarios y dueños de las instalaciones, los beneficiarios de esos servicios comunes non eram directamente personas individuales, sinos los mismos pueblos guaraníes; tampoco existía contablemente un capital social con títulos nominativos que acreditasen las aportaciones de cada peublo; ni una asamblea general de los representantes de los pueblos, ni otros órganos de gobierno y de control propios de una cooperativa (CARBONELL DE MASY, 1992, p.224).

Andrioli (2007, p.79) não quer entrar nessa polêmica, mas anuncia que, “no Brasil, a origem do cooperativismo tem suas raízes nas comunidades indígenas, tendo os maiores registros históricos no período das reduções jesuíticas”. Este anúncio pende, naturalmente, na direção de Carbonell de Masy, embora existam também outros estudos120

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Afirmar que está nas Missões a primeira cooperativa é uma questão polêmica, pois das Missões até hoje passaram-se mais de dois séculos abrangendo contextos diferentes. Mesmo reconhecendo que não existe ruptura completa na história é preciso cautela quanto se tenta ligar a influência de cooperação missioneira com a atual, pois as Missões foram destruídas, os jesuítas foram expulsos e os índios massacrados ou incorporados no processo de ocupação.

A associação e a cooperação característica das reduções não interessavam mais à nova colonização. Os sobreviventes indígenas, mestiços ou caboclos, muito mais ligados ao modo de vida coletiva se viram envolvidos numa lógica diferente, dentro de um processo novo.

A ocupação portuguesa, depois da destruição das Missões, se faz por várias frentes. Inicialmente os fazendeiros saqueadores do gado xucro missioneiro, trazem os escravos negros e se apossam das áreas de campo propícias à pecuária; pelo leste os açorianos já se fazem presente, enquanto a disputa territorial no interior é intensa. A partir do século XIX os colonos europeus de várias etnias completam a colonização do Rio Grande do Sul.

Com a Guerra Guaranítica as práticas de associação e cooperação dos Sete Povos, que acompanharam o desenvolvimento das Missões, vão decrescendo gradativamente ao lado da

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Kern (1982, p.257) cita dois autores que tentaram relacionar a experiência das Missões, principalmente o Tupambaé com o cooperativismo. Um deles é Lacombe que afirma: “A verdade é que os Padres do Paraguai haviam descoberto a cooperativa”. O outro é Tissera que diz: “esse cooperativismo socialista, regia unicamente para los alimentos”. Lacombe, Robert. Sur la tere comme au ciel, l‟expérience économique dês jésuites au Paraguay. Sciences Ecclésiastiques, Montreal 7 (2) 293-318, 1955.p.305. Tissera, Ramón. Actualidad de las MIssiones Guaranies. Ensayo sobre el espiritu ortodoxo. Resistência (Chaco), Univ. Nac. Nordeste, 1968, p.14.

decadência missioneira no processo de ocupação territorial lusa. Essa constatação está baseada nas diferenças existentes entre os períodos, especialmente na conotação comunitária do trabalho e da propriedade da terra das Missões e da cultura cabocla, que era mais solidária e cooperativa, diante da nova ocupação baseada na propriedade individual e numa concepção mais competitiva.

Embora algumas práticas de associação e de cooperação tenham sido mantidas, por certo tempo nas terras de uso comum, na extração da erva-mate pelos caboclos, as cooperativas que predominam atualmente foram construídas dentro de outro contexto histórico. Essa constatação abre a possibilidade de entender que as práticas de associação e cooperação adotadas pelas organizações cooperativas atuais apresentam um nível de formalidade possível de diferenciar da participação missioneira, ou mesmo da cultura cabocla, aquela dos lavradores nacionais, último testemunho das práticas de associação e cooperação das Missões, que ficou marginalizada de forma sistemática e crescente.

Como se pode observar na raiz dessa questão ficou algum elemento dando certo caráter de ambigüidade na pesquisa, pois mesmo diante do capitalismo avassalador, sempre algum traço ou espaço de associação e cooperação ressurge frequentemente ou renasce com os movimentos sociais, dando continuidade do ideal coletivo num enfrentamento constante, característico de uma sociedade desigual.

