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DIETA E ATIVIDADE ALIMENTAR DE PEIXES DA FAMÍLIA CHARACIDAE (ACTINOPTERYGII; CHARACIFORMES) NO RIO CAÇADOR, SEARA, SC

No documento Anais... (páginas 70-74)

Cristiano A. Celant¹ e Jonatas Alves²

¹Graduado em C. Biológicas pela Universidade do Contestado, Campus Concórdia celant_cristiano@yahoo.com.br

²Universidade do Contestado - UnC Concórdia, Curso de Ciências Biológicas, jonatas@unc.br Palavras-chave: ecologia trófica, oeste de Santa Catarina, família Characidae.

INTRODUÇÃO

Estudos sobre alimentação de peixes são importantes, pois proporcionam conhecimento sobre a biologia das espécies, além de permitirem uma análise detalhada das distintas e complexas relações tróficas existentes nos ambientes aquáticos. Grande parte do conhecimento a dinâmica de comunidades e o papel ecológico de populações de peixes são originados a partir de estudos sobre sua dieta, baseados principalmente na análise do conteúdo estomacal (1). O ecossistema aquático é um ambiente frágil e delicado, que pode ser facilmente alterado, seja por ações naturais ou pela ação humana. Nas últimas décadas, o grande crescimento populacional nas proximidades destes ambientes fez com que populações naturais de peixes sejam frequentemente expostas a alterações ambientais, tais como a contaminação das águas, construção de barragens, fragmentação das matas ciliares, entre outras. Variações na dieta e atividade alimentar dos peixes podem ser influenciadas por modificações espaciais e sazonais do hábitat, ocasionadas, entre outros motivos, pela ação humana. Portanto, trabalhos sobre alimentação de peixes são de grande importância por trazerem à tona conhecimentos básicos e fundamentais sobre a biologia das espécies (2). Além disso, as comunidades de peixes apresentam inúmeras vantagens como organismos indicadores em programas de monitoramento biológico da qualidade da água, principalmente devido à disponibilidade de informações a respeito dos seus ciclos da vida e por ocuparem uma posição no topo da cadeia alimentar, o que propicia uma visão integrada do ambiente aquático (3). Sendo assim, o presente estudo objetivou caracterizar a dieta e a atividade alimentar de peixes da família Characidae do rio Caçador, localizado no município de Seara, oeste de Santa Catarina, considerando ser esta uma estratégia fundamental para caracterizar aspectos da ecologia trófica neste ambiente, resultando em subsídios para elaboração de medidas de conservação e manejo dos ecossistemas aquáticos da região.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi realizado na micro bacia do Rio Caçador, localizada no município de Seara, oeste de Santa Catarina, Brasil. Foram estabelecidos 05 pontos de amostragem, contemplando ambientes desde a nascente até a foz do rio (Figura 1). Para a amostragem dos peixes, foram utilizados diversos métodos de captura, tais como puçás, linhas de espera com anzóis e redes de espera, os quais permitiram acessar os diferentes habitats existentes ao longo do rio. As saídas à campo foram realizadas sazonalmente, entre Março e Outubro de 2014 e os peixes foram capturados apenas no período diurno, independentemente do clima. O esforço de captura aplicado foi de 60 minutos em cada ponto, simultaneamente para todas as metodologias de captura. Todo o material coletado foi conduzido ao laboratório de Zoologia da Universidade do Contestado - UnC Concórdia, onde foram registrados o comprimento total do corpo (CT), peso total (PT) e peso dos estômagos (PE). Os estômagos dos peixes foram seccionados, submetidos à fixação em formol 4% por 24 horas e posteriormente conservados em álcool 70%. Após a conservação, os conteúdos estomacais foram analisados em lupa. Para melhor compreensão da dieta dos peixes, os itens alimentares encontrados foram agrupados em quatro categorias: Fragmento de Invertebrado (Fi), Fragmento Vegetal (Fv), Fragmento de Peixes (Fp) e Não Identificado (Ni) (4) (5) (6). A partir da frequência de ocorrência e da análise volumétrica de cada categoria alimentar em cada época do ano e porção do rio amostrada, foi calculado o Índice de importância Alimentar (AI), segundo metodologia proposta por Lima Jr. & Goitem (4). Devido ao baixo número de indivíduos coletados em algumas épocas do ano e pontos amostrados, optou-se pelo agrupamento das capturas do período quente (verão e outono) e frio (inverno e primavera), bem como das porções do rio localizadas na área urbana (zona urbana) e rural (zona rural) do município de Seara. A variação (sazonal e espacial) da dieta foi testada a partir da utilização do Coeficiente de Correlação de Spearman (rs), com um nível de significância de 0,05. Da mesma forma, a atividade alimentar dos peixes nas diferentes épocas do ano e pontos de amostragem ao longo do rio foi estudada a partir da variação da média do Índice Digestivo (ID) (6), utilizando o teste não paramétrico de Kruskal Wallis, seguido do teste t (Fisher), com nível de significância de 0,05 (7).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram capturados 55 peixes da família Characidae, dos quais 54 apresentaram conteúdos em seus estômagos. A análise sazonal do Índice de Importância Alimentar (AI) mostrou que em ambos as épocas do ano agrupadas (períodos quente e frio), Fragmento de Invertebrados (Fi) foi a categoria alimentar mais importante na dieta dos peixes estudados (Figura 2). Apesar de não terem sido observadas diferenças estatisticamente significativas na dieta dos peixes ao longo do ano, os dados sugerem um incremento na importância das categorias Fragmento de Vegetal (Fv) e Não Identificado (Ni) no período frio. Não foram

