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4. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO MODELO ISO 9000

4.5 A ATUAÇÃO DA CAIXA ECONÔMICA

A atuação da Caixa Econômica Federal no setor da construção civil ocorre por meio de uma série de serviços e produtos disponibilizados. Entretanto, dois programas

parecem se destacar: o financiamento de infra-estrutura (saneamento básico) e de imóveis na planta.

O financiamento de obras de infra-estrutura é destinado ao poder público, afetando as construtoras apenas de forma indireta. Já a financiamento de imóveis na planta ocorre por meio de um programa específico, que arrenda os imóveis aos adquirentes. Quinze anos após a entrega da unidade, ela é transferida definitivamente ao arrendatário.

Atualmente, o Acordo Setorial entre o Sindicon e a Caixa Econômica só abrange a área habitacional. Porém há uma tendência de que isto seja expandido para a área de infra-estrutura, por meio da exigência de que o poder público executivo, responsável pela realização da obra, também exija o PBQP-H destas construtoras, como se pode observar a seguir: “O PBQP-H não está atuando na área ainda de saneamento e infra-estrutura, mas existe uma programação, e isto no futuro será cobrado também nessas áreas” (REPRESENTANTE DA CAIXA).

Na visão da Caixa, a sua atuação no Espírito Santo parece ser bastante ativa: “Então a Caixa, no setor privado, tem uma atuação bem forte no Espírito Santo, e em todo Brasil” (REPRESENTANTE DA CAIXA).

De fato, a Caixa é o principal agente financiador do setor, conforme opinião do Sindicon: “Porque hoje a Caixa, ela é o principal órgão, financiador do setor. Tanto para o cliente final, quanto para a produção” (DIRETOR DO SINDICON).

Sua atuação, entretanto, é motivo de crítica por parte do Sindicon e de um empresário:

[...] hoje, os programas que a Caixa oferece, que são os programas para imóveis na planta, para financiamento da produção, eles são muito aquém... é um programa muito aquém das necessidades do setor. A gente acha que as linhas que estão abertas, elas são insuficientes, e as normas são muito rígidas, ou seja, que dificulta e muito, a obtenção desse financiamento, por conta das empresas. Daí a gente acha que a Caixa, deveria ter uma atuação maior (DIRETOR DO SINDICON).

A Caixa Econômica Federal... aliais é o único agente financeiro, que trabalha ainda na construção civil, mas é uma carência muito grande, de dinheiro, que não é a Caixa a culpada, acho que o Governo todo não tem verba para isso, ou então, não tem vontade política de ter. [...] mas é a única coisa que tem, então nós temos que dar por satisfeitos ali, de ter alguma coisa. Mas que há uma carência muito grande nesse país, devido a isso, há (EMPRESÁRIO 3).

Nota-se que essa última crítica expressa um certo conformismo com a reduzida ação da Caixa Econômica no setor. Desta forma, sem recursos para uma atuação mais efetiva, sua influência nas empresas pesquisadas é reduzida, conforme pode ser observado nas passagens seguintes: “Muito pouca, porque nós trabalhamos com um produto que as pessoas usam pouco financiamento” (EMPRESÁRIO 3). “No caso da nossa empresa, nós praticamente não temos financiamento da Caixa” (EMPRESÁRIO 2). O Empresário 1 está aguardando a liberação de um empreendimento, na Prefeitura de Vitória, para tentar obter um possível financiamento junto à Caixa Econômica. Especificamente, um empresário apontou o custo financeiro e as exigências, como motivos para não buscar financiamento com a Caixa Econômica:

É porque nós estamos construindo com recursos próprios. Nós preferimos, em função de custo financeiro, de dificuldade para... a Caixa impõe uma série de exigências para construir, entendeu? Você tem que ter... sei lá, cronograma de acordo com a Caixa, uma série de exigências... principalmente custo financeiro. Não queremos pegar dinheiro da Caixa para construir, fica caro (EMPRESÁRIO 2).

