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3 RESULTADOS: EXPERTISE DO PROFESSOR

3.1 PROFESSORES EXPERTS: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS

3.1.2 Atributos pessoais

Emergiu, no discurso das participantes, um conjunto de respostas que enfatizaram atributos pessoais próprios aos professores que se destacam por sua atuação. Tais atributos compreendem um grande envolvimento afetivo com o trabalho realizado e atitudes que incluem percepção de si como uma pessoa responsável, dedicada, comprometida, entusiasmada e paciente. É como se houvesse um conjunto de características que tornariam o seu portador naturalmente mais adequado ao trabalho com crianças.

Envolvimento afetivo

O intenso envolvimento afetivo com a área de atuação é uma característica que tem sido observada em experts de diferentes campos. Tal envolvimento revela uma relação apaixonada com o trabalho. No discurso de todas as participantes emergiu um grande envolvimento com o campo de atuação. Os termos utilizados para descrever esse envolvimento eram descritores de baixa inferência indicadores de um vínculo emocional profundo. Palavras como ‘apaixonada’, ‘gosto demais’, ‘amo’ são exemplos de que há nesta profissão, por parte das pessoas tidas como muito boas, uma vivência emocional profunda do cotidiano da profissão.

Eu sei que eu sou apaixonada. [Risos] (M., 49 anos) Eu acho que eu gosto [Risos e choro] (V., 54 anos)

Porque eu gosto demais, né? Do que eu faço. Amo. Adoro. Gosto de dá aula. Pra tu vê, como eu acho que sou perturbada. [Risos] Gosto do que eu faço. Me amarro! Não me vejo fazendo outra coisa. Gosto demais o que eu faço! (A., 31 anos)

(...) Eu acho que gosto do que eu faço. Gosto muito. Podia tá em casa agora e tô na escola. (...) Já poderia estar aposentada há vários anos. Eu poderia já estar em casa. (M., 60 anos)

Ao discorrerem sobre o intenso envolvimento com a área de atuação, muitas participantes descreveram que essa relação é frequentemente acompanhada por sentimentos de realização e felicidade.

Bom. Eu vejo... Primeiro, é se sentir realizado com o que faz. E, quando eu falo de realização, é ver o resultado do que... do que se faz como um bom produto. Vê o resultado mesmo. Vê resultado, né? (V., 54 anos)

Eu me sinto muito feliz naquilo que eu faço. Eu acho que eu nasci mesmo para ser professora. Eu não consigo me ver atuando em nenhuma outra profissão. (M., 46 anos)

Duas participantes destacaram que é o “gostar do que faz” que as movimentam no sentido de aprimorarem a prática. Aspecto interessante emergiu no discurso de uma delas, quando pontua que tem se dedicado ao magistério a vida inteira por amor ao que faz, mas destaca que é importante ser reconhecida como uma boa professora.

Gostar do que faz, eu acho que é importante dentro de qualquer profissão. Então, assim, eu vejo o... a gente... Gostar do que faz é uma característica muito importante, porque ela te leva a fazer melhor. (M., 45 anos)

Ah, por amor! É porque eu escolhi isso. Eu abracei a carreira do magistério, né? É isso que eu quis fazer a vida inteira. Então, eu me dedico ao máximo, porque eu quero fazer o melhor. Eu ser o melhor. Eu quero fazer o melhor. Eu quero que as pessoas falem: "Nossa, ela é boa professora." (C., 48 anos)

Muitas participantes indicaram que além do envolvimento com a área é importante o vínculo afetivo com os alunos. Há indicação de que o modo como as relações são estabelecidas com os educandos pode afetar positivamente a aprendizagem deles. Para a aprendizagem acontecer, o professor deve ter conhecimento do conteúdo, saber o que está fazendo em sala de aula e ter intimidade com os alunos.

É... Que, hoje, não é só chegar na sala e trabalhar a aula, dá o conteúdo, mas tem que ter uma ligação com os alunos. Então, eu acho isso fundamental, né? Essa ligação, essa intimidade com os meninos, né? Além de você saber o que tá fazendo, você tem que ter, né? Esse elo de ligação, né? Com os alunos, porque eu acho que é ponto importante pra aprendizagem acontecer, né? (C., 48 anos)

O envolvimento emocional com os alunos e dos alunos com a professora é descrito como um aspecto importante para se obter respostas de aprendizagem. Talvez, o destaque dado ao relacionamento afetuoso com aluno se deve às características próprias do segmento de atuação, em que há uma preocupação com aspectos fundamentais da formação do sujeito: aspectos cognitivos, aspectos sociais e aspectos afetivos. Uma das participantes destaca que é importante que os alunos percebam a existência desse vínculo, pois isso os deixará mais seguros e favorecerá que caminhem para a independência. O termo independência usado pela participante pode ser entendido como autonomia.

