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4.2 ATUAÇÃO DOS GESTORES ESPORTIVOS

4.2.1 Atividades e responsabilidades dos gestores esportivos

As informações obtidas por meio da realização das entrevistas com os gestores esportivos demonstraram a existência de uma ampla variedade de atividades relacionadas à atuação dos mesmos. Muitas das atividades e responsabilidades identificadas puderam ser percebidas no desempenho profissional de praticamente todos os gestores entrevistados, independentemente das diferenças relativas aos contextos organizacionais investigados (federações, clube, academia, etc.), ou dos níveis hierárquicos ocupados (gerência, direção, presidência).

Outras, no entanto, foram observadas apenas na atuação de determinados gestores, dentro das especificidades de cada cargo ou tipo organizacional. Destaca-se que não é intenção desta seção apontar as especificidades de cada contexto organizacional, mas proporcionar, como já mencionado, um entendimento mais geral sobre a atuação dos gestores esportivos envolvidos no estudo.

Antes de apresentar as diversas atividades e habilidades dos gestores entrevistados, um ponto cabe receber destaque. Isso porque identificou-se que a grande maioria das organizações estudadas tem como uma das principais atividades desenvolvidas a organização de eventos esportivos. A organização de eventos foi, muitas vezes, percebida nos discursos dos gestores entrevistados como uma função central – se não a principal – de muitas das organizações e, consequentemente, da própria atuação dos gestores. O esporte, segundo eles, recebe destaque, efetivamente, através da realização de eventos esportivos como campeonatos, torneios, festivais e outras competições em geral das diversas modalidades esportivos.

Mesmo nas organizações em que não foi identificada a organização de eventos como uma atividade central ou habitual – quais

sejam: o clube de futebol e a academia – pode-se afirmar que essa atividade não é totalmente excluída, ou fora da realidade das mesmas. Um clube de futebol, afinal, pode realizar um grande evento de apresentação de um novo atleta, de uma nova contratação, e muitas vezes, um único jogo – um amistoso entre dois times, por exemplo – pode ser percebido como um evento. Da mesma forma, uma academia também pode promover eventos (aulas temáticas de diferentes modalidades, festas de confraternização, caminhadas, corridas em equipe, etc.) com objetivos de manutenção e atração de clientes para a empresa.

Os eventos, ao que pôde ser percebido, são atividades intrínsecas às organizações esportivas e, dito isso, é importante considerar que muitas das responsabilidades imbuídas aos gestores, apresentadas a seguir, relacionam-se tanto às ações do cotidiano das entidades esportivas quanto aos eventos esportivos desenvolvidos pelas organizações investigadas.

Inicialmente, a partir de um olhar amplo e geral sobre a atuação dos entrevistados, pode-se perceber que a responsabilidade fundamental dos gestores é fazer com que as organizações esportivas que administram funcionem de maneira adequada e em conformidade com aquilo que foi planejado às mesmas. Neste sentido, mesmo existindo alguma distinção entre os sujeitos, no que diz respeito ao nível hierárquico que ocupam dentro das organizações, pôde-se perceber que os gestores esportivos entrevistados assumem uma responsabilidade geral pelo funcionamento da organização e das atividades relacionadas à mesma.

Na verdade eu tenho uma responsabilidade geral por tudo que acontece aqui dentro, e também nas atividades e eventos que estamos envolvidos. Tudo passa por mim e eu to envolvido em tudo. [...] Sou o responsável por fazer a máquina girar (GE3).

Muitas atividades poderiam ser listadas abrangendo essa “responsabilidade geral” dos gestores esportivos sobre as organizações que atuam. A título de exemplo, um dos gestores declara uma lista bastante heterogênea de atividades e responsabilidades relacionadas ao seu cargo:

São várias coisas que eu tenho que cuidar [que são responsabilidades do gestor]. A federação

aqui é responsabilidade minha como um todo. Eu tenho que cuidar das inscrições do torneio, da abertura ao fechamento, quantos inscritos deu no torneio [...]. Se os relatórios foram enviados. Se os materiais estão todos certos para o evento [...]. Se tem algum atleta que está descontente, o que aconteceu [...]. Se choveu no torneio, como é que vamos resolver. [...] tenho que fechar convênios para os projetos socais [...]. Sobre o aluguel das quadras, se estão cumprindo o contrato [...]. Se tem que demitir alguém, contratar alguém [...]. A captação de patrocínio [...]. A venda da publicidade das quadras [...]. Então, como te disse, é bastante coisa (GE2).

Ainda permeando a responsabilidade geral pelo adequado funcionamento das organizações, identificou-se nos discursos dos gestores uma intensa preocupação em relação à manutenção e melhoria dos processos organizacionais e da estrutura física que a organização dispõe. Vários depoimentos dos gestores referenciaram as necessidades de melhoria constante ou, pelo menos, de manutenção nos processos, serviços realizados/prestados, atividades desenvolvidas e na organização como um todo.

