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4 NOVA LUZ

4.5 O CONSELHO GESTOR DA NOVA LUZ

4.5.2 Projeto Nova Luz e a Produção de HIS

É realizada uma reunião específica para tratar do Projeto Nova Luz, com a participação de uma representante de uma das empresas do consórcio Nova Luz. Detalha como foi o processo de elaboração do Plano, a partir da leitura física e socioeconômica do território, sucedida da identificação da população, e a identificação da destinação/uso dos imóveis atualmente para que sejam compatíveis com as futuras alterações. Sobre a quantidade de HIS para a área de ZEIS, ela esclarece:

(...) as famílias de rendas de zero a seis salários mínimos, para elas nós temos uma proposta de 1.160 unidades habitacionais, das quais 39,7% têm 42 metros quadrados, ou seja, são 855 unidades, em torno de 42 metros quadrados. A gente fala 42 como referência, citando que estes metros quadrados, já fizemos a retirada das áreas de circulação, então estamos falando em área útil, e 14,2% com unidades de 50 metros quadrados. Ou seja; 305 unidades que somando chegaríamos as 1.160 unidades de HIS.

HMP que vai de 6 a 16 salários mínimos, nós temos 11,3% também com 42 metros quadrados, 242 unidades ofertadas nesse cenário, 23,7% de 50 metros quadrados, 511 unidades, e 11,1% com 65 metros quadrado, 239 unidades. Perfazendo então, no caso de HMP 992 unidades habitacionais, que somam as 2.152 unidades oferecidas nesse modelo.169

167Ata reunião Conselho Gestor dia 06 de julho de 2011.

168A literalidade, da transcrição, algumas vezes contendo erros, deve-se ao fato de as atas serem transcritas. 169Ata da reunião do Conselho Gestor do dia 24 de agosto de 2011.

E esta apresentação traz questionamento muito pertinente, que é justamente referente às famílias de 0 (zero) a 06 (seis) salários mínimos, que, muitas vezes pelo seu tamanho e composição, não cabem numa unidade de 42m2. E a resposta da SMDU é de que este é o parâmetro legal! É muito pertinente a preocupação dos conselheiros sobre a quantidade de unidades de HMP e HIS que serão construídas, e isso porque, segundo eles:

O pré-cadastro realizado pela equipe técnica do Projeto Nova Luz afirma que 49,5% da população da área de projeto mora de aluguel, e que 44,49% possui renda inferior a 3 salários mínimos e 36,99 possui renda entre 3 e 6 salários mínimos, ou seja, 81,38% da população residente no perímetro do projeto Nova Luz é população com perfil de HIS.170

Ou seja, a maior demanda pela faixa abrangida pela HIS justifica que sejam feitas mais unidades do que de HMP, além da necessidade de se ampliar a construção de HIS para além da área de ZEIS.

Há dois projetos que são muito questionados na área de ZEIS. O primeiro é a instalação da FATEC171, uma vez que 80% da área de ZEIS deveriam ser destinadas à habitação. Contudo, a SMDU esclarece que o Plano Diretor prevê uma exceção que, quando se tratar de equipamento público, 100% dela pode ser destinada a este fim. E que, além disso, a obra é do governo do Estado e prévia ao Projeto Nova Luz, então menciona que não houve espaço para debate no âmbito municipal.

O segundo projeto que surpreende os conselheiros da Sociedade Civil é a construção de unidades da CDHU, também em área de ZEIS. Interrogam sobre qual será a contrapartida que apresentarão à região, já que aumentará o fluxo de pessoas e trará consequente problema de mobilidade. Os moradores ficam muito inseguros, desconfiam que as unidades de HIS necessárias nas áreas de ZEIS não serão contempladas no projeto. Além desta inquietação, têm receio de que as unidades de HIS acabem sendo transformadas em espaços comerciais com o passar do tempo.

Foi definido que no posto de atendimento, instalado pelo consórcio na região da Nova Luz para esclarecer as dúvidas dos moradores serão distribuídos os folhetos explicativos do cadastro, bem como será disponibilizado o formulário, para que os moradores possam ir se familiarizando e tendo mais segurança com relação às ações da PMSP. Apesar da controvérsia

170Ata da reunião do Conselho Gestor do dia 21 de setembro de 2011.

171FATEC Nova Luz. A nave que pousou no centro de SP! Compare o projeto e a obra pronta! O Projeto Nova

Luz começa a se revelar. Apropriação da Luz, 31 jul. 2012. Disponível em: <http://apropriacaodaluz.blogspot.com.br/2012/07/fatec-nova-luz-nave-que-pousou-no.html>. Acesso em: 12 set. 2012.

sobre a possibilidade de se tirar ou não fotos das casas e dos documentos, a SEHAB esclareceu que a foto dos imóveis foi abolida no Projeto Nova Luz, contudo, a fotografia dos documentos é um método bem mais prático de substituir D³;HUR[´DIRWRFySLD

O prazo para apresentar sugestões e alterações ao projeto aflige os moradores, pois, SRUWHUR QRPH GH ³3URMHWR 8UEDQtVWLFR &RQVROLGDGR´ ³WUDQVPLWH D LPSUHVVmR´ GH TXH VXD construção já estaria finalizada. Porém, a SMDU esclarece que, apesar do nome, o projeto ainda está em debate e aberto a sugestões do conselho, ainda não está acabado, e provavelmente só será enviado à consulta pública em poucos meses.

