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INFLUÊNCIA DA SAZONALIDADE E DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS NA REPRODUÇÃO DE PEIXES DA FAMÍLIA CHARACIDAE NO RIO CAÇADOR

No documento Anais... (páginas 54-58)

Alisson P. Zoleti1 e Jonatas Alves2

1Graduado em C. Biológicas pela Universidade do Contestado, Campus Concórdia, alizoleti@hotmail.com 2Universidade do Contestado – UnC Concórdia, Curso de Ciências Biológicas, jonatas@unc.br

Palavras-chave: biologia reprodutiva, família Characidae, oeste de Santa Catarina. INTRODUÇÃO

Os peixes são animais sensíveis e altamente dependentes do equilíbrio das condições ambientais. Para que possam realizar seus instintos fundamentais de manutenção da vida e reprodução, dependem de ambientes equilibrados e estáveis (1). O aumento da interferência humana nestes ambientes prejudica esses animais, influenciando em muitos aspectos do seu ciclo de vida, principalmente na sua reprodução. O conhecimento das particularidades reprodutivas dos diferentes grupos de peixes, em especial daquelas afetadas pela influência da sazonalidade e das condições ambientais, é imprescindível para compreendermos o sucesso de uma espécie em um determinado ambiente (2). Além disso, ao investigarmos variações temporais e espaciais na atividade reprodutiva destes organismos, podemos avaliar o efeito de fatores relacionados às alterações climáticas e ambientais no seu ciclo de vida, utilizando os resultados como suporte para a elaboração de planos de manejo e gestão adequados para ambientes e ecossistemas submetidos à processos de modificação causados pelo homem. Characidae é a maior e mais complexa família da ordem dos Characiformes. Nessa ordem encontramos peixes com uma ampla variedade de estratégias de vida, podendo habitar os mais variados tipos de ambientes (3) sendo, portanto, bastante sensíveis às modificações e flutuações ambientais, sejam elas naturais ou induzidas pelo homem. No entanto, apesar de sua ampla distribuição geográfica e amplitude de ocupação de habitats, temos poucas informações sobre a biologia da família Characidae no Sul do Brasil, sobretudo quando tratamos de aspectos reprodutivos. Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo principal estudar o ciclo reprodutivo de peixes da família Characidae no rio Caçador, considerando aspectos como sazonalidade e influência das condições ambientais na reprodução.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi realizado na micro bacia do Rio Caçador, localizada no município de Seara, oeste de Santa Catarina, Brasil. Foram estabelecidos 05 pontos de amostragem, contemplando ambientes desde a nascente até a foz do rio (Figura 1). Para a amostragem dos peixes, foram utilizados diversos métodos de captura, tais como puçás, linhas de espera com anzóis e redes de espera, os quais permitiram acessar os diferentes habitats existentes ao longo do rio. As saídas à campo foram realizadas sazonalmente, entre Março e Outubro de 2014 e os peixes foram capturados apenas no período diurno, independentemente do clima. O esforço de captura aplicado foi de 60 minutos em cada ponto, simultaneamente para todas as metodologias de captura. Todo o material coletado foi conduzido ao laboratório de Zoologia da Universidade do Contestado - UnC Concórdia, onde foi catalogado morfometricamente, submetido à fixação em formol 10% por 24 horas e posteriormente conservado em álcool 70%. Parâmetros biométricos como comprimento total do corpo (CT), peso total (PT) e peso das gônadas (PG) foram mensurados. A identificação do sexo foi realizada através do exame macroscópico das gônadas. Os estágios de maturação gonadal de machos e fêmeas foram determinados de acordo com metodologia modificada de Vazzoler (4), a partir da observação de parâmetros macroscópicos como cor, vascularização, consistência e transparência das gônadas e visualização de ovócitos a olho nu (Tabela 1). Devido ao baixo número de indivíduos capturados em algumas épocas do ano e pontos amostrados, optou-se pelo agrupamento das capturas do período quente (verão e outono) e frio (inverno e primavera), bem como das porções do rio localizadas na área urbana e na zona rural do munícipio. A variação (sazonal e espacial) dos diferentes estádios de maturação gonadal de fêmeas e machos foi avaliada através da frequência relativa de cada estágio de maturação em cada época do ano e porção do rio estudada. Como forma de auxiliar na verificação de tendências no ciclo reprodutivo, foi calculado o Índice Gonadossomático (IGS) (5). Devido às particularidades na normalidade e homogeneidade das variâncias dos dados, os valores do IGS nas distintas épocas do ano e nos diferentes pontos de coleta foram comparados utilizando o teste não paramétrico de Kruskal Wallis, seguido do teste t (Fisher), utilizando um nível de significância de 5% (6). O ciclo anual reprodutivo foi analisado com base nas frequências sazonais de machos e fêmeas em cada estágio de maturidade e nas variações sazonais do IGS.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram capturados um total de 55 peixes pertencentes a família Characidae. As fêmeas (N = 31) mediram entre 65 e 170 (média = 94,71) milímetros e pesaram entre 3,63 e 56,98 (média = 13,30) gramas. Já os machos (N = 22) mediam entre 62 e 176 (média = 99,18) milímetros e pesaram entre 3,07 e 26,58 (média = 13,22) gramas. Em dois peixes não foi possível determinar o sexo, não sendo contabilizados nas análises. A análise da frequência dos estágios de maturação nas diferentes épocas do ano estudas (períodos quente e frio) mostra uma maior proporção de fêmeas em maturação e maduras nos períodos mais frios do ano. Da mesma forma, observou-se uma maior proporção de machos reprodutivamente