... diante da exclusão anunciada, o cooperativismo poderia servir de instrumento para contrapor novas alternativas ao modelo vigente, apostando no trabalho coletivo, na capacidade de enfrentamento às condições adversas, através da mobilização conjunta dos associados (ANDRIOLI, 2007, p.101).

Andrioli, Frantz e outros autores acreditam que o cooperativismo originário pode ser resgatado para contrapor o modelo vigente, visando reforçar alternativas viáveis e recuperar a agricultura familiar. Isto é, ao mesmo tempo em que tudo parece estar “cercado” pelas exigências “inquestionáveis” da modernização capitalista da agricultura, surgem alternativas para não esquecer que o ser humano é muito mais do que sua capacidade de consumir.

Diante desse desafio, ainda mesmo antes de concluir a modernização da agricultura, diversas cooperativas começaram a refletir sobre seus efeitos. Dessa forma novas experiências começaram a surgir para diversificar a propriedade e buscar mais autonomia na propriedade da agricultura familiar do minifúndio, ainda como base fundiária da região121.

Segundo Andrioli (2007, p.103), além da situação de dependência em relação aos grupos econômicos, aparecem como características do cooperativismo atual a “pouca

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participação de associados nas instâncias deliberativas, a burocratização das suas estruturas e a apropriação do capital do coletivo por um grupo cada vez mais restrito de associados”. A crítica, diante dos problemas apresentados pelo cooperativismo empresarial, mostra o desejo de um “novo cooperativismo” com maior participação, autonomia e sustentabilidade, enfim, onde não se pense apenas no imediato, mas também no respeito às outras gerações.

Uma nova experiência de organização cooperativa que vem sendo apresentada são as CPAs (Cooperativas de Produção Agropecuária), tendo, nos assentamentos de Reforma Agrária, seus melhores exemplos. Nesta experiência, tanto a terra como os equipamentos, animais e demais recursos são coletivos, havendo a distribuição dos resultados de acordo com os resultados do trabalho (ANDRIOLI, 2007, p.105).

Falkembach fez uma importante análise dessa natureza no assentamento Nova Ramada (RS), que sediou a primeira cooperativa de produção do MST e desenvolveu uma experiência coletiva da terra e seus resultados. Falkembach (2006, p.196) destaca que a Coopanor – Cooperativa de Pequenos Agricultores de Nova Ramada – se propunha “atender a objetivos ousados, privilegiando formas coletivas de produção e gestão...”. Tal iniciativa complementa Falkembach (2006, p.206), possibilitava uma “nova forma de vida sem-terra e experimentando formas de produzir não alinhadas à lógica dos processos sociais vigentes”.

Segundo Andrioli (2007, p.106) essa “forma de cooperação é apresentada como o desenvolvimento mais avançado das associações, sem, no entanto, implicar na formalidade das cooperativas empresariais”. De acordo com Andrioli (2007, p.106) “várias experiências novas estão surgindo, mostrando que tanto os trabalhadores da cidade como os agricultores podem encontrar alternativas de melhorar a sua vida a partir de uma organização coletiva”.

São alternativas que não surgem por acaso, mas da necessidade, da importância e da possibilidade que as práticas de associação e cooperação oferecem em termos de democracia e participação como elementos centrais na defesa da cidadania. Isto é, por mais que a obra colonizadora quisesse eliminar as práticas de cooperação centradas no bem comum elas permanecem vivas numa possibilidade sempre presente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão central da pesquisa tratou sobre as práticas de associação e de cooperação na região Noroeste do Rio Grande do Sul, como um espaço de educação. A hipótese buscou encontrar possíveis ligações dessas práticas, desde a experiência dos Sete Povos das Missões até as atuais. No decorrer do trabalho observou-se a existência dessas práticas em todo o período, mas o processo de ocupação da terra desencadeado com a expulsão dos jesuítas, não deixa dúvida de que são contextos distintos. Algumas práticas que foram mantidas pelos remanescentes missioneiros são também “atropeladas” pela nova onda colonizadora, concluída com os colonos. Hoje quem visita as ruínas de São Miguel não consegue disfarçar a situação desconfortável em que se encontram os habitantes nativos.

