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ATRAVÉS DO USO DA NUCLEAÇÃO

No documento SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA (páginas 101-103)

Fernando Campanhã Bechara

1 Professor Dr. da Coordenação de Engenharia Florestal da Universidade Tecnológica Federal do Paraná,

Campus Dois Vizinhos, Estrada para Boa Esperança km 4, 85660-000, CP 157, e-mail: bechara@utfpr.edu.br

INTRODUÇÃO

A restauração ecológica objetiva recriar comunidades ecologicamente viáveis, protegendo e fomentando a capacidade natural de mudança dos ecossistemas (Engel & Parrota, 2003). Brasil (2000) definiu restauração como: “restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original”. Reis et al. (2003) discutiram que auxiliar a restituição de ecossistemas degradados representa um desafio em iniciar um processo de sucessão o mais semelhante possível aos processos naturais, formando comunidades que tendam a uma estabilização o mais rapidamente possível.

O processo de nucleação delineado por Yarranton & Morrison (1974) descreveu a dinâmica espacial da sucessão primária em dunas canadenses. Os autores colocaram que, primeiramente, foi formada uma vegetação campestre com arvoretas esparsas de Juniperus spp. L. (Cupressaceae). Debaixo do microclima proporcionado por estas arvoretas rústicas, se instalaram núcleos de uma série de espécies herbáceas efêmeras e colonizadoras - Carex sp. L. (Cyperaceae), Poa sp. L. (Poaceae) e Smilacina sp. Desf. (Liliaceae), formando uma camada de húmus. Nesta camada rica, principalmente, em matéria orgânica e potássio, esquilos enterravam sementes de Quercus spp. L. (carvalho; Fagaceae), espécie arbórea de grande porte e de final de sucessão, a qual se desenvolvia heterogeneamente, dominando as arvoretas de Juniperus spp. e as outras colonizadoras, que passaram a ter suas populações reduzidas em núcleos. Nestes núcleos, passaram a se estabelecer muitas outras espécies de final de sucessão, como por exemplo, Prunus sp. L. (Rosaceae), Shepherdia sp. Nutt. (Elaegnaceae) e Symphoricarpos Kunth (Caprifoliaceae). Portanto, a vegetação de dunas principiou com um estágio campestre com núcleos esparsos de Juniperus spp. e espécies herbáceas agregadas, passou para um estágio intermediário com o desenvolvimento de núcleos de Quercus spp. que, mais tarde, culminaram na formação de florestas longevas de carvalho e seu sub-bosque associado, em áreas mais distantes do mar.

Reis et al. (2003) e Bechara (2003) inspiraram-se no processo de nucleação (Yarranton & Morrison, 1974; Franks, 2003) e simularam os mecanismos ecológicos descritos por aqueles autores instituindo as técnicas de nucleação para restauração ambiental. Estas visam formar microhabitats em núcleos propícios para a chegada de uma série de espécies de todas as formas de vida, que num processo de aceleração da sucessão natural, irradiam diversidade por toda a área (Reis & Tres, 2007).

A restauração através da nucleação de biodiversidade é caracterizada por diversas técnicas que são implantadas, nunca em área total, mas sempre em núcleos. Além disso, as diferentes técnicas são idealmente implantadas ao mesmo tempo, e não isoladamente, intentando restituir a heterogeneidade ambiental. Cada uma das técnicas de nucleação possui diversos efeitos funcionais e particularidades que, em conjunto,

abrangem vários fatores de ecologia básica para a promoção da sucessão, contribuindo para um aumento de energia e biodiversidade sobre o ambiente degradado. Quanto maior a diversidade de núcleos, maior será a efetividade das técnicas (Reis et al., 2003). Este trabalho pretende ilustrar as potencialidades do seguinte conjunto de técnicas de nucleação: 1) abrigos artificiais; 2) cobertura de solo com espécies herbáceo- arbustivas; 3) transposição de solo; 4) transposição de mudas germinadas de chuva de sementes; 5) poleiros artificiais; e 6) plantio de árvores em grupos de Anderson. O conjunto de técnicas foi aplicado em diferentes áreas-piloto, denominadas “unidades demonstrativas”, servindo como modelo para a restauração ecológica de diversas fitofisionomias (Bechara et al., 2007a)

DESENVOLVIMENTO

Os ecossistemas possuem diferentes níveis de resiliência, isto é, diferentes velocidades com que as variáveis retornam ao equilíbrio após um distúrbio (Pimm, 1991). Só uma rápida re-introdução de composição florística pode não ser suficiente para que os processos ecológicos as tornem operantes ao longo prazo, sendo que é necessário compreender e incorporar os processos ecológicos externos à área em restauração (Parker, 1997). Considerando o atual estágio de desenvolvimento das ciências ambientais emerge uma indagação: será que o homem saberia reconstruir uma comunidade natural original? Bascompte et al. (2006), ilustram a complexa teia alimentar de uma comunidade natural de plantas e os seus respectivos dispersores de sementes.

