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RINOTRAQUEÍTE EM PERUS DE CORTE: UM RELATO DE CASO

No documento Anais... (páginas 45-51)

Willian E. Scarparo¹, Flávio Cunha² e Patrícia D. Ebling³

¹Acadêmico de Medicina Veterinária na Faculdade de Itapiranga - FAI, scarparo31@hotmail.com ²Médico Veterinário graduado na Universidade Federal de Pelotas, RS - UFPel

³Zootecnista e MSc. em Produção Animal – UFSM, Drª. em Produção Animal - UFRGS e Professora na Faculdade de Itapiranga - FAI

Palavras-chave: ambiência, imunidade, manejo sanitário, problemas respiratórios, vacinação. INTRODUÇÃO

Atualmente o Brasil é o terceiro país que mais produz carne de peru no mundo, com 327 mil toneladas produzidas em 2014 (11,1). O constante aumento da produtividade trouxe consigo a necessidade de novas estratégias sanitárias para o controle de doenças respiratórias, sendo que estas enfermidades podem ser de origem viral ou bacteriana (5). A Rinotraqueíte (TRT) é uma infecção respiratória aguda que acomete o trato superior de perus e está presente em muitos países cujo sistema de produção das aves é o confinamento (12). Esta enfermidade caracteriza-se pelo rápido desenvolvimento, causando alta morbidade que frequentemente atinge 100% das aves do lote. A TRT é causada pelo Metapneumovírus aviário (MPVA), este vírus é um dos principais patógenos respiratórios em aves (2). Na fase inicial da doença, as aves arranham a própria face, posteriormente há a formação de prurido intenso, sendo este o primeiro sinal clínico da doença (2). A transmissão se dá de forma horizontal direta; de forma horizontal indireta e de forma vertical (9). Objetivou-se com o trabalho relatar um caso de Rinotraqueíte em perus de corte, bem como realizar uma discussão embasada em uma revisão bibliográfica sobre o caso tema.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho estrutura-se em forma de um relato de caso da enfermidade Rinotraqueíte (TRT), ocorrido em granja terminadora de perus no estado de Santa Catarina.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na avaliação do estado sanitário geral do lote, as aves apresentavam apatia, espirros, edema de face com presença de secreção nasal. Observou-se também que o ambiente apresentava intensa presença de amônia e poeira, prejudicando a qualidade do ar, o que favorece o surgimento de problemas respiratórios (8). Caso não ocorra renovação adequada do ar devido, por exemplo, ao manejo incorreto de cortinas ou equipamentos de ventilação; ou, caso o lote apresente alguma infecção secundária, podem ser observadas as seguintes alterações nas aves: aerossaculite, pericardite, pneumonia com aumento da mortalidade e morbidade (6). Após anamnese, realizou-se necropsia de oito aves, sendo a eutanásia procedida pelo método de deslocamento cervical. No exame clínico externo das aves foram visualizados corrimento nasal (Figura 1) e edema submandibular (Figura 2). No momento da necropsia foram visualizadas petéquias na mucosa da traqueia (Figura 3). Os sinais clínicos encontrados em quadros de Rinotraqueíte são brandos e são caracterizados da seguinte forma: a ave se torna apática, apresenta espirros, sinusite, secreção nasal, conjuntivite e edema de face ou submandibular (3). Além destes, há ainda outros sinais, como tosse, estertor, lacrimejamento, sonolência, depressão e presença de muco na traqueia (9). O aumento de secreções e espirros é decorrente da hiperplasia glandular (2). A secreção nasal pode se tornar mucopurulenta quando há infecção secundária associada e, em 24 horas, pode ocorrer a disseminação no plantel (7).

A infecção pelo Metapneumovírus aviário normalmente é assintomática, com sinais clínicos iniciais brandos e com desenvolvimento no citoplasma das células epiteliais ciliadas, presentes na mucosa do trato respiratório superior. Após a replicação viral, as células ciliadas diminuem sua atividade e a capacidade do reparo epitelial é dificultada, aumentando a produção de muco. Também apresenta inclusão citoplasmática eosinofílica, levando ao comprometimento do sistema inume do BALT (tecido linfoide associado ao brônquio), após a replicação no trato respiratório superior posteriormente atingirá a corrente circulatória e o vírus irá se alojar no trato reprodutivo. No oviduto ocorrerá novamente replicação viral, desencadeando complicações decorrentes da multiplicação viral (2). Ambientes com alta quantidade de poeira, gases ambientais, e que sejam imunodepressores, favorecem o surgimento de agentes secundários, como Escherichia coli, Ornithobacterium rhinotrachele e Mycoplasma (2). A formação de anticorpos ocorre 21 dias após a infecção pelo vírus, com a formação de anticorpos neutralizantes 5 a 6 dias após a infecção (2). Os mesmos autores ressaltam que a produção local da classe de anticorpos IgM e IgG possui como característica a neutralização do agente, após a infecção. A confirmação do diagnóstico se dá através dos testes moleculares e sorológicos (2). Para testes moleculares como a PCR são coletados traqueia, pulmão, cabeça ou suabe traqueal. Já para sorologia são utilizados os seguintes testes: ELISA, imunofluorescência indireta e soroneutralização, onde são detectados anticorpos específicos no soro (2). Ao confrontar os dados da anamnese, relato do produtor, sinais clínicos e achados na necropsia gerou-se um diagnóstico presuntivo de Rinotraqueíte. Para a confirmação do diagnóstico foi realizada coleta de 2 mL de sangue de vinte aves. Estas amostras foram enviadas para o laboratório. Após a realização do teste de ELISA,

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detectou-se elevação dos níveis de anticorpos para Metapneumovírus aviário. As orientações referentes ao caso citado foram melhorar o manejo de cortina para facilitar a troca de ar do ambiente; revolver a cama nos horários mais quentes do dia com todos os ventiladores ligados, objetivando remover os gases do ambiente; nebulização com água clorada; e evitar o trânsito desnecessário dentro do aviário para reduzir o estresse das aves.