A pesquisa confirmou a hipótese, de modo que as raízes das práticas de associação e cooperação da colonização atual, na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, não estão nas Missões. São experiências de contextos históricos distintos. Algumas práticas dessa natureza foram identificadas com a decadência das Missões que poderiam servir de ligação, como o trabalho coletivo da cultura cabocla na extração da erva-mate, mas são práticas características da participação de um espaço não formal. Nesse caso fica uma pergunta: será que essas práticas da cultura cabocla podem ser caracterizadas como elo de ligação desses “mundos” que se chocavam?

Não há como ignorar a importância histórica das Missões jesuíticas nem sua influência cultural na sociedade que se formou sobre suas ruínas. A questão está em perceber a influência das Missões na sociedade atual, sem cair na apologia que maximiza seus elementos ou no sentido de ignorá-la, como ocorre com alguns livros didáticos.

Os Sete Povos, que se desenvolveram em território espanhol, mas pretendido pelos portugueses, construíram uma experiência em que as práticas de associação e cooperação se fortaleceram. A participação voltada aos interesses coletivos foi mantida até o final dessa experiência, garantindo uma organização diferente do que ocorria em outras áreas coloniais.

O sistema colonial colocava aos povos nativos uma pressão dupla: a escravista colonial ou a catequista do jesuíta. As Missões Jesuítico-Guaranis, como parte da expansão comercial ibérica, enxergavam o “novo mundo” como um lugar para conquistar. Visando organizar a “conquista” os novos estados absolutistas europeus, através do sistema colonial, foram importantes na formação do modo de produção capitalista.

O Brasil e a América Latina estavam inseridos nesse sistema que visava atender os interesses de fora e, qualquer experiência “perigosa” aos princípios mercantilistas estava condenada. “Voltado para fora” era a direção do Brasil e o sentido da colônia.

A experiência missioneira contrastava com os elementos que constituíram a organização agrária colonial. No Brasil, a grande propriedade particular, a monocultura e o trabalho escravo foram os elementos constitutivos da economia, enquanto na Missão predominava uma organização com forte conotação comunitária.

Nas reduções, desenvolvidas no atual Estado do Rio Grande do Sul, a pecuária desempenhou um papel importante. Os jesuítas foram “aceitos”, em grande medida, devido à pecuária que se adaptou bem na região. De certa forma a pecuária contribuiu na dominação não apenas da região do Tape, mas de grande parte do interior do Brasil, pois junto ou atrás dela vinha um novo povoamento, seguindo o sentido geral da colonização.

As Missões cresciam ao mesmo tempo em que suas diferenças com a colonização laica, tanto que os portugueses, através do braço bandeirante, perseguiram constantemente as reduções. A investida dos lusos para escravizar os índios missioneiros foi interrompida apenas em 1641, na Batalha de M‟Bororé. No entanto, algumas décadas depois, em 1680, Portugal funda a Colônia de Sacramento, dando um passo importante para ampliar o território ao Sul de suas posses. Como contra-ofensiva a Coroa espanhola autoriza a volta dos Jesuítas e começa a segunda fase das Missões com a construção dos Sete Povos.

Os Sete Povos das Missões, como parte dos Trinta Povos, conseguiram um grande desenvolvimento dando prioridade nos interesses coletivos num processo de cooperação complexa. A exploração econômica laica não aceitava esse caráter comunitário que incentivava a cooperação, como é possível observar no registro de diversos autores, inclusive do Pe. Sepp (1655-1733) na fundação da redução de São João Batista.

Com a destruição das Missões a região passa aos lusos. Os índios sobreviventes se afastam, são escravizados, servem nas guerras ou de peões das estâncias que se formavam. Nessa época, chegam também os açorianos para a agricultura e os negros para a escravidão.

