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4. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO MODELO ISO 9000

4.3 O INICIO DA CERTIFICAÇÃO ISO 9000 NAS CONSTRUTORAS DO

4.3.1 Os eventos do Sindicon

Diversos eventos são promovidos pelo Sindicon. Alguns constam no calendário

Capixaba da Construção Civil ocorre desde 1992, e é o evento mais antigo e de maior repercussão promovido pela entidade. Desde 1997, ocorre também o Encontro dos Mestres e Encarregados.

A partir de 1999, deu-se início ao Encontro dos Engenheiros. Na primeira vez que ocorreram os dois encontros, que são realizados na mesma data, porém um pela manhã e outro à tarde, cerca de 550 profissionais estiveram reunidos. Paralelamente, ocorreu também a I Feira de Fornecedores de Insumos para Construção Civil, com a presença de 18 expositores (SINDICON, jan. 2000). Em 2002, a feira atingia o número de 25 fornecedores participantes. Outro agente importante no futuro, os organismos certificadores passariam também a participar, neste ano, do VI Qualicon.

O Qualicon é um evento que, conforme o próprio nome busca associar, está diretamente relacionado com a questão da qualidade, tanto que é organizado pela Comissão de Qualidade e Produtividade do Sindicon. Embora o primeiro Qualicon só tenha ocorrido em 1994, a primeira edição do na época denominado “Jornal do Sindicon”, em 1982, já trazia uma reportagem colocando a questão do controle de qualidade, dos materiais de construção, como sendo uma preocupação nacional. Isso ocorreu devido ao fato do representante do Sindicon, Pedro Zamborlini, ter participado da 1ª Reunião da Comissão de Material de Construção da CBIC.

Durante o encontro, foram colocadas em pauta, principalmente, duas questões: a da responsabilidade civil dos construtores e a dos materiais de baixa qualidade.

Quanta à primeira, estava sendo feita uma alteração no Código Civil, que previa penalidades cada vez maiores para os construtores em caso de problemas no uso da construção. Os construtores, por sua vez, se defendiam, conforme observado na reportagem:

Vale ressaltar que nós, construtores, como simples montadores que somos, ao usarmos um material no qual nem sempre podemos detectar a qualidade, passamos a responder sobre ele. Nesse sentido, então, cada membro das comissões locais apreentou [sic] uma listagem de materiais que estão causando problemas nas obras. É sabido que a maioria desses problemas só é detectada após a aplicação do material, o que gera transtornos e prejuízos às obras.

[...]

Sobre o controle de qualidade dos materiais, todos os estados, foram unânimes em afirmar que se torna impossível detectar isso no ato do recebimento. Principalmente no caso das pequenas empresas.

As diretrizes traçadas foram as seguintes: criar comissão com advogados atuantes em cada Estado para apresentar sugestões sobre como transferir para o fabricante de material a responsabilidade dos construtores; [...] (SINDICON, out. 1982, p. 4, grifo nosso).

É interessante observar como a questão, nesta época, era em parte refutada pelos construtores, na medida em que eles se reduziam a “simples montadores” e se sentiam desobrigados de terem responsabilidade sobre eventuais problemas que surgissem após a entrega da obra. Com o tempo, essa mentalidade vai se modificando, conforme pode ser notado nesta passagem:

Nós começamos a nos conscientizar, primeiro, antes da certificação, do próprio processo da qualidade, que era um tabu muito grande se falar em qualidade na construção civil. A gente começou a romper isso, já tem uns 8 anos, e nos certificamos tem uns 4 anos, mais ou menos, 4 a 5 anos que nós nos certificamos (EMPRESÁRIO 3).

Num período em que o mercado imobiliário já estava retraído em função da paralisação das atividades da Encol, houve a certificação da primeira construtora no Brasil. No final de 1995, a construtora Lacerda Chaves, de São Paulo, foi a primeira do setor, no Brasil, a certificar seu sistema da qualidade. A norma adotada foi a ISO 9002.

A 3° Qualicon, em 1996, tinha o objetivo explícito de incentivar as construtoras a implantarem sistemas da qualidade:

A terceira QUALICON quer reforçar aos participantes a importância da qualidade na construção civil. Cada vez mais existem empresas que se conscientizam da necessidade de se aderir aos programas de Gestão da Qualidade (SINDICON, set. 1996, p. 10).

Assim, o tema predominante nas palestras apresentadas era, logicamente, a qualidade, mais especificamente a certificação ISO 9000. Eis alguns títulos das palestras realizadas: Padronização de Processo na Construção Civil; Projeto Qualificar, relacionado à qualificação da mão-de-obra; O Desenvolvimento Tecnológico da Construção Civil; Melhoria de Produtividade na Construção Civil; A Qualidade e Compatibilização de Projetos; A Qualidade na Concepção do Empreendimento (Caderno Especial da 3ª Qualicon, SINDICON, set. 1996).

A palestra mais esperada era a do diretor administrativo da Construtora Lacerda Chaves, Carlos José de Lacerda Chaves, que apontou os benefícios da certificação para sua empresa:

[...] as reclamações dos clientes caíram para índices irrisórios diante do monitoramento do processo de produção e do aumento do rigor na inspeção final para liberação de entrega de apartamentos. As especificações para compras e parceria com fornecedores permitiu diminuição de 90% na rejeição de material de recebimento (CHAVES, 1996, p. 4).

A Construtora Lacerda Chaves é enaltecida pelo Sindicon, assim:

A experiência da Lacerda Chaves, sem dúvida serve de exemplo para que quer ser aventurar a certificação mundial [sic]. Valorizando a auto-estima dos funcionários, tornando-os parceiros no negócio, a construtora de Ribeirão Preto consegui, por exemplo, reduzir em até 100% a perda do material entregue na obra pelo fornecedor. A rotatividade da mão-de-obra caiu 50%. O retrabalho também diminui e a empresa aumentou a produtividade e o volume de vendas. [...] (SINDICON, out. 1996, p. 6).

Outra palestra de grande interesse foi a do consultor e diretor do Centro de Tecnologia e Edificações (CTE), Roberto de Souza, intitulada “Sistema de Gestão da Qualidade em Empresas Construtoras” (Caderno Especial da 3ª Qualicon,

SINDICON, set. 1996). O CTE, na época, já tinha implantado programas de qualidade em 120 construtoras, sendo 80 localizadas no estado de São Paulo e o restante em outros estados da federação. Souza considera que, durante o processo de implantação da ISO 9000, para se obter sucesso, “[...] Toda cúpula tem que estar envolvida no processo, porque o setor é competitivo, o cliente exigente, a concorrência é acirrada precisando do engajamento de todos, e muitas empresas não estão preparadas para isto” (SINDICON, out. 1996, p. 6).

A partir da realização deste evento, constatou-se que as construtoras, gradualmente, passaram a buscar a certificação ISO 9000. Inicialmente, buscando diretamente empresas de consultoria e, posteriormente, por meio dos grupos de empresas, formados pelos Sindicon.