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2.3 FORMAÇÃO

2.3.3 Formação do profissional de Educação Física e a intervenção na

Neste tópico estão apresentados fundamentos da literatura e da legislação sobre a formação e a intervenção dos profissionais de Educação Física no contexto brasileiro. Embora sejam apresentados aspectos gerais sobre os temas procurou-se dar ênfase a apontamentos que relacionam a formação desses profissionais para atuação no contexto da gestão de organizações esportivas, foco desta dissertação.

A formação em Educação Física acontece, conforme explicam Farias, Shigunov e Nascimento (2001), em cursos de graduação e pós- graduação em instituições de ensino superior, como universidades e faculdades. A formação inicial, ou seja, a formação em nível de graduação, ocorre em cursos cuja habilitação pode ser o bacharelado ou a licenciatura.

Os cursos da habilitação bacharelado formam profissionais voltados ao mercado de trabalho e seus variados locais de atuação (academias de ginástica, clubes, centros esportivos, etc.). Os cursos de licenciatura, por sua vez, formam professores com perfil direcionado para atuação no ambiente escolar, na docência da disciplina de Educação Física em instituições regulares de ensino (FARIAS; SHIGUNOV; NASCIMENTO, 2001). De certa forma, pode-se entender que cursos de bacharelado formam profissionais de Educação Física e as licenciaturas formam professores de Educação Física.

Segundo Nascimento (1999), durante o período de formação universitária, além das atividades curriculares obrigatórias propostas pelos cursos de formação, os alunos podem se inserir em programas de extensão, participar de pesquisa, estágios e de outras atividades extraclasses.

Cabe mencionar, conforme explica Neves (2002), que as atividades de pesquisa e extensão não são obrigatórias a todas as instituições de ensino superior – como são em instituições universitárias – e que, portanto, muitos estudantes de graduação acabam não tendo a oportunidade de entrar em contato com tais atividades consideradas de elevada importância para o seu desenvolvimento profissional.

A formação em Educação Física tem sido objeto de debates acadêmicos, estudos e publicações desde os anos 80, sendo objeto de críticas e passado por reformulações, principalmente no tocante à estrutura curricular dos cursos (BETTI; BETTI, 1996). Conforme salienta Nascimento (1999), muitos cursos de formação em Educação

Física enfrentam problemas como o isolamento das disciplinas, falta de qualidade em infra-estrutura e materiais para as aulas, além da fragmentação e número excessivo de disciplinas nos cursos.

O currículo, por ser um elemento que tem intima relação com o processo de formação universitária, tem sido igualmente objeto de múltiplos estudos no campo da Educação Física, os quais questionam sua atual validade, alinhamento às demandas, estrutura e utilidade.

A formação na área da Educação Física no Brasil é regulamentada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), estabelecidas pela Resolução CNE/CES N° 7/2004 (BRASIL, 2004). Tal resolução institui as diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação em Educação Física, em nível superior de graduação plena que, por conseguinte, definem os princípios, as condições e os procedimentos para a formação dos profissionais desta área.

Conforme o parecer CNE/CNS Nº 82/2011 (BRASIL, 2011), a regulamentação mencionada orienta tanto os cursos de bacharelado quanto os de licenciatura plena em Educação Física. Todavia, os cursos de licenciatura devem ajustar-se, ainda, às exigências das Diretrizes Curriculares Nacionais para formação de professores da educação básica considerada na Resolução CNE/CP Nº 1/2002 (BRASIL, 2002).

As DCNs para os cursos de graduação em Educação Física foram aprovadas a partir do Parecer CNE/CES Nº 8/2004 (BRASIL, 2007), após um intenso processo de discussão com a comunidade da área, que permitiu alcançar elevado grau de entendimento sobre a questão. Em seguida, atendendo-se às sugestões encaminhadas pelo Conselho Federal de Educação Física, a Resolução CNE/CES Nº 7/2004 teve um dispositivo alterado pela Resolução CNE/CES Nº 7/2007 (BRASIL, 2007).

Entre os múltiplos esclarecimentos legais que as DCNs realizam, o artigo 3º pode ser destacado ao apresentar a Educação Física, seu objeto de estudo e campo de atuação:

Art. 3º – A Educação Física é uma área de conhecimento e de intervenção acadêmico- profissional que tem como objeto de estudo e de aplicação o movimento humano, com foco nas diferentes formas e modalidades do exercício físico, da ginástica, do jogo, do esporte, da luta/arte marcial, da dança, nas perspectivas da prevenção de problemas de agravo da saúde, promoção, proteção e

reabilitação da saúde, da formação cultural, da educação e da reeducação motora, do rendimento físico-esportivo, do lazer, da gestão

de empreendimentos relacionados às

atividades físicas, recreativas e esportivas, além de outros campos que oportunizem ou venham a oportunizar a prática de atividades físicas, recreativas e esportivas

(Resolução CNE/CES n° 7, 2004, grifo nosso). As DCNs salientam a necessidade dos cursos de graduação assegurarem “uma formação generalista, humanista e crítica, qualificadora da intervenção acadêmico-profissional, fundamentada no rigor científico, na reflexão filosófica e na conduta ética”. Além disso, apontam no artigo 6º as habilidades e competências que a formação em Educação Física deve proporcionar. Entre outras, podem ser destacadas:

- Dominar os conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais específicos da Educação Física e aqueles advindos das ciências afins [...].

