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2.2 Características da contaminação por combustíveis

2.2.1 Orientação dos valores limitantes de contaminantes

A orientação dos valores limitantes de contaminantes é mundialmente discutida. No Brasil, a Resolução CONAMA nº 420/2009 determina limites e “dispõe sobre critérios e

valores orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas e estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por essas

substâncias em decorrência de atividades antrópicas”.

Mediante essa Resolução, os limites máximos estipulados para o Benzeno identificados no solo residencial e na água são 0,08 mg.kg-1 e 5 µg.L-1, respectivamente. Tal substância é destacada por apresentar limites mais restritivos e possuir propriedades carcinogênicas. Os limites para as demais substâncias encontram-se no anexo C deste trabalho que apresenta a resolução CONAMA nº 420/09 na íntegra.

2.3 - Licenciamento

O licenciamento ambiental visa reduzir os riscos de vazamento de combustível, e evitar a contaminação de lençóis freáticos, esgotos e rios, além de aumentar a segurança no entorno dos postos revendedores de combustíveis. No Brasil, uma norma específica, disciplinando o licenciamento ambiental de postos de revenda de combustíveis, é a resolução CONAMA 273, de 29 de novembro de 2000, atualizada posteriormente pela resolução CONAMA 319 de 4 de dezembro de 2002. Tais resoluções consideram os postos de revenda de combustível como empreendimentos potencialmente poluidores, estando submetidos a licenciamento prévio de suas instalações e plano de encerramento de suas atividades, no caso de desativação, a serem aprovados por órgão ambiental competente.

Na resolução CONAMA 273/2000, a configuração dos postos de revenda de combustível como “empreendimentos potencialmente ou parcialmente poluidores e geradores

de acidentes ambientais” dá-se pelas diversas possibilidades de:

1) Vazamentos – contaminação de corpos d´água, solo e ar. 2) Risco de incêndios e explosões – áreas densamente povoadas.

3) Número de vazamentos aumentando, considerando a manutenção inadequada ou insuficiente, obsolescência do sistema e equipamentos e da falta de treinamento de pessoal.

4) Ausência ou inadequados sistemas de detecção de vazamentos.

Na fase do licenciamento, os equipamentos e os sistemas de armazenamento e abastecimento são testados e ensaiados para comprovação da inexistência de vazamentos.

O procedimento adotado para o licenciamento das atividades de revenda varejista de combustíveis perfaz-se em três etapas: licença prévia, licença de instalação e licença de operação, definidas no Art. 4º, da Resolução CONAMA nº 273/2000. As licenças são definidas da seguinte forma:

Art. 4º. O órgão ambiental competente exigirá as seguintes licenças ambientais:

I – Licença Prévia – LP: concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;

II – Licença de Instalação – LI: autoriza a instalação do empreendimento com as especificações constantes do planos, programas e projetos aprovados, incluindo medidas de controle ambiental e demais condicionantes da qual constituem motivo determinante;

III – Licença de Operação – LO: autoriza a operação da atividade, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação.

A emissão das licenças está condicionada pela Resolução CONAMA nº 273/2000, à apresentação, no mínimo, dos documentos elencados no Art. 5º, os quais evidenciam a proteção ambiental pretendida pelo órgão consultivo.

Para obtenção da licença prévia e de instalação, o empreendedor terá que apresentar, dentre outros, um projeto básico com a especificação dos equipamentos e sistemas de proteção, o sistema de detecção de vazamento, o croqui de localização do empreendimento, informando a posição do terreno relativamente ao corpo receptor e cursos d’água, o tipo de vegetação verificada no entorno do posto, classificação do entorno, caracterização geológica do terreno, com a verificação da permeabilidade do solo e o potencial de corrosão.

No tocante a licença de operação, exige-se uma comprovação do empreendimento da inexistência de áreas contaminadas do solo e das águas subterrâneas por combustíveis líquidos. Essa comprovação é realizada atendendo às seguintes etapas: avaliação preliminar, avaliação complementar – identificando a extensão da área atingida e análise de risco.

