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Em nível mundial esse sistema foi inicialmente utilizado na Inglaterra em 1955, concebido como uma forma de controlar a erosão hídrica. O avanço das tecnologias da época, com a descoberta do herbicida paraquat pela ICI alavancou o uso desse sistema. No Paraná, o sistema plantio direto foi inicialmente adotado não pela pesquisa, mas por um grupo de agricultores preocupados com o nível de degradação de suas terras, ainda na década de setenta. Dados históricos registram que o plantio direto chegou em 1972, em Rolândia, no norte do Paraná, através do produtor Herbert Bartz, que foi aos Estados Unidos e adquiriu uma máquina Alli Chalmers - específica para o PD, obtendo sucesso com a nova técnica após testes em sua propriedade. Posteriormente o sistema foi difundido em Cornélio Procópio e na região de Campo Mourão. Em seguida, espalhou-se pela região dos Campos Gerais e outras regiões do Paraná e do Brasil, consolidando a adoção desta importante descoberta para a conservação do solo e incremento de produtividade na agricultura mundial.

Inicialmente, este sistema foi adotado como forma de controlar a erosão hídrica, mas rapidamente percebeu-se que seu funcionamento só ocorria de forma adequada se uma série de outras práticas e medidas fosse adotada em conjunto. Havia também as contradições eminentes com as descobertas da primeira fase de implantação de programas conservacionistas. Uma delas, por exemplo, dizia respeito a calagem. Um dos primeiros programas de conservação do solo incentivava a correção do solo através da aplicação de calcário incorporado ao solo, como estratégia para aumentar a produção de biomassa. Como ficava esta técnica frente a um sistema que pregava o não revolvimento do solo? Foram necessárias novas pesquisas, conduzidas pelo IAPAR, para mostrar que o calcário podia movimentar-se pela rede de poros formada no solo sob plantio direto e assim atingir camadas mais profundas. Da mesma forma, o pH não precisava ser elevado como nas áreas sob plantio convencional, uma vez que boa parte do alumínio tóxico ficaria imobilizado pelos ácidos húmicos, como posteriormente demonstrado por Salet (1998).

Boa parte das novas soluções técnicas geradas mostrava que o sistema plantio direto não era apenas um novo tipo de preparo do solo, mas uma nova forma de concepção da agricultura, que exigia mudanças mais profundas que a simples supressão da aração. Superadas as dificuldades iniciais de mudança, as vantagens econômicas do sistema começaram a ganhar peso. A redução do preparo do solo implicava em menor necessidade de mão de obra e combustível, além de reduzir a penosidade do trabalho, de forma que os custos relacionados à necessidade de aquisição/adaptação de

Sistemas de Produção Agropecuária - Ano 2008

equipamentos rapidamente se diluíam. A aquisição de sementes de adubos verdes ou coberturas de inverno representava um custo, mas a ciclagem de nutrientes e o maior aporte de matéria orgânica permitia uma redução da utilização de adubos de base nas culturas de verão. Além disso, a presença da palhada reduzia a infestação de plantas daninhas e minimizava o efeito de veranicos ao longo do ciclo da cultura, aumentando a produtividade. Todos estes fatores faziam com que, quando comparado ao plantio convencional, o balanço do plantio direto fosse economicamente positivo, de forma que em acordo com a lógica capitalista, rapidamente as grandes e médias propriedades foram convertidas à este sistema de manejo.

Restava ainda uma questão a resolver: a maior parte das propriedades paranaenses é constituída por pequenas propriedades baseadas na mão de obra familiar. Muitas delas utilizam tração animal e são locadas sobre solos de baixa aptidão agrícola, de forma que a adoção do plantio direto nestas propriedades exigia muitas adaptações.

