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2 INSTRUMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DE CIDADES DEMOCRÁTICAS E

2.4 AUDIÊNCIAS PÚBLICAS

A audiência pública é dos mais importantes mecanismos de gestão democrática das cidades, quer por sua usualidade, quer por sua amplitude, vez que cria espaços para informar, debater e decidir. Este é o instrumento que permite que as pessoas se manifestem e interfiram nos rumos da gestão sempre que seus interesses estiverem em jogo.

De acordo com Mariana Mencio109, a audiência pública é um evento,

(...) uma sessão de discussão, aberta ao povo, promovida pelo Poder Público, na qual os cidadãos exercerão o direito de manifestar suas opiniões sobre certos planos e projetos de lei e a Administração Pública ou Poder Legislativo informarão e esclarecerão dúvidas sobre esses projetos para a população interessada, que será atingida por determinada decisão administrativa ou edição de lei.

A audiência seria, portanto, via de mão dupla, onde o Poder Público, ao mesmo tempo em que informa, é também informado sobre os interesses e expectativas daquele grupo sobre seus projetos e interesses. Sua realização favorece a reunião e o confronto de diversos argumentos e pontos de vistas que contribuirão para que o gestor tome a decisão mais adequada ao caso em questão.

Há diversas previsões em leis federais sobre a obrigatoriedade da realização de audiências públicas, como afirma Mariana Mencio110:

(...) é possível concluir que a audiência pública para ser considerada obrigatória precisa estar prevista em Lei e regulamentada por Decreto para que possa produzir seus efeitos jurídicos, influenciando de forma consultiva o processo decisório da autoridade competente, sobre interesses difusos ou coletivos, e servindo de baliza para a exposição das razões e motivos da tomada de decisão por parte da autoridade competente.

Ou seja, para que a audiência pública seja exigível, é preciso que haja previsão expressa na legislação. Nos aspectos que interessam a este estudo, as previsões constam nos seguintes dispositivos, inciso XIII, do artigo 2º, inciso I e § 4º do artigo 40, inciso II, do artigo 43, todos do Estatuto da Cidade, bem como nos artigos 5º, 8º e 9º, da Resolução nº 25 do Conselho das Cidades. Assim, havendo previsão legal, a audiência deve ser realizada. A ausência de previsão legal não impede que a audiência ocorra ± seja por mera liberalidade dos

109MENCIO, Mariana. Regime jurídico das audiências públicas na gestão democrática das cidades. Belo

Horizonte: Fórum, 2007. p. 113.

órgãos públicos, que pretendem ouvir a população, seja por iniciativa popular, conforme previsto no artigo 9º, da Resolução nº 25 do Conselho das Cidades.111

A comunicação de sua realização deve ter ampla abrangência, possibilitando que todos os interessados saibam do evento. Para isso, diversos meios podem ser utilizados, especialmente os mais populares, como rádio, televisão e jornal. Mariana Mencio vincula à realização das audiências o princípio da publicidade, aplicado à Administração Pública, o que gera os seguintes deveres:

(...) necessidade de noticiar com antecedência a realização de audiências, possibilidade de acesso ao local por todos os interessados, escolha de dias e horários favoráveis ao comparecimento dos cidadãos, comunicação prévia do conteúdo que será discutido, como forma de possibilitar que os interessados elaborem suas dúvidas e questionamentos com antecedência, auxiliando a promoção dos debates.112

Todos esses requisitos e cautelas com a finalidade de buscar a máxima participação, que deve primar pela pluralidade na participação, como prevê o artigo 5º, da Resolução nº 25, do Conselho das Cidades:

Art. 5º - A organização do processo participativo deverá garantir a diversidade, nos seguintes termos:

I ± realização dos debates por segmentos sociais, por temas e por divisões

territoriais, tais como bairros, distritos, setores entre outros; II -garantia da alternância dos locais de discussão.

Essas diretrizes estabelecidas pelo Conselho, ao separar por temas e segmentos, facilitam a organização do debate, aumentando a eficiência dos próprios mecanismos.

Com relação aos resultados, como já mencionado, é importante que as decisões, após realização das audiências públicas, sejam fundamentadas:

(...) os órgãos públicos deverão indicar, em suas decisões, as razões que foram levantadas nos debates públicos e registradas em atas ou em filmes e gravações fonográficas, como forma de fundamentar o posicionamento final adotado, sobretudo se o posicionamento manifestado pelos administrados for contrário ao desejado pela Administração Pública.113

Isso quer dizer que seu resultado não tem força vinculante, o gestor não está obrigado a se orientar pelo resultado do debate. Contudo, para que opte por caminho diverso, sua

111³$UWž- A audiência pública poderá ser convocada pela própria Sociedade Civil quando solicitada por no

mínimo 1 % (um por cento) dos eleitores do municíSLR´

112MENCIO, Mariana. Regime jurídico das audiências públicas na gestão democrática das cidades. Belo

Horizonte: Fórum, 2007. p. 135.

decisão deverá ser fartamente fundamentada, sob pena de que ela não se sustente, carecendo de legitimidade. Aqui vale destacar que o reconhecimento, pela sociedade, de que teve participação na decisão tomada, conflui positivamente para seu cumprimento. Ou seja, tende a ser mais espontâneo, por parte da sociedade, a aceitação e o trabalho no sentido da efetividade da medida.114

Por outro lado, havendo previsão legal para a realização da audiência, é imperioso que ela seja respeitada, podendo, inclusive, haver a aplicação de sanção caso não seja ou então, caso realizada, deixe de cumprir algum requisito essencial. Alguns mecanismos de controle para isso são a Ação Civil Pública e até mesmo a Ação Direta de Inconstitucionalidade quando a lei deveria, mas não previu necessidade de realização da audiência.

1140DULDQD0HQFLRHPVXDREUD³5HJLPH-XUtGLFRGDs audiências públicas QDJHVWmRGHPRFUiWLFDGDVFLGDGHV´

traduz todo o rico debate existente sobre a vinculação ou não dos resultados obtidos nas audiências públicas, aprofundando, inclusive, o estudo sobre as consequências da não realização das audiências na gestão urbana.