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Autoria e data da composição do Evangelho de Mateus

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A autoria do Evangelho de Mateus é incerta para a grande maioria dos autores. Alguns autores afirmam que esse Mateus que dá nome ao Evangelho, não é o mesmo discípulo que andou com Jesus (Mt 9,9). Alguns argumentos fortalecem essa afirmação: Mateus, o discípulo de Jesus não era um discípulo proeminente (CARTER, 2002, p. 33). Este autor argumenta que Mateus não foi testemunha de momentos importantes vividos por Jesus. Pedro, Tiago e João eram mais próximos e são citados mais amiúde estando com Jesus nos eventos importantes. A data provável da elaboração do Evangelho também fortalece o argumento da não autoria mateana pois enfraquece a possibilidade de testemunhas oculares, como seria o seu caso.

Quem era, então o autor do Evangelho? Carter (2002, p 33) afirma que não é possível saber quem escreveu o evangelho de Mateus. Ele argumenta que o nome Mateus foi associado a este evangelho por Irineu, no segundo século. As razões? O significado do nome “Matheus” é “presente de Deus”, referindo-se à boa notícia do evangelho, como um presente de Deus.

O nome Mateus, soa algo parecido à palavra discípulo, em grego (mathetés), que significa aprendiz. Este termo seria apropriado para o evangelho que procura treinar discípulos para viver uma existência alternativa (CARTER, 2002, p. 33).

Há ainda outra corrente que defende a possibilidade de Mateus ter sido um importante líder para esta comunidade, no passado, ou talvez até a tenha fundado, por isso a homenagem a este ilustre líder (CARTER, 2002, p. 33). Para Storniolo, (1991, p. 8) a questão da autoria nos evangelhos é secundária, pois os autores, na verdade, são mais organizadores. Alguém que coletou e organizou esses documentos e lhes deu a forma que hoje temos.

“O autor de Mateus é provavelmente um judeu, que, embora expulso da assembleia de sua cidade, ainda se identifica como membro da comunidade judaica e apoia a obediência à lei judaica [...] e acordo com a interpretação de Jesus” (SALDARINI, 2002, p. 42). Este autor tanto se considera judeu, como é considerado pelos outros como tal. Ele luta por sua interpretação da vida judaica.

43 “O autor deste evangelho, usa um estilo e processos de composição que o identificam. Estilo e processos semíticos, herdados de uma tradição preexistente e reinterpretado em nova redação”. (VV.AA. 2014, p. 21). O redator de nosso evangelho

tomou sobre si a responsabilidade de autor. Mateus “faz uso frequente do Antigo

Testamento” [...] demonstrando um grande conhecimento das Escrituras “se referindo a elas em pelo menos 130 passagens; destas, 43 são citações precisas” (VV.AA, 2014, p. 22).

Suas citações da Escritura são feitas à moda judaica, respeitando às vezes até a letra dos textos. A feição semítica deste evangelho sempre chamou a atenção de seus leitores, tanto que sua atribuição a um apóstolo não apresentou dificuldade nos primeiros tempos. Este semitismo se deve certamente às fontes do evangelho das quais o autor é uma testemunha fiel que respeita suas propriedades linguísticas e suas formas originais (VV.AA, 2014, p 22).

Para uma definição mais harmônica acerca da autoria dos evangelhos é preciso considerar vários fatores. Aspectos internos e externos são um importante referencial. O estilo, a língua, o grau de interpretação também o são. A história, ou os fatores externos contribuem para se compreender o contexto onde os textos são produzidos e interpretados. Nesse sentido, tanto os fatores acima, quanto a história e a geografia do evangelho de Mateus são relevantes para uma aproximação da real autoria desse evangelho.

O Redator final do Evangelho de Mateus “usa um estilo e processos de composição que o identificam”. Expressões como “Reino dos Céus, meu Pai que está nos céus, cumprir a Lei, a Lei e os Profetas”, entre outras, são tipicamente palestinas [ ] e revelam um fundo semítico da narrativa. Também foram citados “processos literários como fenômenos de repetição, sumários, estribilhos, duplicados e sobretudo inclusão, isto é, repetição, no fim de um desenvolvimento, de uma palavra ou de uma fórmula típica que o introduziu. Os agrupamentos numéricos (2-3-7), muito frequentes, podem ter uma função mnemônica, mas têm, antes de tudo, um valor simbólico, muito apreciado pelos judeus” (VVAA, 2014, p. 21).

