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A Atitude do Líder para com os Outros

No documento A Formação de Um Líder - LeRoy Eims.pdf (páginas 53-61)

C

omo foi explicado no capítulo anterior, o desempenho ex­ terior e o sucesso dos líderes cristãos dependem em grande parte de sua vida interior. Nenhuma pessoa que seja orgulhosa, preguiçosa, egoísta ou hipócrita deve ter seguidores. Examina­ remos agora a vida interior dos líderes em outra área: suas atitu­ des básicas com relação aos outros.

O apóstolo Paulo disse: "Ora, o intuito da presente admoes- tação visa o amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia" (1 Tm 1:5). O objetivo final de todo o seu ensino era produzir amor para com os outros, uma boa consciência, e uma fé genuína em Deus. Essa é a base da vida de alegria: Jesus primeiro, os outros em segundo lugar, e você por último.

Vejamos as características interiores indispensáveis que aperfeiçoarão o relacionamento do líder com aqueles que o se­ guem.

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Um coração de servo

Jesus nos deu um resumo básico de Sua vida: "Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por m uitos" (Mc 10:45). Ele estava entre nós como aquele q L ie servia (veja Lc 22:27).

Hoje não é possível servir ao Senhor levando um animal para o sacrifício ao cume de um monte, acendendo uma foguei­ ra e oferecendo o animal. Para servir a Deus, devemos servir aos outros, como fez Jesus.

Os líderes devem oferecer sua própria vida no altar de Deus para ser consumida pela chama do Seu amor, no serviço a ou­ tros. "Nisto conhecemos o amor, que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos" (1 Jo 3:16).

Isto, obviamente, contraria a prática comum da liderança secu lar. Vá a qualquer e scritó rio onde está exp o sto o organograma da empresa, e você verá que o nome do líder está no topo, e todos os demais aparecem abaixo. Na maioria dos casos, esse líder e os mais altos escalões de gerenciamento exi­ gem serviço de outros.

Jesus veio e reverteu a direção do serviço sem abrir mão da liderança. Ele disse a Seus apóstolos:

"Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo; tal como o filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos " (Mt 20:25-28).

Muito do ensino de Cristo era revolucionário e estranho para os ouvintes de seu tempo. Com relação à liderança, Ele conti­ nua a ter um enfoque incompreensível em uma época que nos convoca a escalar até o topo. A Bíblia ensina que liderar é servir. Em nossos momentos mais espirituais, reconhecemos a verda­ de desse conceito e respondemos com uma atitude calorosa e positiva. O problema, no entanto, surge no dia-a-dia. É muito

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mais fácil deixar que o outro nos traga o chá gelado naquele dia bem quente. Quanto tempo faz que não engraxamos o sapato de alguém, isso sem falar em lavar os pés dessa pessoa!

Certa noite minha esposa e eu servíamos um jantar de peixe para umas 20 pessoas. Algumas delas haviam visitado o lago e retornado com aproximadamente quarenta maravilhosas tru­ tas. Como sobremesa, tomamos muito sorvete feito em casa. Quando terminamos, alguém sugeriu ajuda com a louça. Gran­ de idéia!

Enquanto os homens organizavam a arrumação dos móveis, a limpeza do chão, a retirada do lixo, a lavagem dos pratos, vi uma cena difícil de acreditar. Um dos nossos companheiros, que mais havia comido e aproveitado o jantar, levantou-se de sua cadeira, caminhou na direção da janela e escondeu-se atrás das cortinas. E isso mesmo! Escondeu-se atrás das cortinas!

Depois do trabalho organizado e quase concluído, ele apare­ ceu, pegou uma cadeira, sentou-se e começou a ler uma revista. Lembre a declaração de Jesus: "Pois qual é o maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve" (Lc 22:27). Este colega entendeu o contrário.

Há sempre espaço para mais um servo. Os poucos lugares sob os holofotes estão sempre lotados, mas sempre há lugar nos bastidores para a pessoa que está ansiosa por servir.

Estêvão foi um homem cheio de fé e poder, e os inimigos de Cristo não podiam resistir à sabedoria e ao espírito com o qual ele falava. Ele possuía um extraordinário entendimento da Pa­ lavra de Deus e a ousadia para pregá-la com convicção. Um dia os apóstolos vieram a Estêvão e perguntaram se ele serviria às mesas para algumas viúvas gregas que estavam sendo negli­ genciadas na distribuição diária de alimento.

Estêvão poderia ter dito: "Eu? Servir às mesas? Você aparen­ temente não conhece minha sabedoria, poder, fé e capacidade de pregar. Ache outra pessoa para ficar nas sombras e servir. Tenho certeza de que serei mais bem utilizado sob os refletores, no centro do palco".

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Mas não, graças a Deus, esta não foi sua reação. Ele pronta­ mente tomou seu lugar entre os seis outros servos e trabalhou junto às mesas. Estou seguro de que esta foi uma das principais razões que o lavaram a ser reconhecido sob os holofotes de Deus através dos séculos. Somente uma pessoa poderia ter sido o primeiro mártir na causa de Cristo, e Estêvão foi essa pessoa. Ninguém jamais poderá substituí-lo.

