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4. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO MODELO ISO 9000

4.12 PERCEPÇÕES SOBRE O PBQP-H

4.12.1 Motivos para a certificação PBQP-H

O PBQP-H é um programa fortemente apoiado pelo poder público. Os motivos que levam as construtoras a buscar a certificação, de acordo com a opinião dos entrevistados e pela própria experiência das empresas pesquisadas, parecem estar diretamente associados às exigências governamentais, seja em financiamento ou licitações, conforme demonstrado na passagem a seguir: “Para a maioria delas, [o motivo] está ligado a exigências de certames licitatórios a nível nacional” (EMPRESÁRIO 1). E também nos trechos seguintes:

Eu acho que é mais para atender a exigência aí de Caixa Econômica, de órgãos que tem financiamento, ou então para participar de concorrência, que algum órgão público já exige esse negócio. Porquê se não tivesse isso, eu acho que tinha muita empresa aí que não estava se envolvendo com essas implantações, com essas certificação (EMPRESÁRIO 2)

[...] elas vão buscar [o PBQP-H], uma vez que se elas quiserem entrar em qualquer concorrência, há de ser necessário. Se quiser pegar um empréstimo, um financiamento junto com a Caixa, ou construir para algum órgão público, ou Estadual, ou Municipal, que seja, vai da União até... vai precisar desses requisitos. Então, é uma condição sine quã non, uma condição básica. Então isso, é a prerrogativa inicial. A sua tem que ter. É melhor ter, do que não ter. Agora eu vejo assim, para nós, enquanto Empresa 3, construtora de obras privadas, entendeu? Independente, digamos, assim. Não muda não. Não mudou nada, para a gente (ENGENHEIRO 3).

Notou-se que, na empresa deste último entrevistado, a certificação PBQP-H foi buscada bem depois da empresa já estar com a ISO 9000. Assim, não foram necessárias adaptações à nova norma e, ao que parece, também não houve reflexos na parte de vendas. Assim, a certificação PBQP-H foi buscada... “[...] como mais um hand cap, para uma possível demanda, você já está habilitado a atender” (EMPRESÁRIO 3), conforme outro entrevistado da mesma empresa, também esclarece:

Porque eu tenho no meu escopo, da minha empresa, que nós poderíamos fazer obras públicas. No nosso planejamento estratégico, existe uma vertente, possível de pegar algum tipo de empreendimento, e é melhor você ter, porquê na hora que tiver, você já está com o título, com o certificado adequado, entendeu? (ENGENHEIRO 3).

Interessante que, enquanto o certificado ISO 9000 já foi comparado a um “diploma” por um entrevistado, o PBQP-H é chamado de “título”.

Embora a adesão ao PBQP-H seja teoricamente voluntária, o programa tem um claro objetivo de usar o poder público para pressionar a busca por esta certificação. Na outra ponta, encontram-se os poderes públicos, cuja adesão também vai depender de uma negociação política, visando os chamados Acordos Setoriais, conforme exposto neste trecho a seguir:

Ele visa utilizar o poder de compra dos órgãos públicos, para incentivar a qualificação do setor.

Então ele visa, através de acordos setoriais, que são tratados entre poder público e o setor produtivo [...] o objetivo desses acordos, assim: então se estabelece um prazo, quer dizer, é feito um acordo e a prefeitura, o município ou o estado, diz assim: “Ó: nós somos vamos contratar serviços de empresa que possuam um padrão mínimo de qualidade”.

E aí, ou seja, é feito esse acordo, se estabelece um cronograma, porque ele é um programa evolutivo, então se estabelece esse acordo e aí o poder público vai incluindo nas licitações, essas exigências de qualificação (DIRETOR DO SINDICON).

