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Tem atividades que são excluídos/as

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ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

4.1. OS SENTIDOS E SIGNIFICADOS DO ENSINO DA ARTE PARA ESTUDANTES Neste tópico, apresentam-se os núcleos de significações dos sentidos e significados

4.1.2. Tem atividades que são excluídos/as

Este núcleo trata dos sentidos e significados do ensino da arte para os/as estudantes, os relatos apresentam os que não gostam deste ensino, expressas da seguinte maneira pelos/as estudantes:

Danilo: ―E Como assim? De... Gosto, gosto, de... de tudo‖; Fábio ―De arte, bom. Da arte é... eu pinto, eu pinto quadro‖; Ian: ―Não falar coisa indecente‖; Kauan: ―Não fazer coisa errada, não fazer... não pode fazer‖; Mara/Ester: ―Gosto de tudo‖; Marcos: ―Gosto de tudo de lá‖; Pedro: ― não pode mexer‖; Ramon: ―Eu não gosto de fofoca, de fuxico, de bagunça na escola‖; Lúcio/Vitória: ―Não. Assim não. Nunca percebi, gosto de tudo‖; Cristina/Joana: ―O que eu não gosto? Deixa dançar, não‖.

Em relação à fala da estudante Cristina, sua mãe Joana relatou: ―ela já chegou aqui agoniada porque ela queria dançar acho que na quadrilha e chegou até reclamando que diz que ninguém dos coleguinhas quis dançar com ela, ninguém no colégio e como de fato ela não dançou‖. E completa Joana: ―No ano passado, o último evento agora acho que foi um festival de música, de dança, não sei o que foi lá. Aí eu liguei, aí a moça disse que era bom até eu levar ela porque ia ser encerrada as atividades lá, as três (03) horas da tarde que o evento ia ser no mesmo dia e que eles já tinham escolhido pouquíssimos alunos, uns pra desfilar, outros para apresentar. De modo que ela também não foi, entendeu! Aí, assim, ela nunca foi inclusa nesta parte aí não‖.

Diante das falas, observou-se que o ensino da arte nas suas diversas linguagens é apreciado/a pelos/as estudantes. Contudo, em relação ao conjunto das atividades que a escola realiza, destaca-se o que aponta Joana, mãe da estudante Cristina, ao relatar que a escola precisa rever sua postura diante das políticas de inclusão, uma vez que a fala remete que também há exclusões nas aulas de arte, especificamente, para aqueles com maiores comprometimentos em relação a sua deficiência.

Neste sentido, conforme a fala da mãe a respeito do sentimento de exclusão, as políticas públicas na Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) no capítulo II da Igualdade e não Discriminação aponta que:

Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação. § 1º Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas. § 2º A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de benefícios decorrentes de ação afirmativa. Art. 5º A pessoa com deficiência será protegida de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou degradante. Art. 8º É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico.

Diante ao que aponta o Estatuto da Pessoa com Deficiência, constata-se que estas garantias só se efetivarão com a mobilização da sociedade civil organizada, uma vez que, o desrespeito à pessoa com deficiência é uma realidade, como ressaltou uma das mães, que há exclusão no ensino da arte, principalmente, com os/as estudantes com uma deficiência de maior comprometimento. Nessa direção, fica evidenciado pelas falas da mãe, que o/a estudante com deficiência na prática exerce o direito de se matricular e frequentar a escola, desde que sua participação nas atividades pedagógicas não interfira na organização interna das programações da escola.

Assim, ter uma deficiência é um empecilho no processo de inclusão em muitas atividades realizadas nas escolas. Nesse sentido, afirma Mantoan (2003), que as escolas na prática ―estão montadas a partir de um pensamento que recorta a realidade, que permite dividir os alunos em normais e deficientes, os professores em especialistas nesta e naquela manifestação das diferenças‖ (p.13). Portanto, a escola, na perspectiva inclusiva, não cumpre seu papel quando ―ignora o subjetivo, o afetivo, o criador, sem os quais conseguimos romper com o velho modelo escolar para produzir a reviravolta que a inclusão impõe‖ (MANTOAN, 2003, p.14).

Nessa direção, na luta pelo acesso e permanência do/a estudante com deficiência, nas escolas, se faz necessário, de acordo com Maciel e Barbato (2015):

[...] uma mudança paradigmática, um deslocamento da ótica da falta para o potencial. Significa potencializar suas habilidades em detrimento de focalizar ou exaltar suas dificuldades. Vigotski (1989) afirmava que a educação para as crianças com deficiência deveria basear-se em suas características positivas, em suas habilidades, em vez de pautar-se nos aspectos mais deficitários, na medida em que a criança deficiente é aquela que apresenta um desenvolvimento apenas diferente dos outros e não a que se desenvolve menos. Portanto, é um novo olhar que confronta práticas baseadas em um modelo clínico no qual o aluno que difere dos demais é diagnosticado, rotulado e encaminhado a tratamentos específicos para o desenvolvimento de formas esperadas de ação em vez de se valorizar o seu próprio modo de fazer (p. 266-267).

Assim, ―a deficiência deve ser enfocada como um processo de desenvolvimento e não vinculada aos processos patológicos, deste modo considera que a criança deficiente não é menos desenvolvida ou incapaz, mas simplesmente se desenvolve de maneira diferente‖, como assegura Vygotsky (1989, p.7).

Desse modo, tem-se ciência que a escola regular tem muito que avançar no processo de inclusão, partindo do olhar que tem dos/as estudantes com deficiências, marcada ainda, por uma sociedade com preconceitos com estes/as estudantes. Outro ponto, a sociedade civil organizada deve-se continuar a luta pelos direitos dos/as estudantes com deficiência, por uma escola que tenha espaços físicos adequados, que está diretamente interligado à questão da acessibilidade, contratação de profissionais especializados/as, especialmente da arte-educação, como a garantia de formação continuada e dos recursos materiais pedagógicos.

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