Outro aspecto que merece destaque na fala da professora é a comparação da atuação pedagógica com o papel materno. Nota-se que, embora esta ainda seja vista como uma profissão feminina, como apontado por diversas pesquisas (BRASIL, 2008; TARDIF; LESSARD, 2007), nesta pesquisa, a associação professora-mãe só apareceu duas vezes na fala das participantes.

Eu acho porque eu trabalhei sempre, né? Com crianças pequenas. Mas, você tem que estabelecer com seu aluno uma relação de confiança, né? E tem... tem que haver afeto. Ele tem que gostar de você. Ele tem vir pra... na sua sala, ele tem gostar de estar ali e... sentir. Tem... Sei lá! Tem que ter algum... Você não pode ser... Como eu vou dizer assim? É como se você fosse mesmo uma segunda mãe. Você tem ser essa mãe pra eles. Essa tia que eles te chamam e eles têm que sentir que você gosta deles. Sentir que você está ali por prazer, porque eles devolvem pra você. E, quando eles sentem isso, eles são mais seguros. Eles são mais seguros e parece que caminham para independência também. São seguros naquilo que fazem, naquela aprendizagem que você está tentando... E sei lá! É um... Tem que ter afeto. Se não tiver, acho que a coisa cria antipatia e com antipatia não... Você não consegue desenvolver. (M., 49 anos)

O envolvimento afetivo com a área e com os alunos é considerado tão importante que uma das participantes destaca sua preocupação com a formação dos futuros profissionais. A participante argumenta que as instituições formadoras estão ocupadas em formar o professor técnico. Segundo seu ponto de vista, o professor técnico até poderá ser um bom professor, mas a criança precisa, antes de tudo, de afeto. Por essa razão, o professor que atua nas séries iniciais não pode ser somente técnico.

Ele pode ser um técnico. Mas, eu acho que a criança... Ele vai se tornar. Eu acredito que ele se torne um bom professor. Pode estudar. Pode se tornar um bom professor, mas eu acho que a criança precisa do afeto também. Essa troca, essa confiança dele chegar e contar pra você, que é só pra você que ele tá contando esse desabafo, esse ombro amigo. Eu acho que precisa disso de 1ª a 4ª, né? Que é onde, assim, eu tenho mais... eu domino, ali, o que eu tô falando. Eu acho que a gente não pode ser só técnica. (R., 45 anos)

A escolha pelo magistério implica, dessa forma, ligação afetiva inevitável no nível da relação pedagógica professor e aluno. Apesar de a docência envolver, no ponto de vista das participantes, conhecimentos específicos para a atuação, envolve também algo a mais que impede que qualquer pessoa consiga desempenhá-la com sucesso. De acordo com uma participante, para ser professor é preciso ter vocação.

Nem todo mundo deveria estar nessa profissão, porque ela... ela... ela... ela é uma opção que você tem. Assim, num é só uma profissão. Não é só você ter o diploma. "Ah! Agora, eu posso dar aula." Não é. É vocação. (...) A gente pode ter uma conversa bacana sobre o que você faz , porque tem gente tem... tem... professor, que

é da característica da... da... do ser humano, tem cultura, tem conteúdo, tem isso, tem aquilo, mas não sabe passar. Não tem didática, num gosta do contato com o outro, não desenvolveu a afetividade, enfim. Não sei por que tá dando aula. (A., 31 anos) Observa-se que ainda faz parte das significações de algumas professoras que a atuação pedagógica é uma questão de vocação. Essa concepção foi observada no discurso de quase metade das participantes. Então, a noção de dom/vocação está muito presente nas significações do que seja a profissão para essas professoras. De acordo com uma das entrevistadas, a pessoa já nasce com a inclinação para o magistério. Evidentemente, que o sujeito não nasce sabendo que será professor, mas vai percebendo isso à medida que vai se tornando adulto. Esse ponto de vista remete a concepção da docência como vocação, dom.

