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Formação inicial e continuada de professores e a Sequência Fedathi

5 FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA

5.1 Formação inicial e continuada de professores e a Sequência Fedathi

Os trabalhos de mestrado e doutorado que utilizaram a Sequência Fedathi como metodologia na formação de professores aperfeiçoaram-se por pesquisadores vinculados ao Laboratório de Pesquisa Multimeios da FACED/UFC, os quais apresentam-se aqui de forma resumida, uma maneira de situarmos nossa pesquisa, principalmente no que se refere a seus aspectos metodológicos.

Esses trabalhos compreendem os seguintes: Santos (2007) e Lima (2007) na formação inicial de pedagogos; Sousa (2005), Rocha (2008) e Bentes (2013) na formação continuada de professores de Matemática. Mas o que diferencia a formação inicial e a continuada no contexto educacional brasileiro e como se deu a utilização da Sequência Fedathi nessas duas modalidades de formação?

De acordo como Diniz-Pereira (2014), ao olharmos, historicamente, para o campo da formação docente, percebemos que a noção de “formação” ficou, durante muito tempo, restrita ao atendimento a cursos de preparação de professores nas universidades, nas instituições de ensino superior ou de Ensino Médio (Curso Normal).

Para esse mesmo autor, a ideia de que a formação de professores não termina com a conclusão de um curso preparatório, seja de nível superior ou médio, começou a ganhar força, no Brasil, a partir da segunda metade dos anos 80 do século XX. Assim, a formação de professores passou a ser dividida em duas etapas: a formação “inicial” ou “pré-serviço”, de um lado, e a “continuada” ou “em serviço”, de outro. A chamada “formação continuada” tornou-se, então, uma expressão bastante conhecida a partir dessa época.

Ele ressalta, entretanto, que, em função das especificidades da educação brasileira, os termos “formação pré-serviço” e “formação em serviço”14, são bastante inapropriados, por não se adequarem à realidade de suas várias regiões, pois ainda existe um grande número de pessoas que, ao ingressar em um curso de formação de professores, já atua no magistério.

Essa afirmação acerca da formação em serviço pode ser confirmada neste trabalho, se observado o perfil do pesquisador e de alguns dos sujeitos da nossa investigação que, ao iniciarem sua formação inicial, já atuavam como professores, mesmo após a expansão de cursos de licenciatura ofertados a partir da promulgação da LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.394 (BRASIL, 2014a).

Ainda de acordo com Diniz-Pereira, não demorou muito e sugiram várias críticas a essa visão compartimentada de “degraus de formação”. Passou-se então a defender-se a necessidade de superação dessa concepção da formação de professores como momentos estanques, que se encerram em si mesmos, e sugeriu-se que passássemos a examinar a formação docente como um processo que acontece em um continuum entre a formação “inicial” e a “continuada”.

Essa ideia de formação passou a ser cada vez mais difundida no meio acadêmico das universidades brasileiras, a partir da vigência da LDB, Lei nº 9.394/96, que instituiu a formação superior como condição para a entrada no magistério. Nesse contexto, a discussão sobre a formação do professor de Matemática passou a ser um ponto bastante presente, tanto em relação à formação inicial como em relação à formação continuada.

Essa discussão também permeou o trabalho do Laboratório de Pesquisa Multimeios, da FACED/UFC, ao utilizar a metodologia de ensino Sequência Fedathi na

14 Traduzidos e adotados acriticamente a partir das expressões em inglês “preservice teacher education” e “in- service teacher education” (DINIZ-PEREIRA, 2014).

formação de professores, inicialmente com mais ênfase em atividades de ensino e extensão, depois assumindo um caráter científico mais consistente, quando essas experiências envolveram-se inequivocamente como objeto de estudo em investigações de mestrado e doutorado, como já relatamos.

A Sequência Fedathi mostra-se em dois trabalhos, com foco na formação inicial. O primeiro, a dissertação de mestrado de Santos (2007), legitima como objetivo observar de que modo as metodologias Sequência Fedathi e Engenharia Didática podem contribuir para a melhoria do ensino e da aprendizagem de frações, tendo como base metodológica o uso de oficinas pedagógicas e a plataforma TelEduc. Esse trabalho teve como aportes teóricos e metodológicos a Sequência Fedathi e a Engenharia Didática (SANTOS, 2007, p. 59).

