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CRUZAMENTO E UTILIZAÇÃO DE COMPOSTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE

No documento SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA (páginas 145-150)

Classificação Zoológica Filo: Chordata

CRUZAMENTO E UTILIZAÇÃO DE COMPOSTOS EM BOVINOCULTURA DE CORTE

O uso do cruzamento em bovinos fornece ganhos em produtividade que são bem conhecidos e comprovados, principalmente pelo fenômeno da heterose ou choque sangüíneo entre indivíduos com diferença genética. Quanto maior for a diferença genética entre indivíduos ou raças maior será a heterose. Por isso o efeito da heterose será maior em um cruzamento envolvendo raças Bos taurus x Bos indicus do que entre duas raças européias. Existem alguns caminhos para se explorar as diferenças entre as raças. Um deles é o cruzamento entre raças para a formação de um pool genético que possua uma mistura, um equilíbrio, de características desejáveis somada a heterose oriunda do cruzamento entre raças e entre os animais compostos para o estabelecimento de “novas raças”. Está sendo quebrado um dogma, no qual se acredita que os animais compostos perdem nas primeiras gerações o efeito inicial da heterose. Estudos recentes, principalmente, provenientes do grupo dos professores Cundiff, L.V. e Koch, R.M. do USDA Meat Animal Research Center (MARC) em Clay Center-Nebraska- EUA (Cundiff et al., 2000; Cundiff et al., 2001; Cundiff et al., 2004), mostram que o efeito da heterose diminui com o cruzamento dos compostos da primeira geração, porém há grande percentagem (ao redor de 50%) de heterose retida, permanecendo assim o efeito da heterose por diversas gerações em animais compostos. Se forem utilizadas 4 raças para a formação do composto a heterose retida pode chegar a 75%. Esse grupo começou a formar bovinos compostos modernos no final dos anos 70, combinando raças britânicas com européias. Cundiff et al. (2000; 2001 e 2004), com 30 anos de pesquisa nessa área, mostram que compostos são mais produtivos que as respectivas raças formadoras.

RAÇAS

importância o conhecimento sobre a origem e características de cada raça. É importante ressaltar que acreditamos que não existe a raça perfeita ou cruzamento ideal. Por que a escolha da raça ou o tipo de cruzamento vai depender muito do perfil da fazenda, em que clima está situada, tipo de manejo e que tipo de produto se quer produzir. Outro ponto, é que antes de se discutir raças o criador ou técnico deve buscar animais superiores dentro das raças, ou seja, animais ruins fornecerão resultados insatisfatórios independente da raça a que pertençam. Animais de qualidade ou não, existem em qualquer raça, e a escolha e seleção de boas fêmeas e machos é essencial.

É sempre indicado utilizar raças maternas cruzadas com raças paternas. Pois as fêmeas são o segredo da produção pecuária. Essas devem ficar prenhas todo o ano e desmamar bezerros pesados. Só assim será alcançado um ótimo nível de Kg de bezerro desmamado por hectare ano. Para que isso aconteça temos que ter fêmeas, criadas a pasto, com tamanho médio (450Kg, peso adulto ao parto) desmamando bezerros com metade deste peso, fornecendo uma eficiência materna de 50%.

Características gerais de raças maternas: precocidade, fertilidade, habilidade materna, tamanho médio e adaptação ao meio.

Raças: Zebuínas, Senepol, Caracu, Britânicas e seus compostos, Simental e Pardo-Suiço.

Características gerais de raças paternas: alta conversão alimentar, ótima qualidade de carcaça e de carne, alto potencial de crescimento, grande volume muscular.

Raças: Continentais de grande porte, continentais de dupla musculatura e as britânicas: Angus e Hereford.

Faremos um breve relato do perfil dos grupos genéticos existentes sem entrar em detalhes de cada raça. Sempre é importante conhecer de que região do planeta é oriunda a raça, pois isso ajuda bastante na compreensão e conhecimento em relação à adaptação aos diferentes climas e regiões do Brasil.