A relação entre o Sindicon e a Caixa Econômica é vista assim: “Ele mantém uma relação institucional com a Caixa” (DIRETOR DO SINDICON, grifo nosso). Sob a ótica da Caixa Econômica, a relação entre parece bem relacionada ao PBQP-H, como se pode notar a seguir:

A melhor possível, a gente tem mantido reuniões constantes e todas as dúvidas que a gente tem, há uma transparência no nosso relacionamento. [...] e se tratando do PBQP-H eles são coordenadores nacionais aqui no Espírito Santo em sua área, todo o desenvolvimento através do Sindicon, nós somos simplesmente parceiros, nós temos o convênio que assinamos com o Sindicon (REPRESENTANTE DA CAIXA)

Segundo o diretor do Sindicon, em função do acordo ser federal, não houve uma “negociação”, para que o acordo estadual fosse firmado. Isso se explicaria pelo seguinte motivo:

Como Estado do Espírito Santo é um dos que está mais à frente desse processo. Então realmente estados que estavam mais atrasados, dentro da implantação do programa, ou seja, não tinha empresas, não tinham volume de empresas, dentro desse processo de [qualificação]... [não tinham um número de empresas] significativo... que hoje, quase 80% das empresas do setor já estão certificadas, ou em processo de certificação. Então teve Estado em que não houve essa cobrança. Como o Estado [o ES] estava adiantado, então ele não teve... ele foi acatado... já foi implementado logo de início (DIRETOR DO SINDICON).

Assim, o Acordo Setorial, estabelecendo exigências de qualificação no programa evolutivo do PBQP-H, teria ocorrido de forma praticamente natural, como confirmado a seguir: “Isso, natural em função do processo adiantado que já estava aqui no Estado” (DIRETOR DO SINDICON).

Embora mais três entrevistados (os dois consultores e o gerente do OCC1) tenham comentado também sobre esse característica de o Estado ter um elevado percentual de empresas certificadas, se comparados a outros estados, este dado de que 80% das construtoras estariam certificadas ou em processo de qualificação não foi confirmado por esta pesquisa.

A importância do PBQP-H para a Caixa Econômica é assim resumida:

A importância é muito grande porque você tendo empresas que estão qualificadas dentro deste programa, você vai ter produtos com melhor qualidade, você vai com isso evitar problemas futuro que a gente trata aqui como danos físicos nas construções, você vai estar não só habilitando as construtoras, mas também habilitando os fornecedores de material de construção. [...] A Caixa é uma parceira importante, porque é um órgão contratante deste tipo de serviço e para ela é importante que as obras tenham uma boa qualidade em sua execução, porque nós quando

financiamos, nós temos o prazo de garantia destes imóveis, então é fundamental para a Caixa este programa. (REPRESENTANTE DA CAIXA).

Esta visão da Caixa Econômica parece estar bem de acordo com a opinião dos construtores entrevistados, conforme exposto nos trechos seguintes:

O PBQP-H, ele minimiza risco para ela. Risco de vício de construção, risco da empresa perder rentabilidade e aí acabar trazendo prejuízo para a própria Caixa, na medida em que ela tem que assumir vícios de construção posterior (EMPRESÁRIO 1).

O que motiva, eu acho que é, justamente, evitar os desastres que já aconteceram, em obras feitas sem um padrão de qualidade. Na realidade, a Caixa quando financia, a garantia do financiamento é o próprio imóvel. Se aquele imóvel, é um imóvel mal concebido, essa garantia dela vai se deteriorar com o tempo. Então ela está botando o dinheiro dela, num produto podre (EMPRESÁRIO 3).

Eu acho que teve muita empresa aí, que esculhambou com a construção, andou fazendo muita construção com baixa qualidade e a Caixa Econômica, ela tinha que exigir das empresas algum sistema que garantisse essa qualidade. Como eu estava falando, não é a certificação do produto, mas a certificação da gestão, leva a um produto com qualidade. Então eu acho que a Caixa Econômica ela quis, exigindo essa certificação, uma melhoria de qualidade do produto, que estava realmente deixando a desejar (EMPRESÁRIO 2).

O motivo para a Caixa Econômica não aceitar a certificação ISO 9000 como equivalente ao PBQP-H, para fins de liberação de financiamento às construtoras, embora não seja bem explicado, parece estar numa ingerência externa no banco do Governo Federal, como demonstrado a seguir:

Não é que a Caixa não aceita a ISO 9000. O problema é que foi criado o PBQP-H, que é uma iniciativa do setor privado no Brasil, isto é, a nível nacional, ela é coordenada pelo Ministério da Cidade e do qual a Caixa tem uma relação muito forte [...] Não é um programa da Caixa, é um programa do governo, um programa de abrangência nacional, da sociedade e da iniciativa privada (REPRESENTANTE DA CAIXA).

Como o PBQP-H é fruto de um acordo entre a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e a Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidência da República (SEDU-PR), é claro que esta adesão da Caixa Econômica é quase que uma conseqüência natural. Isto ocorre devido à subordinação direta da

Caixa Econômica ao Governo. Entretanto acredita-se que isto também deriva de pressões da CBIC.

Além da Caixa Econômica, o Crea, outro importante agente, integrante do setor da construção civil, também ingressa no PBQP-H, porém com outro tipo de interesse.