• Nenhum resultado encontrado

Augusto Teixeira de Freitas nasceu em Cachoeira, na Bahia, em 19 de agosto de 1816. Estudou na Academia das Ciências Sociais e Jurídicas de Olinda, tendo obtido o grau de bacharel em 1837. Atuou como Juiz de Direito na Bahia (nomeação em 1838) e foi um dos fundadores do Instituto dos Advogados no Rio de Janeiro (em 1843). 377

Teixeira de Freitas foi escolhido pelo Governo Imperial para elaborar um projeto de Código Civil para o Brasil. Nesse processo de codificação, suas obras Consolidação das Leis

Civis e Esboço tiveram papel importantíssimo e contribuíram para que Teixeira de Freitas

fosse reconhecido nacional e internacionalmente.

O civilista faleceu em 12 de dezembro de 1883. 378

Em 1845, preocupado com a situação da legislação civil brasileira e defendendo a sua codificação, o presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros apresentou um memorial

375 RIBAS, Antonio Joaquim. Curso de Direito Civil Brasileiro: Parte Geral. Tomo II. Rio de Janeiro: Tipografia

Universal de Laemmert, 1865. p. 37.

376

RIBAS, Antonio Joaquim. Curso de Direito Civil Brasileiro: Parte Geral. Tomo II. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1865. p. 38.

377 CÂMARA, José Gomes B. . Subsídios para a História do Direito Pátrio. Tomo III. 1822-1889. Rio de

Janeiro: Livraria Brasiliana Editora, 1966. p. 130/136.

378 CÂMARA, José Gomes B. . Subsídios para a História do Direito Pátrio. Tomo III. 1822-1889. Rio de

122 intitulado de Da revisão geral e codificação das leis civis e do processo no Brasil. Na mesma época, Euzébio de Queiroz propôs que fosse adotada como Código Civil no Brasil a obra

Digesto Português, de Correa Telles. 379

Entretanto, uma terceira opinião prevaleceu. Optou-se por, antes da codificação, realizar a consolidação das leis civis então vigentes.

No ano de 1855, a tarefa de consolidação foi confiada ao jurista Augusto Teixeira de Freitas. 380

Em 1857, Teixeira de Freitas concluiu a tarefa e publicou seu trabalho, intitulado

Consolidação das Leis Civis. 381

A Consolidação das Leis Civis de Teixeira de Freitas estava dividida em duas partes: uma parte geral e uma parte especial. A parte geral era composta de dois títulos. O título primeiro tratava das pessoas e o título segundo tratava das coisas. A parte especial também era composta de dois livros. O livro primeiro tratava dos direitos pessoais e o livro segundo dos direitos reais. 382

Não há na referida obra um capítulo destinado ao tratamento da adoção.

Contudo, na parte especial, no livro primeiro, em sua primeira seção, havia um título referente à filiação: Título 3º. Dos filhos ilegítimos e dos adotivos. Neste título, o artigo 217 fazia referência ao instituto da adoção:

“Art. 217. Aos juízes de primeira instância compete conceder cartas de legitimação aos filhos sacrílegos, adulterinos, e incestuosos, e confirmar as adoções; precedendo as necessárias informações, e audiência dos interessados, havendo- os.”383

379 ROBERTO, Giordano Bruno Soares. Introdução à História do Direito Privado e da Codificação. 2ª. ed. Belo

Horizonte: Editora Del Rey, 2008. p. 52.

380 ROBERTO, Giordano Bruno Soares. Introdução à História do Direito Privado e da Codificação. 2ª. ed. Belo

Horizonte: Editora Del Rey, 2008. p. 52.

381

FREITAS, Augusto Teixeira de. Esboço. Volume II. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857.

382 FREITAS, Augusto Teixeira de. Consolidação das Leis Civis. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de

Laemmert, 1857.

383 FREITAS, Augusto Teixeira de. Consolidação das Leis Civis. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de

123 Nota-se que o referido artigo apenas se referia à competência dos juízes de primeira instância para confirmar as adoções.