Estamos preocupados com a estruturação física do clube. Sempre observando o que tem que melhorar, o que precisa mudar, o que precisa crescer e o que precisa ser ampliado das dependências. A manutenção das instalações é muito importante para que seja desenvolvido um bom trabalho aqui dentro (GE6).

Ao analisar mais profundamente a atuação dos gestores, identificou-se que o planejamento e a gestão financeira, assim como as atividades relacionadas à gestão de marketing e à captação de recursos são outras responsabilidades incumbidas aos entrevistados em muitas organizações esportivas.

O planejamento, tanto no contexto estratégico, onde são estabelecidos os objetivos, metas, diretrizes e planos organizacionais, quanto o planejamento mais direto das várias atividades desenvolvidas –

pelo gestor e pela equipe de trabalho – pôde ser observado como um elemento constantemente presente no cotidiano dos entrevistados. Muitas atividades desenvolvidas pelos gestores nas organizações esportivas requerem uma preparação antecipada, e outras acontecem somente baseadas nas programações e cronogramas estabelecidos, como pode ser percebido na seguinte declaração:

Nós temos um planejamento anual das atividades esportivas, onde as diversas modalidades são oferecidas dentro de um calendário. São, aproximadamente, trinta e cinco modalidades ao longo do ano. No início de ano tem os jogos de verão, somente com modalidades de praia. E ao longo do ano, todas as modalidades coletivas e individuais vão acontecendo. [...] Geralmente o segundo semestre concentra o maior número de atividades. Os meses de agosto, setembro e início de outubro são os mais movimentados. De dezembro a fevereiro é mais tranquilo, período que planejamos as atividades anuais (GE4).

A gestão financeira é outra atividade desenvolvida por alguns gestores, que afirmam cuidar pessoalmente dos lançamentos e balanços financeiros da organização, enquanto outros, por existir um departamento ou responsável específico para essa função dentro da organização, ou ainda, por falta de conhecimento na área financeira, afirmam não trabalhar diretamente com as finanças organizacionais.

Aqui nós temos muita necessidade de controlar custos, gastos. [...] Por que a gente tem meta, uma verba anual para as atividades acontecerem. Tem que estar controlando o tempo todo a parte financeira. Tem muita planilha de custo e de orçamento, muito controle em cima disso (GE4).

Manter a parte financeira. Todas as entradas e saídas de recursos. Cobrar o pessoal [os clubes e atletas filiados que pagam uma taxa a cada período] para ter as entradas. Captar verba de patrocinadores para ter uma entrada maior de recursos, porque se a gente fosse viver só do que os clubes pagam já tinha fechado (GE1). A captação de recursos, como pode ser notada no discurso do GE1, é outra atividade desempenhada pelos gestores esportivos. Essa busca por recursos, tanto nos meios públicos, quanto privados, e que tradicionalmente é compreendida no mundo esportivo como patrocínio, é uma incumbência de gestores esportivos que se relaciona à questão financeira, mas que também envolve a parte de marketing da organização – especificamente o marketing esportivo/patrocínio.

Em relação à gestão de marketing da organização, os gestores relataram que suas responsabilidades envolvem principalmente as estratégias de como os serviços e atividades da organização vão ser apresentados/posicionados no mercado e aos seus respectivos públicos- alvo. Os gestores, de maneira geral, preocupam-se em como atrair mais clientes, atletas e clubes para as atividades desenvolvidas pela organização; de que forma deve acontecer a comunicação e divulgação dos produtos/serviços oferecidos; como serão comercializadas as atividades esportivas e os patrocínios esportivos para investidores potenciais.

Todas as relações com patrocinadores sou eu que faço. Todo o relacionamento de pós-venda [dos patrocínios], pós-parcerias. Tudo comigo. A parte de marketing, não só a captação dos recursos, mas a própria operação, o operacional. Toda estratégia de marketing, divulgação das marcas patrocinadoras nos espaços publicitários, no uniforme dos jogadores, no campo. A comunicação em geral com a imprensa e com a federação [...] (GE6). Além das atividades já mencionadas, muitos gestores afirmam estar envolvidos rotineiramente no relacionamento com o público-alvo e outros stakeholders da organização. A responsabilidade geral que os gestores têm com o adequado funcionamento da organização, faz com

que seja necessário o estabelecimento de relações com os diferentes interessados na organização esportiva, tanto no dia a dia organizacional, como no transcorrer dos eventos esportivos realizados, como pode ser percebido nos discursos:

Eu faço constantemente um relacionamento com os atletas, que são os nossos clientes. Observo se estão satisfeitos com o nosso trabalho, de maneira geral, e com as atividades que estão planejadas. Se não estão satisfeitos, o que pode ter acontecido e como vamos resolver? (GE2)

No dia dos eventos eu faço questão de fazer um relacionamento com as empresas, com os representantes das empresas, pra ver como está o evento. Como eles estão se sentindo, qual o retorno que eles dão? E dependendo da disponibilidade, faço reunião com esses representantes pra avaliar as atividades oferecidas, se ficaram satisfeitos, que sugestões podem oferecer. E o que podemos fazer para melhorar ou corrigir do nosso trabalho. (GE4). Além do relacionamento com os stakeholders da organização, diversas outras atividades são necessárias – antes, durante e depois – para que o evento esportivo ocorra conforme planejado e que seus participantes percebam-no de maneira positiva.