Os métodos de prevenção do Metapneumovírus aviário incluem o correto programa de biosseguridade e controle de ambiência, para não desencadear problemas respiratórios secundários, além de criteriosa lavagem e desinfecção das instalações e equipamentos (2). A infecção pelo Metapneumovírus não possui tratamento, porém o uso de antimicrobianos pode auxiliar no controle de infecções secundárias (3).

A vacinação é método muito eficaz para o controle de agentes infecciosos, pois desencadeia resposta protetora prévia ao contato com o agente (10). Em decorrência disso, a vacinação é definida de acordo com levantamento epidemiológico da granja ou região. Segundo o autor, a imunização das aves pode ser realizada individualmente ou pelo método coletivo, sendo que o método individual é mais eficiente, devido ao fato de que todas as aves entram em contato com o agente vacinal, por exemplo, via ovo. Neste método são administradas vacinas inativadas (4). Estudos comprovam que a vacinação via ovo apresenta melhores resultados em relação aos demais métodos de vacinação, pois tem proteção até 14 semanas após a vacinação (12). O método coletivo de vacinação contra o Metapneumovírus aviário se dá através da nebulização fina, após a realização da monitoração da titulação de anticorpos. Neste mesmo método são utilizadas vacinas vivas atenuadas (4). Os peruzinhos do lote avaliado no presente relato de caso haviam recebido vacina contra o Metapneumovírus aviário via ovo no incubatório. Porém, o lote apresentava titulação elevada de anticorpos do referido vírus. Desta forma, percebe-se que a vacinação realizada não preveniu a replicação viral.

CONCLUSÕES

O relato de caso mostrou que a infecção pelo Metapneumovírus aviário não causou alta mortalidade no lote de perus avaliado. Além disso, conclui-se que a vacina utilizada no lote não foi suficiente para evitar a infecção pelo Metapneumovírus aviário. A granja foi orientada a combinar a vacinação com manejo adequado do lote, preconizando manter uma ambiência compatível com o bem estar das aves. Outras recomendações incluem atender as normas de biosseguridade e realizar levantamentos epidemiológicos do Metapneumovírus aviário em lotes, com exploração do teste sorológico para monitorar o desafio a campo do sistema imune das aves.

REFERÊNCIAS

1. ABPA – Associação Brasileira de Proteína Animal. Relatório Anual de 2015. Disponível em: <http://abpa-

br.com.br/files/RelatorioAnual_UBABEF_2015_DIGITAL.pdf> Acesso em: 26/ago. 2015.

2. ARNS, C. W.; ZUANAZE, M. A. F. Metapneumovírus aviário. In: BERCHIERI JUNIOR, A.; SILVA, E. N.; DI

FÁBIO, J.; SESTI, L.; ZUAZANE, M. A. F. Doença das aves. Campinas: Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia avícolas, cap. 5.11, p. 777-783, 2009.

3. BACK, A. Manual de Doenças de Aves; 1° ed. Cascavel, PR: 2002. 246 p.

4. BORNE, P-M.; COMTE, S. Vacinas e Vacinação na Produção Avícola. Gessuli Guias. Porto Feliz, SP:

Ceva, 2003. 140 p.

5. CANAL, C. W.; ROCHA, S. L. da S.; LEÃO, J. A.; FALLAVENA, L. C. B.; OLIVEIRA, S. D.; BELTRÃO, N. Detecção de Ornithobacterium rhinotracheale (ORT) por meio da reação em cadeia da polimerase (PCR).

Ciência Rural, 33(2): 377-379, 2003.

6. COOK, J. K. A.; ELLIS, M. M.; HUGGINS, M. B. The pathogenesis of turkey rhinotracheitis virus in turkey poults inoculated with a virus alone or together with two strains of bacteria. Avian Pathology, 20:155-156,

1991.

7. D’ARCE, R. C. F. Desenvolvimento de técnicas moleculares para o diagnóstico diferencial do vírus da bronquite infecciosa e do Pneumovírus Aviário. 2004. 68f. Tese (Doutorado em Genética e Biologia

Molecular) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004.

8. FURLAN, R. S.; MACARI, M. Termorregulação. In: MACARI, M.; FURLAN R. S.; GONZALES, E. Fisiologia

aviária aplicada a frangos de corte, Jaboticabal, SP: FUNEP/ UNESP, p. 210-228, 2002.

9. INOUE, A. G. M.; CASTRO, A. Y. Fisiopatologia do sistema respiratório. In: BERCHIERI Jr., A.; SILVA, E.

N.; FÁBIO, J. D.; SESTI, L.; ZUANAZE, M. A. F. Doenças das Aves. 2° Ed. Campinas, SP: Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas, p. 281-302, 2009.

10. SANTOS, B. M.; MOREIRA, M.A.S.; DIAS, C. C. A.; Manual de Doenças Avícolas, Viçosa, MG: Ed. UFV,

2008. 224p.

11. USDA – UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Production, supply and distribution online. Disponível em: <https://apps.fas.usda.gov/psdonline/>. Acesso em: 17 set. 2014.

12. WORTHINGTON, K. J.; SARGENT, B. A. DAVELAAR, F. G.; JONES, R. C. Immunity to avian pneumovirus

Figura 1. Secreção nasal.

Fonte: próprio autor.

Figura 2. Edema submandibular.

Fonte: próprio autor.

Figura 3. Presença de petéquias na mucosa da traqueia.

IDENTIFICAÇÃO DAS DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA NO MUNICÍPIO

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