Fica claro, pela narrativa de Mateus que este autor ou redator, está elaborando uma reação ao conflito enfrentado por certo grupo de judeu-cristãos.

Em Mateus a terra de Jesus é a Galileia, uma região da Palestina que tinha também um valor simbólico: falava-se muitas vezes da “Galileia dos pagãos”, em tom pejorativo. Terra de trânsito de viajantes, a região tinha sofrido influência de várias procedências, e a fé dos galileus não era considerada pura pelos fariseus. O profeta Isaías tinha anunciado que seria de lá que Deus se manifestaria aos pagãos, no fim dos tempos (Is 8,23) (VV.AA. 2014, p. 23).

44 Mateus associa Galileia e Egito com o novo Êxodo. De volta do Egito Ele (Jesus) vai viver na Galileia, cujas fronteiras ele sempre atravessa em busca dos pagãos, apesar de deixar claro que seu ministério se restringe às “ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10, 6). “É na Galileia que ele transmite seus ensinamentos mais importantes. Em duas importantes ocasiões Jesus deixa a Galileia: Para receber o batismo por João e para ir a Jerusalém, lugar onde seria crucificado” (VV.AA, 2014, pp.23-24).

Mateus usa uma linguagem simbólica e espiritual para dar novo significado ao êxodo. Para ele Jesus é maior que Moisés. Moisés é uma das figuras mais importantes do judaísmo. Moisés morreu no deserto, não conheceu a Terra Prometida ou Santa; Jesus retornara à Galileia após a sua ressurreição, cumprindo assim o seu êxodo espiritual e ministerial.

A Galileia agora será a terra da abertura para o mundo (VV.AA, 2014, p. 24). É de lá que Jesus irá enviar seus discípulos para fazer discípulos de todas as nações. (Mt. 10). Mateus reconta a história de Moisés, agora em Jesus, pois Ele é maior que Moisés. Todos estes aspectos, inclusive o teológico, são importantes para a definição da autoria desse evangelho. Embora não se tenha um consenso a esse respeito, o que fica claro é que ele era um judeu, que entendia bem as Escrituras, que exercia liderança e que estava determinado a apresentar o Cristo, como o enviado de Deus a todos os seus discípulos.

A geografia de Mateus é teológica (VV.AA, 2014, p. 23). É na Galileia que Ele chama os seus seguidores. Estas referências à Galileia são significativas e demonstram que o Evangelho de Jesus é para os marginalizados e vis. Os Galileus não eram bem vistos pelos de Jerusalém, local da pureza religiosa. Na Galileia se misturavam judeus e gentios e era assim que Mateus queria ensinar aos seus discípulos: Que Jesus agora estava revelando a nova Justiça, não privilegiando apenas uma raça, mas a todas as etnias, desde que nele cressem.

A data da composição, ou melhor, da finalização do projeto de Mateus, está situada entre os anos de 80 e 90 d.C.

Assim como não existe nenhum manuscrito que indique o lugar de origem e o autor do evangelho, também nenhum manuscrito registra a sua data de composição. Vários critérios apontam para uma provável data nos anos 80 ou 90 do primeiro século (CARTER, 2002, p. 35).

45 Foi provavelmente de Antioquia, Síria, pelo ano 80 d.C., que Mateus escreveu seu Evangelho para as comunidades dispersas, nascidas na Palestina (STORNIOLO, 2013, p. 8). Os fatores que irão contribuir para se afirmar que o Evangelho de Mateus foi escrito entre os anos 80 e 90 d.C., são basicamente dois: primeiro a opinião da maioria dos estudiosos do Novo Testamento de que Mateus tenha se valido do

Evangelho de Marcos16 para elaborar seu projeto. Segundo são as evidências internas

que deixam transparecer que Jerusalém já havia sido destruída, juntamente com o Templo e suas instituições. Isto ocorreu em 70 d.C.

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