E uma das preocupações centrais ocorre porque há diversas demandas de atendimento à população de baixa renda que não estão dentro do perímetro da ZEIS, como a ocupação da Rua Mauá, por exemplo, onde há uma resistência histórica dos movimentos de luta pela moradia, que pretendem ser atendidos lá, e não dentro da ZEIS ao todo são 240 famílias.

Outra preocupação dos moradores é com relação à manutenção do comércio no térreo dos edifícios comerciais, e também a necessidade de alguma garantia que lhes assegure que mesmo com o deslocamento de suas moradias, eles serão mantidos no mesmo perímetro. Nesse sentido, Paula Ribas afirma:

Nós queremos a garantia de permanência na região. Porque todos os grupos que estão aqui, de alguma maneira, têm raiz e tá na região. Ponto. Qualquer um. Pode olhar pra qualquer pessoa que tá aqui. Todos nós,aqui, temos alguma história com aquela região. Então, quando você diz que tem a intenção de garantir a permanência, pra gente, isso é muito pouco. Aliás, isso não é nada. Porque são histórias de vida, são histórias em que não dá pra gente ficar na intenção da Prefeitura ou do poder privado, ou do Poder Público. A gente quer realmente, no papel, na lei, naquilo que for garantia de permanência.172

Esta demanda de manutenção do comércio no térreo de apartamentos residenciais é o retrato do espírito das ZEIS, a mistura de usos, garantindo a diversidade e a viabilidade econômica do imóvel é exatamente o que se pretende com a delimitação das ZEIS!

Os moradores não se sentem protegidos, e desconfiam de qualquer informação que não lhes seja passada por escrito. E a fala de Elias, que não é membro do conselho, mas acompanha as reuniões, reforça esta preocupação:

E qual é o problema por parte das pessoas que vocês representam, em garantir que esse número de pessoas que têm raiz, e amam o lugar, e têm história lá, fique lá? Por que tanta... tanto problema? Porque eu fiquei indignado. Eu tava lá no fundo, numa resposta sua, Luis, é muito simples o que a gente quer. É uma garantia simples. A gente não quer ser tratado como intruso, lá. Nós estamos lá. Nós construímos a área, lá. Minha família é uma família árabe, que está lá há 100 anos. Eu tô lá há 25. E eu

me sinto intruso. Na verdade, me desculpa, são outras pessoas que tão invadindo o lugar em que construí, e que moradores e comerciantes estão lá.

(...)

Um embate de mágoa. Um embate... Porque eu... eu sou muito importante pra área. Meu pai é... Antes de ser chamada cracolândia, era chamada Boca do Lixo, aquela área. E quando meu pai abria a porta da lojinha dele, e eu estava com ele, havia uma pessoa morta, ali. A gente chamava a polícia, tirava a polícia de lá... então a gente construiu, de uma certa forma... a gente não pode se sentir rejeitado dessa forma.173

Esta manifestação reflete como os moradores da Luz se sentem parte do local, da região, conhecem detalhes do bairro, acompanharam a evolução do local ao longo dos anos, e estão desesperados pela possibilidade de que toda sua história seja apagada com a implantação do Projeto Nova Luz. E a SMDU, em resposta, explica que não pode dar certezas que eles ainda não têm, pois as políticas para garanti-las precisam ser construídas:

$JHQWHQmRSRGHVLPSOHVPHQWHFKHJDUHIDODUWDOYH]SDUHoDVLPSOHVGL]HU³ROKD HVWi JDUDQWLGR 7RGRV ILFDP´. A gente tem que construir esse mecanismo. Explicando como é que essa garantia funciona. Quem fica... Porque, mesmo nas reuniões com os comerciantes, vocês colocam um cenário muito diversificado. Porque num primeiro momento, a leitura que pode se fazer, quando a gente faz a leitura pro residencial, ela é muito mais simples. Porque pro residencial, você costuma ter o proprietário, que pode morar no imóvel, você pode ter uma situação que você tenha um imóvel alugado, então você tem um proprietário e um locatário, e só. No caso do comércio, ela é muito mais complexa. Há situações onde você de fato tem o comerciante, que é o proprietário do imóvel. Ou você tem o proprietário do imóvel, e um locatário do imóvel. Mas há muitas situações relatadas pelas Associações de Comércio, que você tem o proprietário, um locatário, que administra um espaço, um outro, vamos chamar de sublocatário, e aí, o cara que opera. É uma rede de pessoas trabalhando.

(...)

Então, por isso também é importante a construção dessa instrução normativa, porque jVYH]HVDJHQWHSRGHDWpIDODU³QmRHXJDUDQWR7iDVVLQDGRWiJDUDQWLGR´0DV garante quem, em que momento? Porque a gente tá falando numa intervenção de 15 anos.174

Outra dúvida recorrente em quase todas as reuniões é sobre o valor que os proprietários receberão em razão da desapropriação. A SMDU explica que, como se trata de processo judicial regulamentado por lei, não se pode dar uma resposta objetiva.