Zebuínas: Originadas na índia, tendo como principais representantes no

Brasil o Nelore, o Guzerá e o Gir. A raça Nelore é a mais importante, atualmente. Vantagens: Adaptação ao meio tropical e rústicas para os sistema extensivos de criação predominantes no Brasil; facilidade de parto; longevidade; bezerros leves ao nascer; pouco infestação de ectoparasitos, principalmente carrapatos; facilidade para depositar gordura subcutânea (importante para o acabamento de carcaça), boa habilidade e eficiência materna.

Desvantagens: Qualidade de carne inferior, temperamento sangüíneo a nervoso, menos precoces sexualmente, menos produtivos geralmente em regimes intensivos de produção.

Zebuínas Compostas: São raças zebuínas que foram desenvolvidas a partir de

raças indianas puras já no continente americano. Representantes mais importantes: Brahman (Americano), Tabapuã e o Indubrasil (Brasileiros). As características gerais são semelhantes ao zebuínos puros.

Britânicas: Européias, originadas das ilhas britânicas, tendo como principais

representantes no Brasil o Aberdeen Angus, o Hereford e o Devon.

Vantagens: apresentam alta precocidade sexual e de carcaça, ótima habilidade e eficiência materna, carne da altíssima qualidade.

Sistemas de Produção Agropecuária - Ano 2008

Desvantagens: pouca adaptação ao clima e a manejos mais extensivos em fazendas com clima tropical. Altas infestações de ectoparasitos, especialmente o carrapato. Tamanho pequeno a médio, com isso, para produção de carcaças mais pesadas que o mercado exige, necessita engordar mais até a terminação, o que baixa a conversão alimentar.

Continentais de Grande Porte: Européias, originadas no continente europeu,

por isso conhecidas também como européias continentais. As raças mais representativas no Brasil são o Charolês (Francesa), o Marchigiana e o Chianina (Italianas).

Vantagens: grande comprimento e largura corporal, com grandes massas musculares, excelentes para regimes intensivos de criação, alto ganho de peso, bom rendimento de carcaça.

Desvantagens: alta exigência nutricional, baixa eficiência e habilidade materna, dificuldade de acabamento de carcaça, alto peso ao nascer, bastante susceptíveis aos carrapatos, pouca adaptação ao clima tropical. Sendo que as raças italianas se adaptam bem ao clima tropical. O Charolês no cruzamento com novilhas zebuínas pode inferir em aumento nos níveis de parto distócicos.

Continentais de Dupla Musculatura: Européias, originadas no continente

europeu, sendo as mais expressivas no Brasil o Limousin, Blonde D´Aquitaine e o Piemontês. Essas raças não possuem o gene da miostatina; uma proteína que inibe o crescimento muscular. Por isso elas desenvolvem hipertrofia dos seus músculos e apresentam grandes massas musculares.

Vantagens: São as raças que apresentam o maior rendimento de carcaça, pois apresentam menos profundidade, ossos finos e grandes massas musculares. O piemontês e o Blonde se adaptam bem ao clima tropical.

Desvantagens: Dificuldade de acabamento de carcaça e de forma geral baixa habilidade e eficiência materna. Muito suscetíveis á ectoparasitas.

Taurinos adaptados: De forma geral são taurinos que tiveram a sua evolução

na áfrica. Como principais raças no Brasil temos o Caracu, o Senepol e o Bonsmara. O Caracu é considerado uma raça nacional pois chegou ao Brasil logo após o descobrimento. Mas a sua adaptação não vem disso, mas sim, devido a sua origem que é da península Ibérica (Portugal e Espanha). O árabes quando invadiram a Europa, trouxeram consigo esses animais que já existiam na áfrica. Daí a fantástica adaptação que o Caracu tem em climas tropicais. Lembrando que essas raças são 100% taurinas. O Senepol é originado a partir do Red Poll (Britânico) x N´Dama (taurino africano), nas ilhas de Saint Croix no Caribe, a partir do início do século passado. O Bonsmara é 5/8 Africâner (taurino africano) x 3/8 Hereford/Shorthorn (Britânicas), formado pelo zootecnista Jan Bonsma a apartir de meados do século passado.

