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Reunião Familiar: Como Planejar e Executar Essa Importante Abordagem

No documento Manual de Cuidados Paliativos (páginas 88-93)

Anexo 1 – Escala de Katz: Adaptação Transcultural

9. Reunião Familiar: Como Planejar e Executar Essa Importante Abordagem

Executar Essa Importante Abordagem

Objetivo: Descrever como uma reunião familiar deve ser planejada e executada. 

A reunião familiar é um instrumento terapêutico de cuidado caracterizado por um encontro pré-agendado entre a equipe, paciente e familiares do paciente doente para discussão de diversos assuntos (D’ALESSANDRO et al, 2015; SILVA et al., 2018). É um momento para compartilhar informações, decisões, ouvir a família e responder aos seus questionamentos, auxiliar na resolução de problemas e planejamento de cuidados, bem como oferecer suporte sobre decisões de suspensão ou não de medidas invasivas (HUDSON et al., 2008; SILVA et al, 2018). Esta reunião é um procedimento que costuma trazer segurança emocional para a família, que percebe a disponibilidade da equipe de saúde para ouvi-los, esclarecer suas dúvidas e os reconhecer como parcela importante dos cuidados prestados ao paciente.

Entende-se por família, neste contexto, pessoas com vínculo biológico ou não e que estão emocionalmente ligadas ao paciente oferecendo apoio no período de adoecimento e hospitalização (D’ALESSANDRO et al., 2015). A reunião familiar pode ser realizada em diversas situações, mas principalmente nos cenários a seguir (HUDSON et al., 2008; D’ALESSANDRO et al.; 2015):

• Alinhamento de informações; • Diagnóstico e prognóstico; • Opções de tratamento; • Planejamento de cuidados;

• Definição sobre cuidados de fim de vida;

• Familiares mais presentes no cuidado que apresentam sinais de ansiedade e/ou insegurança (muito solicitantes ou questionadores).

9.1. Estratégias

• Valorizar e respeitar a fala dos familiares. • Reconhecer as emoções expressadas. • Escutar ativamente e de forma empática. • Estimular e permitir a realização de perguntas. • Fornecer informações sobre o processo de luto.

• Reconhecer alguns aspectos do funcionamento familiar, o que auxilia a decidir com quem falar inicialmente, quem não deve deixar de participar da reunião e como apresentar as questões. Esta análise deve ser feita e compartilhada anteriormente, sempre que possível, por todos os membros da equipe que assiste o paciente.

A reunião famíliar é um diálogo e não uma terapia (SILVA et al., 2018). Quando se faz este tipo de encontro, os familiares trazem consigo seus sentimentos, angústias, a complexidade das relações, a dinâmica familiar e os conflitos para dentro da reunião. O padrão da família é anterior à doença, porém, o processo de adoecimento da pessoa e a realização da reunião podem exacerbar tudo isso. A equipe que conduz a reunião deve lembrar que está ali para acolher e esclarecer, não julgar, e se manter neutra diante dos familiares (D’ALESSANDRO et al., 2015).

9.2. Preparos Antes da Reunião

Levar em conta os seguintes aspectos antes de iniciar a reunião familiar (HUDSON et al. 2008; D’ALESSANDRO et al., 2015; SILVA et al. 2018)

• Se o(a) paciente estiver lúcido(a), questione se a reunião deve ser realizada e se deseja participar, bem como quem ele(a) quer que participe (familiares) da reunião.

• Nas situações onde há mais de um núcleo familiar envolvido (fruto de uniões anteriores), o cuidado deve ser redobrado, pois nem sempre as separações ocorreram de forma harmoniosa, e não cabe a nós profissionais julgar. Se o paciente optar pela presença de algum familiar distante, o recomendado é que esta definição seja alinhada com a família atual, para não surgir novos conflitos ou trazer à tona problemas antigos. O objetivo é que o equilíbrio familiar se mantenha após o óbito do paciente (ANDRADE, 2012).

• Realize uma “pré-reunião” de alinhamento com a equipe para definir:

– Objetivo da reunião - levantar pontos a serem discutidos e os prováveis encaminhamentos. Toda a equipe deve compartilhar das mesmas informações;

– Quais/quantos profissionais participarão da reunião - deve haver um equilíbrio entre o número de profissionais e familiares na reunião para que não haja sobrecarga ou desconforto. Seria indicado que os profissionais que participarem da reunião tenham tido contato prévio com o paciente e/ou familiar;

– Qual profissional irá liderar a reunião - geralmente é o médico, mas não precisa ser este em todos os momentos.

– Em qual local será realizada a reunião - indica-se uma sala que comporte os participantes sentados, de forma que permita contato visual entre todos para que possam ficar confortáveis. Deve ser um local onde as pessoas tenham privacidade e não sofram interrupções. Ter materiais que tragam conforto e expressem cuidado ajuda nos momentos críticos (lenço de papel, água, café). Se possível, os profissionais devem manter o celular/ ramal desligado.

– Tempo de reunião - reuniões familiares têm durações variadas; a equipe deve se programar para ficar, em média, uma hora na reunião.

9.3. Durante a Reunião

Sugere-se seguir os seguintes passos durante a realização da reunião familiar (HUDSON et al. 2008; D’ALESSANDRO et al., 2015):

Agradeça a presença e inicie as apresentações – todos devem dizer o nome; os profissionais indicam qual a sua função e os familiares, qual a sua relação com o paciente.

Esclareça a todos o objetivo da reunião – e cheque se todos entenderam.

O profissional deve perguntar o que os familiares sabem sobre a doença, como o paciente tem evoluído em relação ao tratamento – podem existir percepções diferentes entre os familiares.