- Intervir acadêmica e profissionalmente de forma deliberada, adequada e eticamente balizada nos campos da prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, da formação cultural, da educação e reeducação motora, do rendimento físico-esportivo, do lazer, da gestão

de empreendimentos relacionados às

atividades físicas, recreativas e esportivas, além de outros campos que oportunizem ou venham a oportunizar a prática de atividades físicas, recreativas e esportivas.

- Participar, assessorar, coordenar, liderar e gerenciar equipes multiprofissionais de discussão, de definição e de operacionalização de políticas públicas e institucionais [...]. - Conhecer, dominar, produzir, selecionar e avaliar os efeitos da aplicação de diferentes técnicas, instrumentos, equipamentos, procedimentos e metodologias para a produção e a intervenção acadêmico-profissional em Educação Física nos campos [...] da gestão de

empreendimentos relacionados às atividades físicas, recreativas e esportivas, além de

outros campos que oportunizem ou venham a oportunizar a prática de atividades físicas, recreativas e esportivas (CNE/CES n° 7, 2004, grifo nosso).

Em nenhuma parte do texto as DCNs especificam disciplinas ou conteúdos que devem, ou não, contemplar os currículos de formação de cada instituição de ensino superior; contudo, salientam que a organização curricular dos cursos de graduação deve estar coerente e alinhada às competências e habilidades esperadas para o profissional que se almeja formar.

Ainda que as DCNs sejam o referencial legal para a concepção, planejamento, operacionalização e avaliação da formação na área da Educação Física (CNE/CES, 2011), a atuação e a intervenção do referido profissional é regulamentada pelo sistema formado pelo Conselho Federal de Educação Física e pelos Conselhos Regionais de Educação Física (CREF’s). O sistema CONFEF/CREF representa, regulamenta e fiscaliza a atuação profissional da Educação Física, profissão regulamentada em 1996.

Como já mencionado na parte inicial da dissertação, o CONFEF, há uma década, apresentou à sociedade brasileira o documento que dispõe sobre a intervenção dos referidos profissionais. O intitulado "Documento de intervenção do profissional de Educação Física" m 1996 (CONFEF, 2002, p.1) apresenta as competências necessárias para atuação, as responsabilidades, os locais de atuação, os meios de intervenção, entre outros esclarecimentos sobre a atuação dos profissionais de Educação Física no Brasil.

No documento, a "gestão em educação física e desporto" (CONFEF, 2002, p.1) é apresentada como uma das sete especificidades da intervenção do profissional em Educação Física. Além da gestão, estão listadas: (1) a docência em Educação Física; (2) o treinamento esportivo; (3) preparação física; (4) avaliação física; (5) A recreação em atividade física e; (6) a orientação de atividades físicas.

No texto do documento a “administração e/ou gerenciamento de instituições, entidades, órgãos e pessoas jurídicas cujas atividades fins sejam atividades físicas e/ou desportivas", é declarada como uma possibilidade de atuação para profissionais formados em Educação Física no Brasil (CONFEF, 2002, p.1). Frente à relevância dos apontamentos legais e dos diversos esclarecimentos que o texto realiza,

o próprio Conselho Federal esclarece que o documento em questão tem como perspectiva

se constituir um dos instrumentos orientadores para a construção de projetos pedagógicos dos Cursos de Formação Superior na área da Educação Física, além de um instrumento norteador das ações de organização e de fiscalização do exercício da profissão (CONFEF, 2002, p.1).

Frente aos fundamentos teóricos apresentados neste tópico e, principalmente, aos apontamentos legais realizados tanto pelas DCNs da Educação Física quanto pelo documento de intervenção do profissional da área, é cabível esperar que cursos de graduação em Educação Física brasileiros ofereçam disciplinas relacionadas à gestão.

Sob uma perspectiva diferenciada das investigações quantitativas que foram realizadas sobre a inserção de disciplinas de gestão em cursos de Educação Física, está dissertação utilizou-se de uma abordagem exclusivamente qualitativa, a qual é apresentada na seção a seguir.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O método de uma pesquisa, segundo Richardson et al. (2007, p.22) é “o caminho ou a maneira empregada para chegar a determinado fim ou objetivo” e, neste sentido, o presente capítulo apresenta os procedimentos utilizados para responder ao problema e aos objetivos da pesquisa.

Cabe ser considerado a não existência de fórmula única para a realização de uma investigação e que a perfeição de uma pesquisa talvez seja utopia, por ser um produto humano, onde seus produtores são seres falíveis (RICHARDSON et al., 2007).