Vantagens: Boa qualidade de carne, ótima habilidade e eficiência materna, rústicos a sistemas mais extensivos de criação do Brasil, baixa incidência de ectoparasitos, alta adaptação ao clima tropical.

Desvantagens: menor potencial de ganho de peso, carcaças de menor qualidade. O Senepol é pequeno, isso dificulta a produção de carcaças pesadas que o mercado exige.

Compostos: A finalidade dos compostos é buscar o equilíbrio entre a

temperamento linfático, qualidade de carne doas taurinos. Nesse sentido já foram criados inúmeros compostos com duas ou mais raças, tentando selecionar o que há de melhor das raças formadoras. É bom salientar que no cruzamento, o composto não mantém os níveis da raça que deu origem, no entanto o que se busca é o efeito da heterose e complementariedade que serão discutidos adiante. Formação de alguns compostos.

Santa Gertrudis (5/8 Shorthon x 3/8 Brahman); Brangus (5/8 Angus x 3/8 Brahman); Braford (5/8 Hereford x 3/8 Brahman); Canchim (5/8 Charolês x 3/8 Nelore); Montana (graus variados de sangue de taurinos adaptados, Nelore e Britânicas).

Em um projeto da UTFPR está sendo desenvolvido, desde 2005, o composto Marchangus (1/2 Marchigiana x Angus). A formação dos compostos Marchangus de forma sistematizada e organizada é uma atitude original no mundo. Esperamos aliar e conquistar um equilíbrio entre a carcaça moderna, grande capacidade de crescimento, carne magra, tolerância aos trópicos da raça Marchigiana com as características de qualidade de carne, habilidade materna, fertilidade e precocidade sexual, e de acabamento de carcaça da raça Angus. Formaremos, também, o composto Marchangus Z (56% Angus, 25% Marchigiana e 19% Zebuíno) e o Marchangus-plus (50% de sangue Senepol, 25% de Angus e 25% de Marchigiana). Com a participação do Senepol e do sangue zebuíno contido no Brangus, aumentaremos a adaptação e rusticidade a sistemas de produção mais extensivos e a pecuária típica de clima tropical. O Marchangus Z e o Marchangus-plus serão importantes, em regiões de clima quente no cruzamento com vacas meio sangue zebu/europeu, bem como em base zebuína exclusiva. Porém, a meta essencial dessas duas variações do Marchangus é a estabilização desses compostos, sem a necessidade de utilização de cruzamentos entre raças, tomando como vantagem, a complementariedade de raças e a heterose retida que se tem observado em bovinos compostos.

Esperamos que o Marchangus contribua em diversos países, em variados climas e sistemas de produção no sentido de auxiliar numa bovinocultura de corte produtiva, produzindo carne de qualidade, com alto valor de mercado, com biosegurança e maior adaptação possível ao ecossistema trabalhado.

HETEROSE

Além de combinar características desejáveis das raças envolvidas, o cruzamento racial apresenta como objetivo aproveitar a heterose resultante. Pode-se definir heterose como a superioridade dos mestiços frente a média das raças puras. De maneira matemática a heterose pode ser representada da seguinte forma:

Heterose, % = média dos cruzados – média dos puros X 100 média dos puros

A heterose depende de vários fatores, entre eles podemos destacar: o nível de heterozigose materna e individual, a distância genética das raças envolvidas, freqüências gênicas específicas presentes nos rebanhos e animais utilizados, qual característica está sendo avaliada ou referida e a interação com o ambiente de criação.