O sistema plantio direto, em qualquer situação, apresenta um componente a mais em relação ao plantio convencional: a presença da palhada. O primeiro fator a ser resolvido era a adequação do maquinário agrícola para essa nova situação. Era preciso considerar as diferenças que ocorreriam na tração do equipamento sobre a palha, aumentando o risco de patinagem, o risco de embuchamento, e eficiência de corte da palha para o plantio etc. Muitos destes problemas podem ser facilmente resolvidos quando é possível utilizar tração mecânica, mas na tração animal, a força disponível é mais baixa, de forma que as soluções são mais escassas, uma vez que os equipamentos devem ser leves (Ribeiro, 1998). A adaptação e desenvolvimento de equipamentos para plantio direto a tração animal foi feita pelo grupo de pesquisadores da área de mecanização agrícola do IAPAR, sempre em conjunto com os agricultores, que validavam e sugeriam modificações no maquinário desenvolvido. A partir dos protótipos gerados surgiram novas linhas comerciais, não apenas de tração animal, mas também de baixa potência, de forma que em meados dos anos noventa já existia uma ampla gama de equipamentos adaptados para a pequena propriedade no mercado.

Outro entrave tecnológico nas pequenas propriedades era a formação de palhada. A maior parte das coberturas verdes era exigente em fertilidade e a solução foi indicar a adubação para a cultura comercial e ajustando a rotação para que, na seqüência, fosse utilizada uma planta que aproveitasse o resíduo da cultura anterior. Desta forma, as plantas de cobertura, além de produzirem mais biomassa não permitiam que os nutrientes que restaram da cultura de verão fossem perdidos por erosão ou lixiviação. Em casos extremos, em que não era possível a aquisição de sementes ou adubos, recomendava-se o manejo da cobertura vegetal formada em pousio. No centro- sul por exemplo, o plantio direto nas pequenas propriedades deslanchou a partir do manejo do papuã (Bracharia plantaginea), gramínea bastante agressiva e que forma grande quantidade de biomassa (Merten & Fernandes, 1998).Inúmeras outras soluções poderiam ser citadas, cada uma delas atrelada a um problema específico surgido ao longo do processo de conversão do plantio convencional para o plantio direto, seja em pequena, média ou grande propriedade. Após um período de resistência inicial, a expansão do sistema plantio direto no Estado do Paraná aumentou ano a ano, saindo de menos de 10% da área plantada na safra 1983/1984 para atingir mais de 80% na safra 2006/2007 (FEBRAPDP, 2008). Nesta expansão, porém, nem todos os problemas foram resolvidos. Muitas áreas de plantio direto foram iniciadas sem a correta

adequação prévia, ou seja, o plantio direto foi instalado em áreas com severos processos de degradação herdados do sistema convencional, o que acabou resultando em necessidade de revolvimento do solo após poucos anos de plantio direto.

O princípio da diversificação e rotação de culturas também tem sido pouco respeitado, o que acaba por simplificar demasiadamente o sistema, permitindo a incidência de pragas e doenças, e dando oportunidade de germinação ao banco de sementes de plantas daninhas. Outro fator crucial é a redução da taxa de cobertura do solo, permitindo em alguns casos o retorno dos processos erosivos, principalmente quando ocorre com ausência de técnicas mecânicas de conservação do solo (Castro Filho et. al, 2001; Denardin et al., 2005).

O principal risco deste retrocesso é a necessidade de avanço sobre terras que hoje estão sob florestas nativas, retomando a lógica inicial de aumentar a quantidade de terras sob produção agrícola para compensar a baixa produtividade daquelas já em uso. O solo é um sistema aberto, originado e ainda sujeito à influência dos fatores de formação. Em condições naturais, a atuação dos diferentes agentes de intemperismo leva-o a atingir um equilíbrio dinâmico (steady state) que não é alterado substancialmente ao longo do tempo, exceto se fatores externos forem modificados. A interferência antrópica é um fator capaz de alterar rapidamente as condições reinantes no solo, quer seja pela modificação da vegetação dominante e da sua capacidade de adição de carbono ao sistema, quer pelas alterações promovidas pelos sistemas de preparo utilizados. Essas alterações podem ter um balanço positivo, permitindo ao solo atingir um Estado estável com qualidade do solo elevada, ou negativo, degradando o sistema (Vezzani, 2001).

No documento SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA (páginas 32-34)