A cidade de Natal/RN dispõe da Lei Municipal nº 4.986 de 08 de maio de 1998, que versa, especificamente, do licenciamento ambiental em postos revendedores de combustíveis situados em seu território, cujo objetivo é combater os riscos de explosão em tais estabelecimentos, não sendo abordados outros temas como a contaminação das águas superficiais e subterrâneas, tão perigosos à saúde e à integridade física da população. A Figura

2.7 apresenta um esquema para licenciamento dos postos de revenda de combustível no município de Natal/RN.

Figura 2.7. Sistematização hierárquica para licenciamento ambiental dos postos de revenda de combustível de Natal/RN. Fonte: Elaboração própria.

Num movimento de regularização das atividades dos postos de revenda de combustível de Natal/RN e adequação de suas instalações a fim de reduzir seu efeito poluidor, a 45ª Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente do Rio Grande do Norte notificou os postos de revenda de combustível do município de Natal/RN a celebrarem o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) (anexo D) que solicitava:

 o teste de estanqueidade (realizado com a presença de um perito do Ministério Público);

 a adequação das instalações do posto;

 substituição de tanques comuns por tanques ecológicos, e  a licença de operação.

O projeto para adequação ambiental dos postos revendedores de combustíveis vem sendo realizado com a parceria da UFRN e da SEMURB. No trabalho realizado na fase preliminar, com testes de estanqueidade, foi observado que o grande vilão pela contaminação,

eram as linhas de transporte e distribuição dos combustíveis (tubulações), devido ao solo altamente corrosivo da região. Fato interessante, pois se esperava que o grande responsável pelos vazamentos fossem os tanques de combustíveis não ecológicos subterrâneos, por apresentarem um contato maior com o solo, mas, segundo Guerra et al. (2012, p. 83) dos 349 tanques não ecológicos, 34 (9,7%) apresentaram vazamentos e 109 (99%) dos 110 postos avaliados apresentaram vazamentos de combustíveis seja pelos tanques ou tubulações. Destaque para o único posto de combustível que não apresentou vazamento, o mesmo já possuía as tubulações adequadas às normas.

Dentre as adequações necessárias, destacam-se os equipamentos básicos para proteção ambiental que evitam:

 Vazamento: controle de estoque, poço de monitoramento de água subterrânea, poço de monitoramento de vapor, válvula de contenção.

 Derramamento: contenção de vazamento sob a unidade abastecedora, canaleta de contenção, caixa separadora de água e óleo, câmara de acesso à boca de visita, descarga selada.

 Transbordamento: câmara de contenção da descarga selada, válvula de proteção contra transbordamento, válvula de retenção de esfera flutuante, terminal de respiro, alarme de transbordamento.

 Corrosão de tanques: tanques ecológicos.

 Corrosão em tubulações subterrâneas: revestimento adequado, associado à proteção catódica.

Com a finalidade de evitar fraudes, como as ocorridas em outras cidades do território nacional, para atestar a qualidade dos serviços e a veracidade dos laudos, o Ministério Público do Rio Grande do Norte nomeou peritos específicos vinculados à UFRN para acompanhar o processo de licenciamento dos postos de Natal/RN. Ao preencher os requisitos exigidos pelos órgãos e contemplados no TAC, o posto recebe o “selo verde”, atestado pela SEMURB e pelo Ministério Público Estadual. O “selo verde” possibilita um registro de adequação e cumprimento da legislação da empresa aos clientes. Juntamente com o “selo verde”, o empreendimento tem sua licença de operação legalizada pela SEMURB, com prazo vigente de quatro anos. Torna-se obrigatório ao posto com “selo verde”, a análise dos efluentes, a ser realizado em laboratório certificado, a cada três meses. A Figura 2.8 ilustra um posto legalizado e outro não.

Figura 2.8. O posto ilegal e o posto legal. Fonte: Ministério Público do Rio Grande do Norte

2.3.1 - Equipamentos básicos para proteção ambiental

Mediante as exigências para adequação ambiental, o posto revendedor de combustível deverá cumprir 42 normas relativas à Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e à Resolução nº 273/2000 do CONAMA. Essas conformidades são necessárias desde a cobertura do estabelecimento até a subsuperfície, com tanques ecológicos e tubulações subterrâneas adequadas.