E não podia ser diferente, pois se tratava de uma consolidação da legislação civil então vigente. Como as Ordenações Filipinas não disciplinaram completamente o instituto, bem como não foram promulgadas muitas leis brasileiras referentes à adoção, não seria possível que Teixeira de Freitas constasse na Consolidação das Leis Civis uma ampla regulamentação jurídica do instituto.

Ao se referir às confirmações das adoções no citado artigo, Teixeira de Freitas também não chegou a realizar considerações sobre a regulamentação do instituto 384. Apenas observou o seguinte: “(...) adoções pagam o imposto da tabel. de 1841, §38 e dele tratam a Decis. n. 76 de 10 de Julho de 1850, n. 258 de 29 de Outubro de 1851, e n. 236 de 18 de Outubro de 1852”. 385

Em seguida, no artigo 224 da Consolidação das Leis Civis, Teixeira de Freitas se referia novamente ao instituto da adoção ao dispor: “Nem os filhos naturais, nem os adotivos, podem citar os pais, sem primeiro impetrarem licença ao juiz da causa”. 386

No mesmo sentido, o civilista apenas constou em sua obra um dispositivo filipino que fazia referência ao instituto da adoção (Ord., L. 3, T. 9, §2º.).

Com relação ao direito à sucessão ab intestato, constata-se que Teixeira de Freitas não se referiu aos filhos adotivos no terceiro título do livro segundo da Consolidação das Leis

Civis.

Contudo, vale destacar as considerações realizadas por Teixeira de Freitas ao tratar do artigo 964, que dispunha: “A escritura pública do reconhecimento paterno não é só por si bastante, para os filhos naturais haverem a herança; eles devem competentemente habilitar-se, provando a qualidade de simplesmente naturais na forma do Art. 208.” 387

384 Vale destacar, no entanto, a observação realizada por Teixeira de Freitas ao tratar das legitimações no citado

artigo 217. Esclarecia o civilista: “(...) Com muita repugnância transcrevi a disposição supra da Lei de 1828, porque hoje não podem haver legitimações – per rescriptum principis. – Elas eram uma graça do antigo Soberano, e uma dispensa na Lei, habilitando filhos ilegítimos, que a mesma Lei declarava insucessíveis. Foi uma inadvertência dar-se tal atribuição ao Poder Judicial.” in: FREITAS, Augusto Teixeira de. Consolidação

das Leis Civis. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857. p. 86.

385

FREITAS, Augusto Teixeira de. Consolidação das Leis Civis. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857. p. 86.

386 FREITAS, Augusto Teixeira de. Consolidação das Leis Civis. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de

Laemmert, 1857. p. 88.

387 FREITAS, Augusto Teixeira de. Consolidação das Leis Civis. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de

124 Segundo Teixeira de Freitas, os filhos espúrios não tinham direito à sucessão ab

intestato, mesmo tendo sido lavrada uma escritura pública de reconhecimento ou perfilhação.

Conforme o civilista, a sucessão ab intestato era vedada aos “filhos de coito danado” e, portanto, nada lhes aproveitava o reconhecimento paterno em escritura publica. 388

Diante disso, Teixeira de Freitas argumentava:

“(...) É muito duro, que o reconhecimento paterno, não aproveite em todos os casos, quando, nos termos do Decr. de 11 de Agosto de 1831, podem ser reconhecidos em testamento os filhos ilegítimos de qualquer espécie. Não estão admitidas as adoções? Pois os estranhos devem ser mais favorecidos, do que os próprios filhos, embora de coito ilícito? Ninguém se opõe às adoções sob pretexto de importarem em pactos sucessórios.” 389

Pode-se afirmar, assim, que as considerações realizadas por Teixeira Freitas fortalecem a afirmação realizada anteriormente no sentido de que a adoção foi utilizada no século XIX para introduzir um filho espúrio na família e, consequentemente, para lhe conceder os direitos sucessórios, pois diferentemente dele, ao filho adotivo era concedido o direito à sucessão ab intestato.390