Para o PBQP-H atingir a meta de obter a adesão de 90% das construtoras, as exigências do setor público para financiamento ou nas licitações são de fundamental importância para seu sucesso, conforme esta opinião sobre como os construtores percebem o PBQP-H:

Como uma obrigação, como uma exigência do órgão contratante. Eu entendo que se fosse pela sensibilização do empresário, possivelmente 10% a 15% das empresas que hoje estão participando. Então se não houvesse a exigência regulamentar, a cobrança para poder participar de licitação, ou qualquer outro tipo de cobrança do órgão federal, as empresas não vão fazer adesão. A maioria, eu acho não vai. [...] a Caixa Econômica só vai financiar imóvel de empresa que tenha certificação. Tem que ter uma pressão que o governo faz para que as empresa se adequem a esta realidade (CONSULTOR 2, grifo nosso).

Um construtor também considera fundamental o apoio do governo ao programa, conforme demonstrado nesta passagem: “E o PBQP-H veio [...] é uma exigência, e que se você não tiver, você não entra. E às vezes, no Brasil, a coisa para funcionar tem quer ser assim [...] Ou seja, quer habilitar? Tem que entrar no processo” (EMPRESÁRIO 3).

Esta pressão do setor público, conforme exposto anteriormente, ocorre no âmbito federal, estadual e municipal, conforme se pode notar neste trecho onde o entrevistado fala sobre os motivos da certificação PBQP-H: “[...] além do poder dos

grandes contratantes, como a Caixa Econômica, eles têm exigido estar aderindo a

este programa“ (REPRESENTANTE DA CAIXA, grifo nosso). E neste outro trecho: “[...] Em primeiro lugar, eu acho pela adesão das grandes contratantes como Caixa Econômica, Governo Estadual, Municipal estão aderindo a este programa, e exigem esta qualificação” (REPRESENTANTE DA CAIXA, grifo nosso).

Assim, os acordos com o setor público são buscados para reforçar a imagem do programa, no sentido de que ele é algo necessário, até para a sociedade, conforme exposto a seguir:

[...] existe uma tendência muito forte dos organismos, em especiais, ligados ao Estado, a estabelecer, até para reforçar o PBQP-H, a imagem dele, a necessidade dele, exigências em certames licitatórios, em financiamentos, recursos para incorporação [...] (EMPRESÁRIO 1).

As exigências parecem ser o primeiro motivo que conduz as construtoras a buscarem o certificado PBQH-H, conforme exposto a seguir:

[...] o primeiro é a exigência que a gente já falou antes, de alguns órgãos governamentais, no que tange a licitações e também na parte de financiamento, melhor dizer, a Caixa Econômica no setor habitacional, se o empreendimento for ter financiamento para o usuário, o cliente, a empresa precisa ter o PBQP. Se não, ela não consegue esse financiamento da Caixa. Então, em primeiro lugar é a exigência, esse aí é o obvio que as empresas da habitação como um todo, elas correm atrás disso, devido às exigências (GERENTE DO OCC1, grifo nosso).

A Caixa Econômica também tem consciência sobre esta motivação:

[...] as construtoras tem aderido a este programa, porquê sabem que a Caixa só financia hoje quem estiver dentro deste programa, mas eu não tenho conhecimento de que as empresas estão ou não satisfeitas com o PBQP-H, acredito que estejam (REPRESENTANTE DA CAIXA).

Interessante que a Caixa Econômica apóia o PBQP-H, legitimando-o, porém parece pouco se preocupar com os reflexos do programa nos seus clientes, as construtoras.

A pressão do setor público no PBQP-H parece direcionar a ação desta empresa de consultoria, desde sua fundação, como se pode notar neste trecho:

[...] quando nós começamos nossa atividade em 2000, a gente trabalhou diretamente com o PBQP-H. A gente nunca fez trabalho só ISO. Porque? Porque a gente sabe das necessidades das empresas, que todos os órgãos federais contratantes e futuros órgãos contratantes estaduais, que viessem a cobrar certificações, cobrariam em cima do PBQP, e não da ISO. Então na realidade, sempre nosso “elo” foi o PBQP, de “lambuja” o cara ganhava a ISO (CONSULTOR 2).

Durante a pesquisa, percebeu-se que a empresa do Consultor 2 tem um foco quase que exclusivamente no PBQP-H, diferente da empresa do Consultor 1. Tanto que parece que a empresa do Consultor 2 passou a existir em função do PBQP-H.