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Esta seção apresenta contributos da literatura sobre os temas gestão do esporte e gestores esportivos, oferecendo uma compreensão geral sobre as temáticas. Embora o foco da dissertação não seja, especificamente, o campo da gestão do esporte, julgou-se adequado compreender sobre o tema na medida em que permeia o objeto de estudo e faz parte do contexto de atuação dos gestores esportivos.

A gestão do esporte pode ser perspectivada à luz de distintos olhares. É compreendida como uma área de atuação profissional – onde atuam os gestores esportivos – mas pode, também, ser percebida como um campo de conhecimento, um objeto de estudo e de pesquisas, uma área de formação.

Atualmente, a gestão do esporte tem recebido maior atenção e repercussão acadêmica e social, devido à organização e realização dos megaeventos esportivos que o Brasil sedia durante a atual década. Não obstante, conforme alegam Rocha e Bastos (2011), existe, ainda, um grande desentendimento sobre este campo de conhecimento e intervenção profissional no país.

Na literatura acadêmica os distintos entendimentos sobre o tema começam a partir das terminologias utilizadas para referenciar a área em questão. Gestão esportiva, gestão desportiva, administração desportiva, gestão de organizações/entidades/instituições esportivas – entre outros – são termos comumente utilizados em publicações sobre a temática. Frente à variedade de termos utilizados, Bastos e Mazzei (2012) argumentam que gestão do esporte tem sido considerada a terminologia mais apropriada e atual para referir-se ao tema. Internacionalmente,

sport management e sport administration são as expressões comumente

utilizadas.

Embora não exista uma definição única e universal sobre gestão do esporte, as conceituações apresentadas por distintos autores convergem na ideia de confluência entre os princípios/fundamentos da Administração à realidade dos esportes e das organizações esportivas. Sob este prisma, autores apresentaram definições abordadas na seqüência.

Sob um olhar amplo, Pitts e Stotlar (2002, p. 4)) consideram a Administração Esportiva como sendo o conjunto de “todas as pessoas, atividades, negócios e organizações envolvidos em produzir, auxiliar, promover ou organizar produtos esportivos, de fitness e de recreação”.

Por sua vez, e numa perspectiva mais específica, Hatzidakis (2012, p.10) compreende gestão esportiva como sendo a

Gerência/administração/direção ética e responsável de uma empresa, entidade, órgão, ou negócio, ligados à prática esportiva que visa a cumprir ou superar metas estabelecidas por Planejamento, sendo efetuada por um Dirigente Profissional ou não, remunerado ou não. Em uma definição concisa e contemporânea, Rocha e Bastos (2011, p.94) afirmam que a gestão do esporte pode ser entendida, basicamente, como a “aplicação dos princípios de gestão a organizações esportivas”. Conforme mencionado, os termos esporte/esportiva – das expressões gestão do esporte, gestão esportiva e similares – devem ser compreendidos em um sentido mais amplo e não restrito às práticas esportivas, pois contemplam também as atividades e exercícios físicos,

fitness, lazer e recreação (PITTS; STOTLAR, 2002; ROCHA;

BASTOS, 2011).

Ainda em termos de conceitos, além da nítida conexão entre os princípios da Administração e o contexto esportivo, a gestão do esporte

conflui outros distintos saberes, o que a faz ser compreendida como um campo de conhecimento e intervenção multidisciplinar (PIRES; SARMENTO, 2001; BASTOS, 2003; FERRAZ, et al., 2010; BASTOS; MAZZEI, 2012).

Ao contrário do que ocorre em outros países, no contexto brasileiro o próprio enquadramento conceitual da área não está ainda bem estabelecido, existindo divergências entre estudiosos que consideram a gestão do esporte como um campo dependente de outras áreas – como a ciência dos esportes e a administração, por exemplo. Por outro lado, outros autores a compreendem como uma área de estudos independente, que possuiria literatura, teorias e práticas próprias. Em países da Europa, Ásia e nos EUA a gestão esportiva tem sido considerada uma área de formação específica, inclusive com cursos de graduação e pós-graduação (mestrados e doutorados) desenvolvidos exclusivamente para a formação de profissionais que desejam atuar com a gestão do esporte (BASTOS; MAZZEI, 2012).