A Bíblia ensina que o caminho para a subida é a descida. "Mas o maior dentre vós será vosso servo. Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo humilhar será exal­ tado" (Mt 23:11-12).

Um espírito sensível

Uma segunda atitude necessária ao líder em relação às outras pessoas pode ser descrita como um espírito sensível. Jesus no­ vamente é nosso melhor exemplo. Observe Sua reação às neces­ sidades das pessoas.

“Naqueles dias, quando outra vez se reuniu grande multidão, e não tendo eles que comer, chamou Jesus os discípulos e lhes disse: Tenho compaixão desta gente, porque há três dias que permanecem comigo e não têm o que comer. Se eu os despedir para suas casas, em jejum, des­ falecerão pelo caminho; e alguns deles vieram de longe" (Mc 8:1-3)

Jesus sabia quanto tempo uma pessoa poderia ficar sem co­ mer. Ele mesmo havia jejuado quarenta dias e quarenta noites no deserto. Mas ele não olhou ao redor e insistiu para que a multidão se ajuntasse para mais uma reunião. Ele poderia ter dito: "Não falem comigo sobre fome. Eu sei o que é isso. Fiquei quarenta dias sem comer, e esse povo está aqui há apenas três. Digam que parem de reclamar. Nós apenas começamos".

Essa é uma falha comum entre pessoas em posição de lide­ rança. Elas avaliam suas próprias capacidades e esperam que os outros as acompanhem. Mas as coisas não são assim. Muitos cristãos sinceros e devotados ao Senhor são limitados em suas habilidades. Devido ao fato de os líderes serem capaz de traba­

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lhar duro por mais tempo, têm uma capacidade maior para ora­ ção e uma fome mais intensa pela Palavra, eles podem normal­ mente distanciar-se dos que estão ao redor. E é isso que os faz serem líderes.

Assim, os líderes devem ser sensíveis às necessidades do povo e serem compassivos ao lidar com as pessoas. Algo que devem fazer, acima de tudo: conhecê-los individualmente.

Um dia, na volta da escola para casa, eu falei para meu filho sobre o meu dia e sobre como as coisas tinham sido. E então elè começou a falar-me sobre o dia dele. Mencionou o quanto gos­ tava de certo professor. E eu lhe perguntei por quê.

Foi simples. "Pai, ele sabe o meu nome." Incrível! Não tinha nada que ver com sua habilidade ou formação acadêmica. Meu filho não contou se o homem falava alto ou baixo, se era brinca­ lhão ou rígido. O professor sabia o nome do Rady. Isso era tudo.

Mas o Senhor falou comigo através dessa situação. As pesso­ as estão famintas por serem reconhecidas. Não somente isso, se os líderes são realmente o que são, devem conhecê-las. Esse é o único caminho através do qual podem ser úteis a elas ou liderá- las de maneira significativa.

As Escrituras ensinam claramente que devemos lidar com pessoas de acord o com suas ca ra cte rística s individ uais. "E x o rta m o -v o s , tam b ém , irm ãos, a que ad m oesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos, e sejais longânimos para com todos" (1 Ts 5:14).

Três grupos são mencionados nesta passagem. O primeiro é formado por aqueles que precisam ser mantidos com rédeas curtas — os insubordinados.

Um pastor de ovelhas com certeza entenderia esse aspecto da liderança, protegendo seu rebanho de se m achucar ou se desgarrar. "Também escolheu a Davi, seu servo, e o tomou dos redis das ovelhas; tirou-o do cuidado das ovelhas e sua crias, para ser o pastor de Jacó, seu povo, e de Israel, sua herança. E ele os apascentou consoante a integridade do seu coração e os dirigiu com mãos precavidas" (SI 78:70-72).

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Talvez os "insubordinados" incluam aqueles que, diante de um problema ou dificuldade, querem jogar a toalha e desistir. Eles poderiam continuar, mas acham mais fácil abandonar o ringue. Eles possivelmente foram ofendidos por alguém e que­ rem reco lh er suas bolinhas de gude e ir p ara casa. E sta, logicamente, é a reação de pessoas imaturas, que têm de ser tra­ tadas com luvas de pelica. A razão? São crianças. Mas necessi­ tam de ajuda, e o líder deve "grudar" nelas. Isto requer paciên­ cia redobrada e orações específicas, mas pode ser feito.

O segundo grupo mencionado são o s fr a c o s de espírito, ou, melhor, os covardes, os tímidos. São pessoas que tendem a ter medo da própria sombra. Necessitam ser guiados ao lugar onde podem dar um passo de fé e finalmente partir para águas mais profundas e experimentar a confiança de Deus.

A maior ajuda para essas pessoas é ouvir o testemunho de outros que têm caminhado e provado que o Senhor é fiel. Deus pode usar esses testemunhos para gerar coragem na vida dos tímidos.