No ano de 1858, o Governo Imperial determinou a elaboração de um código civil e incumbiu à Teixeira de Freitas a referida tarefa, marcando-lhe o prazo para a conclusão do trabalho em 31 de dezembro de 1861, sendo o mesmo, em seguida, prorrogado para 30 de junho de 1864. 391

No ano de 1860, Teixeira de Freitas começou a divulgar seu trabalho, ainda incompleto, dando-lhe o nome de Esboço. A partir da primeira publicação, o Esboço continuou sendo divulgado por, pelo menos, outras seis edições, que se seguiram até o ano de 1865. 392

388 FREITAS, Augusto Teixeira de. Consolidação das Leis Civis. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de

Laemmert, 1857. p. 345.

389

FREITAS, Augusto Teixeira de. Consolidação das Leis Civis. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857. p. 346.

390 Com relação à sucessão testamentária: Art. 1.005. Os filhos ilegítimos de qualquer espécie podem ser

instituídos herdeiros por seus pais em testamento, não havendo herdeiros necessários. in: FREITAS, Augusto Teixeira de. Consolidação das Leis Civis. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857. p. 363.

391 ROBERTO, Giordano Bruno Soares. Introdução à História do Direito Privado e da Codificação. 2ª. ed. Belo

Horizonte: Editora Del Rey, 2008. p. 53.

392 ROBERTO, Giordano Bruno Soares. Introdução à História do Direito Privado e da Codificação. 2ª. ed. Belo

125 Em 1865 uma comissão foi formada para analisar o projeto incompleto, não chegando, contudo, analisar mais do que quinze artigos. 393

Teixeira de Freitas, insatisfeito com demora dos trabalhos da comissão e com o desprezo silencioso que sua obra vinha recebendo nos meios especializados, suspendeu a execução do contrato, sendo este, em seguida, considerado resolvido pelo Governo Imperial.394

Giordano Bruno Soares Roberto destaca que “relevante para esse desfecho infeliz teria sido a mudança que o próprio Teixeira de Freitas fizera em seus planos iniciais”. Conforme destaca o autor, Teixeira de Freitas “passou a julgar inconveniente a existência de um código civil ao lado de um código comercial, imaginando ser mais acertado proceder-se à unificação do direito privado”. Assim, Teixeira de Freitas se convenceu em 1866 de que devia mudar toda a obra e elaborar um Código Geral, unificando o direito civil e comercial. 395

O Esboço de Teixeira de Freitas era composto de um título preliminar, em que era tratado do lugar e do tempo das leis, bem como de dois livros, sendo o livro primeiro, ou parte geral, referente aos elementos do direito – das pessoas, das coisas e dos fatos – e o segundo livro, ou parte especial, referente aos direitos pessoais e reais. A obra continha 4.908 artigos. Contudo, devido à resolução do contrato, Teixeira de Freitas não chegou a divulgar os artigos referentes ao direito sucessório. 396

Apesar do Esboço não ter se tornado um Código Civil, esta obra de Teixeira de Freitas exerceu forte influência nos códigos sul-americanos, especialmente no argentino, no uruguaio e no paraguaio.

Além disso, muitos de seus dispositivos subsistiram no Código Civil de 1916.

Interessante notar que Teixeira de Freitas, no Esboço, ao tratar dos direitos pessoais nas relações de família 397, dedicou um título ao instituto da adoção.

Assim, a adoção foi disciplinada no quarto livro do título segundo do Esboço, entre os artigos 1625 a 1633. 398

393

ROBERTO, Giordano Bruno Soares. Introdução à História do Direito Privado e da Codificação. 2ª. ed. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2008. p. 54.

394 ROBERTO, Giordano Bruno Soares. Introdução à História do Direito Privado e da Codificação. 2ª. ed. Belo

Horizonte: Editora Del Rey, 2008. p. 54.

395 ROBERTO, Giordano Bruno Soares. Introdução à História do Direito Privado e da Codificação. 2ª. ed. Belo

Horizonte: Editora Del Rey, 2008. p. 54.