ativos no período frio (Figura 2), sugerindo que a reprodução destes peixes ocorre preferencialmente nesta época do ano. Para ambos os sexos, foram observadas também diferenças significativas entre as médias do Índice Gonadossomático (IGS) nas diferentes épocas do ano estudadas (Kruskall Wallis p < 0,05), sendo que a média de IGS mostrou-se significativamente maior no período frio, indicando um maior número de indivíduos em atividade reprodutiva neste período (Figura 3). Desovar em meses mais frios torna-se inicialmente desvantajoso, pois aumenta a mortalidade das larvas devido às baixas temperaturas da água (7). No entanto, em contrapartida, os descendentes destes indivíduos estariam mais desenvolvidos no recrutamento durante o verão, quando comparados com espécies que se reproduzem em meses mais quentes, garantindo assim um maior e melhor acesso aos recursos alimentares, geralmente mais abundantes no período mais quente do ano (8). Neste sentido, os resultados obtidos no presente estudo sugerem que a reprodução de caracídeos na micro bacia do rio Caçador segue o padrão sazonal observado na maioria dos peixes deste grupo. No entanto, é importante destacar que estes peixes apresentam grande flexibilidade e adaptabilidade de estratégias reprodutivas. Desta forma, novos trabalhos devem ser conduzidos na região para aprofundar o conhecimento acerca da interferência da sazonalidade no ciclo reprodutivo destes organismos, com especial atenção para as modificações ambientais e climáticas observadas na região. Já a análise dos estágios de maturação nas diferentes porções do rio agrupadas (zonas rural e urbana) mostra uma maior frequência de fêmeas e machos sexualmente maduros na zona rural, indicando ser esta a porção do rio preferencialmente utilizada pelos peixes nos períodos reprodutivos (Figura 4). No entanto, não foram observadas diferenças significativas nas médias de IGS de fêmeas e machos em ambas as porções do rio estudadas (Kruskall Wallis p Fêmeas = 0,6032; Machos = 0,10) (Figura 5). Mesmo assim, estes resultados sugerem que a atividade reprodutiva dos peixes é influenciada pela qualidade do ambiente onde estão inseridos. Por ser considerada um processo fisiológico energeticamente custoso, a reprodução só irá ocorrer se o animal estiver em uma zona de conforto, tanto ambiental quanto metabólica (9). Neste caso, a zona rural abriga habitats menos impactados e que vem sofrendo menor influência antrópica, quando comparados com ambientes localizados na zona urbana, os quais são drasticamente afetados pela construção de moradias e barragens, poluição, desvios do leito do rio, etc.

CONCLUSÕES

A partir dos resultados obtidos nesse trabalho pode-se concluir que: 1) apesar de machos e fêmeas em estágio reprodutivo terem sido observados em todas as épocas do ano, os resultados indicam uma maior atividade reprodutiva dos caracídeos nos períodos mais frios. Neste caso, deve-se considerar que as alterações climáticas a nível regional, como o aumento significativo das temperaturas médias no verão e o encurtamento dos períodos frios, certamente exercem forte influência sobre a reprodução e recrutamento destes organismos (e possivelmente de outros grupos de peixes) na região. A médio e longo prazos, tais fatores poderão colapsar as populações locais, desestruturando as relações ecológicas e consequentemente comprometendo a qualidade dos recursos naturais; 2) no rio Caçador, a atividade reprodutiva dos caracídeos ocorre preferencialmente em ambientes da zona rural do município de Seara, onde as características ambientais naturais permanecem menos afetadas pelas ações antrópicas. Isto evidencia uma importante relação dos indivíduos deste grupo com o meio onde estão inseridos, sendo que alterações ambientais mais expressivas possivelmente teriam efeitos negativos na dinâmica populacional deste grupo. Portanto, as medidas de conservação dos recursos naturais locais (em especial dos recursos hídricos) devem prever a recuperação de áreas degradas mas, principalmente, a manutenção e conservação dos ecossistemas ainda preservados da região; 3) novos trabalhos devem ser conduzidos na região para aprofundar o conhecimento acerca da interferência da sazonalidade e das modificações ambientais no ciclo reprodutivo dos peixes, permitindo o planejamento e execução de estratégias de manejo e conservação da fauna, flora e recursos hídricos regionais.