No Brasil, por outro lado, este campo de conhecimento tem sido explorado, basicamente, em cursos de formação em Educação Física que oferecem algumas disciplinas ligadas à gestão esportiva (gestão esportiva e marketing esportivo, por exemplo) e também em cursos de Administração (nestes, porém, o enfoque não costuma ter predominância sobre a realidade das organizações esportivas). Cursos de especialização lato sensu na área da gestão do esporte também são observados e podem ser realizados, tanto presencialmente como na modalidade à distância.

Mais recentemente – a partir de 1999 e concomitantemente à confirmação do Brasil como sede de megaeventos esportivos – surgiram cursos específicos de formação, em nível tecnológico, em gestão do esporte. Em 2009 teve início o primeiro curso de bacharelado em gestão desportiva e do lazer no país, na Universidade Federal do Paraná, campus do litoral/Matinhos (MAZZEI; AMAYA; BASTOS, 2012).

Seja nos cursos de formação em gestão do esporte ou em disciplinas de cursos de graduação em Educação Física ou Administração, percebe-se que a formação de gestores esportivos brasileiros, de modo geral, é realizada de maneira heterogênea/diversificada (BARHUM apud MAZZEI; AMAYA; BASTOS, 2012; MONTAGNER; SCAGLIA; AMAYA, 2012; MAZZEI; AMAYA; BASTOS, 2012), o que pode ser reflexo, também, da falta de conhecimentos sobre a área e sobre o que é realmente

necessário e importante ao desempenho profissional de gestores esportivos (ROCHA; BASTOS, 2011).

Como área de intervenção profissional, a gestão de organizações esportivas tem sido desempenhada desde a criação das primeiras entidades de prática e organização do esporte no Brasil (como clubes, associações, federações, confederações). Na atualidade, entretanto, esta atuação profissional – relacionada à gestão das organizações – tem sido bastante questionada e considerada, por estudiosos e especialistas da área, como amadora e ineficiente (AZEVÊDO; BARROS; SUAIDEN, 2004; AZEVÊDO; BARROS, 2004; BASTOS et al, 2006; MACIEL, 2009; MARONI; MENDES; BASTOS, 2010). São raras as organizações esportivas, no contexto nacional, que desempenham uma administração considerada eficiente e exemplar (BASTOS; MAZZEI, 2012).

Esta realidade, de ineficiência e amadorismo na gestão do esporte, possivelmente está relacionada à qualificação dos gestores atuantes nas organizações esportivas brasileiras e, paralelamente, à formação que estes mesmos profissionais possuem – muitos, na realidade, não possuem formação superior alguma. Frente ao exposto, a necessidade de aprimorar a formação e a qualificação profissional do atual gestor esportivo brasileiro é ponto convergente e pujante na literatura sobre o tema (CAPINUSSÚ, 2002; BASTOS, 2003; COSTA; MARINHO 2005; VALENTE; SERAFIM, 2006; VIEIRA; STUCCHI, 2007; AZEVEDO, 2009; FERRAZ et al, 2010).

O profissional que desempenha as suas funções neste contexto de intervenção – o gestor esportivo ou o gestor do esporte – atua basicamente em qualquer organização/estrutura administrativa que exista em função da atividade física, esportiva, de lazer e tenha como objetivo o desenvolvimento das mesmas (BASTOS, 2003; VIEIRA; STUCCHI, 2007). Algumas possibilidades de atuação deste profissional são clubes, academias de ginástica, ligas, federações, confederações, instituições de administração pública e empresas privadas, com ou sem fins lucrativos.