396 FREITAS, Augusto Teixeira de. Esboço. v. I a IV. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857.

126 Os arts. 1625 e 1626 indicavam as pessoas que podiam praticar a adoção. Assim dispunham os referidos artigos:

“Art. 1.625. Podem adotar todos os que não são neste artigo excetuados (art. 22). Não podem adotar (art. 25):

1º. Os incapazes do art. 41, ns. 2, 3 e 4. 2º. Os incapazes do art. 42, ns. 1 e 4.

3º. As mulheres casadas (art. 42, n 2), ainda que divorciadas, sem assistência ou autorização de seus maridos, ou suprimento de autorização pelo Juiz.

Art. 1.626. Proíbe-se que adotem (art. 23): 1º. Os que não tiverem cinqüenta anos de idade.

2º. Os que não tiverem, ao menos, quatorze anos de idade sobre a da pessoa que quiserem adotar.

3º. Os que tiverem descendentes legítimos ou legitimados ainda que por nascer. 4º. O marido, ainda que divorciado, sem consentimento expresso por escrito de sua mulher, ou suprimento pelo Juiz.

5º. Os tutores a seus pupilos, enquanto não derem contas da tutela, e não pagarem os saldos ou alcances delas.

6º. Duas pessoas conjuntamente, a não serem marido e mulher.

7º. Os estrangeiros que não tiverem domicílio no Império, se o proibirem as leis do país de seu domicílio.” 399

O art. 1625 estabelecia que os menores impúberes, os alienados assim declarados judicialmente e os surdos-mudos que não sabiam dar-se a entender por escrito não podiam adotar. Além dessas pessoas, não podiam adotar os menores adultos e os religiosos professos.

O citado artigo ainda dispunha que as mulheres casadas ou divorciadas apenas podiam adotar com a assistência ou autorização de seus maridos ou mediante autorização judicial.

Já o art. 1626 estabelecia os requisitos para a prática da adoção.

Entre eles, constatam-se os requisitos de idade presentes no direito romano: a idade mínima de cinquenta anos do adotante e a diferença etária entre adotante e adotado.

Entretanto, com relação à diferença de idade entre adotante e adotado, o direito romano estabelecia uma diferença de dezoito anos. No Esboço, nota-se que a diferença etária era de quatorze anos.

Verifica-se ainda outro requisito do direito romano: a obrigatoriedade da inexistência de filhos. Contudo, nota-se que esta restrição era com relação aos filhos legítimos e legitimados, nada mencionando com relação aos filhos ilegítimos.

398 FREITAS, Augusto Teixeira de. Esboço. v. II. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857. p.

573/576.

399 FREITAS, Augusto Teixeira de. Esboço. v. II. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857. p.

127 Da mesma forma que a mulher precisava da assistência ou autorização do marido para praticar a adoção, o homem casado ou divorciado necessitava do consentimento de esposa ou, na falta deste, de um suprimento judicial para adotar.

Além disso, os tutores não podiam adotar os seus pupilos enquanto não tivessem realizado a prestação de contas da tutela.

Já os arts. 1627 e 1628 esclareciam quem podia aceitar a adoção:

“Art. 1.627. Podem aceitar adoção todos os que não são neste artigo excetuados (art. 22). Não podem aceitar a adoção (art. 25):

1º. Os incapazes do art. 41 e do art. 42, nº 4, e os seus representantes necessários. 2º. Os menores adultos não emancipados sob o pátrio-poder (art. 42, nº 1) sem assistência ou autorização de seu pai, ou suprimento de autorização pelo Juiz. 3º. Os menores adultos em tutela (art. 42, nº 2) sem assistência de seu tutor, e autorização do Juiz.

4º. As mulheres casadas (art. 42, nº 2) sem assistência ou autorização de seu marido, ou suprimento de autorização pelo Juiz.

Art. 1.628. Proíbe-se que aceitem a adoção (art. 23):

1º. Os que forem descendentes legítimos, legitimados, ou naturais reconhecidos, do adotante.

2º. Os que já tiverem sido adotados, se a segunda adoção e a primeira não forem de marido ou mulher.” 400

Nota-se que o parágrafo primeiro do art. 1628 não se refere aos filhos espúrios.

