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Lafayette Rodrigues Pereira nasceu em 1834, em Minas Gerais. Estudou na Faculdade de Direito de São Paulo, tendo obtido o grau de bacharel no ano de 1858. 408

Foi jurista, intelectual, jornalista e político. Em 1879, foi eleito senador e em 1882, foi nomeado Conselheiro de Estado Extraordinário, passando a Conselheiro Ordinário em 1886, motivo pelo qual ficou conhecido como Conselheiro Lafayette. 409

Lafayette escreveu várias obras jurídicas, com destaque para duas obras clássicas:

Direitos de Família, publicada pela primeira vez em 1869, e Direito das Coisas, publicada em

1877. 410

Faleceu em 1917, no Rio de Janeiro, dois meses antes de completar oitenta e três anos.411

Lafayette se destacou na civilística brasileira com sua obra Direitos de Família, publicada pela primeira vez em 1869 e republicada no ano de 1889.

A referida obra tratava de assuntos concernentes aos direitos de família. 412

407 FREITAS, Augusto Teixeira de. Esboço. v. II. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1857. p.

568.

408 ANDRADA, Lafayette (coordenação geral); FARIA, Maria Auxiliadora de; PEREIRA, Lígia Maria Leite;

MEDINA, Paulo Roberto de Gouvêa. Lafayette um jurista do Brasil. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 07/21.

409

ANDRADA, Lafayette (coordenação geral); FARIA, Maria Auxiliadora de; PEREIRA, Lígia Maria Leite; MEDINA, Paulo Roberto de Gouvêa. Lafayette um jurista do Brasil. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 115.

410 ANDRADA, Lafayette (coordenação geral); FARIA, Maria Auxiliadora de; PEREIRA, Lígia Maria Leite;

MEDINA, Paulo Roberto de Gouvêa. Lafayette um jurista do Brasil. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 50 e 81.

411 ANDRADA, Lafayette (coordenação geral); FARIA, Maria Auxiliadora de; PEREIRA, Lígia Maria Leite;

130 O livro foi dividido em cinco seções. A primeira seção tratava do casamento. A segunda seção abordava os efeitos do casamento. A terceira seção era dedicada ao tratamento dos filhos ilegítimos. A quarta seção tratava dos alimentos e a quinta e última seção abordava os institutos da tutela e curatela. 413

Em sua obra, Lafayette não dedicou um capítulo, sequer um título, ao instituto da adoção. Chegou o autor a afirmar, em nota de rodapé, a decadência do instituto:

“Observação:

Seguia-se agora tratar das Adoções. Fazem delas menção a Ord. L. I, T. 3, §I e Regim. do Desemb. do Paço, § 118; ainda alude a elas o §1 do art. 2 da Lei de 22 de setembro de 1828.

Rara vez praticada em Portugal, caíram entre nós as Adoções em total desuso, como em geral tem acontecido em toda a Europa. (...)

Sendo, pois, a Adoção uma instituição obsoleta, seria uma verdadeira inutilidade tratar dela.” 414

Não obstante, há uma pequena referência ao instituto da adoção na segunda seção dos

Direitos de Família.

No título terceiro, do terceiro capítulo da referida seção, foram abordados os direitos entre pais e filhos-famílias.

De acordo com Lafayette, o pátrio poder era o conjunto dos diversos direitos que a lei concedia ao pai sobre a pessoa e bens do filho-família. 415

E, ao tratar dos filhos que estavam sob o pátrio poder, Lafayette ensinava que “os filhos ilegítimos, quer simplesmente naturais, quer espúrios, embora reconhecidos ou legalmente perfilhados; nem tampouco os adotivos” estavam sob o pátrio poder. 416

Conforme o civilista, o poder paterno recaía apenas sobre os filhos nascidos de justas núpcias e sobre os filhos legitimados por subsequente matrimônio. 417

412 ANDRADA, Lafayette (coordenação geral); FARIA, Maria Auxiliadora de; PEREIRA, Lígia Maria Leite;

MEDINA, Paulo Roberto de Gouvêa. Lafayette um jurista do Brasil. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 249.

413 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de Família. 2ª. tiragem. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1889. [A

primeira edição é de 1869].

414

PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de Família. Rio de Janeiro: Typ. Da Tribuna Liberal, 1889. p. 244/245.

415PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de Família. Rio de Janeiro: Typ. Da Tribuna Liberal, 1889. p. 205.