O ponto principal da pesquisa de Santos aponta o estudo de frações, destacando a relevância deste conteúdo matemático para a aquisição do conhecimento lógico-matemático pelos futuros pedagogos. A opção dessa pesquisadora por esse tema, com esses sujeitos, processa uma forma de investir na melhoria da formação inicial desses profissionais.

A principal contribuição desse trabalho trata sobre a conclusão dos sujeitos investigados, ou seja, os futuros pedagogos, ao explicitarem a necessidade de estudar mais frações, o assunto abordado na formação, para desenvolver a autonomia e a ampla reflexão acerca da relação entre teoria e prática docente.

O segundo trabalho, a tese de doutorado de Lima (2007), descreve, reflete e sistematiza a Sequência Fedathi para o ensino de Matemática no percurso da formação inicial do pedagogo na FACED/UFC, a partir de oficinas pedagógicas e do uso da plataforma TelEduc.

A pesquisa dessa autora compromete-se com o objetivo de investigar e analisar a relevância da aplicabilidade dessa metodologia na constituição de conceitos matemáticos básicos: número, sistema de numeração decimal, operações fundamentais, geometria e medidas.

A contribuição mais relevante da investigação de Lima assinala a reformulação da ementa e da metodologia da disciplina Ensino de Matemática, do Curso de Pedagogia da FACED/UFC, com a ampliação de sua carga horária de 80 para 160 horas-aula.

No que se refere à formação continuada de professores, a primeira experiência identificada com a utilização da escola como lócus formativo consiste em Sousa (2005), que assume a formação em Educação Matemática como base de sua investigação no mestrado, tendo como foco a metodologia de ensino a Sequência Fedathi.

Esse trabalho teve como objetivo analisar a influência da formação continuada na prática pedagógica do professor, a partir da mediação didática proposta pela Sequência Fedathi para o ensino da Matemática. Seu objeto de estudo manifesta-se na mediação pedagógica do professor nas aulas de Matemática de turmas iniciais do Ensino Fundamental.

Como resultados da pesquisa de Sousa, confirma-se a necessidade de um serviço permanente de formação contínua no próprio ambiente de trabalho, com o acompanhamento de profissionais da própria escola, e também a viabilidade de aplicação da Sequência Fedathi, tendo a pergunta como estratégia de mediação e a avaliação como meio de reflexão e aperfeiçoamento da ação docente.

A dissertação de Sousa também trouxe a reflexão sobre o uso da pergunta como estratégia de mediação, a partir da vivência da Sequência Fedathi, em que seu uso ou não, em algumas situações observadas, influenciou fortemente no desenvolvimento dos alunos na sala de aula, conforme mencionamos na parte introdutória deste trabalho, ao justificarmos nosso interesse por esse tema.

A segunda experiência com essa modalidade deriva de Rocha (2008), que trabalha a formação continuada de professores para o uso de tecnologias no ensino de Matemática, também usando a própria instituição como espaço formativo.

O curso desdobra-se em uma escola pública da rede estadual de Ensino Fundamental e Médio, do município de Fortaleza-CE, com a participação de quinze profissionais, contando com a diretora geral, a coordenadora pedagógica, o coordenador de gestão, a secretária, seis professores de turmas finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e cinco monitores do Laboratório de Informática Educativa da instituição.

Os resultados da pesquisa de Rocha evidenciaram que as estratégias de ensino com o uso do computador dependeram de um conjunto de ações diretas que agiram, principalmente, no componente humano, exigindo mudanças significativas na organização da escola, na ergonomia do laboratório de informática e nas formas de pensar e agir dos sujeitos da pesquisa.

A terceira experiência de formação continuada, identificada com o uso da Sequência Fedathi, desponta com o trabalho de Bentes (2013), quando o pesquisador traz como temáticas as tecnologias digitais e a prática pedagógica do Programa de Educação de Jovens e Adultos do Instituto Federal do Pará – PROEJA/IFPA – Campus Belém.

A investigação de Bentes elege como objetivo geral investigar as contribuições das tecnologias digitais como recursos didáticos na prática pedagógica do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação

de Jovens e Adultos – PROEJA, no sentido da integração entre as disciplinas do currículo da educação profissional e do Ensino Médio regular, visando a uma formação voltada para a vida. Os sujeitos da pesquisa constituem-se com os alunos da turma de dependência, da disciplina de Desenho Geométrico do Curso Técnico em Mecânica-PROEJA, o professor da disciplina e o coordenador do PROEJA nesse Campus.

