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1.4 FATORES ASSOCIADOS AO DESENVOLVIMENTO DA EXPERTISE

1.4.4 Capacidade superior de resolver problemas

Os indivíduos atingem a expertise, gradualmente, à medida que adquirem conhecimentos e padrões sobre como reagir em diferentes situações, sobre como resolver problemas em seu domínio específico. A resolução de problemas é um fator consistente em diferentes domínios, pois os indivíduos dedicam-se a uma área específica com o objetivo de solucionar problemas. Em qualquer que seja domínio de atuação, o indivíduo precisa prover uma solução que inclui evidências capazes de sustentá-la; ou seja, necessita oferecer argumentos convincentes. Todavia, as diferenças entre os domínios residem nos níveis para o que se constitui uma solução aceitável e na questão do que, em um domínio particular, constitui evidências ou justificativas aceitáveis. No campo da física, a solução de um

problema pode ser justificada por meio de demonstração de passos apropriados para a solução, caracterizando a evidência para solução em um sentido de prova. Na área da história, por outro lado, o objetivo do historiador é apresentar a uma audiência uma narrativa ou um ensaio que seja altamente aceitável. Isto é feito proporcionando uma solução ou uma resposta a uma questão com conteúdos que ofereçam evidência, sendo realizada por meio de argumentos verbais. Nesse sentido, a narrativa serve como suporte ou justificação de uma posição particular. Assim, no domínio da história, a solução de um problema não é usualmente errada ou correta, mas aceitável em certo nível (VOSS; WILEY, 2006).

Segundo Frensch e Sternberg (1989), os experts usam diferentes estratégias para resolver problemas e os representa de forma melhor e mais elaborada, quando comparados a novatos. A capacidade superior de resolver problemas dos indivíduos que evidenciam alto nível de desempenho, no entendimento dos autores, decorre de um conjunto de fatores, que incluem o tamanho do conhecimento base do expert, a natureza abstrata da organização do conhecimento e a natureza procedimental de armazenar soluções de problemas.

Uma clara dimensão que difere experts de novatos é a quantidade de conhecimento adquirido, pelos primeiros, no domínio de expertise. Mais conhecimento pode ser medido em termos de algumas unidades, que, sem a intenção de rigor, podem ser uma declaração factual, uma estratégia, um procedimento, um esquema ou um chunck (CHI, 2006). Um chunck é entendido como “uma estrutura perceptual ou memória que une um número de unidades mais elementares em uma organização maior” (FELTOVICH; PRIETULA; ERICSSON, 2006, p. 49), por exemplo, as letras “s”, “o” e “l” dentro da palavra sol. A extensão do conhecimento do expert pode, também, ser compreendida em termos de inteireza. A inteireza tem uma conotação diferente da ideia de quantidade ou extensão do conhecimento, pois o conhecimento de um domínio está sempre em expansão. Nesse sentido, o expert possui esquemas mais completos. No entanto, a noção de inteireza é considerada bastante insegura. Outro caminho para se discutir a extensão do conhecimento expert é em termos de conteúdo, indicando que os sistemas de produção de experts são mais profundos e generalizáveis (CHI, 2006).

A natureza abstrata da organização do conhecimento do expert tem sido considerada pelos estudiosos da expertise um fator relevante, especialmente, no que se refere ao desenvolvimento da capacidade superior de resolver problemas. Pesquisadores têm indicado que os experts não só têm armazenados muitos padrões significantes em sua memória de longo prazo, como os têm organizados de forma qualitativamente diferente (FRENSCH; STERNBERG, 1989). Os estudos sobre expertise em xadrez desenvolvidos por Simon e

Chase (1973) revelaram que os jogadores experts, frequentemente, desempenham com base numa configuração de ataque e defesa, implicando numa representação abstrata do conhecimento. Os estudos de Chi (2006), no campo da física, sugerem que a representação do conhecimento dos experts nesse domínio tende a focar em princípios físicos abstratos. No campo da literatura, Scardamalia e Bereiter (1994) indicam que escritores experts representam e manipulam mentalmente crenças e fatos sobre o conteúdo; isto é, os escritores enfrentam problemas acerca do que escrever e de como escrever, para atingir o objetivo da composição textual.

Por estar vinculada a um domínio específico, a expertise requer conhecimento de fatos e conceitos próprios da área, os quais são, comumente, ensinados explicitamente. Trata-se do conhecimento denominado declarativo. No entanto, é necessário mais que a implementação de fatos e de conceitos aprendidos, para solucionar um novo problema eficientemente. Nesse sentido, os experts desenvolvem um modelo para representar o conhecimento de procedimento ou procedimental, que é o conhecimento sobre como executar uma tarefa; ou seja, é o conhecimento sobre como seguir passos de procedimentos ou estratégias para desempenhar as ações que levem a solução de problemas. Os experts não apenas possuem um maior conhecimento declarativo sobre o domínio, como também possuem mais conhecimento de procedimentos sobre estratégias relevantes para resolução de problemas de sua área de

expertise (FRENSCH; STERNBERG, 1989; STERNBERG, 2000).

Sternberg (2000) ressalta que muitos aspectos sobre o desempenho expert ainda permanecem inexplorados, todavia os estudos mencionam que algumas características acerca da capacidade superior de resolver problemas já foram elucidadas. Dentre as principais características da resolução de problemas expert, destacam-se: grande conhecimento declarativo sobre o domínio; unidades de conhecimento bem organizadas e interconectadas; representação sofisticada de problemas, com base em similaridades estruturais; grande conhecimento procedimental sobre estratégias do problema relevantes ao domínio; sequência de etapas automatizadas; monitoramento cuidadoso das estratégias e dos processos de resolução de problemas; precisão no alcance de soluções adequadas; flexibilidade em adaptar- se a uma estratégia mais apropriada, quando uma nova informação contradiz a representação inicial do problema e uso da análise de meios e fins somente como estratégia sobressalente para manipular problemas incomuns.