observadas diferenças significativas nas médias do Índice Digestivo (ID) nas diferentes épocas do ano estudadas. Apesar disso, observa-se uma maior atividade alimentar no período frio (Figura 3). Os resultados sugerem que os peixes estudados apresentam dieta e atividade alimentar constantes ao longo do ano, com uma grande dependência dos recursos alóctones para a sua alimentação, principalmente relacionada com a vegetação ripária e a fauna de invertebrados terrestres (especialmente insetos) da região. O incremento das categorias alimentares Fv e Ni na época fria pode estar associado com a diminuição da oferta de insetos e demais invertebrados terrestres e aquáticos nos períodos de temperaturas mais baixas. Neste caso, as discretas alterações no padrão alimentar dos peixes observadas no período frio podem estar relacionadas com alterações ambientais decorrentes de modificações sazonais naturais da região. A análise do AI nos diferentes pontos do rio estudados mostrou que em ambas as áreas agrupadas (zonas urbana e rural), Fi também foi a categoria alimentar mais importante na dieta dos peixes (Figura 4). Apesar da ausência de diferenças significativas na composição da dieta dos peixes entre as áreas estudadas, observa-se um incremento da categoria Fv na zona rural e da categoria Ni na zona urbana. Da mesma forma, não foram observadas diferenças significativas nas médias do ID nas diferentes porções do rio estudadas (Figura 5). Apesar desta aparente manutenção da atividade alimentar nas diferentes porções do rio, é importante destacar que na zona urbana encontram- se diversas intervenções antrópicas, as quais podem perturbar a interação dos peixes com o ambiente. Um bom exemplo destas alterações é a barragem para captação de água para abastecimento humano, observada nesta área. Neste local, o ambiente natural do rio foi completamente alterado, passando de um ambiente de águas correntes para um ambiente totalmente lêntico. Estas alterações ambientais poderiam explicar a captura reduzida na zona urbana (N = 15), bem como o incremento da categoria Ni observado nesta área, relacionado possivelmente com o aumento no consumo de detritos provenientes do aporte de matéria orgânica (esgoto doméstico, industrial, etc) nesta porção do rio. De acordo com Oliveira e Goulart, (2000) (8), um ambiente lêntico apresenta variações horizontais e verticais das variáveis físicas, químicas e biológicas, e estas, por sua vez influenciam diretamente na composição, estrutura e dinâmica da ictiofauna do local. No rio Caçador, os valores elevados de Fi nos conteúdos estomacais de peixes capturados nas diferentes porções do rio estudadas provavelmente está associada à presença de uma mata ripária moderadamente preservada ao longo do rio, principalmente na zona rural. Segundo Lowe- McConnell (1999) (9), o sombreamento produzido pela vegetação ciliar arbórea limita a produção primária nos pequenos rios e riachos, e os peixes se tornam dependentes dos recursos provenientes das encostas.