Bom, eu acho que o dom é uma coisa que você já nasce com ela, que você se percebe boa naquilo que você faz. Claro que você não nasce já sabendo que você vai ser professor, né? Mas, conforme você vai se tornando adulto, né? E você vai vendo, escolhendo sua profissão, ou você vai tendo experiências dentro dessa área. Você vai buscando isso. Mas, eu penso que profissão, principalmente, magistério, professor é dom, porque tem profissionais que você vê que ele está ali naquela função, mas ele não... parece que ele num tá feliz ali, né? (M., 46 anos)

No discurso de uma das participantes, a vocação é tão importante que não pode ser superada por uma formação adequada, porque o vínculo afetivo-emocional característico da profissão não pode ser aprendido. É antes de tudo uma questão de crença. Nota-se na fala abaixo que a noção de crença está vinculada à ideia de sentimento, sentir, sentidos. Parece remeter a uma experiência interior aguda. Não adianta imitar alguém. O professor tem de construir o seu caminho e as suas convicções profissionais para operar a partir delas.

Então, eu acho que isso não aprende. Num dá pra aprender. Assim, você tem que ter em você. Pra você oferecer, cê tem que ter. Então, assim, por mais que eu posso ver que você dando uma aula. Posso achar lindo! Posso tentar imitar. Mas, se eu não sentir, se eu não acreditar naquilo que eu tô fazendo... Eu acho que é a questão da crença. Você não vai conseguir. Por isso que eu te falo, tem gente que lê pra caramba, que estudar. E você senta e fala: “Uma aula é assim, assim, assado.” “Dá uma aula pra mim?” Ela me dá, mas bota ela com uns trinta meninos. Não consegue. "Ah! Mas porque eles são suados. Ah! Porque... gripado e... Piolho." E um monte de coisa. Então, sai. Num precisa ficar, sabe? Tá se enganando. Tá ficando doente. (A., 31 anos)

Atitudes

Nesta investigação, observou-se, nas falas das participantes, a indicação de algumas atitudes que compõem o comportamento de um professor reconhecido positivamente por sua atuação, dentre as quais se destacam: a percepção de si como uma pessoa responsável, dedicada, comprometida e entusiasmada. Emergiram, ainda, a paciência e a sensação de incompletude, como elementos caracterizadores de professores que se destacam por sua atuação.

O discurso de uma das participantes enfatiza que uma característica importante de um professor que se destaca é a responsabilidade. A atuação responsável garante que o trabalho pedagógico ocorra a contento.

(...) Mas também, assim, eu acho que o professor tem que fazer a sua parte. Ele tem que ser responsável em tudo que ele faz. Se ele tá fazendo tudo que é da responsabilidade dele, não tem por que ele não ser, né? Não ser... Não se dar bem no que tá fazendo. (C., 48 anos)

A dedicação é outra característica bastante enfatizada pelas respondentes. A dedicação é considerada por uma das participantes como uma mola propulsora que leva o professor a buscar inovações no seu trabalho.

E dedicação, né? Acho que dedicação também é importante, né? (...) Então, eu acho que a dedicação também, né? É importante. (C., 48 anos)

Porque ela [dedicação] é uma mola propulsora. Eu acho que a dedicação... Ela te leva a você correr atrás, buscar maneiras diferentes (...) Mas é dedicação, eu acho que é fundamental, porque ela é a mola propulsora do trabalho. Ela faz com que você corra atrás de... de... é... (M., 45 anos)

Para grande parte das respondentes, a profissão exige entrega, dedicação. Nesse sentido, uma característica inerente ao professor que desempenha muito bem sua função é o compromisso. O comprometimento do professor com a aprendizagem dos alunos requer seu envolvimento integral, sem limitar sua atuação a um horário determinado.

(...) Deixa ver mais o quê. Quê que o professor tem que ter? Tem que ser comprometido. Muuuito comprometido. Não é tô aqui, meu horário acabou. Acabou. A educação é contínuo. Não tem jeito. (M., 60 anos)

É o compromisso dele. O envolvimento mesmo com a aprendizagem do aluno, porque tem pessoas que dizem que é professor, mas não tem compromisso de... de tá ali ensi... ensinando, mediando. Não tem. Sei lá! (M., 49 anos)

O entusiasmo também foi indicado como uma característica inerente ao professor que se destaca. Uma das participantes enfatizou que a dedicação leva ao entusiasmo. Este, por sua vez, leva o professor a buscar o aprimoramento profissional e, consequentemente, a oferecer um ensino de melhor qualidade. Para uma participante, tanto a dedicação, como o entusiasmo são características fundamentais, às vezes difíceis de distinguir, pois se confundem.

Entusiasmado porque me vem... (...) O entusiasmo, ele leva você a... a se renovar sempre, a estar se renovando, crescendo profissionalmente, a... Como é que eu vou te dizer? Mudando a questão da... Vamos dizer assim, vendo aspectos melhores na... na educação. Melhorando todos esses aspectos, porque o entusiasmo leva ao crescimento, à valorização, ao ensino... ao ensino de mais qualidade, vendo o lado dos alunos, né? Na profissão. (M., 45 anos)

Ela [dedicação] te leva a você correr atrás, buscar maneiras diferentes, ter entusiasmo. O entusiasmo também seria outra parte, talvez, né? Não estaria... [Risos] Um, eu acho que um tá dentro do outro, né? Uma dessas características tá sempre dentro da outra, né? (M., 45 anos)

De maneira geral, o magistério está associado a características pessoais como: amor, carinho e paciência. No entanto, no contexto dessa pesquisa, apenas uma das participantes deu ênfase à paciência como uma característica necessária ao bom professor. A paciência é utilizada no discurso da entrevistada como uma capacidade de suportar situações difíceis como a indisciplina, a falta de respeito e a agressão. Emergiu, também, a paciência entendida como calma para esperar as respostas de aprendizagem dos alunos.

É... Eu acho que paciência é fundamental, porque hoje em dia tá muito difícil lidar com disciplina, né? Eu acho que a família, assim, transferiu muita responsabilidade pra escola, né? Pra... Pra sala de aula, pro professor, né? Então, assim, se o professor não tiver paciência, pra... e sabedoria pra lidar com as crianças. (...) Assim, com a criança que não te respeita, né? Que agride, que bate nos colegas, né? (...) Você tem que educar. Você tem que ter paciência, né? Porque, se você não tiver essa paciência, a ferro e fogo não vai, né? (...) E essa paciência é fundamental, né? Porque é... Paciência, também, na questão do tempo que a criança leva pra aprender, né? Não só na questão de disciplina, mas também na questão de aprendizagem, porque muitas crianças, às vezes, leva mais tempo pra aprender. Então, você tem que ter aquela paciência, aquele carinho, né? (C., 48 anos)

O processo educativo é entendido como uma relação profissional em que o professor tenta potencializar o desenvolvimento integral do aluno. Nesse sentido, o professor atenta-se tanto à dimensão acadêmica quanto à dimensão axiológica do processo. Por essa razão, observa-se nos discursos uma preocupação em desenvolver nos alunos valores que são

considerados importantes para as professoras. Algumas participantes destacaram a importância de serem vistas, pelos alunos, como bons modelos de conduta. Em outras palavras, acreditam que o exemplo é a melhor forma de educar.

(...) Professor a... Na sala, você não pode falar palavrão? De forma alguma. Você não vai usar gíria, né? Você não vai é... Você não... Enfim, não é que você vai ser robô, mas tem que se policiar, se autoavaliar, se policiar constantemente. "Ah! Então, você não fala palavrão?” Falo lá fora! (...) Mas, dentro de sala, com pais de alunos, você tem que se policiar, porque você é o exemplo. E, na educação, nada melhor do que o exemplo. Não é à toa que eles tão desse jeito. (A., 31 anos)

Eu também acredito muito no... no... O que eu acredito é que a gente educa mais pelo exemplo. Eu acredito muito nisso. Como é que eu chego pro aluno com uma conversa e faço... tenho atitudes totalmente diferentes do que eu tô falando pra ele. Então, eles têm que fazer, eu, não? (R., 45 anos)

Ao mesmo tempo em que é enfatizada a necessidade de o professor ser um modelo de conduta para os alunos, surge a inquietação de se perceber humano e, como qualquer outro, sujeito a falhas e acertos. Observa-se nas falas das participantes três categorias falhas: falhas referentes à falta de conhecimento suficiente sobre um determinado assunto, falhas ao estabelecer estratégias de ensino e falhas no trato com os alunos.