Há alguns anos houve em nossa cidade uma reunião perió­ dica de estudo bíblico para m ulheres liderada por M orena Downing. Essa senhora conhecia ao Senhor há muitos anos e seu testemunho radiante de fé genuína em Deus inspirava a muitos, incluindo a mim. Sua classe havia crescido muito, com as mulheres testificando que fora através da liderança da sra. Downing que elas haviam "saído da toca".

Muitas agora se sentiam mais confiantes para falar de Cristo. Outras, adquiriram coragem para tomar posição ao lado da jus­ tiça e da verdade, mesmo quando isso não fosse popular. Como conseqüência, mais pessoas conheceram o Salvador através da vida dessas mulheres. Morena verdadeiramente fortaleceu os "abatidos".

Harvey Oslund é líder cristão na capital dos Estados Unidos, e sua vida tem sido grandiosamente abençoada por Deus. Hoje muitos homens e mulheres que foram alcançados e treinados por esse hom em estão servindo ao redor do m undo. Um de seus pontos fortes é a habilidade de inspirar pessoas a doar-se sacrificialmente a Deus.

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Novamente, não é tanto o que Harvey diz, mas o que ele faz. Sua vida, seu dinheiro, tudo o que ele tem e é, foi dado a Deus. Ele é um dos homens mais generosos que já conheci. Tenho conversado com pessoas que aprenderam a alegria de doar por causa do exemplo dele. Antes de conhecer o Harvey, tinham medo de ser generosos; sentavam-se sobre um saco de dinhei­ ro, enquanto hesitavam em depositar uma moedinha no gazo- filácio. Observando a vida deste homem, mudaram de atitude completamente. Hoje, são marcados pelo sacrifício e pela gene­ rosidade. Quando necessidades específicas aparecem, eles dão corajosos passos de fé e experimentam a alegria de doar.

Lembre-se: "Tendo-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mas bem-aventurado é dar que rece­ ber" (At 20:35). Não-colaboradores tímidos, hesitantes e relu­ tantes têm-se transformado em doadores audaciosos e alegres. Como? Uma vez "covardes", foram desafiados pela vida de um homem que abriu o caminho. Sua vida e testemunho os inspi­ rou, os fortaleceu e os capacitou para mudar.

O último grupo mencionado é formado pelas pessoas que são fracas. Creio que isso se refere aos cristãos atormentados por pecados habituais. A instrução é "Ajudai os fracos". Aqui nova­ mente há pessoas que necessitam de atenção especial, muitas vezes pessoal, e ajuda individual. Freqüentemente elas são aju­ dadas pela oportunidade de conversar sobre suas fraquezas com alguém em quem confiam. É algo assustador ouvir a histó­ ria que você compartilhou com seu líder repetida por todo o grupo, mesmo quando os nomes foram trocados para proteger o culpado!

O fato de que cristãos têm uma dura batalha com o pecado certamente não é indicação de que ele perdeu o potencial para ser usado pelo Senhor. Dawson Trotman, fundador dos Na­ vegadores, sempre falava de sua batalha contra a mentira quan­ do era novato na fé. Ele se propunha a parar de praticá-la, apenas para cair de novo e de novo. Finalmente, com o amor paciente e as fervorosas orações de um piedoso professor de

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escola dominical, ele conseguiu vencer o hábito, com a ajuda do Senhor.

Rod Sargent é um homem poderosamente usado pelo Se­ nhor no mundo inteiro. Quando novo convertido, no entanto, experimentou m uitas dificuldades por causa do alcoolismo. Antes de sua conversão, passava várias noites nos bares de Los Angeles, para acordar na manhã seguinte com dores de cabeça terríveis, seguidas de pavorosos lapsos de memória. Ele se en­ treg o u a C risto a tra v é s de um g ru p o de com u n h ão em Pasadena e continuou a freqüentar o grupo para estudar a Bí­ blia e orar. Mas ocasionalmente sucumbia à velha tentação de ir ao bar e tomar alguns tragos.

A vida dupla trouxe-lhe o medo de que o grupo descobrisse e não mais o recebesse. O líder, contudo, sabia o que estava acontecendo e continuou a encontrar-se com Rod para orar e estudar a Bíblia. Ele praticou a adm oestação da Escritura: "Ajudai os fracos". Hoje, Rod é um líder cristão respeitado. O homem que o ajudou teve espírito sensível, conhecia sua neces­ sidade e a atendeu.

Conheça as pessoas que você lidera. Conheça os que preci­ sam ser estimulados e os que precisam ser contidos. Alguns possuem grandes talentos e precisam utilizá-los. Outros têm propensão a envolver-se com coisas que estão um pouco acima de suas habilidades e capacidades. Se mergulharem nelas, em breve estarão atolados em responsabilidades e demandas.

Estas duas coisas, portanto, um coração de servo e um espí­ rito sensível, são cruciais para um bom líder. Se você vai liderar, essas características devem fazer parte integral de sua vida. "Dá, pois, ao teu servo coração compreensivo para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; pois quem poderia julgar a este grande povo?" (1 Rs 3:9).

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