CONCLUSÕES

No rio Caçador, a dieta de peixes da família Characidae é composta predominantemente por itens de origem animal (fragmentos de invertebrados). No entanto, a presença de itens de origem vegetal e material orgânico não identificado permite classificar estes peixes como onívoros oportunistas, com hábitos alimentares bastante variados, porém constantes. Apesar de os resultados indicarem o consumo preferencial de uma categoria alimentar, é importante destacar que a alta frequência de fragmentos de invertebrados nos conteúdos estomacais dos peixes estudados pode não significar um incremento da qualidade alimentar dos peixes. A dieta e atividade alimentar dos peixes parece se manter constante ao longo do ano e nas diferentes porções do rio estudadas, destacando a grande capacidade adaptativa dos peixes e o potencial de resiliência do ambiente estudado. Os resultados apontam também para uma grande dependência dos peixes em relação aos recursos alóctones, em especial relacionados com a vegetação ripária local. A importância das matas ciliares na alimentação da ictiofauna do rio Caçador destaca a necessidade de pesquisas futuras neste ecossistema, objetivando gerar subsídios para o manejo, preservação e revitalização da fauna, flora e recursos hídricos locais;

REFERÊNCIAS

1. ALMEIDA, L. H. F. M.; Variação na estrutura da comunidade de peixes e crustáceos na pesca de arrastão de praia em fortaleza, CE. Dissertação de graduação, Depto de Engenharia de Pesca,

UFC, 1993.

2. MENEZES, N. A.; WEITZMAN, S. H.; OYAKAWA, O. T.; LIMA, F. C.T; CASTRO, R.M.; WEITZMAN, M. J. Peixes de Água Doce da Mata Atlântica: Lista Preliminar das Espécies e Comentários sobre Conservação de Peixes de água Doce Neotropicais. São Paulo: Museu de Zoologia -

Universidade de São Paulo, 2007.

3. ARAUJO, F G. Adaptação do índice de integridade biológica usando a comunidade de peixes para o rio Parnaíba do sul. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 1998.

4. LIMA-JUNIOR, S. E.; GOITEN, R.; A new method for the analysis of fish stomach contents. Acta

Scientiarum. Maringá, v. 23, n. 2 p. 421-424, 2001.

5. TEIXEIRA, J. L. A.; GURGEL, H. C. B. Métodos de Análise do Conteúdo Estomacal em Peixes e suas Aplicações. Arq. Apadec, 6 (1):20-25, 2002.

6. BRANDÃO-GONÇALVES, L.; OLIVEIRA, S. A. de; LIMA-JUNIOR, S. E. Hábitos alimentares da ictiofauna do córrego Franco, Mato Grosso do Sul, Brasil. Revista Biota Neotrop, Campinas, v.10,

n. 2, p. 21-30, 2010.

7. ZAR, J.H. Biostatistical analysis.4ª ed. New Jersey, Prentice-Hall, Inc. 1999.

8. OLIVEIRA, E. F.; GOULART, E. Distribuição espacial de peixes em ambientes lênticos: interação de fatores. Acta Scientaurum. Maringá, v.22, n.2, p.445-453, 2000.

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9. LOWE-McCONNEL, R. H.; Estudos Ecológicos de Comunidades de Peixes Tropicais. São Paulo:

Editora da Universidade de São Paulo, 1999.

Figura 1. Área de estudo e localização dos pontos de

amostragem na micro bacia do rio Caçador, município de Seara-SC.

Fonte: Grupo de estudos em meio ambiente - GEMA - UnC

Concórdia.

Figura 2. Variação sazonal do Índice de Importância

Alimentar (AI) para diferentes categorias alimentares observadas em peixes da família Characidae capturados no rio Caçador, município de Seara, SC (FI = Fragmento de Invertebrado; FV = Fragmento de Vegetal; FP = Fragmento de Peixe; NI = Não Identificado;).

Figura 3. Variação sazonal da média (+- erro padrão) do Índice Digestivo (ID) de peixes da família Characidae

Figura 4. Variação do Índice de Importância Alimentar

(AI) para as distintas categorias alimentares observadas em peixes da família Characidae capturados em diferentes porções do rio Caçador, município de Seara- SC (FI = Fragmento de Invertebrado; FV = Fragmento de Vegetal; FP = Fragmento de Peixe; NI = Não Identificado;).

Figura 5. Variação da média (+- erro padrão) do Índice

Digestivo (ID) de peixes da família Characidae capturados em diferentes porções do rio Caçador, município de Seara, SC.

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UTILIZAÇÃO DE TICs COMO RECURSO DIDÁTICO PARA PRÁTICAS EM

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