Cheque se existe um cuidador mais frequente – verifique como é a relação dele com o paciente e busque entender o papel de cada um na dinâmica familiar, estimulando o compartilhamento de cuidados e informações.

Faça um resumo da história de adoecimento do paciente desde que a equipe iniciou o acompanhamento e da condição clínica atual – este recordatório ajudará os familiares a compreender a evolução clínica do paciente. Sempre que possível faça conexões entre o que está sendo falado pela equipe e o que a família relatou anteriormente.

Use uma linguagem clara, acessível e objetiva – cheque se entenderam o que foi dito e dê espaço para que sejam feitas perguntas.

Confirme também o seu entendimento – é interessante quando o familiar falar algo que fique confuso, que o condutor da reunião ou para quem o familiar se direcionou no momento repita para o familiar o que foi compreendido e confirme se esta informação é a que ele desejava passar.

Mantenha-se atento para dar informações aos poucos e observar como as pessoas reagem para saber o quanto poderá prosseguir na comunicação – o silêncio é uma importante ferramenta na comunicação de más notícias, pois permite que o familiar se reorganize e manifeste suas dúvidas e receios.

Permita que os familiares tirem dúvidas e expressem suas preocupações – algum membro da família pode ficar mais calado; então, sugere-se que seja realizado um convite para que se coloque, ressaltando a importância da opinião dele. Caso ele não deseje falar no momento, não se deve insistir, mas deixe uma porta aberta para futuras conversas.

Mantenha espaço aberto para a expressão de angústias e sentimentos – validar emoções gera segurança e aproxima os familiares da equipe.

Atente-se para a comunicação não verbal – olhar no olho, tom e volume de voz equilibrado, corpo voltado para quem está falando, postura relaxada e aberta, meneios positivos com a cabeça passam segurança e acolhimento.

Descreva brevemente a história natural da doença e qual a evolução clínica mais provável – isto trará certa previsibilidade para o familiar, o que implica o aumento da segurança emocional.

Alinhe o planejamento de cuidados, quais os próximos passos do tratamento de acordo com o quadro atual, visando respeitar, quando possível, os desejos e valores do paciente – caso existam diretivas antecipadas de vontade (verificar capítulo “Diretrizes antecipadas de vontade e planejamento avançado de cuidados”) o assunto deve ser abordado na reunião familiar, sendo defendido pela equipe o desejo declarado do paciente. Pode-se conversar sobre terapias que não são apropriadas caso sejam trazidas na fala do familiar, esclarecendo riscos e benefícios. Aconselha-se trazer para família os procedimentos que podem ser realizados na atual situação do paciente.

Reforce e ajude a família a cumprir sua função cuidadora – otimizar as potencialidades de cada membro no cuidado ao paciente.

Incentive o compartilhamento de informações importantes aos familiares mais próximos, incluindo as crianças e respeitando a linguagem que elas assimilam – partilhar o momento do adoecimento com os outros familiares ajudará no processo de elaboração do luto caso o paciente venha a falecer.

Detecte fatores de risco para luto complicado e trabalhe com a equipe para auxiliar nesses pontos durante o processo de adoecimento – o cuidado da equipe estende-se ao cuidado ao luto.

Combine o próximo encontro – pode ser necessária uma nova reunião familiar, que poderá ser marcada após reorganização e devolutiva da família.

ATENÇÃO: não é aconselhada a realização de falsas promessas aos familiares e ao paciente, bem como evitar utilizar frases como “Não há mais nada que possamos fazer”; “Esses medicamentos vão deixar o paciente morrer sem sofrer”, ou que aumentem as incertezas.

9.4. Após a Reunião

Logo após a reunião, sempre que possível, os profissionais devem se reunir para avaliar como foi a reunião verificar se o objetivo foi atingido, qual a percepção sobre a dinâmica familiar, como a comunicação foi feita, como podem ajudar a família na organização do cuidado e nas demandas apresentadas, entre outros pontos. Registre em prontuário a reunião familiar – quais participantes, conteúdos discutidos (de forma resumida) e as decisões tomadas.

Pontos críticos:

• Situações de crise e emergenciais que impedem contato prévio com familiares; • A equipe não alinhar objetivos antes da reunião;

• Famílias inseguras e com problemas de relacionamento com a equipe; • Familiares com transtornos psiquiátricos prévios descompensados. • Familiar com ausência de suporte (único cuidador);

• Famílias com sinais indicativos para luto complicado (perdas recentes, múltiplas perdas, morte de crianças e jovens, não poder entrar em contato com o ente querido diante da possibilidade de óbito, doença aguda, relações conflituosas prévias etc.).

Referências

ANDRADE, L. Providências práticas para toda a família. In: CARVALHO, R. T.; PARSONS, H. F. (org.). Manual de Cuidados Paliativos ANCP. 2ª ed. Porto Alegre: Sulina, 2012. p. 400-410.

DALESSANDRO, M. P. et al. Reunião Familiar. In: MARTINS, M.A. (edit.). Manual do Residente de Clínica Médica. Barueri: Manole, 2015. p. 1198-1202.

HUDSON, P. et al. Family meetings in palliative care: Multidisciplinary clinical practice guidelines. BMC Palliat Care, v. 7, n. 12, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1186/1472-684X-7-12. Acesso em: 6 abr. 2020.

SILVA, R. S. et al. Conferência familiar em cuidados paliativos: análise de conceito. Rev. Bras. Enferm., v. 71, n. 1, p. 218-226, 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v71n1/pt_0034-7167-reben-71-01-0206. pdf. Acesso em: 23 abr. 2020.

10. Diretivas Antecipadas de Vontade e

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