416 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de Família. Rio de Janeiro: Typ. Da Tribuna Liberal, 1889. p. 206. 417 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de Família. Rio de Janeiro: Typ. Da Tribuna Liberal, 1889. p. 206.

131 Assim, Lafayette realmente deixou de abordar o instituto da adoção em sua obra

Direitos de Família.

No entanto, importante destacar alguns ensinamentos do civilista acerca dos demais títulos de filiação.

Conforme destacado, segundo Lafayette, os filhos ilegítimos, quer simplesmente naturais, quer espúrios, embora reconhecidos ou legalmente perfilhados não estavam sob o pátrio poder. Mas apesar de não se encontrarem sob o poder paterno, uma vez realizado o reconhecimento ou a perfilhação, alguns direitos lhes eram garantidos.

Com relação ao filho natural reconhecido, Lafayette ensinava que, conforme a lei nº. 463 de 2 de setembro de 1847, o seu reconhecimento somente podia se dar por escritura pública ou testamento. 418

Ensinava ainda que a lei não determinava um prazo dentro do qual devia ser feito o reconhecimento do filho natural e que este reconhecimento podia ser realizado durante a vida do filho, antes de seu nascimento – desde que já estivesse concebido, ou mesmo após o seu falecimento. 419

Contudo, no mesmo sentido dos demais civilistas referidos neste trabalho, Lafayette destacava que o reconhecimento do filho natural não o habilitava a concorrer à herança paterna com os filhos legítimos do mesmo pai, salvo se este, antes de se casar, reconhecesse o filho natural por escritura pública. 420

Lafayette também ensinava que o filho espúrio podia ser reconhecido pelo pai. No entanto, ressaltava que tal reconhecimento em nada alterava “o caráter da espuriedade e as consequências dela resultantes”. 421

Mesmo se o reconhecimento de paternidade fosse confirmado judicialmente, o que Lafayette denominava de perfilhação solene 422, os filhos espúrios reconhecidos ou

418 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de Família. Rio de Janeiro: Typ. Da Tribuna Liberal, 1889. p. 230. 419 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de Família. Rio de Janeiro: Typ. Da Tribuna Liberal, 1889. p. 233. 420 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de Família. Rio de Janeiro: Typ. Da Tribuna Liberal, 1889. p. 234. 421 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de Família. Rio de Janeiro: Typ. Da Tribuna Liberal, 1889. p.

237/238.

422 Conforme Lafayette Rodrigues Pereira, a perfilhação solene era conhecida pela denominação de –

legitimação por autoridade real. Segundo o civilista, a lei de 28 de setembro de 1828 ainda chamava a carta de filiação de – carta de legitimação. Para ele, tratava-se de uma expressão incorreta, pois entendia que só havia um modo de legitimação – a legitimação por subseqüente matrimônio. Para Lafayette, a perfilhação solene não era legitimação, pois não equiparava os filhos perfilhados aos legítimos. in: PEREIRA, Lafayette Rodrigues.

132 perfilhados apenas adquiriam os direitos de gozarem das honras e privilégios dos filhos legítimos e de pedirem alimentos aos pais. 423

Isso porque, segundo Lafayette, a perfilhação solene tinha apenas efeitos ordinários, definidos em lei, e não efeitos extraordinários dependentes de graça especial424, como ocorria no direito português com a legitimação por rescrito imperial.

Conforme o civilista, o Poder Judiciário, no regime brasileiro, não tinha a faculdade de dispensar a lei. 425

Assim, como os filhos espúrios e os filhos naturais reconhecidos por escritura pública após o casamento do pai não tinham o direito à sucessão ab intestato, a carta de perfilhação não atribuía a tais filhos o direito a referida sucessão.

Por isso, segundo Lafayette, quando da perfilhação solene, não havia a necessidade da audiência dos herdeiros necessários bem como das pessoas que tinham direitos adquiridos à herança 426, pois estes não seriam prejudicados.

Diante do exposto, Lafayette concluía que a perfilhação solene era então uma inutilidade. Segundo ele, para que o filho conseguisse todos os efeitos dela resultantes bastava o simples reconhecimento do pai. 427

Assim, baseando-se nos ensinamentos de Lafayette é possível fazer duas afirmações. Primeiramente que, para o civilista, adoção e perfilhação eram institutos diversos. Considerava a adoção um instituto obsoleto e a perfilhação solene um instituto inútil.

