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Gostam da escola, mas alguns, gostam mais do AEE e da APAE

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ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

4.1. OS SENTIDOS E SIGNIFICADOS DO ENSINO DA ARTE PARA ESTUDANTES Neste tópico, apresentam-se os núcleos de significações dos sentidos e significados

4.1.3. Gostam da escola, mas alguns, gostam mais do AEE e da APAE

Este núcleo analisa os sentidos e significados atribuídos pelos/as estudantes sobre a escola onde estudam. Seguem as falas:

Cristina/Joana: ―Gosto, escrever‖; Danilo: ―Gosto, gosto de faltar não‖; Fábio: ―Escola? Gosto‖; Ian: ―Gosto sim‖; Kauan: ―Gosto bastante‖; Marcos: ―A gente gosta, que a gente se sente em casa. Se a escola tiver um lado nosso tudo bem. Agora se não tiver, não adianta nada‖; Pedro: ―Sim, gosto de ir a escola‖; Ramon: ―Gosto muito demais, gosto dos professores, gosto da tia‖; Mara/Ester: ―Urrum‖. E completa a mãe: ―Ela gosta de tudo. Ela gosta de participar das apresentações do colégio, quer dizer, ela gosta mais do AEE‖.

Por outro lado, o estudante Lúcio/Vitória relatou: ―A escola! Não.‖. Sobre a resposta de Lúcio, sua mãe, falou: ―Quase! não sei se é porque mudou a professora. Já batalhei muito ano passado para ter uma assistente para ele, né! Aí consegui, aí agora a assistente saiu de novo; ―Aí quando ele não quer ir pro regular, eu não vou, não levo‖; ―Aí

a professora falou: não Vitória, então eu vou deixar ele em dois períodos no AEE. Duas vezes por semana, que era só uma. Aí aumentou para ele, que ele gosta mais de está lá e aqui na APAE‖. Nessa direção, falou ainda o estudante Lúcio/Vitória: ―prefiro o AEE e a salinha de atendimento da APAE. O regular por causa dos olhares maldosos... devido muito barulho de criança, né! Gosto de ficar mais é só‖; ―No atendimento do AEE. Gosto de massinha, gosto de dançar, gosto de pintar. Gosto de preto, só pinto de preto‖.

As falas, por um lado, apontam que os/as estudantes gostam das aulas de artes e da escola, por outro, desvelam que preferem o atendimento realizado no atendimento educacional especializado (AEE) ou na Associação de Pais e Amigos dos Especiais (APAE).

Em relação ao AEE e APAE, neste atendimento o/a estudante expressou que sente- se mais valorizado, mais livre e pode se expressar sem os pejoros da sala do ensino regular. Neste sentido, tem-se ciência que os AEEs são espaços exclusivos para pessoas com deficiências, neste ponto, os/as estudantes se sentem pertencentes a um ambiente comum a eles, com os mesmos desafios em relação a suas deficiências, aos cuidados e à educação. Vale ressaltar que esses espaços tanto incluem, quanto excluem as pessoas com deficiências. Como também a APAE que oferece atendimento (educação, saúde e esporte) às pessoas com deficiência, ela também os/as mantém segregados/as da verdadeira inclusão instituída pelas políticas públicas do país.

Assim, constata-se a contradição entre o aparato legal e a proposta de equidade das políticas inclusivas e a existência de espaços excludentes e segregativos (AEEs/APAEs) que isolam as pessoas com deficiência do convívio com outros/as estudantes da rede regular do ensino (MANTOAN, 2003).

Neste sentido, não podemos deixar de refletir sobre a prática educacional no que se refere à educação inclusiva. Neste ponto, as políticas de inclusão no Brasil são muitas, porém, estes aparatos de leis que existem para garantir o acesso igualitário do/a estudante com deficiência ao sistema de ensino, na prática vivenciada, não asseguram um atendimento inclusivo, preocupado com a aprendizagem do/a estudante e sua relação com a sociedade no mesmo patamar de direitos. Deste modo, Mantoan (2003) aponta que:

A exclusão escolar manifesta-se das mais diversas e perversas maneiras, e quase sempre o que está em jogo é a ignorância do aluno diante dos padrões de cientificidade do saber escolar. Ocorre que a escola se democratizou abrindo-se a novos grupos sociais, mas não aos novos conhecimentos. Exclui, então, os que ignoram o conhecimento que ela valoriza e, assim, entende que a democratização é massificação de ensino e não cria a possibilidade de diálogo entre diferentes lugares epistemológicos, não se abre a novos conhecimentos que não couberam, até então, dentro dela (p. 13).

Nessa direção, ainda para Mantoan (2003):

Estou convicta de que todos nós, professores, sabemos que é preciso expulsar a exclusão de nossas escolas e mesmo de fora delas e que os desafios são necessários, a fim de que possamos avançar, progredir, evoluir em nossos empreendimentos. É fácil receber os ―alunos que aprendem apesar da escola‖ e é mais fácil ainda encaminhar, para as classes e escolas especiais, os que têm dificuldades de aprendizagem e, sendo ou não deficientes, para os programas de reforço e aceleração. Por meio dessas válvulas de escape, continuamos a discriminar os alunos que não damos conta de ensinar. Estamos habituados a repassar nossos problemas para outros colegas, os ―especializados‖ e, assim, não recai sobre nossos ombros o peso de nossas limitações profissionais (p. 18).

Sobre as falas do direito dos/as estudantes com deficiência, de ter uma assistente no seu processo de ensino e aprendizagem, a dificuldade relatada pela mãe desvela o que aponta Mantoan (2003) sobre as mudanças e os caminhos da educação brasileira que ―continuam mantendo um distanciamento das verdadeiras questões que levam à exclusão escolar‖ (p. 26). Assim, a inclusão permanece no discurso, e a escola continua a excluir aqueles chamados de ―especiais‖ pelas suas deficiências ou outras diferenciações. Contudo, tem-se ciência que a presença de um profissional de apoio escolar é direito que está assegurado pelo estatuto da Pessoa com Deficiência. Nesta direção, diante desta lei, a mãe tem direito de exigir este profissional às autoridades competentes, como determina o inciso XIII do Artigo 3° da Lei n° 13.146/2015, que versa:

XIII - profissional de apoio escolar: pessoa que exerce atividades de alimentação, higiene e locomoção do estudante com deficiência e atua em todas as atividades escolares nas quais se fizer necessária, em todos os níveis e modalidades de ensino, em instituições públicas e privadas, excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados com profissões legalmente estabelecidas (BRASIL, 2015).

Assim, parte da constatação que o Estatuto da Pessoa Com Deficiência é um instrumento legal com o propósito de garantir direitos fundamentais para as pessoas com deficiência em relação à sociedade e seu convívio social, em busca da igualdade de direitos, sem qualquer tipo de preconceito e exclusão. Contudo, é preciso que sua prática seja efetivada para que as pessoas com deficiência não se sintam inferiorizadas e excluídas.

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