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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

CAPÍTULO 1 – Dimensões Socioculturais da Motricidade Humana

1.3. Atividade Física, Exercício Fisico e Desporto

A designação AF é consensual e universalmente abrangente e é adotada por todos os países e instituições governamentais internacionais. Todas as formas de movimento humano são potencialmente benéficas para a saúde e consequentemente necessárias para o desenvolvimento social e económico. A AF traduz esse critério e é também adotada como uma meta para que os países atinjam os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável 2030 3 (Ribeiro, Silva, & Gomes, 2016; OMS, 2018a).

A definição técnica de AF, segundo o Centro de Investigação em AF, Saúde e Lazer da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (2006), é: “qualquer actividade efetuada pelo músculo-esquelético e que resulta num gasto de energia superior à quantidade mínima de energia necessária para manter as funções vitais do organismo em repouso (metabolismo basal)”. Esta ampla definição, significa que todos os tipos de AF são importantes, inclusive o caminhar ou andar de bicicleta como meio de transporte, o dançar, os jogos tradicionais, a jardinagem e os trabalhos domésticos, bem como a prática desportiva ou de exercício físico (Advisory Committee, 2018; Westerterp, 2013).

Por outro lado, exercício físico (EF) e desporto são vistos como tipos particulares de AF: o desporto como envolvendo normalmente, alguma forma de competição, e o EF sendo feito para melhorar a aptidão física, a performence e a saúde.

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O EF é uma forma de AF que pressupõe planeamento, estruturação e repetição de movimentos (Westerterp, 2013). Existem exercícos físicos (EFs) com diferentes objetivos, nomeadamente, o treino da atividade aeróbia, o fortalecimento muscular, o fortalecimento ósseo (que consiste na aplicação de uma força sobre os ossos que promove o seu crescimento e regeneração), o equilíbrio (controlo postural), a flexibilidade e outros, que normalmente combinam o treino de fortalecimento muscular, de equilíbrio, a atividade aeróbica de intensidade leve e a flexibilidade muitas vezes designadas pelo seu efeito de relaxamento corporal por atividades “mente-corpo” (Advisory Committee, 2018). A frequência e intensidade de cada tipo de exercício são importantes para determinar o alcance dos objetivos planeados (Advisory Committee, 2018; OMS, 2018a).

O desporto é um instrumento educativo, formativo e existencial. Espelha as diferenças e particularidades humanas, sendo a necessidade de vencer uma das suas variáveis mais distintivas (Cunha, 2013a). A principal característica que o diferencia é a existência de provas desportivas que podem ter uma participação individual (natação, atletismo, etc.) ou coletiva (basquetebol, futebol, etc). Em Portugal, o desporto divide- se em dois eixos: o desporto escolar e o desporto federado (Direção-Geral da Educação, 2017a). As câmaras municipais assumem um papel essencial no desenvolvimento sócio- desportivo. A sua proximidade com os cidadãos, permite-lhes conhecer quer as suas preferências bem como as suas necessidades, detendo as competências e os meios possíveis para as satisfazer. As políticas desportivas devem assim incluir a intervenção das autarquias, pois, só dessa forma, poderá ocorrer um verdadeiro desenvolvimento desportivo. Na Europa, várias cidades de países mais desenvolvidos utilizam o desporto como um meio de revitalização económica. Sheffield é uma cidade modelo que reflete esses impactos do desporto na economia, quer ao nível da saúde com a diminuição das despesas de saúde, quer ao nível social (considerando que a prática de AF e desporto pode conter o envolvimento noutro tipo de atividades desviantes) com a redução das taxas de: desemprego, crime e vandalismo (Teixeira & Ribeiro, 2014).

A AF é o conceito mais abrangente, uma vez que inclui toda a actividade desenvolvida ao longo do dia, contribuindo para a melhoria da saúde independente do

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propósito com que é realizada (Lima & Luiz, 2015; Ribeiro et al., 2016; OMS, 2018a) . A AF é concensualmente dividida em quatro domínios:

 AF ocupacional, realizada enquanto a pessoa está trabalhar (reposição de produtos nas prateleiras de uma loja, entrega de encomendas num escritório, preparar ou servir comida no restaurante, carregar ferramentas, etc. são exemplos de atividade física ocupacional).

 AF de transporte é realizada para ir de um lugar para outro. Deslocações feitas a pé ou de bicicleta para o trabalho, para a escola ou até centros de transporte,etc.

 AF doméstica é desenvolvida no interior ou no exterior da casa. Inclui tarefas domésticas tais como cozinhar, limpar, reparar em casa, ou jardinagem.

 AF de lazer é realizada no tempo livre , as caminhadas são exemplos de atividades físicas.

O transporte ativo para o trabalho ou para a escola (a pé ou de bicicleta) é, atualmente, reconhecido como uma importante medida para a promoção de AF (Advisory Committee, 2018; OMS, 2018a).

No contexto da saúde pública, a área da AF tem evoluido acentuadamente nos últimos 10 anos e perspetiva continuar a desenvolver-se num ritmo acelerado. Uma extensa base científica existente (Barreto et al., 2016; Ding et al., 2016; Giroux et al., 2018; Kohl et al., 2012; Loureiro et al., 2013; Schiphorst, Murray et al., 2017) e os avanços tecnológicos têm vindo a aumentar o conhecimento sobre as relações entre AF e uma ampla variedade de resultados de saúde e qualidade de vida. A adoção e manutenção de estilos de vida ativos tem sido cada vez mais reconhecida pelos estudiosos como um pré-requisito para o envelhecimento saudável para a saúde e bem- estar em todas as idades (Andersen et al., 2016; Gotova, 2015; Morgan et al., 2014). Para aprofundar o conhecimento no campo da promoção da AF é necessário ter em conta que os contextos ambientais, socioculturais e comunitários afetam os padrões de AF a curto e longo prazo. Para reverter as tendências atuais de inatividade é necessária uma resposta coletiva e coordenada por parte de todos os intervenientes relevantes nos diversos contextos em que as pessoas vivem, trabalham e brincam, para garantir um

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futuro mais ativo, nomeadamente a acessibilidade a pistas pedonais que permitam uma deslocação segura para o trabalho ou escola, a existência de postos de trabalho que permitam estar em pé, a acessibilidade a parques com equipamentos desportivos, entre outros (Advisory Committee, 2018; OMS, 2018a).

Todas as formas de movimento são AF pois produzem alterações fisiológicas no organismo; já o EF é pensado para melhorar a aptidão física, a performance e a saúde; e a MH por sua vez apresenta uma proposta de movimento corpóreo mais preocupada com as dimensões sociais (Figura 1).

Figura 1. Representação da Motricidade Humana, Atividade Física, Exercício Físico e Desporto

O capítulo seguinte irá aprofundar a prática de AF na sociedade contemporânea, nomeadamente na Europa, e abordará as medidas que têm vindo a ser desenvolvidas para diminuir a prevalência do comportamento sedentário, de uma forma assertiva, dado que este é uma consequência do progresso tecnológico e dos estilos de vida atuais. Irão apresentar-se mais em pormenor os benefícios da prática da AF regular que contribuem para a promoção da saúde e que podem ajudar na recuperação de determinadas patologias. Além das alterações fisiológicas que decorrem da prática da AF e que contribuem para a melhoria da saúde física, mental e do rendimento escolar, existem outras vantagens ao nível da socialização, que serão igualmente referidas.

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