A segunda afirmação possível é que, diante da inutilidade da perfilhação solene, não podendo por esta ser obtido o direito à sucessão ab intestato, a adoção era uma forma de conferir este direito aos filhos espúrios e aos filhos naturais reconhecidos posteriormente ao casamento do pai. Contudo, vale destacar que para que isso fosse possível, o adotante não podia ter outros filhos.

423 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de Família. Rio de Janeiro: Typ. Da Tribuna Liberal, 1889. p. 244. 424 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de Família. Rio de Janeiro: Typ. Da Tribuna Liberal, 1889. p. 241. 425 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de Família. Rio de Janeiro: Typ. Da Tribuna Liberal, 1889. p. 243. 426 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de Família. Rio de Janeiro: Typ. Da Tribuna Liberal, 1889. p. 242. 427 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de Família. Rio de Janeiro: Typ. Da Tribuna Liberal, 1889. p. 244.

133

4 A prática da adoção no período imperial brasileiro

Após analisar a legislação e doutrina referentes à adoção no Brasil Império, o objetivo, neste momento, é verificar se havia correspondência entre esses elementos e a prática da adoção, bem como identificar a finalidade do instituto na segunda metade do século XIX, tomando-se como referência a Corte Imperial brasileira.

Para tanto, utilizou-se como fonte de pesquisa o acervo de documentos textuais do Arquivo Público Nacional do Rio de Janeiro.

O acervo do APNRJ é composto de documentos dos poderes executivo, legislativo e judiciário, bem como de coleções privadas. 428

Considerando que as adoções àquela época eram formalizadas por instrumentos públicos lavrados em Tabelionatos de Notas e, posteriormente, confirmadas pelo Poder Judiciário de primeira instância, a presente pesquisa foi direcionada à busca por documentos em duas bases de dados do referido acervo: Ofício de Notas da Cidade do Rio de Janeiro e

Acervo Judiciário do Arquivo Nacional. 429

Importante destacar que, diante das leis brasileiras que refletiram no desenvolvimento do instituto da adoção 430, bem como da obrigatoriedade da confirmação das adoções pelos juízes de primeira instância, a pesquisa foi delimitada à segunda metade do século XIX e aos processos judiciais de primeira instância.

Para consulta à base de dados do Acervo Judiciário do Arquivo Nacional foi utilizado o critério de pesquisa “por assunto”. Nesta opção de pesquisa, havia uma relação de assuntos pré-definidos, estando as palavras-chaves de pesquisa previamente determinadas.

Importante destacar que não havia no critério de busca por assunto as palavras “perfilhação”, “legitimação” e “adrogação”. Assim, ao realizar a pesquisa, foram utilizadas as palavras “adoção” e “reconhecimento da filiação”.

Estas mesmas palavras foram utilizadas para a realização da consulta à base de dados do Ofício de Notas da Cidade do Rio de Janeiro.

428 Sobre o acervo do Arquivo Público Nacional do Rio de Janeiro (APNRJ) ver:

http://www.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=87

429

Sobre o as bases de dados do Arquivo Público Nacional do Rio de Janeiro (APNRJ) ver: http://www.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=584&sid=48

134 Conforme destacado, as Ordenações Filipinas denominavam o instituto da adoção pelo termo perfilhação. Destacou-se ainda que, com o desenvolvimento do instituto da legitimação, a legitimação por rescrito do Príncipe passou a ser denominada de perfilhação solene, sendo esta, no Brasil Império, apenas um reconhecimento de paternidade sujeito à confirmação judicial.

Assim, pode-se dizer que havia duas perfilhações: a perfilhação-adoção e a perfilhação- reconhecimento. Diante disso, objetiva-se verificar como o termo perfilhação era utilizado na prática: como adoção ou como reconhecimento de paternidade.

Neste trabalho, também foi ressaltado que, diante da ausência de regulamentação jurídica do instituto da adoção nas Ordenações Filipinas, o mesmo era disciplinado pelo direito romano, fonte subsidiária daquelas. Assim, outro objetivo, neste momento, é verificar se os requisitos legais do direito romano eram observados na prática da adoção.

Além disso, considerando a afirmação de que a adoção se restringiu ao ingresso de um estranho ou de um filho espúrio na família, omitindo-se, neste último caso, o caráter da ilegitimidade da filiação, para conferir-lhe direitos patrimoniais, objetiva-se também demonstrar estas hipóteses com os documentos localizados.

Por fim, com o intuito de verificar a finalidade da adoção no Brasil, na segunda metade do século XIX, busca-se obter, nos documentos localizados, dados e informações que possam indicar os objetivos da adoção.