REFERÊNCIAS

1. GODOY, M.P de. Peixes do Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Editora da UFSC, Co-Edição

Eletrosul e FURB. 1987.

2. MATTHEWS, W. J. Pattems in Freshwater fish Ecology. Chapman & Hall, Oxford, 1998.

3. FINK, S. V.; FINK, W. L. Interrelationships of the ostariophysan fishes (Teleostei). Zoological

Journal of the Linnean Society, v. 72, 1981. p. 297-353.

4. VAZZOLER, A.E.A.M. Biologia da Reprodução de Peixes Teleósteos: Teoria e Prática. Maringá,

Editora Universidade Estadual de Maringá. 1996. 169p.

5. SILVA, D. A. da; PESSOA, E. K. R.; COSTA, S. A. G. L. da; CHELLAPPA, N. T.; CHELLAPPA, S.

Ecologia reprodutiva de Astyanax lacustris (Osteichthyes: Characidae) na Lagoa do Piató, Assú, Rio Grande do Norte, Brasil. Biota Amazônica. Macapá, v.2, n.2. 2012. p. 54 – 61.

6. ZAR, J. H. Biostatistical Analysis. Prentice Hall, New Jersey. 1999. 663 p.

7. FILHO, C. B.; SCHIFINO, L. C.; VERANI, J. R. Biologia reprodutiva de Oligosarcus jenynsii (GÜNTHER) (CHARACIFORMES, CHARACIDAE) da Lagoa das Custodias, Tramandaí, RS, BRASIL. Rev. Bras. Zool. 15 (3). 1998. p. 775 – 782.

8. DALA-CORTE, R. B.; AZEVEDO, M. A. Biologia reprodutiva de Astyanax henseli (Teleostei, Characidae) do curso superior do Rio dos Sinos, RS, Brasil. Iheringia, Sér. Zool. vol.100 nº 3.

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9. RIBEIRO, C. da S.; MOREIRA, R. G. Fatores ambientais e reprodução dos peixes. Revista da

Biologia (8). 2012. P. 58 – 61.

Tabela 1. Escala macroscópica de maturação gonadal para peixes da família Characidae capturados no rio Caçador,

município de Seara, SC.

Estádios de maturação

Características macroscópicas

Fêmeas Machos

A – Imaturo

Ovários filiformes, translúcidos, de tamanho muito reduzido, colocados bem junto da coluna vertebral; a olho nu não se observam os ovócitos;

Testículos reduzidos, filiformes, com posição semelhante à dos ovários.

B – Em maturação

Ovários ocupando cerca de 1/3 a 2/3 da cavidade abdominal, com intensa rede capilar. A olho nu observam-se grânulos opacos de tamanhos variados;

Testículos desenvolvidos, com forma lobulada, sendo que, com uma certa pressão, sua membrana rompe-se, eliminando esperma leitoso e viscoso.

C – Maduro

Ovários túrgidos, ocupando quase que totalmente a cavidade abdominal. A olho nu observam-se ovócitos maduros, que se apresentam como grânulos esféricos opacos e/ou translúcidos e grandes, cuja frequência varia com o progresso da maturação.

Testículos túrgidos, esbranquiçados, ocupando grande parte da cavidade abdominal; com fraca pressão rompe-se sua membrana, fluindo esperma, menos viscoso que no estádio anterior.

D – Pós – desova

Ovários com aspecto hemorrágico, completamente flácidos, ocupando menos de 1/3 da cavidade abdominal. Observam-se poucos ovócitos, em estado de reabsorção.

Testículos flácidos, com aspecto hemorrágico; a membrana não se rompe sob fraca pressão.

Fonte: modificado de Vazzoler (1996).

Figura 1. Área de estudo e localização dos pontos de

amostragem na micro bacia do rio Caçador, município de Seara-SC.

Fonte: Grupo de estudos em meio ambiente – GEMA, UnC Concórdia.

Figura 2. Variação sazonal na frequência dos estágios

de maturação gonadal de fêmeas e machos de peixes da família Characidae capturados no rio Caçador, município de Seara, SC (A = imaturo; B = em maturação; C = maduro e C = pós-desova).

Figura 3. Variação sazonal da média (+- desvio padrão)

do Índice Gonadossomático (IGS) de fêmeas e machos de peixes da família Characidae capturados no rio Caçador, município de Seara, SC.

Figura 4. Variação na frequência dos estágios de

maturação gonadal de fêmeas e machos de peixes da família Characidae capturados em diferentes porções do rio Caçador, município de Seara, SC (A = imaturo; B = em maturação; C = maturo e C = pós-desova).

Figura 5. Variação da média (+- desvio padrão) do Índice

Gonadossomático (IGS) de fêmeas e machos de peixes da família Characidae capturados em diferentes porções (zonas rural e urbana) do rio Caçador, município de Seara, SC.

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QUALIDADE DO LEITE: PARÂMETROS DE CONTAGEM DE CÉLULAS

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