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4 OBSERVAÇÃO SOBRE O ENSINO DE MATEMÁTICA NA PREPARAÇÃO

4.3 Avaliação dos professores sobre suas práticas docentes

O terceiro nível da Sequência Fedathi consta da análise do professor sobre sua prática docente. Essa análise é relevante, pois ajudará no trabalho que ele vai fazer posteriormente e também pode ser útil para as ações de acompanhamento pedagógico da escola e da SME, caso seja solicitada.

Compreendemos que essa análise pode ser feita apenas em forma de pensamento, o professor refletindo sobre seu trabalho em sala de aula. Mas também pode assumir a forma de anotações ou registros escritos das ocorrências positivas ou negativas acerca de sua própria atuação e/ou em relação ao desempenho dos alunos. No caso de anotações, estas podem ser feitas no próprio plano de aula ou em outro instrumento destinado a esse fim.

Por isso, objetivando saber se os professores desenvolviam alguma forma de avaliação/análise/reflexão sobre seu trabalho docente e como o faziam, desenvolvemos duas atividades.

A primeira originou-se em forma de observação, esta às vezes de forma participante, na fase exploratória da pesquisa, durante o acompanhamento que fizemos às aulas dos sete docentes, das quais trazemos aqui alguns relatos, que nos ajudaram a refletir sobre a importância do olhar do professor sobre a sua própria prática e a influência dessa ação para sua reflexão pedagógica.

A Professora Auxiliadora, da turma de 2º ano, fez comentários sobre alguns fatos ocorridos na sua aula que consideramos uma forma de análise sobre sua atuação, ora manifestando satisfação, ora angústia, diante do que ocorrera em sua ação docente naquela sessão didática.

Um dos comentários orientava-se sobre uma situação vivida no primeiro momento de observação da sua sala, em relação à pergunta do aluno, no caso da neve, aqui já relatado, em que ela, a partir dessa pergunta, e sem ter compartilhado com ninguém o ocorrido naquele dia, planejou e ministrou uma aula, procurando responder ao que ele tinha lhe perguntado. A pergunta do aluno em sua aula de Matemática levou-a a refletir e a decidir o conteúdo de uma aula de Ciências, visto tratar sobre o assunto em questão.

Outra situação acontecera no final da observação que fizemos na aula em que essa mesma docente trabalhou com o tema Dinheiro: Fazendo as contas na feira, também já relatada neste capítulo. Terminada a aula, ficamos conversando, enquanto ela se organizava para ir à sala dos professores. Nesse momento, ela desabafou que a feira não acontecera da maneira como ela havia pensado, pois os alunos tiveram dificuldade com o manuseio das notas.

Aproveitamos esse seu comentário e perguntamos se ela mudaria algo, caso fosse ministrar aquela aula novamente. Ela disse que não utilizaria mais a cédula de cem reais porque os alunos tiveram dificuldade em usá-la, pelo fato de não a conhecerem.

A Professora Emiliana, da turma de 3º ano B, terminada nossa observação em sua terceira aula, em que os alunos participaram de um jogo com o material dourado, comentara que considerou uma de suas piores aulas, levando em conta o desempenho dos alunos. Já em outro dia, em que não a observamos, relatara que, usando o mesmo material, os discentes tiveram um aproveitamento bem melhor.

A Professora Valda, do 3º ano A, falou de sua angústia em não ter trabalhado o ábaco como havia pensado, com o próprio manuseio desse instrumento pelos alunos, mas demonstrou satisfação com a participação e o desempenho deles na leitura e na escrita de numerais até a terceira ordem, nessa mesma aula. Ela aproveitou e comparou essa aula com as duas que tínhamos observado antes, considerando que essa última foi melhor.

Esses pequenos relatos, feitos de forma voluntária, foram demonstrações de situações de análise, de avaliação sobre a prática docente. São reflexões fundamentais para o amadurecimento, para o crescimento profissional docente. Esse tipo de reflexão somente a prática, a experiência na sala de aula pode proporcionar.

Nos depoimentos dessas professoras, vimos a influência que a reflexão pode ter sobre o trabalho docente. Por isso, no desenvolvimento da Sequência Fedathi, consideramos fundamental esse momento depois da sessão didática, de forma refletida, mas também através de registros, pois estes ajudam o professor a relembrar, a rever os pontos destacados, no momento de planejar outras ações didáticas. Às vezes, essa continuidade é interrompida, por conta da falta de registros.