O elemento luso que se dirige ao Brasil no período colonial é diferente do imigrante não ibérico que vem a partir do século XIX. O português não vem para ser um trabalhador ou um pequeno camponês, mas para dominar, mandar e explorar, pois é a grande exploração que lhe interessa. Assim nasce o latifúndio escravocrata brasileiro que está na origem da concentração extrema de riqueza que caracteriza a economia colonial.

A concentração de riqueza aumentava a desigualdade social reforçando o preconceito de que o típico brasileiro (caboclo) é, em geral, simpático à preguiça e avesso ao trabalho. A

suposta “indolência brasileira” é usada ainda quando se afirma que o colono trabalha. Nessa concepção, a história da região começou com os “pioneiros” e tudo o que tinha antes é desprezado. Waibel defende essa visão que ignora a presença dos grupos humanos anteriores à imigração do século XIX. No entanto, antes do colono, os nativos já estavam aqui.

Depois da Guerra Guaranítica a configuração espacial, política, social, cultural e econômica sofre profundas mudanças. A forma de vida missioneira, baseada na cooperação, é desestruturada. Os remanescentes são submetidos e comandados pelos seus inimigos, que conduzem o processo de domínio da terra. Tal ação se completa nos séculos XIX e XX com a colonização nas áreas de mato, justamente o espaço que restava às comunidades nativas.

Por isso o processo de ocupação da terra é central nessa análise, pois com a presença de novos grupos humanos o conflito sobre a terra se intensifica. A presença do nativo, pela visão do colonizador, tornava-se cada vez mais incômoda.

Uma das medidas tomadas pelas autoridades na “solução” ao conflito da terra, mas que favoreceu os estancieiros, foi a criação de aldeamentos. Essa medida limitava a área do índio e ampliava as possibilidades “legais” para a expansão do latifúndio ou de projetos de colonização nas áreas devolutas. Os índios aldeados são “abandonados”, vivendo à beira do latifúndio. A sorte do caboclo, entendido como lavrador nacional, que vivia do extrativismo da erva-mate ou de pequenas roças nas terras de uso comum, não foi muito melhor, pois sua área de trabalho passou a ser entendida como devoluta a partir de 1850, com a Lei da Terra.

A Lei de Terra estabelecia a necessidade da legalização das propriedades, mas na realidade, impedia o acesso a terra para muitos lavradores nacionais sem condições de organizar tal obrigação. Dessa forma, as terras utilizadas pelos caboclos passaram a ser alvo de poderosos pecuaristas, já donos de imensas áreas de campo, ou da colonização oficial.

Uma nova sociedade se instalava forçando abertura de espaço. A sociedade que nascia sobre os escombros missioneiros trazia a escravidão e a ambição de explorar as riquezas materiais como a terra, o gado e a erva-mate. Grande parte da população nativa passa a ser utilizada como mão-de-obra escrava ou barata pela nova ocupação.

A imigração européia não ibérica, tratada na figura do colono, marca a chegada de mais um elemento étnico, numa área com graves conflitos sociais. O território é o mesmo, mas a concepção de mundo é outra. O remanescente nativo passa a ser hostilizado, mesmo assim permaneceram, no trabalho coletivo dos ervais, algumas práticas de cooperação.

Em volta da erva-mate, essa árvore que simboliza também uma cultura, se encontra uma prática de cooperação importante. Além do extrativismo da erva, realizado pelo lavrador

nacional, existia também uma pequena agricultura de subsistência, sem a necessidade de possuir o título da terra. Era uma prática de trabalho coletivo nessas terras de uso comum.

O que aconteceu com os ervais e os caboclos das terras de uso comum? A maior parte da área dos ervais passou a ser compreendida como devoluta e, passíveis de colonização. Isso mesmo, o único espaço utilizado de forma coletiva como herança missioneira, tornava-se objeto de comércio. Tanto os ervais como os caboclos foram “arrancados”, mesmo com a tentativa da Colônia Mista de Santa Rosa de incluir esses lavradores.

Nessa ocupação, que não ocorreu de forma pacífica nem desorganizada, travou-se uma intensa luta pelo afastamento dos nativos. Uma luta que se manifestava tanto de forma direta