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Para Pfeffer e Salancik (1978), a compreensão sobre o comportamento organizacional deve considerar, principalmente, como a organização se relaciona com os outros atores sociais em seu ambiente. Nesta perspectiva, as organizações conformam-se com demandas de outros atores sociais, porque eles agem gerenciando dependências, o que gera restrições sobre os atores organizacionais. Assim, as organizações são dirigidas, em alguns aspectos, por agentes externos que a impõem restrições e controle.

Para a Teoria da Dependência de Recursos, as organizações dependem do ambiente em que estão inseridas, no que se refere à aquisição de recursos para sua sobrevivência. Nesta perspectiva, a complexidade, o dinamismo e a quantidade de recursos disponíveis refletem a dificuldade que a organização enfrenta no

gerenciamento de suas operações. Desta forma, a organização busca, constantemente, controlar os recursos essenciais, por meio de relações de poder. Quanto maior a dependência de uma organização em relação à outra, maior o poder que esta possui sobre a primeira.

Como a organização não controla todos os recursos que precisa, a aquisição deles pode ser problemática e incerta. Outros que controlam os recursos podem se tornar independentes, particularmente quando estes se tornam escassos. Organizações negociam o controle sobre recursos providos por agentes, com poder sobre as organizações. A sobrevivência das organizações é explicada pela habilidade em gerenciar as contingências ambientais. Negociar mudanças, para garantir o suprimento de recursos necessários, é o foco da ação organizacional (PFEFFER; SALANCIK, 1978).

De acordo com a perspectiva da Dependência de Recursos...

[...] os dirigentes de uma organização procurarão influenciar o controle desses recursos raros por meio de redes de relações pessoas e influências mútuas, convidando outros dirigentes de instituições bancárias, governamentais, profissionais etc. a fazer parte do comitê de direção de sua organização (MOTTA; VASCONCELOS, 2002, p. 387),

Nessa abordagem, o foco da ação gerencial são as oportunidades e ameaças do ambiente no qual a organização está inserida. Assim, as organizações tentam diminuir a incerteza quanto à garantia dos recursos, por meio de influências no ambiente, conforme poder que detêm. A chave para o “jogo de influências” são as estruturas que se formam quando a organização interage com outras. “Para tanto, as organizações buscam ser ativas politicamente a fim de garantir o seu acesso aos

recursos necessário à sua sobrevivência e aumentar a segurança” (MOTTA; VASCONCELOS, 2002, p. 387-388).

Ao contrário da Teoria da Ecologia Populacional, percebe-se que, na Teoria da Dependência de Recursos, as organizações possuem um papel mais ativo, o que nega a visão da dependência externa, quase como um fator natural do ambiente. “O ambiente passa a ser visto como o resultado de um processo de estruturação organizacional, pelo qual os diversos grupos organizacionais tentarão se influenciar mutuamente para controlar os recursos e diminuir a incerteza” (MOTTA; VASCONCELOS, 2002, p. 388).

Na estruturação das relações com as outras organizações, tenta-se sempre influenciar a ação organizacional dos outros componentes, visando limitar a competição, reduzir a incerteza e garantir recursos para sua sobrevivência. Também busca-se satisfazer necessidades de outras organizações, visando obter algum recurso ou vantagem.

Nas organizações, são as estruturas do comportamento de vários participantes que pressionam a própria organização. Atividades e comportamentos, e não os atores sociais, são organizados dentro das estruturas. Em função dos atores sociais poderem ter alguma atividade incluída em estruturas diferentes, a inclusão em uma organização, geralmente, é parcial.

Neste contexto, os limites organizacionais podem ser definidos pelo controle da organização sobre as ações dos participantes, relativas ao controle de outras entidades sociais sobre esta mesma atividade. Controle é a habilidade para iniciar ou terminar ações, com uma certa discrição. O controle da organização sobre as atividades nunca é absoluto, pois sempre há reivindicações, competindo pelo

controle de determinadas atividades. Tentativas são realizadas, entretanto, para estabilizar atividades, via mudanças institucionais.

