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4. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO MODELO ISO 9000

4.12 PERCEPÇÕES SOBRE O PBQP-H

4.12.2 Reflexos do PBQP-H

Na passagem seguinte, é possível observar um ponto de vista sobre benefícios da certificação PBQP-H: ”Redução de custos, redução de material, um controle que nenhuma empresa tinha, ou seja, a riqueza de controle é muito maior” (CONSULTOR 2). E neste outro trecho:

A maioria, tanto quem tinha a ISO, quanto quem “correu” para o PBQP com as exigências, o primeiro resultado que elas vêem, é a qualidade na obra realmente. A qualidade não só da construção em si, mas o menor desperdício, da organização ou limpeza da obra. Então eu acho que a grande maioria, além da exigência, vê a performance melhorar e os custos diminuírem, em relação ao passado, devido à redução do desperdício. O pessoal mais qualificado, mais treinado, que são exigências [da norma PBQP-H] (GERENTE DO OCC1).

A organização também é apontada como um dos reflexos da certificação PBQP-H, conforme se pode notar nos trechos a seguir:

[...] no fundo, no fundo, ele exige que as empresas se organizem melhor e aí diminui o risco dos organismos emprestadores de dinheiro, na medida em que eles passam a lidar com empresas mais bem organizadas, mas preocupadas com cadeia produtiva [...] (EMPRESÁRIO 1).

O reflexo é uma organização melhor na empresa, planejando mais, checando mais as facilidades e dificuldades de uma obra, então ela com o sistema de ação da qualidade, faz com que ela pense melhor ao iniciar uma obra, planeje melhor [...], ela inspeciona os materiais utilizados na obra, [...] procurar cumprir o que foi combinado, que no fundo é isso, qualidade é atender aquilo que foi combinado com seu cliente. Então hoje ela fica mais criteriosa quanto a isso e a empresa passa a ganhar também, porque os empregados, colaboradores, passam a ver a empresa como uma coisa que constrói, traz coisas boas às pessoas, eles ficam mais participativos (CONSULTOR 1).

Embora acredite-se que haja um certo exagero no final do trecho anterior, parece verdade que algumas empresas pesquisadas, conforme demonstrado anteriormente, acabam conseguindo de fato um aumento na participação das pessoas, principalmente quando o treinamento no procedimento é também uma oportunidade para criticá-lo. Este processo de revisão de procedimentos contribui para melhoria da empresa, conforme exposto nesta opinião:

Vejo que acaba sistematizando todo os processos desenvolvidos na empresa, e quando isso é feito há condição de se analisar melhor todos os passos deste processo, então com isso, você analisando criticamente os passos deste processo, você tem condições de estar sempre implementando melhorias que vão, no final de contas, resultar em satisfação do cliente, em melhoria do produto. Sempre haverá um resultado ligado a melhor performance (GERENTE DO CREA 2).

Desta forma, PBQP-H também gera uma certa melhoria na qualidade do produto, conforme esta opinião:

Acho também que a maioria das construtoras estão aderindo a este programa que a construção tem que passar por uma qualificação melhor [...]. Na minha opinião, as construtoras estão aderindo isto, em parte, porque as grandes contratantes estão exigindo, e que é uma necessidade também de obter qualidade naquilo que eles produzem, verificar inclusive a qualidade (REPRESENTANTE DA CAIXA).

Outro reflexo do PBQP-H seria relacionado ao marketing, de acordo com estas opiniões:

[A empresa], ela tem uma condição muito maior na participação dela no mercado, em termos de concorrências que hoje são exigidos as certificações das empresas e até mesmo para negociar os seus produtos, isso aí vem a facilitar (TÉCNICO 1).

[...] outro reflexo, que eu acho que está dando um bom resultado para as empresas também, é que o público está mais esclarecido, então uma empresa que mostra sua qualificação PBQP, o consumidor já “olha com outros olhos”, já sabe que alguma garantia no produto que ele vai adquirir, diferentemente de outros que não tem, ele vai encontrar nessas empresas (GERENTE DO OCC1).

Sobre esta última afirmação, coloca-se em dúvida que os consumidores de imóveis residenciais (se é sobre eles que o entrevistado se refere) em geral tenham conhecimento do PBQP-H e o que ele significa. Esta dúvida aumenta, na medida em que nenhuma dos entrevistados nas construtoras comentou algo neste sentido.

Outra visão que se considera um tanto quanto fora da realidade é do consultor que não aceita trabalhar só com a ISO 9000 para uma construtora. Quando questionado sobre quais motivos levam uma construtora a buscar a certificação ISO 9000, ele respondeu: “Eu acho que por desinformação” (CONSULTOR 2).

