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3. O mentor da reforma administrativa de 1867

3.2. Atividade e conceção política

Quanto à sua incidência na política, teve um papel ativo, enquanto ministro, deputado ou como notável jurisconsulto. Foi eleito pela primeira vez deputado em dezembro de 1854, em representação do círculo de Guimarães, tendo integrado a

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Martens Ferrão, Será possível, com esperança de permanência e, quando o seja, necessário para o melhoramento das

classes operárias, reorganizar-se a esfera industrial de uma qualquer formas imposta pela autoridade? (Dissertação inaugural para

o Acto de Conclusões Magnas na Faculdade de Direito), Coimbra, Imprensa da Universidade, 1854.

60 Na Regeneração assistiu-se à substituição da antiga “classe dirigente” por uma renovada elite política, veja-se, Pedro

Tavares de Almeida, A Construção do Estado Liberal. Elite Política e Burocracia na Regeneração (1851-1890), (Dissertação de Doutoramento em Sociologia Política) Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 1995.

61 Sobre a questão do saber jurídico veja-se: Fátima Moura Ferreira, Entre Saberes: a Centralidade do Saber Jurídico na

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maioria regeneradora. Foi um deputado ativo, produzindo diversas intervenções e apresentando propostas de lei, com destaque para um diploma sobre instrução pública e outro sobre as bases das companhias de crédito rural. Para a legislatura de 1857-1858 foi novamente eleito deputado num escrutínio intercalar, desta vez numa vaga surgida no círculo de Barcelos. Agora integrando a oposição ao Governo do partido Histórico, teve grande relevância na crítica às medidas sanitárias tomadas pelo executivo face à epidemia de cólera morbus que afetava parte do país. Também apresentou um projeto de lei que pretendia regular a emigração de cidadãos portugueses para o estrangeiro, em especial para o Brasil62.

Tendo ganho notoriedade e fama parlamentar como jurisconsulto e legislador, foi chamado a integrar o Governo regenerador presidido pelo duque da Terceira, como titular do Ministério da Justiça e Negócios Eclesiásticos. Exerceu o cargo desde a tomada de posse do Governo, a 16 de março de 1859, permanecendo até 4 de julho de 1860, na fase final já sob a presidência de Joaquim António de Aguiar, uma vez que o duque da Terceira tinha falecido. Ainda nas funções de ministro, concorreu novamente por Barcelos, a um lugar de deputado em maio de 1858. Apresentou um projeto de lei que isentava do serviço militar os filhos dos lavradores. Nas sessões de 20 e 29 de fevereiro de 1860 apresentou um pacote de propostas legislativas, incidindo sobre o código predial, a lei de organização judicial, a lei de assistência civil, a lei orgânica das prisões e um quadro de redistribuição das relações e comarcas judiciais63.

Nas legislaturas, de 1861 a 1865, esteve na oposição ao partido Histórico. Na legislatura de 1865-1868, no Governo de «fusão», foi reeleito pelo círculo de Paredes. Embora não sendo adepto da «fusão», manteve no parlamento uma posição reservada em relação a esta matéria, conduzindo a sua atividade parlamentar essencialmente para o campo legislativo, área em que se destacava pela sua capacidade de iniciativa e pela qualidade dos projetos de lei apresentados. Em 9 de maio de 1866, substituiu António Augusto de Aguiar no ministério do Reino, cargo que manteve até ao movimento de contestação da «Janeirinha». Foi o mentor da impopular Lei de Administração Civil de 1867, no qual propôs um novo modelo administrativo para a sociedade que causou um clima de contestação. Além de ter preparado esta reforma, trabalhou noutras medidas: projeto de lei regulando a construção de escolas primárias, a criação de corpos de

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Pedro Tavares de Almeida; Maria Filomena Mónica (coords.), Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), vol. II, Lisboa, Coleção Parlamento, 2005, p. 763.

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polícia e guarda civil, a extinção da mendicidade e a criação de uma rede de estabelecimentos de beneficência, a reforma do ensino primário e profissional.

Apesar da crise provocada pelo seu Código Administrativo, a carreira política de Martens Ferrão sobreviveu. Voltou a ser reeleito por Paredes nas eleições de 22 de março de 1868, mantendo uma posição relevante e influente no processo legislativo. Tomou posse como Procurador-Geral da Coroa e Fazenda em 28 de julho de 1868. Apesar dessas funções terem sido consideradas incompatíveis com as de deputado, voltou à Câmara a 13 de janeiro de 1869, eleito, novamente por Paredes. Esta situação manter-se-á nas três legislaturas posteriores, onde será sempre eleito por Paredes. Contudo, a sua participação parlamentar será reduzida, limitando-se quase exclusivamente ao trabalho das comissões relacionadas com legislação e justiça.

Representou pela última vez o círculo de Paredes na legislatura de 1871 a 1874, naquela que seria também a sua última presença como deputado. Mais uma vez, a sua participação circunscreveu-se ao trabalho nas comissões relacionadas com a atividade legislativa. Nesta última legislatura, apoiou o Governo de António José de Ávila na decisão de proibir as Conferências do Casino, defendendo que o Governo não podia permitir que continuassem a propagar-se num curso público doutrinas que profundamente ofendiam os sentimentos da Nação e da ordem pública.

No desempenho das funções de Procurador-Geral, foi designado Par do Reino por decreto de 28 de dezembro de 1871, tomando assento na respetiva Câmara a 9 de janeiro de 1872, o que implicou a sua saída definitiva da Câmara dos Deputados. A partir de 1874 foi encarregado das funções de instrutor dos príncipes D. Carlos e D. Afonso, cuja educação literária e científica lhe foi confiada, um sinal de grande confiança por parte da família real. Nesse mesmo ano, foi nomeado Conselheiro de Estado. Vai permanecer no cargo de Procurador-Geral até 1885, produzindo importantes pareceres sobre matéria tão diversas como o empréstimo que havia sido contraído por D. Miguel e o grau de vinculação do Estado português ao seu pagamento, as questões coloniais e diversas matérias de direito internacional relacionadas com as colónias portuguesas.

Tendo entrado na Câmara dos Pares em janeiro de 1872, foi assíduo durante as sessões que decorreram até 1885, ano em que partiu para Roma como embaixador português junto da Santa Sé. A participação de Martens Ferrão na Câmara dos Pares foi também voltada para as questões legislativas, com participação em inúmeras comissões.

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