Seria pretensioso imaginar que, com nossa engenharia, saberíamos restabelecer fielmente ou mesmo aproximar-se de toda uma intrincada rede de interações interespecíficas que compõe as comunidades naturais. Por conseguinte, cabe ao homem promover “gatilhos ecológicos” que disparem e propulsem a sucessão natural e o potencial de auto-regeneração das comunidades. Para isso, é essencial gerar conectância (Williams & Martinez, 2000) entre os diversos níveis tróficos, oferecendo a essência da vida - alimento, abrigo e reprodução - a fim de ocasionar a presença de produtores, consumidores e decompositores, biomassa e recicladores, grãos de pólen e polinizadores, sementes e dispersores. Quanto maior a probabilidade de interações interespecíficas (Hurlbert, 1971) na área em restauração maior será a propulsão da sucessão (Reis & Kageyama, 2003).

A diversidade fundada de modo espontâneo é estabelecida com um fluxo gênico associado aos remanescentes vizinhos. Grande parte das áreas rurais possui paisagens com vários pequenos remanescentes naturais entremeados numa matriz agrícola, permeável para alguns grupos biológicos. Daí decorre o alto potencial de regeneração natural de muitas fazendas, que geralmente é subestimado pelos empreendedores de projetos de restauração e que, muitas vezes, são encaradas como áreas “sujas” que devem ser previamente “limpas”. Por outro lado, é claro que não se deve negligenciar o fato de que muitas áreas degradadas necessitam da intervenção humana para a sua restituição. Mas é preciso frisar que a intervenção humana deverá servir apenas para acelerar os processos naturais de auto-renovação, e não, substituir estes pela imposição de um modelo artificial, sob altas taxas de insumos agrícolas. A restituição ambiental através da regeneração natural pode, efetivamente, proporcionar o estabelecimento de

Sistemas de Produção Agropecuária - Ano 2008

alta diversidade de espécies e formas de vida (Guariguata et al., 1997; Toriola et al., 1998; Aide et al., 2000; Uhl et al., 2006), compondo uma gama de estratos vegetais em forma de mosaico e conduzindo o sistema, de modo gradativo, para fases serais cada vez mais avançadas. Gatti (2000), numa avaliação da regeneração natural em pastagem no Estado do Paraná, registrou após seis anos, 263 espécies distribuídas entre: ervas terrícolas, árvores, arbustos, trepadoras, hemiparasitas, hemiepífitas, epifítas vasculares e fetos arborescentes.

Técnicas de nucleação foram implantadas em áreas piloto de um hectare, denominadas “Unidades Demonstrativas” - UDs (Bechara, 2006). A UD1 está localizada no sudeste do Estado de São Paulo, Município de Capão Bonito

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(coordenadas centrais 23 55'29”S e 48 19'32”W), onde predomina Latossolo Vermelho e chuvas relativamente bem distribuídas, apesar de haver déficit hídrico nos meses de

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abril e agosto, com temperatura média de 20 C (ESALQ, 2006). A UD2 está centrada em Santa Rita do Passa Quatro, nordeste do Estado de São Paulo (coordenadas centrais

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21 37'19”S e 47 33'08”W) onde predomina Latossolo Vermelho-Amarelo de textura arenosa fina, período de estiagem com déficit hídrico de abril a setembro e temperatura

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média de 21 C (ESALQ, 2006). A UD3 situa-se em Florianópolis-SC (entre as

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coordenadas 27 27'00'' - 27 35'00''S e 48 18'00'' - 48 30'00''W) onde prevalece solo de textura arenosa, chuvas distribuídas uniformemente durante o ano, sem déficit hídrico e

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temperatura média de 20 C (Santa Catarina, 1986). As UDs foram montadas, substituindo plantações adultas de Eucalyptus sp. L'Hér (fazendas da Votorantim Celulose e Papel) em domínio de Floresta Estacional Semidecidual com influência de Floresta Ombrófila Mista (UD1) e Cerrado (UD2), e suprindo plantação de Pinus sp. L. (Parque Florestal do Rio Vermelho - CIDASC), em Restinga (UD3). A seguir são discorridas as técnicas nucleadoras de biodiversidade que foram implantadas.

No documento SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA (páginas 101-103)