As conclusões do trabalho registram-se como as seguintes: na educação de jovens e adultos, em geral, os níveis de curiosidade dos alunos são moderados, pois ensinar adultos é diferente de ensinar crianças; com relação ao uso das tecnologias no processo de ensinar e aprender, viu-se como possível comprovar a importância, as dificuldades e as limitações com o uso das ferramentas tecnológicas quando utilizadas como recursos didáticos; acerca das contribuições pedagógico-metodológicas, no contexto do uso das tecnologias como recursos didáticos, fatores de aprendizagem reforçam a realidade de que as ferramentas assumiram nova linguagem educativa nas práticas docente, instrucional e pedagógica, na disciplina pesquisada.

A leitura desses trabalhos levou-nos a concluir, de maneira geral, que a inquietação que temos com a aprendizagem dos discentes não pode ser diferente da preocupação que devemos ter com a formação dos docentes, que lidam ou que vão lidar com esses estudantes. Por isso, o investimento na formação continuada dos professores e a luta dos docentes por essa causa devem estar sempre em pauta.

Quanto mais o pesquisador aproxima-se do professor, mais respeito ele deve ter pela sua experiência, pela sua formação (ou não formação) e pelo seu tempo de adaptação, de aprendizagem, às vezes de resistência ao que é proposto, em muitos casos, por conta da forma como algumas propostas de “inovação” pedagógica chegam até eles.

Esse estudo bibliográfico também nos fez constatar que nenhuma dessas pesquisas fundamenta sua investigação na forma como a pergunta é utilizada no trabalho de mediação do professor. O conhecimento dessas experiências com a utilização da Sequência Fedathi na formação inicial e na formação continuada de professores ajudou-nos na definição de alguns aspectos metodológicos da nossa investigação.

O primeiro refere-se ao uso da pergunta como estratégia de mediação, uma reflexão que iniciamos no trabalho de mestrado (SOUSA, 2005) e que nos motivou ao estudo realizado nesta pesquisa de doutorado.

O segundo trata sobre a utilização da instituição escolar como local de formação continuada, o que fortaleceu nossa ideia de utilizar a escola como espaço de formação, a partir

dos trabalhos de Sousa (2005), Rocha (2008) e Bentes (2013), que desenvolvem suas pesquisas no próprio espaço de trabalho dos docentes.

Como terceiro aspecto, destacamos a necessidade do conhecimento da realidade do espaço escolar e dos professores com os quais se vai trabalhar a formação continuada, o que arrolou-se nos relatórios de Santos (2007) e Lima (2007), cujas primeiras atividades de pesquisa refletem a análise do ambiente e a análise teórica, esta em relação ao plateau dos estudantes de Pedagogia.

Essas informações ajudaram-nos a decidir pela investigação acerca da prática dos professores na sala de aula, por meio da pesquisa exploratória, antes da formação continuada, que se exibe inequivocamente importante na preparação do curso.

O quarto aspecto trata-se da utilização da plataforma TelEduc como procedimento e instrumento de pesquisa, a partir dos relatos e reflexões de Santos (2007) e Lima (2007). Os trabalhos dessas pesquisadoras sustentam nossa decisão pela utilização desse instrumento virtual na pesquisa, mesmo vendo as dificuldades manifestadas nos seus relatos, como a rejeição a esse ambiente e a falta de tempo dos estudantes para o seu uso. Compreendemos como uma oportunidade de os professores conhecerem e utilizarem outros recursos e estratégias educativas.

Como quinto e último aspecto, retomamos a discussão iniciada no mestrado (SOUSA, 2005), em que notamos a importância da reflexão do professor acerca de sua própria prática docente. Daí, neste trabalho, termos ampliado a Sequência Fedathi para além do momento da vivência, pela importância do planejamento (preparação) e da avaliação do professor sobre seu trabalho docente (análise).

Esses aspectos e reflexões firmam a definição do nosso espaço de formação continuada dos professores, nosso campo de pesquisa-ação, correspondente ao nosso lócus de pesquisa, a partir da realização de encontros presenciais, do atendimento individual e de encontros não presenciais, o que será tratado a seguir, na segunda parte deste capítulo.

5.2 A Sequência Fedathi como subsídio teórico-metodológico na formação continuada de