Esta opinião deixa a impressão que o Consultor 2 não enxerga, ou não quer manifestar, a importância da certificação ISO 9000 como um instrumento de marketing para o consumidor habitacional, um apelo que não foi percebido no PBQP-H. Entretanto, vale lembrar que talvez o uso do certificado PBQP-H como mais um instrumento para tentar convencer um cliente potencial, mesmo ainda sem muita informação sobre o que ele representa, pode ser importante na tomada da decisão de compra do imóvel. A passagem seguinte é um exemplo de como o PBQP-H não é visto como diferencial:

Para mim, a certificação [PBQP-H], ela não muda muito a nossa empresa. Porque eu não pego financiamento, eu não faço obras de concorrência pública. Então no meu caso, eu fiz, para poder adequar e estar atendendo uma exigência, assim, se adequar no mercado. Mas para nós, hoje, não é diferencial (ENGENHEIRO 1).

Quando a empresa busca a certificação PBQP-H, geralmente por pressão do ambiente externo, começam a ocorrer algumas semelhanças com o processo de implantação da ISO 9000. Uma dessas semelhanças é que a certificação PBQP-H ocorre também em dois momentos:

O que acontece: quando num primeiro momento, quando você começa colocar assim: “a partir de agora, vai se exigir nas licitações”. Num primeiro momento, algumas empresas disseram até assim: “Pôxa, é mais alguma coisa que estão me cobrando”. Mas a partir do momento que a empresa começa a adotar, ela começa a perceber os ganhos, na padronização do processo, na questão de treinamento [...] (DIRETOR DO SINDICON, grifo nosso).

Outra semelhança é que o PBQP-H também serve como um instrumento que viabiliza a implantação das rotinas, principalmente no que diz respeito ao cumprimento do que está estabelecido no papel. Isto ocorre devido ao certificado, com validade de um ano, precisar ser renovado, por meio de outra auditoria, conforme comentado no trecho seguinte:

E na hora que o poder público, junto com Caixa Econômica, começa a exigir que as empresas tenham esta certificação, e como esta certificação [...] ela tem que ser reabilitada a cada tempo, eu acredito que com o passar do tempo, as empresas vão ficar mais eficientes no trabalho dela, devido a essas [auditorias]. Mesmo tendo esse efeito serrote, cai, depois sobe, cai, depois entra num processo de estabilização (EMPRESÁRIO 3).

Também, de forma semelhante à ISO 9000, existem alguns sistemas da qualidade, visando atender ao PBQP-H, somente “para fins de auditoria”, conforme se pode perceber em algumas passagens. Nesta, o entrevistado falando sobre o PBQP-H, acredita que... “Existem empresas que tem realmente um sistema de gestão da qualidade” (CONSULTOR 1). O que leva a subentender que também existe o contrário.

Os sistemas PBQP-H “para fins de auditoria” talvez ocorram devido à ...

[...] algumas empresas que ainda não perceberam o ganho do... acham que o ganho do programa é somente a questão de poder participar das licitações (DIRETOR DO SINDICON).

Assim, de acordo com o trecho seguinte, são vários fatores que motivam as empresas a buscarem a certificação PBQP-H:

Um fator é realmente procurar ter um sistema para que se tenha benefícios, outro é porque é quase que obrigatório, você não pode estar fora do mercado, e tem outros que entram no PBQP também até em termos de imagem, porque se ficar de fora da iniciativa privada também não passaria serviço (CONSULTOR 1, grifo nosso).

Na medida em que algumas empresas buscam o PBQP-H, somente por motivos de imagem, o instrumento gerencial acaba ficando relegado, conforme apontado na crítica a seguir, também dirigida à ISO 9000:

Agora eu vejo que as empresas tiram pouco proveito da ISO e do PBQP, sob o ponto de vista do gerenciamento. Porque na realidade, toda norma, todo esse processo, são feito normas no sentido de tornar a empresa mais eficaz e mais eficiente. Eu acho que as empresas ainda tem uma concepção de simplesmente fazer porquê a norma pede (CONSULTOR 2).

Considera-se que “fazer porque a norma pede” é o mesmo que fazer “para fins de auditoria”. Em seguida, ele continua sua crítica:

Então eles ainda não conseguiram melhor gerenciar, melhor estabelecer objetivos, melhor estabelecer metas, e trabalhar em cima de indicadores, eu acho que é uma falha. Acredito que apenas 10% das empresas certificadas têm a profundidade de absorver isso (CONSULTOR 2).

A dificuldade em estabelecer alguns objetivos e metas relacionados ao processo de construção já tinha sido relatada pelo Engenheiro 3.