Conforme destacado, a pesquisa foi realizada utilizando-se os assuntos “adoção” e “reconhecimento de filiação”. Contudo, ao consultar os documentos localizados com essas palavras-chaves, verificou-se em alguns documentos a utilização do termo “perfilhação”, ora isoladamente, ora conjuntamente com o termo “adoção”.

Assim, importante verificar se o termo “perfilhação” era utilizado para designar uma adoção ou um reconhecimento de paternidade.

Em 1852, Antônio Pedro, por meio de escritura pública lavrada em Tabelionato de Notas no Rio de Janeiro, reconheceu como seu filho natural um menino de mesmo nome. Após realizar o referido reconhecimento, Antônio Pedro apresentou a referida escritura em juízo e requereu ao Poder Judiciário a confirmação do reconhecimento e a expedição da respectiva carta de legitimação. 431

431 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ). Acervo Judiciário do Arquivo Nacional. Fundo/Coleção:

135 A escritura pública apresentada por Antônio Pedro foi intitulada “escritura de perfilhação e reconhecimento”. Nela, Antônio Pedro afirmava que o referido filho foi havido de Francisca, quando ambos eram solteiros e não possuíam impedimentos que obstassem a referida relação. Antônio Pedro, quando da lavratura da escritura, afirmou que ainda era solteiro e que reconhecia seu filho natural de forma livre e espontânea. 432

Os autos do processo em que Antônio Pedro requeria a expedição da carta de legitimação indicavam tratar-se de uma “perfilhação”. Nos referidos autos, em petição direcionada ao Juiz Municipal da 2ª. Vara Cível do Rio de Janeiro, constavam as mesmas informações contidas no instrumento público de perfilhação e reconhecimento:

“Diz Antônio Pedro (...) que pela inclusa escritura pública reconheceu (...) filho natural de nome Antônio Pedro (...) que no estado de solteiro em que ainda vive teve com D. Francisca (...) também solteira sem que entre eles houvesse impedimento algum impediente ou dirimente que pudesse obstar a essa ligação, reconhecimento este que (...) fez livre e espontaneamente e ter pleno conhecimento que o dito reconhecido é seu filho (...) como para passar-lhe a competente carta de legitimação (...)” 433

Conforme a disposição da lei de 22 de setembro de 1828, os juízes de primeira instância, para expedir as cartas de legitimação, deveriam proceder às necessárias informações e à audiência dos interessados.

Assim, quando do requerimento de Antônio Pedro ao Poder Judiciário para a expedição da carta de legitimação, foram determinados os depoimentos do perfilhante e de testemunhas a fim de verificar as informações bem como a existência de possíveis interessados ou prejudicados com aquela perfilhação. 434

Pelas perguntas realizadas, nota-se que o intuito era verificar se o perfilhante era realmente o pai, se este havia realizado espontaneamente a perfilhação e se, com aquele ato, estava-se prejudicando o interesse de herdeiros. 435

432 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ). Acervo Judiciário do Arquivo Nacional. Fundo/Coleção:

Segunda Vara Cível do Rio de Janeiro. N°. 2723. Maço 842A. Ano: 1852.

433

Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ). Acervo Judiciário do Arquivo Nacional. Fundo/Coleção: Segunda Vara Cível do Rio de Janeiro. N°. 2723. Maço 842A. Ano: 1852.

434 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ). Acervo Judiciário do Arquivo Nacional. Fundo/Coleção:

Segunda Vara Cível do Rio de Janeiro. N°. 2723. Maço 842A. Ano: 1852.

435 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ). Acervo Judiciário do Arquivo Nacional. Fundo/Coleção:

136 Cumpridas as formalidades, o juiz julgou por sentença o pedido de Antônio Pedro e determinou a expedição da referida carta de legitimação. 436

Após verificar os autos do referido processo, pode-se afirmar que o termo “perfilhação” foi utilizado como sinônimo de reconhecimento. As informações referentes à filiação, em especial a referência aos dados da mãe do perfilhado, demonstram a associação do termo perfilhação ao terno reconhecimento.

Assim, embora conste no título da referida escritura pública “escritura de perfilhação e reconhecimento”, pode-se dizer que a utilização dos dois termos foi um simples caso de repetição inútil.

Além disso, conforme destacado, nos autos do processo, constou apenas o título “Perfilhação”.

Em momento algum, foi possível associar a perfilhação realizada por Antônio Pedro ao instituto da adoção.