Além disso, nota-se que não era possível a adoção de um mesmo filho por duas pessoas ao mesmo tempo, salvo se se tratassem de marido e mulher.

Destaca-se ainda a impossibilidade da prática da adoção condicionada e necessidade da manifestação do adotando quando da prática da adoção:

“Art. 1.629. Proíbe-se que a adoção seja feita sob condições ou cláusulas de qualquer natureza, que suspendam, adiem, ou resolvam, seus efeitos legais.

Art.1.630. A adoção, pena de nulidade, não pode ser feita senão por escritura pública aceita pelo adotado, ou por seu procurador autorizado com poderes especiais.” 401

O Esboço determinava ainda que a adoção criava o parentesco apenas entre adotante e adotado. Conforme o art. 1631, “a adoção só estabelece relações jurídicas entre o adotante e o adotado, e não entre qualquer deles e a família do outro”. 402

400 FREITAS, Augusto Teixeira de. Esboço. v. II. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857. p.

574/575.

401 FREITAS, Augusto Teixeira de. Esboço. v. II. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857. p.

128 No art. 1632 constavam os efeitos decorrentes da adoção:

“Art. 1.632. Estes efeitos, quanto a direitos e obrigações entre o adotante e o adotado, são unicamente:

1º Obrigação recíproca de se prestarem alimentos na falta dos ascendentes e descendentes de um e outro, observando-se, em tudo o que for aplicável, o disposto no Título 3º desta Seção.

2º Suceder o adotado como herdeiro do adotante, se este falecer sem testamento, e sem herdeiros necessários, a não serem filhos naturais reconhecidos, com os quais o adotado concorrerá.

3º Suceder o adotante ao adotado, se este falecer sem testamento, e sem herdeiros necessários, parentes legítimos, ou filhos naturais reconhecidos.” 403

Constata-se que com relação aos direitos sucessórios dos filhos adotivos, o Esboço não acrescentava novas disposições.

Assim, encerrava-se a regulamentação da adoção no art. 1633. Por este dispositivo, a adoção era irrevogável e produzia todos os seus efeitos ainda que ao adotante sobreviessem filhos. Além disso, segundo o referido artigo, a adoção não fazia cessar o pátrio poder nem a tutela, posto que o pai ou tutor do menor adotado tinha outorgado e assinado a respectiva escritura. 404

Por fim, importante destacar que, pelo Esboço, os filhos espúrios não podiam ser reconhecidos. Era o que estabelecia o artigo 1576: “Todos os filhos naturais (art. 169) podem ser reconhecidos por seu pai, por sua mãe, ou por ambos (art. 170), mas não os de coito danado, ainda que se os qualifique por naturais (art. 171).” 405

No mesmo sentido dispunha o artigo 1601: “Proíbe-se que filhos de coito danado (arts. 171 a 174) sejam reconhecidos por seu pai ou mãe (arts. 1.576 e 1.583), e também se proíbe que a respeito da paternidade ou maternidade deles se provoque em Juízo qualquer investigação especial.” 406

402 FREITAS, Augusto Teixeira de. Esboço. v. II. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857. p.

575.

403 FREITAS, Augusto Teixeira de. Esboço. v. II. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857. p.

575.

404

FREITAS, Augusto Teixeira de. Esboço. v. II. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857. p. 576.

405 FREITAS, Augusto Teixeira de. Esboço. v. II. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857. p.

562.

406 FREITAS, Augusto Teixeira de. Esboço. v. II. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857. p.

129 O art. 1602 ainda estabelecia que se houvesse sentença passada em julgado que fizesse certa a filiação de coito danado, esses filhos só teriam direito a exigir de seu pai, ou mãe, a prestação de alimentos. Nenhum outro direito lhes competiria. 407

Portanto, os referidos artigos também corroboram a afirmação anterior de que a adoção foi utilizada no século XIX para introduzir um filho espúrio na família e, consequentemente, para lhe conceder os direitos sucessórios, ainda que o vício do nascimento não fosse declarado quando da adoção.