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3. Avaliação do desempenho sustentável

Este capítulo tem como objetivo descrever os principais conceitos ligados à avaliação do desempenho sustentável, iniciando com a conceituação histórica de sustentabilidade, vantagens da avaliação de desempenho com o detalhamento da metodologia amplamente utilizada, o Balanced Scorecard (BSC), assim como a evolução do BSC para o Balanced Scorecard Sustentável (SBSC) seguido por uma breve discussão sobre os indicadores necessários para uma adequada avaliação de desempenho e é finalizado por uma revisão das técnicas utilizadas para mensuração da avaliação de desempenho nas organizações.

3.1 - Introdução

Atualmente os postos de revenda de combustível são tidos como um “mal necessário” à sociedade moderna, diferentemente do século XX até o início do século XXI, quando parar semanalmente no posto de combustível para abastecer o carro, geralmente grande e com muitas cilindradas era um sinal de status. Na época era pouco divulgado e, portanto desconhecido de grande parte dos consumidores, o potencial contaminante dessa atividade comercial aos solos e às águas subterrâneas, pelos hidrocarbonetos de petróleo.

Com as normas regularizadoras do setor foi necessária uma adequação para a continuidade das operações nesse segmento, inclusive com adequações à legislação ambiental, o levantamento de passivos ambientais, a remediação de áreas contaminadas (seja solo, ar ou água) e um monitoramento das atividades e processos.

Uma vez isento dos passivos ambientais, adequados a legislação e aptos a funcionar, com todos os cuidados e monitoramentos explicitados no capítulo anterior para evitar acidentes e contaminações futuras, resta identificar em que medida as

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atividades relacionadas aos postos de revenda de combustíveis, têm um desempenho sustentável no município de Natal/RN?

Para responder a esta questão, o objeto de pesquisa desta tese é realizar uma avaliação do desempenho sustentável dos postos de revenda de combustível com o uso de indicadores adequados, aplicados a um modelo matemático que forneça índices de desempenho sustentável comparativos entre as empresas. Surge desse contexto a necessidade de elucidar conceitos e metodologias para a avaliação do desempenho sustentável.

3.2 - Sustentabilidade

Restrições rígidas impostas pela legislação ambiental, exigências do atual contexto econômico e pressões por parte da sociedade, provocaram mudanças radicais nas organizações, sendo necessário produzir mais, com melhor qualidade, com o menor impacto possível não só no meio ambiente, mas também no âmbito social. Surgiu a necessidade de um novo perfil estratégico para as empresas que, além de conviver com as pressões para a adoção de novos padrões de eficiência e qualidade, devem responder pelos compromissos sociais, econômicos e ambientais.

No final da década de 60, países desenvolvidos alertaram que seus padrões de consumo não poderiam ser universalizados, pois se assim fosse, implicaria no esgotamento dos recursos naturais e num grande incremento de níveis de poluição, com consequências desastrosas e muitas vezes irreparáveis para o mundo. Diante deste cenário, países em desenvolvimento se viram tolhidos diante das limitações que poderiam ser impostas de acesso e uso dos recursos naturais, reduzindo as possibilidades de progresso de suas economias.

A “Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano”, resultado da Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente de 1972, expressa princípios e recomendações a todos os países sobre a maneira de enfrentamento das questões ambientais globais. O conceito de sustentabilidade foi introduzido oficialmente no

38 encontro internacional The World Conservation Strategy, ocorrido em 1980. Em 1987 foi publicado o documento “Our Common Future” pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU), conhecido como “Relatório Brundtland”, que definiu desenvolvimento sustentável como “o

desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”, sendo este

conceito muito criticado por ser muito amplo e não considerar as consequências sociais nesta nova forma de desenvolvimento (BRUNDTLAND COMMISSION, 1987).

A Agenda 21 Global, documento resultante da Rio-92 esclarece melhor o significado de desenvolvimento sustentável onde integra métodos de exploração e preservação dos recursos naturais, produtividade e, obrigatoriamente justiça social. Como maior resultado, conseguiu um compromisso de objetivos e metas entre as nações participantes (179 países) em busca de difundir esse modelo de desenvolvimento (MMA, 2012).

Em 2002, constrói-se a Agenda 21 Brasileira alertando que alguns objetivos propostos deviam ser aprofundados, como: ecoeficiência, responsabilidade social, inclusão social e distribuição de renda, e destacou ainda que “...o crescimento

econômico é uma condição necessária, mas não suficiente para o desenvolvimento sustentável, o qual pressupõe um processo de inclusão social com uma vasta gama de oportunidades e opções para as pessoas...”, convidando à reflexão sobre os impactos de

grandes atividades econômicas sobre o meio ambiente e social.

Uma empresa sustentável, segundo Elkington (1994), é aquela que contribui para o desenvolvimento sustentável ao gerar, simultaneamente, benefícios econômicos, sociais e ambientais, conhecidos como o triple bottom line, os três pilares do desenvolvimento sustentável o que corrobora com a afirmação de Almeida (2002):

“Ficaram para trás os tempos de, primeiro,

predomínio do econômico e indiferença para com o ambiental; depois, preocupação exclusiva em proteger a natureza, da qual o homem, com suas dores e necessidades, parecia alijado. No novo mundo tripolar, o paradigma é o da integração de economia, ambiente e sociedade, conduzida e praticada em conjunto por três grupos: empresários, governo e sociedade civil organizada.”

39 A empresa para garantir sua sobrevivência deve considerar no momento do planejamento estratégico e nas tomadas de decisões não só os aspectos financeiros, mas também os aspectos sociais e ambientais. Uma ilustração do desenvolvimento sustentável alicerçado nos três pilares da sustentabilidade é apresentada na Figura 3.1. Observa-se na Figura 3.1 a integração necessária entre as três dimensões: financeiro (econômico), ambiental e social, para alcançar a sustentabilidade empresarial.

Figura 3.1. Tripé da Sustentabilidade. Fonte: Adaptado de Alledi Filho et al. (2003, p. 12).

A ONU, segundo Milanez (2002), apresenta quatro princípios, considerados essenciais para o conceito de sustentabilidade, são eles:

1. Princípio precautório: esse princípio determina que onde houver possibilidade de prejuízos sérios à saúde dos seres vivos, a ausência de certeza científica não deve adiar medidas preventivas;

2. Princípio preventivo: os riscos e os danos ambientais devem ser evitados o máximo possível, devendo ser avaliados previamente com o objetivo de escolher a solução adotada;

3. Princípio compensatório: compensações a vítimas de poluição e outros danos ambientais deve estar previstas na legislação;

4. Princípio do poluidor pagador: os custos da remediação ambiental e das medidas compensatórias devem ser arcados pelas partes responsáveis.

40 Com o objetivo de viabilizar o desenvolvimento sustentável, os princípios descritos e suas relações com o tripé da sustentabilidade devem ser conhecidos e aceitos pelas empresas, pela sociedade e pelo Governo.

Muitas das empresas, que adotam e comunicam sua “sustentabilidade” através de relatórios públicos, são organizações multinacionais, com impacto significativo nas regiões que atuam sobre o emprego e a economia em geral. Quando sustentabilidade toma forma, essas empresas são de grande importância para a sociedade, uma vez que os caminhos que definem e usam a sustentabilidade, afetam outras organizações e como o conceito será percebido pelos demais. Os órgãos normalizadores e os interesses políticos (externo e interno) também desempenham um importante papel neste contexto, pela influência exercida nos gestores, afetando a maneira como as organizações, especialmente as pequenas e médias empresas, assumem a sustentabilidade e práticas sustentáveis (Wikström, 2010).