Essa afirmação pode ser comprovada também quando se observa, na referida escritura pública, a referência à lei de 2 de setembro de 1847, que tratava do reconhecimento de filhos naturais por escritura pública, exigindo que esta fosse lavrada anteriormente ao casamento do pai perfilhante para que o filho natural obtivesse o direito à sucessão ab intestato. 437

Desta forma, verifica-se que o termo “perfilhação” era utilizado para designar o reconhecimento de um filho natural, e não uma adoção.

Ainda com relação à perfilhação realizada por Antônio Pedro, interessante destacar que o perfilhante era solteiro quando do reconhecimento de seu filho natural e, mesmo assim, requereu a confirmação judicial da referida perfilhação.

Os civilistas da época esclareciam que, em se tratando do reconhecimento de filhos naturais anteriormente ao casamento do perfilhante, era desnecessária a confirmação judicial da referida escritura pública.

Assim, verifica-se também que, mesmo nos casos em que o reconhecimento ou perfilhação por instrumento público fosse realizado anteriormente ao casamento do perfilhante, havia a possibilidade de ser requerida a sua confirmação judicial.

A utilização do termo “perfilhação” como sinônimo de “reconhecimento” também foi encontrada em outros documentos.

436 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ). Acervo Judiciário do Arquivo Nacional. Fundo/Coleção:

Segunda Vara Cível do Rio de Janeiro. N°. 2723. Maço 842A. Ano: 1852.

437 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ). Acervo Judiciário do Arquivo Nacional. Fundo/Coleção:

137 Da mesma forma, no ano de 1879, Francisco Pinto também requereu a confirmação judicial da perfilhação de seus filhos naturais Emilia, Maria e Jeronimo, todos havidos de Joana Maria, sendo o referido instrumento público denominado de “escritura de reconhecimento e perfilhação”. 438

Nos autos do processo, Francisco Pinto requeria:

“Diz (...) Francisco Pinto (...) que por escritura pública (...) do corrente mês, documento nº. 1, tendo de sua livre e espontânea vontade reconhecido e perfilhado seus filhos Emilia, Maria e Jeronimo, havidos de Joana Maria (...), mulher solteira, livre e desimpedida, queria na forma da lei e para que a referida escritura prevaleça e vigore em todos os seus efeitos legais, proceder com as testemunhas à margem à respectiva insinuação e confirmação (...).”439

Interessante notar que, na escritura pública de perfilhação, consta que Francisco Pinto e Joana Maria ainda eram solteiros e desimpedidos quando do reconhecimento dos filhos naturais.

Além disso, a referida escritura pública também fazia referência à lei de 2 de setembro de 1847:

“(...) pela presente escritura e na melhor forma de direito reconhece-os e perfilha-os como seus filhos naturais sucessíveis na conformidade da lei de dois de setembro de mil oitocentos e quarenta e sete e mais legislação em vigor a fim de que gozem de todos os favores permitidos pelas leis do Império.” 440

Nos autos do referido processo, pode-se verificar também o depoimento do perfilhante e a inquirição das testemunhas, de conformidade com o que estabelecia a lei de 22 de setembro de 1828, bem como a determinação judicial para a expedição da carta de legitimação. 441

438 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ). Acervo Judiciário do Arquivo Nacional. Fundo/Coleção:

Primeira Vara Cível do Rio de Janeiro. N°. 132. Maço 2333. Ano de 1879.

439

Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ). Acervo Judiciário do Arquivo Nacional. Fundo/Coleção: Primeira Vara Cível do Rio de Janeiro. N°. 132. Maço 2333. Ano de 1879.

440 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ). Acervo Judiciário do Arquivo Nacional. Fundo/Coleção:

Primeira Vara Cível do Rio de Janeiro. N°. 132. Maço 2333. Ano de 1879.

441 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ). Acervo Judiciário do Arquivo Nacional. Fundo/Coleção:

138 Assim, também não foi possível associar a adoção à perfilhação realizada por Francisco Pinto. Tratava-se, realmente, de um reconhecimento de filhos naturais.

Vale destacar ainda outro documento que tratava de perfilhação: os autos de perfilhação em que José da Silva requeria a confirmação do reconhecimento de paternidade de sua filha Laura e a expedição da respectiva carta de legitimação. 442

José da Silva, por meio de escritura pública de “reconhecimento e legitimação”, reconheceu a menor Laura como sua filha natural, afirmando que a mesma era filha de Adélia