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Avaliação da Dor

No documento Manual de Cuidados Paliativos (páginas 106-109)

Anexo 1 – Escala de Katz: Adaptação Transcultural

12. Dor: Avaliação e Analgésicos Não Opioides

12.1. Avaliação da Dor

Segundo a Sociedade Brasileira para Estudo da Dor, a dor é definida como “experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada a lesão real ou potencial dos tecidos. Cada indivíduo aprende a utilizar esse termo através das suas experiências anteriores” (SOCIEDADE BRASILEIRA PARA ESTUDO DA DOR, 2018). Portanto, dor é aquilo que o paciente fala que tem.

Sabemos pela neuroanatomia que regiões do cérebro responsáveis pela cognição e emoção (sistema límbico, tálamo, córtex, dentre outros) modulam positiva e negativamente a percepção e interpretação da dor no ser humano; isso faz com que uma abordagem multidimensional seja mandatória ao avaliar pacientes com esta queixa (PIMENTA; FERREIRA, 2006).

Essa avaliação deve ser realizada através de entrevista e exame físico, com o objetivo de identificar o tipo de dor (nociceptiva, neuropática ou mista) e compreender como isso afeta o indivíduo não somente na esfera física, mas também nas dimensões emocional, social e espiritual (CARDOSO, 2012).

A dor nociceptiva é aquela em que há dano tecidual, exceto sistema nervoso central ou periférico; e é decorrente de um estado de excitação aumentada e prolongada do sistema somatossensitivo, ocasionando uma inflamação contínua e hipersensibilização periférica e central (GALHARDONI; TEIXEIRA; ANDRADE, 2015).

A dor neuropática é ocasionada por dano ou doença no sistema nervoso central ou periférico, normalmente relatada como sensação de queimação, choque e latejamento (GALHARDONI; TEIXEIRA; ANDRADE, 2015).

A dor mista ocorre quando há componentes de dor neuropática e nociceptiva, encontrada principalmente nos pacientes oncológicos (WIERMANN et al., 2014).

A etapa de avaliação contempla informações referentes à: qualidade (sensação de pulsação, agulhada, queimação, formigamento, aperto, irradiação, facada, pontada etc.), localização, fatores desencadeantes, de melhora e piora, irradiação, intensidade, frequência, duração, impacto nas atividades diárias, na funcionalidade e na qualidade de vida (sono, alimentação, humor etc.), tratamento farmacológico prévio e atual (CARDOSO, 2012). O exame físico (neurológico e musculoesquelético) completa a avaliação. O objetivo é avaliar presença de alterações na sensibilidade e na motricidade, que auxiliam na elucidação do tipo de dor (CARDOSO, 2012).

A intensidade da dor é um dos aspectos primordiais e que deve ser continuamente reavaliada para verificar se a proposta terapêutica está adequada ou não. Para medir a intensidade de forma objetiva e que permita comparações existem escalas validadas que atendem diversas populações (WIERMANN et al., 2014). A instituição deve, por sua vez, com base no perfil dos pacientes atendidos, estabelecer quais instrumentos são os mais adequados à sua realidade. Alguns exemplos de escalas usadas para avaliar intensidade da dor são:

- Escala Visual Analógica (figura 5): compreende uma linha horizontal, com as extremidades definidas como “sem dor” e “máxima dor”. Pede-se para o paciente avaliar quanto dói, nesta escala entre “sem dor” e “máxima dor”; logo, o indivíduo deve saber localizar nessa linha o ponto que corresponde à sua dor. A intensidade da dor é calculada medindo a distância entre o ponto inicial (“sem dor”) e o local que o indivíduo marcou (CARDOSO, 2012).

Figura 5.

Escala Visual Analógica.

Sem dor

Máxima dor

Escala Visual Analógica (EVA)

Fonte: WIERMANN, E.G. et al. Consenso Brasileiro sobre Manejo da Dor Relacionada ao Câncer. Rev. Bras. Onco. Clinic., v. 10, n. 38, 2014. Disponível em: https:// www.sboc.org.br/sboc-site/revista-sboc/pdfs/38/artigo2.pdf.

- Escala Visual Numérica (Figura 6): deve-se pedir para que o paciente atribua uma nota para sua dor, numa escala de zero a dez. É importante ressaltar para o indivíduo que zero significa ausência de dor e, dez, a pior dor possível (ARANTES; MACIEL, 2012).

- Escala de Descritores Verbais (Figura 6): deve-se questionar o quanto o paciente tem de dor, dentre as possibilidades: sem dor, dor leve, dor moderada, dor intensa e insuportável (PIMENTA; FERREIRA, 2006).

Figura 6.

Convergência entre as escalas visual numérica e de descritores verbais.

Adaptado de: WIERMANN, E.G. et al. Consenso Brasileiro sobre Manejo da Dor Relacionada ao Câncer. Rev. Bras. Onco. Clinic., v. 10, n. 38, 2014. Disponível em: https://www.sboc.org.br/sboc-site/revista-sboc/pdfs/38/artigo2.pdf.

- Escala de Faces12: deve-se pedir ao indivíduo que identifique a face que melhor corresponde à intensidade de

dor no momento. Para cada face há um escore de dor entre zero (ausência de dor) e dez (pior dor possível) (ARANTES; MACIEL, 2012).

- Pain Assessment in Advanced Dementia – PAINAD, ou Escala de Avaliação de Dor em Demência Avançada (vide anexo 1): escala desenvolvida para pacientes com demência grave (VALERA et al., 2014). Deve-se observar o paciente e pontuar os comportamentos apresentados, dentre os itens: respiração, vocalização negativa, expressão facial, linguagem corporal e consolabilidade. Cada item tem uma pontuação entre zero e dois. O escore final, portanto, varia entre zero (ausência de dor) e dez (pior dor possível).

- Behaviour Pain Scale, ou Escala Comportamental de Dor (vide anexo 2): escala desenvolvida para avaliar dor em pacientes inconscientes, sob sedação e ventilação mecânica (MORETE et al., 2014). São avaliados três itens: expressão facial, membros superiores e adaptação à ventilação mecânica. Cada item tem uma pontuação entre um e quatro. O escore final, portanto, varia entre três (ausência de dor) e doze (dor máxima).

Para se aprofundar no tema das escalas, sugere-se a leitura de outros instrumentos de avaliação da dor, dentre estes, aqueles que avaliam a dor de forma multidimensional, como o Inventário Breve de Dor e o Questionário McGill de Dor (MARTINEZ; GRASSI; MARQUES, 2011).

A forma como o paciente sente, relata e tolera a dor reflete suas crenças e atitudes, que, por sua vez, estão intimamente atreladas à sua vivência e experiências prévias. Conhecer o comportamento e as expectativas do paciente e de seus familiares no tratamento da dor são de suma importância para estabelecimento de meta terapêutica, saber como avaliar e interpretar a dor desse indivíduo, além de evitar julgamentos (PIMENTA; FERREIRA, 2006).

12 No site da International Association for the Study of Pain (IASP) é possível acessar uma versão em português da Escala de Faces, atráves do link: https://www.iasp-pain.org/Education/Content.aspx?ItemNumber=1823&navItemNumber=1119

Sem dor Dor insuportável

0

Dor leve

1

2

3

Dor moderada

4

5

6

Dor intensa

7

8

9

10

No documento Manual de Cuidados Paliativos (páginas 106-109)