Toda a parte de formatação de regulamento, ficha de inscrição, divulgação, cartaz, e-mail. [...] Depois divulgar o evento a gente parte pra fazer a tabela de jogos, computar os resultados, tabela de pontuação. Fazer o contato com fornecedores, pedir premiação, verificar a necessidade de materiais [...] e fazer os pedidos. Fazer toda a organização de pessoal pra trabalhar. E nos dias de eventos a gente atua na prática, observando se está tudo andando como previsto, vendo a questão de horários, vendo se todos estão em seus postos de trabalho como planejado. [...] Em resumo,

meu trabalho é conceber o planejamento, executar e avaliar as atividades executadas ao longo do planejamento anual. (GE4)

Seja nos eventos, ou na atuação diária nas organizações esportivas, percebeu-se que lidar com pessoas ou, melhor dizendo, gerir pessoas, é uma das principais atividades/responsabilidade dos gestores entrevistados. Destaca-se que, dependendo da magnitude e abrangência dos eventos organizados pelas organizações esportivas, os gestores podem ter ampliada, consideravelmente, a quantidade de pessoas subordinadas a eles.

Comigo [diariamente] trabalha mais um orientador de atividades físicas, e uma estagiária. Sou eu e os dois. Mas quando a gente organiza eventos maiores, que dependem de mais mão de obra [mais colaboradores], a gente conta com a colaboração da equipe do lazer [outro departamento da organização], que tem aproximadamente umas cinquenta ou sessenta pessoas, que podem ser convidados e convocados para trabalhar (GE4).

Ainda, no mesmo sentido, a importância dada à gestão de pessoas está fortemente relacionada ao alcance dos objetivos do próprio gestor e da organização como um todo. Lidar eficazmente com pessoas e fazer com que elas respondam de acordo com aquilo que é esperado, pode ser a diferença positiva na gestão de organizações. A declaração de um gestor ilustra bem esta perspectiva:

Eu dependo muito das pessoas ao redor de mim pra poder realizar as atividades da organização, por que sozinho não adianta. [...] Se você vai manejar sua empresa, você vai estar manejando pessoas. Acho que isso faz muita diferença na sua gestão da empresa. A forma que você consegue lidar com as pessoas. Entender como você vai incentivar as suas peças [as pessoas] a utilizar os mecanismos que você deu pra eles, pra entregar pra você, de volta, os resultados que você ta procurando. Esse incentivo é muito importante, e cada

pessoa é diferente, tem sua atitude e postura. Tem que saber lidar, lidar com pessoas. (GE7) Relacionando-se a todo o contexto em que os gestores estão inseridos e permeando vários dos discursos já apresentados até aqui, estão os processos de avaliação, correção e solução de problemas. Segundo os entrevistados, a avaliação é realizada tanto sobre o trabalho das diversas pessoas envolvidas nas atividades das organizações esportivas quanto sobre os próprios processos organizacionais e resultados obtidos na execução dos planejamentos. No mesmo sentido, a correção e a solução de problemas acabam sendo, muitas vezes, decorrências do processo avaliativo realizado – que demonstra as necessidades de correção, melhoria e aperfeiçoamento da organização e de seus rumos – mas também pode advir de inúmeras urgências que surgem e que precisam ser solucionadas durante o dia a dia dos gestores. As palavras de um gestor ilustram esta realidade.

Mesmo fazendo visitas técnicas anteriores nas sedes dos eventos, muitas vezes chegamos na véspera de uma competição e as coisas não estão prontas ou as correções não providenciadas. E os jogos precisam acontecer. [...] Às vezes, [é necessário] até transferir uma modalidade pra outro município, ou localidade que ofereça condições imediatas pra atividade acontecer. [...] você precisar apagar uma série de incêndios para que a coisa aconteça (GE10).

Como visto neste tópico, a atuação de gestores esportivos está pontuada a diferentes atividades e responsabilidades a eles atribuídas – partindo-se de uma responsabilidade mais ampla e geral pelas organizações esportivas que administram e afunilando-se em questões mais específicas como a avaliação de resultados, correção de processos e solução de problemas organizacionais.

Intrínsecos às atividades e responsabilidades apresentadas até aqui, a atuação de gestores esportivos envolve determinados conhecimentos e habilidades. Assim sendo, a próxima seção deste capítulo de resultados abordará a atuação dos gestores esportivos a partir dos conhecimentos e habilidades que são necessários à atuação na gestão de organizações esportivas. As dificuldades enfrentadas pelos

entrevistados durante o desempenho de suas funções também fazem parte do escopo da próxima seção.

4.2.2 Conhecimentos, habilidades e dificuldades relacionadas à