Para este trabalho, devido às especificidades de cada empreendimento (lava-jato, lubrificação, etc) e para a homogeneidade da amostra dos postos de revenda de combustível – limitados à revenda de combustíveis líquidos foram considerados 13 itens técnicos essenciais descritos a seguir:

1) Tubo de descarga com câmara de calçada impermeável e estanque para contenção de derramamentos - são dispositivos confeccionados em material impermeável, que permitem a total retenção de eventuais vazamentos, evitando que o produto atinja o solo.

2) Descarga selada – contempla o item anterior, trata-se de um dispositivo a ser instalado no bocal de enchimento do tanque que para evitar o retorno do

combustível em caso de ser excedida a capacidade do tanque, bem como, pela instalação de uma válvula contra transbordamentos, na linha de descarga interna ao tanque. É um conjunto de um joelho, que apresenta um bocal especial para engate rápido da mangueira de abastecimento do caminhão.

3) Válvula anti-transbordamento, instalada no tubo de descarga do tanque.

4) Tanque de parede dupla com monitoramento intersticial ligado a sistema de monitoramento conjunto - também denominados tanques jaquetados, os quais representam um grande avanço no controle de vazamentos. Esses tanques são construídos com duas paredes e com um sensor especial, instalado no espaço intersticial com pressão negativa, o qual será acionado pela alteração da pressão interna, provocada pele entrada de ar ou da água do lençol freático por falta de estanqueidade da parede externa ou pela entrada do produto por falta de estanqueidade da parede interna. A maioria desses tanques é construída com dois materiais distintos, sendo que a parede interna, a exemplo do modelo convencional, é construída com aço-carbono, enquanto a parede externa é construída com uma resina termofixa, não sujeita à corrosão, a qual fica em contato direto com o solo.

5) Unidades de abastecimento (bombas) com câmara de contenção estanque e impermeável com sensor de detecção de líquidos ligado a sistema de monitoramento.

6) Unidades de abastecimento (bomba) com válvula de retenção junto à bomba (check valve).

7) Válvula de segurança - válvulas de retenção, localizadas junto à base das unidades de abastecimento, as quais mantém as linhas constantemente com produto em seu interior e, em caso de perda da estanqueidade da linha, permitem o retorno do produto até o tanque de armazenamento.

8) Tubulações subterrâneas flexíveis e não metálicas - as tubulações de PEAD - polietileno de alta densidade que apresentam permeabilidade similar à dos metais e possuem grande resistência mecânica, contudo são flexíveis para absorver os impactos e adaptar-se à movimentação do piso e do solo.

9) Respiros - são linhas, em parte subterrâneas e em parte aéreas, individuais de cada tanque de armazenamento e devem ser dotadas de dispositivos especiais que impeçam o seu preenchimento por combustível, tais como, válvulas de retenção

com esfera flutuante, a qual, uma vez atingido o volume máximo do tanque, veda a saída do respiro correspondente e bloqueia a saída dos vapores, impedindo a continuidade do descarregamento do combustível.

10) Pista de abastecimento coberta.

11) Piso da pista de abastecimento em concreto armado com sistema de drenagem – as canaletas ao redor da pista de abastecimento e/ou do estabelecimento têm a finalidade de conter os eventuais derramamentos ocorridos durante as operações de abastecimento ou de descarga dos combustíveis, bem como receber os eventuais efluentes da lavagem de veículos, e direcioná-los para um separador de água e óleo individual e segregado dos demais separadores existentes.

12) Piso da área de descarga em concreto armado impermeabilizado.

13) Sistema de drenagem e sistema de tratamento de efluentes constituído de caixa de areia e separador água-óleo (CSAO) com placas coalescentes para efluentes gerados na pista de abastecimento – separadores de água e óleo são confeccionados em fibra de Poliéster, Polietileno ou outros produtos similares, os quais impedem as infiltrações de óleo ou água contaminada no solo.

Frente a estes requisitos, as licenças de operação tem um prazo de validade de quatro anos, devendo ser renovadas por igual período, mediante a solicitação do interessado e atendimento das exigências contidas na licença a ser renovada e outras que, na ocasião da renovação, forem julgadas necessárias pelo órgão responsável pelo licenciamento, no caso de Natal/RN, a SEMURB.