A segunda atividade correspondera a um diálogo com os professores que estavam na formação, em que conversamos sobre as estratégias que eles utilizavam na avaliação de suas aulas para analisar sua prática docente.

Inicialmente, tivemos o interesse de saber se eles avaliavam suas aulas e qual a periodicidade dessa ação. A maioria dos professores afirmou que não realizava essa atividade

diariamente, em virtude da correria para atender às diversas tarefas docentes. Outros disseram que costumavam avaliar no dia em que planejavam suas aulas, às vezes, com a diretora pedagógica.

Também perguntamos se eles faziam alguma anotação sobre essa avaliação. Como foram poucos que disseram fazer a avaliação diária, apenas dois afirmaram que faziam registros de suas avaliações.

Mesmo não tendo o hábito de avaliar suas práticas docentes, eles disseram que ela é importante, ajuda no planejamento de outras atividades, e reconhecem que quando feita de forma escrita ajuda mais ainda, pois faz o professor não esquecer, o que acontece quando apenas pensa ou comenta com algum colega algo que tenha ocorrido em sua aula ou algum encaminhamento que precise fazer.

Consideramos que a análise/avaliação assume diferentes maneiras: ela pode se apresentar apenas em forma de reflexão, no sentido de pensar sobre algo que ocorreu na sala de aula; pode acontecer em forma de desabafos, comentários ou demonstração de alegria devido a uma ocorrência, negativa ou positiva, na sala de aula; ou pode se expor de forma escrita, com o registro dessas situações.

A prática dos professores do Educandário São José não fazerem o registro quando avaliam suas aulas é comum nas experiências escolares que conhecemos. Mas, quando acontece, revela um aspecto importante dessa maneira de avaliar: o ato de fazer anotações ajuda o professor no momento em que ele precisa retomar aquela situação; o registro, em si, já dá a demonstração de mais cuidado, de mais comprometimento com a questão.

Quando questionamos com os docentes qual era o foco de suas análises, uns disseram que costumam pensar no desempenho dos seus alunos, mas a maioria falou sobre a reflexão que faz sobre sua prática, sobre sua atuação em sala de aula. Essa afirmação, de certa forma surpreendeu-nos, pois, também de acordo com nossa experiência na educação, geralmente o professor costuma analisar sua prática a partir do desempenho do aluno, dificilmente avaliando sua própria ação didática.

Ao perguntarmos à diretora pedagógica se havia, por parte da escola, essa prática de avaliação do trabalho dos professores, ela disse que essa ação desenvolvia-se semanalmente, nos dias em que os docentes planejavam suas aulas, mas que não prevalecia uma constância no seu acompanhamento, devido a outras atividades que ela desenvolvia, pois ela era a única responsável por esse trabalho, além das reuniões na SME e das formações em que acompanhava os professores.

Também falou que essas avaliações aconteciam nos dias de planejamento coletivo, que era bimestral, e no início de cada semestre, em que sentavam para avaliar o período anterior e planejar o próximo, principalmente no início do ano letivo, quando tinham mais tempo para essa atividade, no momento também de revisão do PPP.

Conforme já discorremos, a maioria dos professores falou da dificuldade em analisar sua prática. Mas os depoimentos desses professores fazem-nos relembrar os relatos das professoras na descrição que fizemos na primeira parte deste tópico, onde elas, em pequenos comentários, mostraram a reflexão que fizeram vislumbrar sobre o trabalho que desenvolveram naquele momento.

O ato de avaliar, nessa perspectiva, é algo intrínseco à nossa vida, porque a cada momento estamos pensando sobre as ações que realizamos antes, as que estamos realizando agora e as que realizaremos no futuro. Porém, quanto mais essas ações são registradas, organizadas, projetadas, mais elas tendem a ajudar na nossa vivência como professores e como pesquisadores que devemos ser da nossa própria prática docente.

No próximo capítulo, trazemos o relato sobre a formação continuada dos professores, com e para o uso da Sequência Fedathi em suas aulas, momento de discussão sobre os princípios, os níveis e etapas que são propostos para a vivência dessa metodologia de ensino.

5 FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA