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3 RESULTADOS: EXPERTISE DO PROFESSOR

3.4 ASPECTOS MOTIVACIONAIS

3.4.1 Motivos da escolha profissional

Durante as entrevistas, as participantes reconstruíram sua história de vida e identificaram o motivo que as levaram a escolher a carreira. Para algumas participantes, o desejo de se tornar professora surgiu na infância, quando frequentavam os bancos escolares.

Eu acho, assim, eu me encantei desde pequena, né? Assim, desde criança eu me encantei por... Assim, pelo fato de... de... o professor tá lá na frente, de tá mostrando o quê que sabe, o que conhece, né? Então, assim, eu acho que eu me encantei por isso, né? (C., 37 anos)

O desejo infantil resistiu ao tempo e aos obstáculos. As professoras que disseram que a opção pelo magistério havia emergido na infância não relataram dúvidas na juventude quanto a seguir, realmente, a carreira. Para uma delas, manter a opção profissional requereu administrar obstáculos de ordem familiar, uma vez que não era desejo do pai que a filha fosse uma professora.

(...) Eu nasci para ser professora. (M., 46 anos)

Mesmo porque era um desejo... não era um desejo, assim... Não era desejo dos meus pais, né? (...) Claro, eu cresci e tudo. Claro, continuei com essa... essa vontade de ser professora. (...) A gente só tinha duas carreiras para seguir: ou era militar ou tinha que fazer engenharia. (...) E eu fui fazer o curso normal. Assim, muito a contra gosto dele [pai]. (M., 46 anos)

As professoras que indicaram a opção infantil pelo magistério pontuaram que isto se deu em grande parte à vontade de seguir o modelo de uma professora da primeira fase do Ensino Fundamental que consideravam muito boa. Para outra professora, a opção por seguir a carreira se deu devido à influência de seus antigos professores da segunda fase do Ensino Fundamental ou da Faculdade. Esses professores foram considerados motivadores, estudiosos e naturais.

Eu tive muitos professores bons. Então, assim, eu olhava aquela professora e ficava, assim, encantada. Era um encantamento, né? É... Eu tenho a professora do 2º ano, que ela... ela me faz lembrar muito... (...) Então, eu acho que ela me influenciou. Foi essa professora que eu vejo, assim, que... que me incentivou. (C., 37 anos)

(...) Eu tive um professor lá no ensino especial [disciplina do curso de Pedagogia], que ele me motivava demais. (...) E é um cara que estuda demais, demais, demais, que sabe muito. (A., 31 anos)

(...) Eu tive professores, principalmente, uma de Português, que... Não sei o que ela tinha. Ela fazia a gente pensar. Era daqueles professores que te levavam a pensar e ela conhecia cada aluno. (...) Era minha “ídala”, né? Eu achava superincrível. (...) E te levava, assim, ao estudo, à aprendizagem de uma maneira, assim, tão... Era tão natural, mas, ao mesmo tempo que era natural, não era. Era engraçado, que eu não sei te explicar. Ela te explicava a matéria. Ficava, assim, o conteúdo como se ela tivesse te contando uma história, um caso. (...) Agora... Não sei. Será que foi? Será que ficou guardadinho lá? Será que é lá da T.? [Risos] (M., 49 anos)

Algumas entrevistadas indicaram que a origem da escolha pela profissão se deu para seguir uma tendência familiar. Para uma das participantes, o que contou não foi somente o fato de pertencer a uma família de professores, mas, especialmente, pertencer a uma família de professores também reconhecidos por seu desempenho.

Ah! Eu nasci numa família de professores, né? (M., 60 anos)

É... Olha só! Eu... é... é... Na questão familiar, na família da minha mãe, que é onde eu tenho mais afinidades, né? É... Tios e tias, todos eles são professores, né? Então, isso de uma certa forma contou, né? Como um incentivo. São pessoas é... que eu considero muito. Gosto muito deles e eram... até se aposentar, né? Eles estão, agora, quase todos aposentados. Excelentes profissionais. São professores que a gente ouvia, né? Dos... dos... dos alunos deles, né? Serem bem elogiados. São pessoas que, de uma certa forma, me incentivaram. (A., 46 anos)

Apesar de considerar o desempenho dos familiares professores incentivador, a referida participante foi a única que relatou que, inicialmente, a escolha pela profissão se deu por falta de opção. No discurso desta participante, é possível observar uma mudança gradual no que se refere aos fatores que a motivaram a escolher e a seguir a carreira. Inicialmente, a escolha se de por falta de opção. Em seguida, foi incentivada pela escolha profissional de familiares de seu convívio próximo. E, finalmente, tornou-se algo que ela gosta muito de fazer.

É. Por causa da falta opção, né? (A., 46 anos)

(...) Então, não era aquela coisa. Eu acho que foi mais incentivo de ter uma profissão mais rápido, de me formar mais rápido e ter a profissão garantida. Não era uma coisa que gostasse muito, pelo menos achava isso, né? (A., 46 anos)

É... Olha só! Eu... é... é... Na questão familiar, na família da minha mãe, que é onde eu tenho mais afinidades, né? É... Tios e tias, todos eles são professores, né? Então, isso de uma certa forma contou, né? Como um incentivo. (A., 46 anos)

Não! Não! Não! Hoje, eu digo que não [não é mais falta de opção]. É sim... É... É... Na... Na época, eu tinha: ou é isso ou é isso, entendeu? Hoje em dia, se estivesse que fazer o concurso de novo, faria, porque eu... eu aprendi realmente e entendi e gosto do eu faço. (A., 46 anos)

A análise do conjunto das respostas revela que a maioria das entrevistadas escolheu a carreira do magistério devido a um desejo infantil. Destacando que, em alguns casos, o desejo infantil foi despertado pelo encantamento por uma antiga professora das séries iniciais do Ensino Fundamental. Outras fizeram a opção pela profissão influenciadas por professores da segunda fase do Ensino Fundamental ou da faculdade. Conclui-se, dessa forma, que grande parte das participantes deste estudo fez a opção pela carreira influenciada por um antigo professor.

Em menor quantidade emergiu incentivo parental. A professora que havia destacado que o pai não havia aprovado sua escolha profissional, reforçou que a mãe, ao contrário da posição paterna, a incentivou a seguir uma profissão que lhe desse prazer. O discurso da professora revela o desejo materno de que a filha não fosse somente dona de casa. Neste caso, apesar de não receber o apoio do pai, a desejo que teve início na infância recebeu o incentivo de outro membro da família, a mãe.

Só minha mãe. Acho até porque minha mãe não queria tivesse, assim, a mesma vida que ela teve, né? A minha mãe não teve muito estudo e acabou, mesmo, virando a dona de casa, né? E que tinha a obrigação de criar as filhas, de educar e só isso. Então, minha mãe me incentivava muito. Ela falava: "Olha! Cê tem que fazer algo que você goste." Né? "Sentir prazer no que você faz". (M., 46 anos)

Outra participante indica que o desejo que surgiu na infância foi reforçado por atitudes parentais. A fala da participante revela que a educação escolar representava um valor para sua família e a professora era uma profissional digna de respeito.

Acho que pelo fato também da família. Minha família é muito... é... muito tradicional. Minha mãe foi sempre, assim, de dar valor mesmo, né? Aos estudos. Sempre o professor era... A professora era a segunda mãe, né? Então, assim, isso tudo faz com que a gente respeite bastante, né? (...) Um certo respeito, uma certa... Assim, um estímulo, né? (C., 37 anos)

Para outra entrevistada, a escolha pela carreira se deu por influência significativa de pessoas próximas. Esta professora relata que circunstâncias da vida a levaram a conhecer um casal que a acolheu em sua casa. Eles eram professores acadêmicos com uma vasta produção intelectual, o que despertou na participante um sentimento de admiração. Essas pessoas lhe deram condições de estudar e a incentivaram a seguir a carreira do magistério. Condições estas que foram estendidas às suas irmãs. A entrevistada relata com orgulho que uma de suas irmãs seguiu a carreira acadêmica, sendo uma professora doutora que atua nos Estados

Unidos. Interessante observar que mais uma vez a escolha pela profissão se deu por influência de professores.

Hoje, os dois são aposentados, né? Eles trabalham, ainda, muito em pesquisa, publicação. É um profissional fabuloso e eles... Na realidade, eu fui morar com eles bem garota. (...) Aí, ele me convidou pra morar com eles, porque eu falei que gostava muito de estudar. (...) Ele falou: "Não. Vamos morar lá em casa! Você vai ter todo apoio que você precisa, sem nenhum problema." Depois de uns dois anos, veio minha outra irmã, que hoje é foneticista, que eu te falei que é a linguista, também. Depois, veio a outra, a terceira irmã. Nós, na realidade, nós... Quem me incentivou, na realidade, a ser professora foram eles dois, que são... que são meus pais, né? Vamos dizer assim, quase que totalmente, porque eu era garota quando eu fui morar com eles e... Como as minhas outras duas irmãs, que também tem toda uma formação acadêmica, que, assim, tudo... tudo... tudo foi envolvimento deles, né? Por, assim, por eles estarem o tempo todo incentivando, mostrando os aspectos bons da profissão, os aspectos que são dois professores muito dedicados. (M., 45 anos)

Conforme relato de uma das entrevistadas, a decisão de seguir a carreira do magistério foi motivada por dois fatores. O primeiro fator foi a insatisfação com o atividade profissional que exercia. Segundo, o desejo de acompanhar a vida escolar do filho.

(...) E outra coisa que também que me chamou muito a atenção, foi o meu filho. Acompanhar o desenvolvimento do meu filho. (...) Via como meu filho vibrava, quando ele aprendia alguma coisa, sabe? Como ele me desqualificava quando eu queria ajudar. E ele via... dizia que o mais importante era a professora e não eu, né? [Risos] Ficava muito chateada, mas, enfim, eu tive de compreender isso, [Risos] que ela estava no lugar dela, certo, né? E eu tava no meu lugar. Tinha de ocupar o meu. Aí, eu falei: “Não. Sabe de uma coisa? Eu vou entrar nisso aí.” Aí, juntando com a minha é... Vamos dizer assim, um pouco de frustração em relação ao que eu fazia como bancária. (V., 54 anos)

Somente uma professora argumentou que não houve nenhuma pessoa que a incentivou a seguir a carreira. Para a entrevistada, o desejo de seguir a profissão é algo que teve origem internamente, algo muito particular.

Não. Eu acho que é uma coisa só minha mesmo, que vem de dentro. E o que eu quisesse escolher, meus pais incentivariam. Não, ninguém, não. (R., 45 anos)