Sistemas de Produção Agropecuária - Ano 2008

Koger et al. (1973) foram os que inicialmente mostraram a linearidade entre heterose e heterozigose. Menezes et al. (2004) observaram que a heterose para o peso de músculo na carcaça acompanhou o grau de oscilação da heterozigose individual. A heterose passou de 17,48 na geração 2 (G2) para 25,46% na G3, um aumento de 46%, enquanto que a heterozigose aumentou em 50% (de 50 para 75%). Na G4, o decréscimo de heterozigose da G3 é de 17% (de 75 pára 62,5%) e a queda da heterose foi de 14,5%.

Outro ponto importante a se levar em consideração quando se visa a maximização da heterose é a escolha das raças a serem envolvidas no cruzamento. Peacock et al. (1982) avaliando em confinamento o efeito da heterose individual e materna sobre o GMD do cruzamento entre Angus (A), Brahman (B) e Charolês (C) e retrocruzamento recíproco, verificaram que o GMD dos cruzados foi 9,3% superior aos puros e efeitos direto de heterose foram positivos para todos os cruzados F1, 19,5% para os AB, 9,5% para os BC e 3,8% para os AC. De acordo com Koger (1980), nos cruzamentos em que se utilizam duas raças européias a heterose resultante é, na média, três vezes menor que a obtida no cruzamento de uma raça européia com uma zebuína. Tabela 1 - Heterose para ganho de peso médio diário em cruzamento utilizando diferentes raças

Cruzamentos Aberdeen x Brahman Brahman x Charolês Aberdeen x Charolês Heterose, % 19,5 9,5 3,8

Adaptado de Peacock et al. (1982).

No trabalho de Peacock citado acima a heterose resultante do cruzamento AC foi 5,13% e 2,5 % inferior ao observado no AB ou BC, respectivamente (Tabela 1).

A magnitude da heterose é dependente da característica que está sendo avaliada. De maneira geral, a heterose para características de alta herdabilidade, como o ganho de peso em confinamento, é baixa (Restle et al., 2001). Segundo Gregory et al. (1994) a gordura é a característica que mais varia entre as raças bovinas de corte, e, de acordo com Koger (1980), quanto maior o distanciamento genético entre as raças, maior é o valor esperado de heterose. Já Marshall (1987) ao analisar sete trabalhos de pesquisa concluiu que a percentagem de músculo na carcaça de novilhos é pouco afetada pela heterose, relatando um valor de –0,6%. Segundo Koger (1980), o objetivo básico do cruzamento em bovinos de corte deve ser maximizar a soma dos valores aditivos e os níveis de heterose nas características de importância econômica. O mesmo autor cita que as características que apresentaram maior variabilidade entre as raças envolvidas no cruzamento são as que resultam em maiores valores de heterose. Na Tabela 2 consta a heterose de duas gerações do cruzamento Charolês – Nelore de várias características relacionadas a qualidade da carcaça. Na Tabela 2 constam várias características relacionadas à qualidade da carcaça, observa-se na mesma geração há variação da heterose resultante, de -18,61 a 20,1% na geração 1 e de -45,24 a 12,77% na Segunda.

Tabela 2 – Médias e heterose para características da carcaça, de acordo com o grupo genético e sistema de acasalamento Grupo genético Peso de carcaça quente, kg Rendimento de carcaça quente, % Quebra ao resfriamento, % Espessura de gordura, mm Área de lombo, cm2 Charolês 225 54,2 2,94 1,63 63,1 Nelore 193 56,1 1,68 4,79 52,2 Média puros 209 55,2 2,31 3,21 57,7 1/2C 1/2N 250 56,7 2,08 3,62 68,4 1/2N 1/2C 252 57,2 1,67 3,92 68,4 Média G1 251 57,0 1,88 3,77 68,4 Heterose G1 20,1 3,08 -18,61 17,45 18,5 3/4C 1/4N 235 55,3 1,61 2,46 62,7 3/4N 1/4C 230 56,4 1,61 4,78 64,7 Média G2 232 55,8 1,61 3,62 63,7 Heterose G2 11,5 1,09 -45,24 12,77 10,4

Fonte: Vaz et al. (2001)

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