Essas mudanças institucionais ocorrem por intermédio de regras formais e pelo uso de outros mecanismos de controle. Nesta perspectiva, um conjunto de atividades interligadas, controladas pela organização, constituem a própria organização. Esta é a mais importante fonte de controle, para alcançar as estruturas interligadas do comportamento. Entretanto, esta fonte depende da habilidade em autorizar indivíduos, para agirem em prol dos interesses da organização, visando regular o uso, acesso e alocação de fontes geradoras de recursos (PFEFFER; SALANCIK, 1978).

A influência de uma organização sobre outra depende do controle que ela possui sobre os recursos vitais que a outra necessita. Quanto mais raro for o recurso, maior será a influência sobre a organização dependente. O controle da incerteza é visto como fonte de poder.

Embora o ideal para uma organização seja ter autonomia sobre os recursos, dificilmente isto acontece. Na realidade, quase sempre organizações não são totalmente autônomas, nem completamente dependentes. Desta forma, organizações se estruturam em torno de interdependências organizacionais (MOTTA; VASCONCELOS, 2002).

2.2.1 As Interdependências Organizacionais

As organizações desenvolvem dependências em dois níveis: com organizações do mesmo setor e com organizações de outros setores. Dentro de ambos os níveis,

podem ser encontradas interdependências simbióticas complementares, portanto não competitivas, e outras interdependências, competitivas.

De acordo com esta perspectiva, para as organizações influenciarem o ambiente, devem realizar acordos estratégicos, visando controlar os recursos e, por conseguinte, diminuir a incerteza. Entretanto, ao estabelecer vínculos interorganizacionais, a organização negocia interesses, o que implica algumas vezes, em concessões. Assim, busca-se estrategicamente acordos que permitam a obtenção do maior controle sobre os recursos, e que preserve o máximo de autonomia da organização. No estabelecimento destes acordos, quanto maior for a importância e a incerteza dos recursos, maior será o seu grau de formalidade (MOTTA; VASCONCELOS, 2002).

As concessões ocorrem porque as organizações são coalizões de interesses distintos. A questão sobre quais interesses prevalecem na ação organizacional é fundamental para a determinação destas ações. Questões sobre poder são negligenciadas tão freqüentemente pelo foco na eficácia. Entretanto, eficácia e performance organizacional só podem ser avaliadas mediante o questionamento sobre quais interesses estão em jogo.

Organizações, além de serem coalizões de interesses, são mercados no quais influência e controle são negociados. Quando uma organização é criada, atividades e produtos ou serviços potenciais são criados. Faz parte dos interesses daqueles que exigem recursos tentar controlar e influenciar a organização. Participantes se esforçam para mudar seus próprios esforços, sua performance, para ter mais controle sobre o esforço coletivo, e então eles usam este controle para iniciar ações de interesse próprio.

Na organização, como em outro sistema social, o poder se organiza em torno de recursos críticos e escassos. Por extensão, os participantes que fornecem este tipo de recurso obtêm mais controle sobre a organização. Naturalmente, a determinação do que é crítico e escasso é, por si mesma, aberta a mudanças e definições. Poder é, portanto, determinado pela definição da realidade social criada pelos participantes, bem como pelo controle sobre os recursos (PFEFFER; SALANCIK, 1978).

Participantes diferem na intensidade com a qual a organização controla suas atividades. Alguns participantes provêm recursos, mas não são firmemente ligados à organização. Estes atores, que podem ser organizações, grupos ou indivíduos, constituem o ambiente social ou o contexto da organização. Assim, quando estes atores, que controlam recursos críticos, e algumas outras condições são reunidas, eles assumem uma posição para influenciar a ação das organizações.

Em síntese, Pfeffer e Salancik, (1978) se referem ao controle social das organizações. Nesta perspectiva, poder e jogo de influências são determinantes das dependências organizacionais. Entretanto, o processo de estabelecimento das “regras do jogo” não é abordado. Este processo de determinar o que é “certo” , a Teoria Neo-institucional denomina de “construção da realidade”.