Como eu tava falando pros meninos, errar a gente erra. Nem sempre a gente sabe tudo. (R., 45 anos)

Reelabora, faz novamente de outra maneira, né? [Quando algo não sai como o esperado.] Tenta de outra forma. É bom quando não dá certo, porque eu falo para meninos: "Gente, se a gente não errasse, a gente não precisava de escola!" Então, a criança erra? Erra. A gente erra? Erra. Mas, aí, quando a gente erra e sabe que errou fica fácil de você fa... acertar, né? Trazer outra proposta. (A., 46 anos)

Esse ano, a criança não fez o dever de casa e já era reincidente e, como eu fiquei ali muito aborrecida naquele dia, a minha reação na hora foi pros colegas: “Vamos aplaudi-lo, porque ele deve tá querendo aplauso, porque mais uma vez ele não fez.” Quando a turma e eu aplaudimos essa criança, essa criança abaixou a cabeça ali no sentido de... Ela ficou sentida. Mas eu sofri tanto com aquilo. [Ficou emocionada] Falei pro menino: “G., levanta o rostinho. Levanta não quero ver você curvado. Levanta o rostinho. Vai ao banheiro, lava o rosto, bebe água, volta.” Quando ele voltou na sala, falei: “Gente, eu quero pedir desculpas pro G., aqui, na frente de todo mundo. A professora exagerou na correção que fez com o G. Mas, G. não faz isso de novo comigo não, porque eu sofro muito.” (R., 45 anos)

Mesmos compreendendo que o professor está sujeito a falhas, há uma exigência pessoal, no sentido de atingir o desempenho considerado suficiente. Ao que parece, as participantes desenvolveram ao longo da carreira um esquema para avaliarem seu próprio desempenho, caracterizado por alto nível de exigência. De acordo com algumas participantes, esse nível de exigência é tão intenso que as consome fisicamente e emocionalmente.

(...) Eu acho que com o tempo a gente vai ficando assim. E, olha que eu sou... Eu sou... Eu sou muito exigente comigo mesma. Eu tive de começar terapia há um ano, porque eu tava, assim, me desesperando, porque eu planejava mil coisas e não dava conta de realizar. Isso estava me deixando, assim, frustrada, né? (...) E isso estava interferindo no meu organismo. Eu estava com problemas orgânicos constantemente, né? (M., 46 anos)

Apesar de achar que está tudo assim... que está correndo bem, mas a gente sente que tem falta, sabe? Então, talvez, seja isso: muita cobrança minha, sabe? Essa ideia de dá conta de tudo, entendeu? (...) Que, às vezes, também... aquela persistência, aquele pensamento que me consome muito, sabe? (V., 54 anos)

Agora, eu sou o tipo de professora... Eu me cobro muito. Eu falo, assim, que eu não tenho chefe, mas [Risos] o chefe sou eu mesmo. Então, eu me cobro muito. Se eu não estou conseguindo atingir, então me dá até angustia. (M., 49 anos)

Outra característica do professor expert que emergiu no contexto dessa pesquisa foi a modéstia. De maneira geral, observou-se nos discursos uma autoavaliação modesta em relação à própria atuação, marcada por sentimento de incompletude. As entrevistadas não tiveram dificuldades em pontuar características e atributos pessoais necessários a um professor que se destacava por sua atuação pedagógica; no entanto, ao avaliarem sua própria atuação, de maneira geral, não se consideraram merecedoras das indicações dos pares. Os trechos abaixo exemplificam esse ponto de vista:

Ah! Eu acho que eu sou médio, porque é... eu não sou ruim, como eu havia dito, né? Mas eu também acho que falta muito ainda. (V., 54 anos)

Quando você falou que, né? Havia havido esse destaque todo, eu fui pra casa, assim, muito preocupada. Depois, eu fiquei pensando... Eu faço muitas coisas na escola e será que tudo que eu faço, realmente, tem esse destaque? Será que esses destaques são, realmente, necessários? (M., 46 anos)

Meu desempenho? Então, não sou perfeita. Não sou perfeita. Fico me policiando direto. Quero sempre buscar o melhor pra o meu aluno, pras relações que eu tenho aqui. (A., 31 anos)

Olha! Deixa eu ver. Eu acho que eu tenho muito a aprender, né? Eu acho que ainda