Dentro dessas instituições tais profissionais podem assumir diferentes cargos, como diretores, gerentes, gestores de eventos, de produto, de recursos humanos, e da área de marketing, consultores e até investigadores (PIRES; SARMENTO, 2001; VIEIRA; STUCCHI, 2007; FERRAZ et al, 2010; ROCHA; BASTOS, 2011).

Considera-se gestor esportivo o indivíduo que desenvolve atividades administrativas em organizações esportivas,

independentemente, segundo Bastos e Mazzei (2012), se está situado no vértice estratégico (presidência) ou no nível intermediário de administração de uma organização (gerência, supervisão, direção, etc.). Para Hatzidakis (2012) também não importa se o indivíduo é remunerado, ou não, pela atividade que desenvolve. Gestor esportivo é aquele que administra/gere organizações esportivas.

As atividades desenvolvidas por gestores esportivos variam de acordo com o contexto esportivo ao qual está inserido e, também, quanto à posição hierárquica que ocupam dentro das organizações. Muitas vezes, apresentam aspectos semelhantes ao administrador de empresas, convencionais/não-esportivas, atuando com a gestão financeira, de recursos humanos, de marketing e com planejamento estratégico das organizações, por exemplo. Outras vezes – dentro da peculiaridade do contexto esportivo – atuam no desenvolvimento de atividades relacionadas à gestão de eventos e competições esportivas, instalações e programas para a prática de esportes e captação de patrocínios (HORCH; SCHUTTE, 2003; BASTOS; MAZZEI, 2012).

Pesquisas sobre o perfil do gestor esportivo brasileiro têm encontrado profissionais com variadas formações. Embora possam ser identificados profissionais sem formação superior alguma, os estudos apontam uma predominância de profissionais com formação nas áreas da Educação Física/Esportes – predominantemente – e Administração (AZEVÊDO; BARROS, 2004; SARMENTO, 2005; BASTOS et al, 2006; MACIEL, 2009; MARONI; MENDES; BASTOS, 2010).

Sob a perspectiva da gestão do esporte enquanto área de estudo e investigação, tem sido observada certa evolução se comparada a um passado recente. Observa-se um aumento do interesse da comunidade acadêmica sobre a temática, demonstrado pelo crescente número de publicações, pesquisadores, grupos de pesquisa e meios de difusão do conhecimento produzido. Todavia, diante dos números de países Europeus e dos EUA, o desenvolvimento brasileiro da gestão do esporte é considerado modesto. Trata-se de uma área em fase de consolidação e que ainda está longe do ideal nível de desenvolvimento, mas que atravessa um momento em que reais perspectivas são estabelecidas, o que pode contribuir decisivamente para a progressão do campo nos próximos anos. (BASTOS; MAZZEI, 2012).

Comprovando esta evolução – embora ainda incipiente – observa-se recentemente a criação de um curso de mestrado em Administração/Gestão do Esporte na Universidade Nove de Julho e, na mesma instituição, a editoração de uma revista científica voltada à

temática da gestão do esporte – a revista Podium: sport, leisure and tourism review.

Ações e iniciativas como estas, aliadas à realização de congressos científicos, consolidação das organizações/associações profissionais – como a ABRAGESP (Associação Brasileira de Gestão do Esporte) – e a publicação de livros sobre a temática, fortalecem a área e são indicadores do desenvolvimento da gestão esportiva no contexto brasileiro (BASTOS; MAZZEI, 2012).

Como visto nesta seção, a gestão do esporte no Brasil passa por um momento potencialmente decisivo e relevante ao seu desenvolvimento. Suas diferentes facetas – atuação profissional, formação, pesquisas, área de conhecimento, etc. – têm recebido crescente interesse, acadêmico e social e certa evolução da área é notada. Não obstante, é um campo que ainda está longe de um nível de desenvolvimento ideal, demonstrando, portanto, oportunidades de crescimento teórico e prático para área.